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Tico, o braço direito
Dos
três, Tico, com 54 anos, é o mais velho e vivido. O braço direito de
Marcelo Oliveira foi jogador, treinador, preparador físico, auxiliar
técnico, supervisor, coordenador de base... Um verdadeiro curinga. E
ainda aparece para evitar possíveis desgastes do treinador.
- Nos jogos eu troco ideia com o Tico. Às vezes,
uma situação que não estou percebendo ele me leva. Eu levo a ele
para discutir ali, no momento do jogo. A gente faz um planejamento de
trabalho da semana, e muitas vezes ele executa. Eu acho que o técnico às
vezes se desgasta muito quando está apitando direto com o jogador. O
atleta, ali, no calor do treinamento, acha que a bola saiu, não saiu.
Então eu deixo um pouco com o Tico e fico monitorando próximo e
cobrando também. Então ele às vezes orienta e apita os pequenos jogos. E
eu faço a parte tática, os coletivos, as jogadas ensaiadas - afirmou o treinador cruzeirense.
Tico já foi jogador, treinador, preparador físico. Hoje é auxiliar de Marcelo (Foto: Mauricio Paulucci)
Tico
lembra: o período no qual trabalhou como treinador e coordenador das
divisões de base de vários clubes, como Atlético Mineiro, Coritiba e
Atlético Paranaense, além das outras funções exercidas em tantos anos de
carreira, lhe dá a base suficiente para auxiliar tanto Marcelo Oliveira
quanto o restante da comissão técnica.
- Pelo fato de eu ter feito várias funções no futebol, isso me dá uma
tranquilidade em relação às observações do todo. Existe a
parte física, técnica, tática, de supervisão,
logística. E eu tive sorte de ter sido atleta, de ter tido base
profissional de futebol, fiz o curso de educação física, então tenho
conhecimento da preparação física, já fui preparador físico no início da
carreira e fui supervisor, gerente... Então tenho
esse entendimento de logística, de programação, de planejamento. E isso
me fez bem, eu passar por todas essas áreas em alguns clubes. E ter
trabalhado nas categorias de base, como treinador de juniores, como
coordenador de base. Então essa mistura, essas
várias funções que você executa vão te dando um pouquinho de cada coisa,
e aí o Marcelo é uma pessoa muito inteligente, um cara que tem uma
química com a comissão técnica muito grande, porque ele sabe ouvir.
Se
Tico é o braço direito, Ageu Gonçalves, 42 anos, é o lado espião de
Marcelo Oliveira. O ex-zagueiro do Paraná conheceu o treinador
justamente quando estava no Tricolor Paranaense, já como auxiliar. E
Marcelo gostou tanto do seu trabalho que o convidou para ingressar no
Coritiba. A parceria se estendeu ao Vasco e agora ao Cruzeiro.
Ageu
viaja para ver jogos dos adversários. Faz as observações, analisa-os
coletivamente e individualmente e apresenta o relatório a Marcelo
Oliveira e ao restante da comissão técnica.
- Acho que é importante isso.
Pela televisão é um pouco diferente de ver in loco, ali no estádio, ver
a movimentação do time como um todo. Isso não ganha jogo, mas é
um detalhe que agrega, pode ajudar... Um jogador prestando atenção
num outro jogador do seu setor para se prevenir ou se aproveitar de uma
fraqueza ou de um setor vulnerável também para ser explorado - disse Marcelo Oliveira.
O
ex-zagueiro também é o responsável por ficar com os atletas que não
viajam para as partidas fora de casa - ele fica em Belo Horizonte - e
por alguns treinamentos com os zagueiros. Quanto à principal tarefa que
executa, lembra o trabalho de equipe com a comissão técnica.
Ageu observa os adversários e jogadores da base do Cruzeiro (Foto: Maurício Paulucci)
-
Observo os adversários.
Não é ser um espião, hoje está muito fácil, muito rápido para ter essas
informações. Você as passa, e a
convicção é do treinador. O Marcelo tem suas convicções, que às vezes no
jogo acontecem, às vezes a gente passa algo que no jogo o
adversário pode mudar. Não tem isso de que "Ah, o Ageu viu o
adversário, ganhou o jogo". Isso é um trabalho em
conjunto. Quem faz esse resultado final são os jogadores. Claro que
cumprindo a parte tática que o Marcelo elabora. A gente só faz o que tem
que ser feito. Passa as bolas paradas, os
contra-ataques, as substituições. Todos os grandes clubes fazem esse
trabalho. Não me vanglorio com essa situação. Sou apenas uma peça da
engrenagem que colabora para que funcione. Não tenho
essa vaidade de que "Ah, o Ageu...". Esse é o trabalho de todo o grupo
do Cruzeiro.
Ageu também observa os jogadores
da base do Cruzeiro. Em algumas ocasiões viaja com os juniores para
acompanhar competições nacionais e faz um relatório de quem pode ser
melhor aproveitado. Os scouts das partidas, principalmente do Mineirão,
estão também sob sua responsabilidade. Tico lembrou a importância desse
trabalho.
saiba mais
- Como o Ageu não viaja para os jogos do Cruzeiro, não temos isso nos jogos fora. Mas dentro de casa, no Mineirão, a gente tem
um scout do jogo, os números. No intervalo ele desce e apresenta. Isso o Marcelo usou várias vezes para corrigir a postura da
equipe. Às vezes você está jogando contra um adversário que teve cinco
escanteios contra e um a favor. Teve caso de bola roubada no Mineirão, e a
gente estava com a pegada muito leve. Não lembro o jogo, mas o Marcelo
usou no intervalo. O time teve um crescimento de bola roubada
muito grande. E várias outras coisas que acontecem com uma dinâmica de
trabalho - afirmou Tico.
Os treinamentos do ex-zagueiro com os
defensores também são considerados importantes. Ageu procura passar
para os jogadores a experiência de anos na posição. E lembrou: o
entrosamento com a comissão técnica é fundamental para acertar com
facilidade essa e outras questões. A amizade fora do trabalho conta
muito a favor.
- Joguei futebol 17 anos como profissional,
passei pela base. Então trabalhei com muitos treinadores. Alguns
trabalhos a gente tem passado para eles, mas às vezes eles também têm
uma coisa que pode encaixar na forma do trabalho. Isso é combinado com a
comissão técnica, o Juvenilson, o Tico e o próprio Marcelo. Eles é que
determinam qual é o trabalho que a gente vai usar. E aí eu intensifico
de acordo com o planejamento feito na nossa sala. A gente tem uma
convivência muito grande. Eu, Tico e Juvenílson, a gente vai e volta
junto falando de trabalho. Moramos no mesmo condomínio, somos amigos
pessoais. Isso facilita o trabalho. Por isso você às vezes chega ao
treino e já sabe o que fazer, está tudo elaborado. Então, vai ali no
campo e só executa - disse o ex-zagueiro.
Juvenilson, o homem do fôlego
Se
Tico e Ageu são os mosqueteiros que ajudam Marcelo Oliveira a montar a
cabeça e o coração do Cruzeiro líder, desafiador, envolvente, o terceiro
mosqueteiro do treinador, Juvenilson de Souza, 42 anos, é o responsável
por encher os pulmões da equipe para executar todo o belo repertório de
jogadas do time desde a conquista do Brasileirão de 2013. E a tabelinha
com Marcelo Oliveira segue perfeita, segundo o preparador. Ele elogia o
comandante: Marcelo lhe dá liberdade total com relação à carga de
treinamento, à recuperação, à
monitoração, à distribuição dos treinamentos durante a semana.
-
Esse é o
primeiro ponto. O segundo ponto é que hoje o futebol exige que você
tenha dinâmica, velocidade. O nosso trabalho é sustentado em força e
velocidade. Então a gente tem N meios de treinamento para desenvolver a
força e N meios para desenvolver a velocidade. A parte de resistência é
muito treinada em função dos trabalhos de posse de bola e
dos trabalhos de campo reduzido - afirmou Juvenilson.
Os
números são hoje o grande companheiro da preparação física tanto no
ponto de vista do aspecto técnico como no tático. E Juvenilson dorme
abraçado com eles para fazer o Cruzeiro voar nas competições.
- Monitoramos treinamentos e
jogos. Então sabemos todas as ações que cada atleta executa nas partidas.
Acabou o jogo ou acabou o treinamento, a gente tem esses
dados. O departamento de fisiologia coleta as informações, põe num
banco de dados, as traz para mim. Analisamos isso.
Então sabemos a intensidade com que cada atleta treinou, o número
de ações que esse atleta fez em termos de distância, o número de
sprints, os piques em velocidade que ele fez. Isso faz com que a gente,
tendo esses dados, saiba qual é a intensidade do jogo, e tem um
perfil de cada posição que executa de sprints num jogo. Se
tiver algum atleta abaixo disso, procuro conversar e orientar para que
possa, nos próximos treinamentos, buscar essa intensidade.
Esses
dados permitem ao treinador saber a melhor forma de explorar o
potencial de sua equipe. Cada ponto forte, cada ponto fraco. E há os que
se destacam. Na hora de apontar o jogador mais resistente, o mais veloz
e o leão do time, o preparador físico não teve dúvidas.
Juvenilson de Souza diz que Egídio é o jogador mais resistente (Foto: Maurício Paulucci)
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O jogador resistente, que joga 90 minutos em alta
intensidade: o Egídio.
Um jogador velocista, sprint: o Marquinhos. Um
jogador potente, que alia a força à velocidade num espaço curto: Nilton.
Temos percebido características físicas importantes correlacionadas
por posição e função que o jogador exerce. Primeiro: os laterais são os
atletas com mais volume de
ações. Depois, os volantes. Aí vêm os
meias. Se a gente for comparar com alguns anos atrás, tinham muito mais
funções ofensivas e poucas defensivas.
Hoje têm as duas. Isso aumentou muito a
condição física deles. E por fim aparecem os zagueiros e o centroavante
no sistema que o
Marcelo adotou aqui no Cruzeiro. O homem de referência. Claro que não é
uma coisa uniforme. Varia
de jogo para jogo. No geral, no padrão, é o que frequentemente acontece.
Juvenilson
lembra que nada é fácil hoje em termos de preparação física: zagueiros
têm funções defensivas, mas
hoje, com muitas jogadas de bola parada, precisam ir à frente para
surpreender as defesas adversárias. E por aí vai. No fim, resume por que
o Cruzeiro vai bem, obrigado.
- Quando os zagueiros vão, a ação não é de alta intensidade. Mas quando
voltam, muitas vezes há contra-ataque. Então eles têm ações de alta
intensidade. Os laterais, que anteriormente tinham muito
mais funções defensivas, hoje precisam atacar e defender. E se não voltarem e ocorrerem gols no setor deles,
serão responsabilizados. Então, necessitam voltar. E isso em todas as
posições. O volante também tem que atacar. Então o futebol moderno exige que
todos os atletas tenham funções ofensivas e defensivas. Uns mais, outros
menos. Mas todos têm. Porque se você não tiver isso, se você não tiver
atletas preparados para fazer isso, pode ganhar um ou dois jogos,
mas dificilmente estará competindo para ganhar títulos.