segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Flamengo dispensa promessa que recusou proposta do Barcelona

Depois de quase um ano, Cassiano, de 13 anos, faz parte de barca que "enxugou" categorias de base. Pai lamenta foco na força física e garante sondagens da Europa


Por Rio de Janeiro

Cassiano, Flamengo (Foto: Cahê Mota)
Cassiano, o prodígio dispensado pelo 
Flamengo (Foto: Cahê Mota)

O Barcelona queria Cassiano, que escolheu o Flamengo, que preferiu apostar em outros talentos. A passagem do jovem que encantou o gigante catalão, mas acabou abrindo mão do convite de crescer no futebol na badalada La Masia, chegou ao fim no Ninho do Urubu. Depois de pouco mais de um ano no Rubro-Negro, Cassiano Bouzon, de 13 anos, entrou na barca que zarpou recentemente para enxugar as categorias de base. Notícia em várias parte do mundo por conta de vídeos na internet, o pequeno baiano foi dispensado sob alegação de não evoluir tecnicamente.

Em julho de 2013, o Rubro-Negro contratou Cassiano por um ano e levou para o Rio de Janeiro toda família, que vivia em Salvador, após o histórico de recusas ao Barcelona e ao Fluminense bombar nas redes sociais. No caso do Tricolor, o desfecho negativo das conversas foi consensual: os responsáveis pelo jovem não aprovaram as condições apresentadas em Xerém, enquanto o Flu tinha dúvidas a respeito o desenvolvimento físico do atleta. Diretor das categorias de base do Flamengo, Carlos Noval tratou com naturalidade a opção do clube de abrir mão do badalado garoto passado o longo período de observação.

- Era um acordo de um ano para o garoto fazer uma avaliação, e ele não evoluiu conforme era esperado. Tivemos recentemente uma dispensa normal, para a diminuição do quantitativo de atletas. Fizemos uma triagem e mantivemos quem estava melhor. Foi por questão técnica mesmo. Isso acontece de o menino chegar com essa badalação e não se adaptar. Pode ser que se adapte a um outro clube. Não houve nada de anormal, é um menino bacana, muito carinhoso.


A posição oficial do Flamengo, entretanto, é uma novidade para Francisco Bouzon, pai de Cassiano. Em entrevista ao GloboEsporte.com, ele revelou não ter sido informado de forma objetiva que o filho não faz mais parte dos planos do Rubro-Negro e descreveu o tratamento recebido desde o fim do acordo de um ano, no início de agosto.

- O Flamengo está passando por uma reformulação administrativa, houve trocas aqui e ali, e sobrou para Cassiano. Nunca me disseram nada. Cassiano estava encostado no DM. Quando foi liberado, foi treinar normal e voltou com um documento para uma reunião (...) Até agora não me disseram nada e o garoto está há duas semanas sem treinar. O clube me falou o seguinte: "Cassiano está afastado até ter uma solução". E ninguém falou mais nada. Ninguém chegou na minha cara e falou que ele está liberado.


Raras chances durante o período no Flamengo

No período em que defendeu a categoria mirim do Flamengo, Cassiano entrou em campo poucas vezes. Nas contas do próprio garoto, não foram mais do que seis partidas, com dois gols marcados. Para Francisco, o perfil franzino de seu filho foi determinante para as poucas oportunidades e a abreviação de seu futuro no Ninho do Urubu. O pai do pequeno prodígio desaprovou a preocupação excessiva dos responsáveis pelo trabalho de base com a força física.


- Todo mundo sabe que Cassiano precisa amadurecer e pegar corpo. Vejo na base hoje uma forçada de barra. Se o garoto for menor e franzino, não há paciência. A agonia dos clubes é para ganhar jogo e não formar garotos talentosos (...) Vi há pouco tempo que o Flamengo contratou um garoto de 1,95m. Fico preocupado. Não que não possa ou tenha algo contra, mas fico preocupado com o basquete e o vôlei, né? A concorrência vai ser imensa. Fico triste de ver a base com esse preconceito do garoto ter que ter força. Acho que a questão física pesou.

Cassiano, Flamengo (Foto: Cahê Mota)
Cassiano, com seus pais: fim da linha para o 
jovem prodígio nas categorias de base do 
Flamengo (Foto: Cahê Mota)


De acordo com a família de Cassiano, um estudo realizado na época das conversas com o Fluminense apontou que o menino atingirá altura entre 1,68m e 1,72m quando for adulto. Diante da realidade apresentada nas últimas semanas, Francisco Bouzon clamou por um trabalho de formação de atletas pautado no talento e garantiu que um projeto neste sentido é o que anseia para seu filho, independentemente da camisa que irá vestir.

- Quero viver para ver um clube do Brasil apresentar um projeto de formação para qualquer garoto talentoso. O clube não vai ganhar dinheiro com o Cassiano com 12, 13 anos. Vai jogar o Carioca e vencer por 12, 13 a 0. Sim, mas e aí? O que quero ver é o Flamengo com cinco, seis jogadores criados na base em seu time.


Sem arrependimentos pelo "não" ao poderoso Barcelona


 Vi há pouco tempo que o Flamengo contratou um garoto de 1,95m. Fico preocupado. Não que não possa ou tenha algo contra, mas fico preocupado com o basquete e o vôlei, né? 
Francisco Bouzon, pai de Cassiano

Quase dois anos depois de dizer não ao Barcelona porque o clube europeu acenou com o suporte apenas para um acompanhante e não toda família, o futuro de Cassiano é uma incógnita e a pergunta se torna natural: há arrependimento pela recusa ao convite de La Masia? Francisco Bouzon responde que não e garante que, através do empresário Eder Zuanazzi, segue com portas abertas no Velho Continente.


- Não me arrependo. Até hoje, o mercado europeu tem interesse em Cassiano e isso mostra que é um garoto diferente. Ele tem um potencial, é diferenciado. Se não fosse, o Udinese, Atalanta, Parma, times da Inglaterra não iam demonstrar interesse. Aí, fico feliz. Eu queria que Cassiano tivesse formação no Brasil. Tenho o sonho de ver um clube que acredite no potencial dele sem pressa. 


Cassiano, Flamengo (Foto: Cahê Mota)Cassiano: sorriso fácil e discurso de jogador (Foto: Cahê Mota)


De sorriso fácil, Cassiano parece não ter se abalado com a repentina despedida do Flamengo. Sempre com a bola nos pés, o garoto já fala como um jogador de futebol. Mesmo com elogios ao tempo em que conviveu no Ninho do Urubu, tratou com normalidade a necessidade de seguir caminho em outro clube, enquanto dividia a atenção entre as palavras do pai e um jogo de celular.

- Não faltou nada, não. No tempo em que fiquei aí me trataram bem demais. Aprendi coisas que eu não sabia, os professores me trataram bem. Em todo lugar que nós vamos, aprendemos alguma coisa. Digo que aprendi, sim. Me influenciou. Agora, vou para o clube que der melhores condições para mim e para minha família. Ficar em um clube que não cuide bem, mesmo que a formação seja boa, eu não fico, não.

Cassiano Bouzon não é o primeiro jovem a se destacar em vídeos na internet que não tem vida longa no Flamengo. Em 2007, o também baiano Maycon Santana dava espetáculo com a bola nos pés em imagens no YouTube, foi contratado para as categorias de base, mas se perdeu na fixação por Cristiano Ronaldo e também acabou dispensado. O último clube que se tem notícia foi o modesto Walter Ferreti, do quase desconhecido futebol da Nicarágua.



FONTE:
http://glo.bo/1uQ0z0I

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