Nascido no México, Diego, segundo filho
de Abreu, diz que costuma ser zagueiro, idolatra Neymar e Messi e não
sabe em que seleção jogaria
Por André Casado e Thales Soares
Rio de Janeiro
A falta de presença de área, compensada pelo fôlego interminável nos
quatro cantos do gramado, pode até confundir, mas a irreverência e a
garra ao estilo do pai não escondem que Diego, esguio garoto matriculado
na escolinha comandada por Gonçalves, é filho de Loco Abreu. Aos oito anos, "Loquito", como é chamado pelos coleguinhas, dá seus primeiros passos no futebol (confira o vídeo ao lado),
ainda sem qualquer peso sobre os ombros. Segundo avaliação da família,
pode ter futuro. Mas, evidentemente, é cedo para dizer se o Botafogo
terá um sucessor para seu maior ídolo atual, concorda Paola, a típica
mãe coruja.
- Ele (Loco) não elogia muito, até para o Diego não ficar cheio de si.
Mas comentamos entre nós. Vamos ver, ainda é muito novo - diz.
Três vezes por semana - segundas, quartas e sextas-feiras -, o segundo
descendente do camisa 13 comparece às aulas do professor Edilvânio.
Agitado, é um dos que não param quietos, mas é disciplinado e não cria
problemas. Na hora em que a bola rola, a pilha aumenta. No dia em que a
reportagem do GLOBOESPORTE.COM assistiu a um de seus treinos, Diego, que
é destro, jogou como atacante na maior parte do tempo, mas, segundo o
próprio, "foi porque o time estava desfalcado". Até de goleiro teve de
ser improvisado, sem muita empolgação. Normalmente, é posicionado na
zaga e aproveita-se da estatura, superior à média, para evitar os gols.
Diego Abreu, com a mãe Paola e os gêmeos Franco e Facundo (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
- Ele não tem muita técnica, mas incorpora bem o estilo uruguaio,
aguerrido, e consegue participar bastante dos coletivos. Pode evoluir,
sem dúvida. Os próximos anos serão decisivos para saber. É preciso ter
disposição e incentivo também. Agora é mais desfrutar - afirmou o
ex-zagueiro Gonçalves, que também tem lugar cativo na história
alvinegra.
Se depender das referências, Abreu parece ter escolhido o local certo
para desenvolver tal aptidão no filho. A academia localizada na Barra da
Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, é um verdadeiro berço de joias.
Os laços de amizade no meio engrossaram a lista de crias ilustres da
escolinha. Romarinho (filho de Romário, nos juniores do Vasco), Matheus
(filho de Bebeto, nos juniores do Flamengo), Renan (filho de Donizete,
nos juniores do Flamengo), Thiago Alcântara e Rafinha (filhos de
Mazinho, profissional e juniores do Barcelona, respectivamente), além de
Adryan (juniores do Flamengo e Seleções de base) e Guilherme Costa
(juniores do Vasco e Seleções de base) são alguns dos exemplos de
sucesso que trilharam este caminho.
Diego (agachado no centro) e seu time, ao lado do
ex-zagueiro Gonçalves e do professor, Edilvânio
(Foto: André Casado / Globoesporte.com)
- Essa aproximação é legal e importante para o nosso trabalho,
incentiva os meninos. Fiz muitos amigos no futebol, levávamos nossos
filhos para as mesmas festinhas de aniversário, e o pessoal confia em
mim. Nem sempre os pais podem vir, como o Loco, que até costuma trazer o
Diego. Então, saber qual é a linha de trabalho é um diferencial -
frisou Gonçalves, cujos herdeiros Marcela e Matheus não seguiram o mesmo
caminho.
Recentemente, o esforço do vice-campeão mundial em 1998 e sua equipe
foi reconhecido pela Câmara dos Vereadores, que homenageou a instituição
pelo resultado obtido na primeira competição internacional, em que
atingiu o vice-campeonato, deixando outros 98 adversários para trás,
após vários títulos locais. A derrota foi para uma escolinha do Canadá,
mais bem desenvolvida fisicamente. Em processo para ser gestor
esportivo, Gonçalves toca o projeto há 15 anos. Ele concilia seu tempo
com as aulas paralelas de showbol.
Em nome dos filhos
Uma das maiores preocupações de Loco Abreu é deixar um legado de sua trajetória aos filhos.
Valentina, de 12 anos, e Diego têm tido o privilégio de conferir os
feitos do pai. Mas os gêmeos, Franco e Facundo, de três anos, não o
acompanharão em ação. Por isso, os 236 gols contabilizados em
campeonatos de Primeira Divisão, reconhecidos pela Federação
Internacional de História e Estatística de Futebol (IFFHS), que o
colocam entre os dez maiores em atividade, são tratados com importância.
Ainda assim, por causa da força dos fenômenos atuais, Diego não se
inspira em Loco quando veste a camisa. A não ser em alguns trejeitos
característicos.
Nada de moleza: por falta de goleiro, Diego teve de
revezar (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
- Não gosto muito de jogar pelo alto, prefiro chutar. Claro que vejo e
torço pelo meu pai. Mas meus ídolos são Neymar e Messi. E eu vou jogar
pelo Barcelona ou... pelo Chelsea! - sonha o menino, enaltecendo os
rivais de uma das semifinais da Liga dos Campeões desta temporada, sem
dar muita bola para o Botafogo ou para o Nacional-URU, clube de coração
do pai.
Na realidade, outra dúvida insiste em pairar na cabeça de Diego.
Nascido no México, é filho de uruguaios, já morou na Argentina, na
Espanha e na Grécia, antes de vir para o Brasil, onde foi alfabetizado e
fala a língua fluentemente - além do espanhol e dos estudos do inglês.
Questionado a respeito de qual seleção escolheria, hesitou, mas mostrou
presença de espírito para não magoar os países que o acolheram.
- Hmm... onde eu tiver mais amigos na época - diverte-se, sem saber,
claro, que precisaria de um processo de naturalização para deixar a veia
mexicana de lado definitivamente.
Vez por outra, o herdeiro da camisa 13 - que usou a 34 no treino -
aparece nos trabalhos do elenco do Botafogo e já foi figurinha carimbada
no Engenhão durante um período. Com a chegada de mais um Campeonato
Brasileiro, Loco e companhia esperam melhor sorte na sequência da
temporada, após novo fracasso nas competições do primeiro semestre. A
estreia é neste domingo, contra o São Paulo, no Rio, e Loquito está
convidado para marcar presença.
Sorridente,
Diego em visita ao CT do Barcelona: com a irmã Valentina, foto ao lado
do ídolo Messi. Loco, que jogou com Guardiola, então técnico do time,
levou os filhos à Espanha nas férias (Foto: Arquivo Pessoal)
FONTE: