Com currículo repleto de títulos no
vôlei de praia, paranaense agora acumula cargos em comissões do COB da
Wada e revela segredos da longevidade
Por Helena Rebello
Rio de Janeiro
Os cabelos continuam cacheados e relativamente curtos. O fôlego,
construído à base de muito treino físico e bons hábitos, também lembra o
do início da carreira. Apenas duas marquinhas em torno dos olhos,
quando sorri, e os discursos cada vez mais articulados entregam que a
maturidade de Emanuel atingiu uma nova fase. Nesta segunda-feira, o
decacampeão do Circuito Mundial comemora 40 anos de uma vida repleta de
conquistas. E, com ânimo de novato, o paranaense espera seguir por mais
tempo em alto nível para ajudar o vôlei de praia a crescer ainda mais
mundialmente.
Emanuel começou no esporte em Curitiba como jogador de quadra. Os pais
queriam que ele gastasse a energia que tinha de sobra, e a estatura,
hoje de 1,90m, apontava o caminho das quadras. Mas foi nas areias que o
rapaz franzino ganhou corpo e tornou-se um dos ícones da modalidade. Ao
lado de Zé Marco, conquistou projeção nacional e foi às Olimpíadas pela
primeira vez. Com Loiola, quatro anos depois, viveu a experiência de ser
favorito e voltar para casa mais cedo nos Jogos de Sydney. Na breve
parceria com Tande, também colheu bons frutos.
Para mim não mudou nada. Estou muito mais motivado do que antes"
Emanuel, campeão olímpico e quarentão
Mas foi ao lado de Ricardo que o paranaense alcançou o ápice. Em
Atenas, no berço olímpico, o defensor faturou o ouro mais almejado da
carreira, além de um bronze, em Pequim. A dupla multicampeã somaria
tantos outros títulos e medalhas à galeria particular, até se desfazer,
em 2009. Desde então, Emanuel passou a lapidar Alison, jovem bloqueador
ao lado de quem conquistou Roma no Mundial de 2011 e bateu na trave em
Londres, com a prata que completa a coleção dos três metais olímpicos.
Sem sentir o peso da idade de forma negativa, o atleta vê sua evolução
em diversos aspectos ao longo dos anos. Acredita que, o que ganhou com a
experiência, compensou por muito o que perdeu em vigor físico. E pulsa
vibrante da mesma forma, ou até mais, do que tantos outros colegas de
profissão em início de carreira.
- Estou muito bem resolvido porque estou chegando aos 40 em uma
situação muito parecida como foi a minha vida toda. Estou muito
tranquilo, trabalhando bem, e meu corpo está respondendo do jeito que eu
preciso. Estou muito feliz, e minha família está me apoiando até hoje.
Depois de 20 anos de vôlei eles continuando me ajudando. São essas
pequenas coisas que me fazem sentir tão feliz aos 40. Para mim não mudou
nada. Estou muito mais motivado do que antes.
Emanuel com a esposa Leila após a conquista da prata em Londres (Foto: Bianca Rothier / TV Globo)
A fórmula do sucesso, Emanuel garante, é o trabalho árduo e contínuo.
Com modéstia, diz que precisava compensar o que faltava em talento com
uma preparação mais intensa do que a dos adversários. Longe da bola e da
rede, ainda vê como essencial a dedicação com a saúde de modo geral.
- A primeira das lições para se manter em alto nível é entender seu
próprio corpo. Cada um tem seu estilo de jogar, de correr, de dormir e
brincar. Tem que entender o que pode fazer para ter mais tranquilidade
para jogar. Eu sempre escolhi o caminho da boa alimentação, do descanso,
por que eu sabia que eu não era um talento puro, que eu tinha que
trabalhar muito. Tudo o que eu fiz foi trabalhado. Eu sabia que tinha
que treinar mais que os outros.
Emanuel em cerimônia do Prêmio Brasil Olímpico,
no Rio (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Atualmente, Emanuel também tem papel de destaque fora das quadras e do
âmbito familiar – é pai de Mateus, fruto do primeiro casamento, e de
Lukas, filho com a esposa, a ex-jogadora Leila. No final do ano passado,
o campeão olímpico foi indicado pelo Ministério dos Esportes, pela
Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), pela Confederação Internacional
de Vôlei (FIVB) e pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para representar o país na comissão de atletas da Agência Mundial Antidoping
(Wada, na sigla em inglês). O nome do jogador foi aceito e integrado ao
grupo que reúne outros 13 nomes de destaque do esporte mundial para,
até dezembro de 2015, ajudar a tornar a abordagem dos exames antidoping
mais aceita pelos atletas. Em janeiro, viajou à Nova York para sua
primeira reunião no novo cargo.
No Brasil, o paranaense ocupa a presidência da comissão de atletas do
COB, formada por 14 nomes de 12 diferentes modalidades. Ciente de seu
papel como líder, Emanuel quer que suas ações nos bastidores deixem um
legado para as futuras gerações, tornando o esporte mais organizado.
- Esse é o caminho natural das minhas próprias escolhas. Eu escolhi
sempre fazer o melhor pelo meu esporte, ser sempre um exemplo dentro da
quadra. E agora, nessa fase mais madura da minha carreira, eu sinto que
tenho que passar isso para fora. Essa minha preocupação de participar de
comissões e reunir ideias é, para quando eu parar de jogar, eu
conseguir melhorar a vida dos atletas, de dirigentes e patrocinadores.
Lesão de Alison ‘reduz voltagem’
A uma semana da última temporada do Circuito Brasileiro 2012/2013 e a
menos de um mês da estreia no Circuito Mundial, Emanuel teve que lidar
com a notícia da lesão de seu parceiro. Durante um treino de bloqueios
no Centro de Desenvolvimento do vôlei, em Saquarema, Alison sofreu uma
luxação no dedo mínimo da mão direita. O Mamute será avaliado pelos
médicos ainda esta semana, mas não tem previsão de retorno às quadras.
- Deu uma esfriada na nossa motivação, porque estávamos treinando já há
três meses focados no início do Circuito Mundial, em pegar ritmo para
defender em julho o título mundial na Polônia. Acho que diminui um
pouquinho a voltagem, mas fica ainda aquele negócio de termos tempo para
correr atrás. Acredito que, com toda a força que ele (Alison) tem,
assim que estiver pronto para jogar, acho que vamos conseguir decolar –
disse o jogador, que ainda não sabe ao lado de quem jogará o Open de
Brasília, neste fim de semana.
Alison faz treinamento de musculação com a mão imobilizada (Foto: Reprodução/Twitter)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/04/motivado-e-com-novo-foco-emanuel-chega-bem-resolvido-casa-dos-40.html