A
mesma torcida
que Fred condena, a diretoria abraça. O ídolo tricolor reprovou recentes
protestos e
classificou um grupo das organizadas como “marginais travestidos de
torcedores” e
“bando de à toa”. O desabafo foi postado no Facebook. Fred talvez não
saiba - mas a relação entre torcidas organizadas do Fluminense é
estreita. A gestão do
presidente Peter Siemsen distribuiu entre 2011 e 2014 quase R$ 4 milhões
entre ingressos e ajuda de custo para as torcidas do clube. Um balanço
feito
pela atual diretoria, que chegou às mãos de conselheiros e ao qual o
GloboEsporte.com teve acesso, traz um detalhado levantamento
do dinheiro destinado às organizadas de janeiro de 2011 a fevereiro de
2014: precisamente R$ 3.887,057,40 - parte em dinheiro, parte em
ingressos.
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Os
números já
conhecidos nos bastidores do clube assustaram conselheiros. O
levantamento foi feito numa planilha de Excel e resume detalhadamente os
pagamentos durante os
últimos 38 meses. O objetivo era dar subsídio para que o presidente
Peter Siemsen explicasse a relação no Conselho Deliberativo tricolor.
Todos os gastos estão registrados no departamento
financeiro do clube das Laranjeiras.
Procurado pela
reportagem, Peter não atendeu as ligações. Uma das assessoras de
imprensa do clube entrou em contato com a reportagem e informou que
trataria com o presidente. Jackson Vasconcellos, gestor até 2013 e
atualmente assessor da presidência, disse inicialmente que estaria à
disposição para falar sobre o assunto. A reportagem tentou quatro
ligações para Jackson - mas todas caíram na caixa postal. Segundo ele, a
bateria do aparelho descarregou.
Em entrevista
coletiva concedida depois da vitória sobre o Horizonte, na noite desta
quinta-feira, no Maracanã, Peter admitiu que ajuda torcidas organizadas,
mas não se estendeu no assunto:
- O Fluminense também cede (ingressos). Estamos trabalhando de uma
maneira, trabalhamos durante muito tempo com o smart card (do programa
de sócios Guerreiro Tricolor, que era usado no Engenhão). É uma cultura
que não pode perdurar. Gostaríamos de dar um outro rumo. É a
primeira coisa que trabalhamos. Queremos mostrar que certas reações não
são reações que ajudem o clube. Protesto é natural, o torcedor paga. O
problema é a forma e o momento. O protesto nas Laranjeiras não faz
sentido.
Documento
aponta doação de ingressos,
ajuda de custos e com caravanas e o
total
destinado às torcidas organizadas
desde janeiro de 2011, quando Peter
assumiu o Fluminense
(Foto: Reprodução )
Nesse
período, o maior gasto mensal – segundo aponta o documento do clube – aconteceu
em fevereiro de 2012, com R$ 331,015.00 (sendo R$ 11.750,00 em ajuda de custo e
R$ 319,265.00 em ingressos) fornecidos para diversas organizadas. Em um clássico com
o Vasco disputado no dia 12 de fevereiro de 2012, consta a doação de 1.480
ingressos para a torcida, num valor total de R$ 73.080,00. No dia 23 de
fevereiro de 2012, diante do Botafogo, foram 830 bilhetes (R$ 66.400,00); No
dia 26, em novo clássico com o Cruz-maltino, ainda mais entradas para as
organizadas: 1.624, traduzindo: R$ 79.980,00.
Ainda em
fevereiro de 2012, para um jogo com o Arsenal pela Libertadores foram 1.624
ingressos, com o custo de R$ 73.690,00 para o clube. Para todas as partidas em
casa naquela edição da competição as cargas do clube para as facções foram
acima de 1.400 bilhetes.
...ganham
ingressos e até transporte gratuito da diretoria da maioria dos clubes,
que insistem em manter uma relação obscura com esse tipo de organização
(...) os
integrantes de torcidas organizadas não têm direito sequer de reclamar
quando o time perde - tendo em vista que nem ingresso eles pagam -,
quanto mais de agredir ou intimidar jogadores. Ser membro de torcida
organizada no Brasil já virou profissão, meio de vida
Fred, em desabafo no Facebook
O ano de 2014
começou da mesma maneira. Em dois meses, foram R$ 181.000,00
de gastos do Fluminense com as organizadas, sendo duas parcelas fixas de R$ 35
mil que constam na ajuda de custos/caravanas. Para o clássico com o Botafogo,
no dia 23 de fevereiro, o clube diz no documento que foram 1.200 ingressos para
organizadas, num custo de R$ 48 mil.
O levantamento
abrange do dia 01/01/2011 a 28/02/2014. Os pagamentos são discriminados com valores,
revelam se foram ingressos, ajuda de custo e outros como viagens. E também com
o nome das torcidas, entre elas Young Flu, Garra Tricolor, Força Flu, Fiel
Tricolor, Jovem Flu.
Durante 38
meses, apenas julho e novembro de 2013 não registram gastos com ingressos.
Em compensação, foram gastos R$ 16.000,00 e R$ 99.500,00 com ajuda de custos no bimestre.
Young: proibida nos estádios, torcida
recebe ajuda do clube
Pichação no muro da sede das Laranjeiras virou rotina (Foto: Globoesporte.com)
No fim de
outubro de 2013, em decisão tomada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro (TJRJ), a Young Flu foi proibida de frequentar estádios durante seis
meses. Motivo: membros de uma das principais organizadas do time tricolor
atiraram pedras contra torcedores do Vitória após a derrota por
3 a 2 no Maracanã. Punida pela Justiça, a torcida seguiu recebendo benefícios da
diretoria tricolor.
Em novembro,
a Young, segundo dados do clube, recebeu dinheiro para viagens, outros
pagamentos que aparecem apenas como “ajuda de custo”, num total de R$ 70 mil.
No mesmo mês, não foram doados ingressos, mas a prática retornou em dezembro.
Pico em 2011, queda em 2013
De acordo
com registros do departamento financeiro do clube, o gasto com organizadas tem variantes.
O pico foi em 2011, quando foram gastos R$ 1.719,826,40. No ano seguinte, caiu
para R$ 1.449.481,00. No ano passado, um corte de quase R$ 1 milhão, mas ainda
assim foram gastos R$ 536,750.00. Já em 2014, apenas em fevereiro, foram R$
110.000,00, o que indica que o clube estaria disposto a gastar mais, novamente, com as organizadas.
No
último sábado, torcedores
protestaram na saída do clube
das
Laranjeiras, com palavras
de ordem e hostilidades. Fred
condenou a
atitude e abriu o
debate da relação clubes e
organizadas (Foto: Hector
Werlang)
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