Emerson
Sheik quebrou o silêncio e deu sua versão sobre o recente atraso em
treinamento do Corinthians. Na última quinta-feira, o atacante do Timão
recebeu Tiago Leifert, apresentador do Globo Esporte, no CT Joaquim
Grava. Em longo bate-papo, o corintiano explicou o motivo de ter chegado
"dez minutos" além do horário e falou sobre o novo estilo de vida.
Segundo
o jogador, as baladas e a cervejinha não fazem mais parte do seu dia a
dia. Abaixo a entrevista completa de Sheik. E acima o vídeo que foi ao
ar no Globo Esporte desta sexta-feira.
Tiago Leifert:
Por que este ano você está quieto?
Emerson Sheik:
Na verdade, eu não estou quieto, eu estou tranquilo. Estou tentando
repetir o que fiz em 2011, 2012 e um pouquinho de 2013. E eu obtive
muito sucesso agindo daquela forma. Eu acho que eu falei menos e joguei
mais. É a postura que estou adotando em 2015.
A notícia
que a gente tinha é que você tinha que se apresentar num determinado
horário, um domingo, mas que você se atrasou e o Tite ficou magoado com
você. Qual a sua versão sobre o ocorrido?
Vou tentar usar o
máximo das palavras do Tite. Ele reuniu o grupo e falou que o que ele
tem para falar com o atleta, ele chama o atleta na sala, conversa e
depois passa para o grupo. Essa é a atitude do Tite, um cara direto, não
manda recado através da imprensa.
Eu
fico chateado porque as pessoas esquecem que por trás de um gari, de
uma empregada doméstica ou de atleta, existe o ser humano.
Sheik
Isso ele não faz mesmo.
Isso
ele não faz. O que teve foi um pequeno atraso, de 10 a 15 minutos,
domingo, em que eu ainda estava me recuperando da lesão no joelho, o que
não influenciou em nada, já que fiz o tratamento todo. E toda aquela
história que foi colocada, ela não é verdadeira.
Foi colocado que você não foi para o jogo da Libertadores por causa do atraso. Não foi isso?
Sem chance. Eu não fui (para a Argentina) porque o departamento médico me vetou por conta do problema no joelho.
Você
entende que quem assiste ao futebol e tem uma cabeça mais maldosa vê
que o Sheik jogou o primeiro jogo da Libertadores, não jogou nenhum do
Paulista e aí volta para o outro da Libertadores... gente que entende
que seria interessante que você roesse um ossinho antes de pegar um filé
mignon.
Tiago, eu vou além. Por causa do meu histórico,
qualquer coisa que acontece comigo, ela fica maior. Eu tenho consciência
disso. E eu sempre assumi meus erros. Só que desta vez eu não errei. Eu
realmente fiquei fora das partidas porque eu tive uma lesão no jogo
contra o São Paulo pela Libertadores. O departamento médico foi quem
avaliou. Eu não sou médico, eu sou atleta profissional. Minha ausência
foi determinação da comissão técnica junto com o departamento médico do
clube. Eu fico chateado porque as pessoas esquecem que por trás de um
gari, de uma empregada doméstica ou de atleta, existe o ser humano. E as
pessoas que têm o poder de escrever precisam ter cuidado com o que
escrevem. Às vezes, isso pode magoar muito.
Tiago Leifert e Emerson Sheik conversam no
ônibus do Globo Esporte (Foto:
Karina Falzoni / TV Globo)
Mas você assume que atrasou naquele dia?
Dez
minutos(risos)! Eu mudei completamente a minha vida. Eu morava a uma
hora e meia do centro de treinamento do Corinthians, hoje moro a 23
minutos. Eu tenho tido hábitos diferentes.
Eu
nunca fui um cara de beber muito. Mas eu tomava minha cerveja. Eu estou
há dois meses sem beber, e isso não tem nada a ver com futebol. Isso é
uma coisa minha, para a minha saúde, é familiar isso
Sheik
Mas você sabe que tem um histórico de atrasos.
Tiago,
eu atrasei muito em 2011, 2012. Eu assumo os meus erros. Só que em 2015
eu mudei completamente a minha vida. As pessoas falam "O Emerson é
polêmico". Eu não sou polêmico, nada! Eu simplesmente falo a verdade.
Ela pode até me prejudicar às vezes, como já aconteceu na minha vida. Eu
não vou assumir uma bronca dessa porque não aconteceu.
Você ficou muito bravo, deu pra ver na rede social.
Fiquei.
Você falou que mudou completamente a sua vida. Dá um exemplo antes de eu completar meu raciocínio.São
coisas simples. Eu mudei de casa. Eu morava em Alphaville, que fica
muito longe do centro de treinamento. Hoje eu moro em Higienópolis, que é
um pouco mais perto. Algumas amizades que me levavam para um caminho
que na época eu achava que era legal, hoje eu tenho um pensamento
diferente... Hoje eu seleciono muito mais os meus amigos.
E festa?
Nunca mais.
Nunca mais?
Nunca mais, cara...
Não dorme tarde, aquela coisa toda...
Eu
durmo tarde por motivos bobos, não porque eu estou em balada. Eu nunca
fui um cara de beber muito. Mas eu tomava minha cerveja. Eu estou há
dois meses sem beber, e isso não tem nada a ver com futebol. Isso é uma
coisa minha, para a minha saúde, é familiar isso.
Eu durmo tarde por motivos bobos, não porque eu estou em balada.
Sheik
Todo
mundo se atrasa. Eu já me atrasei, minha equipe se atrasa, aliás eu
pego no pé deles... e você está mudando sua vida, seus hábitos, e um dia
você está atrasado. Mas pelo jeito você não estava atrasado pelos
motivos de antes. Aí eu entendo que você pensou "puxa vida, agora eu
estou fazendo tudo certo, e por eu ter atrasado uma vez, o que é humano,
vou ter de carregar toda aquela carga de, ah, o Sheik atrasou de novo".
Os advogados falam do "benefício da dúvida". Você gostaria de ter tido o
"benefício da dúvida" desta vez?
Cara, eu não queria nem
esse benefício. Se você tem um horário com a sua empresa, você tem de
cumprir, porque a empresa cumpre com as obrigações, paga o salário e te
dá toda a estrutura de trabalho. Eu errei de qualquer forma, mas eu vou
me justificar. Eu tenho esse direito. Foi um domingo, teve a Meia
Maratona de São Paulo, e eu moro colado com o Pacaembu. A rua foi
fechada das 8h às 9h30, e eu saio de casa às 8h30. Eu nem sabia que
tinha essa Meia Maratona, eu sou morador novo do bairro. Então eu acabei
me atrasando. Não estava em balada, não estava bebendo. Pelo contrário,
há muito tempo eu não faço isso. E estou me sentindo superbem,
maravilhosamente bem com isso.
Aí você falou "professor, não foi nada disso, eu me atrasei por motivos...normais"Não,
eu cheguei no clube, e daí eu comentei "pô, tinha uma corrida na minha
rua, e eu não sabia". Daí o Fabio (Mahseredjian, preparador físico)
falou "é a Meia Maratona". Então eu corri no computador da fisioterapia,
e entrei (no buscador e digitei) "Meia Maratona de São Paulo", e então
veio a relação das ruas que envolvem o evento e que estavam fechadas,
inclusive a minha.
Com quanto você está de idade?
36.
Você se sente com quantos anos?
Eu? Depende do ponto de vista.
Como jogador de bola.
Como jogador eu me sinto muito bem, com 27, 28.
Então você acha que está inteiraço?
Eu
acho que estou superbem, com a ajuda, lógico, do Corinthians, da
fisioterapia, dos médicos, o controle de jogos... esse rodízio me faz
muito bem.
Você sabe que está chegando ao seu final de carreira...
Estou perto.
Um jogo a mais é um jogo a menos.
Sim.
Tenho um perfil de jogador que acho que hoje em dia não
tem mais. Não pode falar palavrão, né? Eu sou o cara que fala o
palavrão, não tenho medo de falar o que penso. Eu falo. Quem não gostar,
“f”, quem não gostar, “f de novo”.
Sheik
Como está sua cabeça para isso?
Este
é um momento que estou desfrutando da profissão. Eu penso: "Cara, daqui
a um tempo eu não vou estar mais (no futebol)". Às vezes vem gente
falar de contrato, e eu "para, eu não quero falar de contrato porque eu
estou num momento muito bom da minha vida, fora e dentro do gramado, e
eu estou curtindo isso". Tudo o que eu consegui durante 20 e tantos anos
de bola, eu estou conseguindo desfrutar agora. E o Malcom... o Jadson
brincou com ele nos Estados Unidos que ele estava me olhando, e o menino
já falou que me admirava, que gostava do Emerson e tal. E de fato a
gente estava almoçando, e ele me cuidando... eu não sei o que ele estava
me cuidando, porque eu sou um cara simples e... (neste momento, toca o
celular de Emerson). Eu não desliguei o meu telefone?
Gente, ele ainda não está atrasado para o treino... (risos)
Eu juro que está cedo ainda, me perdoa... (risos) E daí é bacana ver essa admiração, sabe, Tiago?
Emerson Sheik durante treino do Corinthians
na arena em Itaquera (Foto: Rodrigo
Gazanel / Agência Estado)
Pois é, já ouvi que "ah, o Emerson precisa tomar cuidado porque os moleques gostam muito dele, ele tem de servir de exemplo".
Isso é verdade. Mas é um absurdo dizer que eu vou conseguir ser tão filho da mãe de levar um moleque para o mau caminho...
Espera,
vamos definir o que é "mau caminho", porque se eu sou um moleque da
base do Corinthians e você é o Emerson Sheik, eu ia gostar que você me
levasse pelo menos uma vez na balada (risos). Você já levou moleque para
a balada?
Nunca, nunca levei, nunca convidei. Eu tenho um
perfil de jogador de futebol que acho que hoje em dia não tem mais. Não
pode falar palavrão, né? Eu sou o cara que fala o palavrão, não tenho
medo de falar o que penso. Eu falo. Quem não gostar, “f”, quem não
gostar, “f de novo”.
Mas você tem de levar os meninos ao menos uma vez... depois de ganhar o Paulistão... (risos)
Isso,
aí seria bacana, uma comemoração... o duro é gostar (risos). Mas,
assim, são garotos, e que fique bem claro, não levaria nenhum daqui, de
lugar nenhum. Eu já fui como eles, já estive em início (de carreira). E
há a dificuldade de você encontrar um grupo competitivo como o do
Corinthians, de todo mundo estar querendo jogar, e as oportunidades são
raras, então eu jamais levaria um garoto para o mau caminho.
Falando
de bola agora. Perguntei para o Caio Ribeiro outro dia: "Este time do
Corinthians, em março de 2015, é melhor do que aquele Corinthians de
março de 2012"... o que você acha?Aqui dentro a gente tem
de ter um cuidado para falar certas coisas, porque ele pede isso, e eu
estou de acordo. Aquela equipe, tão boa quanto essa, ganhou tudo. Esta
está no mesmo caminho. Não sei se melhor ou pior. Se mantiver essa
humildade de jogar futebol, respeitar adversário e jogar futebol, sem
palhaçada... valorizando o nosso trabalho, acho que esta equipe de 2015,
com os títulos, pode ser comparada com a de 2012.
Por causa do meu histórico, qualquer coisa que acontece comigo, ela fica
maior. Eu tenho consciência disso. E eu sempre assumi meus erros. Só
que desta vez eu não errei. Eu realmente fiquei fora das partidas porque
eu tive uma lesão no jogo contra o São Paulo pela Libertadores. O
departamento médico foi quem avaliou. Eu não sou médico, eu sou atleta
profissional.
Sheik
O time, então, está no caminho certo?
O trabalho está intenso. O foco individual de cada atleta está em ser melhor. O torcedor do Corinthians pode ter esperança.
Para
terminar. Outro dia ouvi de um amigo jornalista e corintiano que o
Emerson, para ele, está entre os cinco maiores jogadores da história do
Corinthians, "porque o que ele fez em 2012, a mordida no dedo na decisão
da Libertadores, o passe para o Romarinho fazer o gol na Bombonera...
ele se tornou um dos cinco grandes". Você se vê assim? Você sabe da
importância que você teve para o clube?
Pô, Tiago... não é
humildade ao extremo, mas eu fico até com vergonha, porque tantos
grandes passaram por este clube lindo, maravilhoso, que é o Corinthians,
que eu nunca pensei nisso antes. Eu sei que eu fiz os gols. Alguém
teria que fazer os gols. Se não fosse eu, seria o Paulinho, o Jorge...
então acho que não.
Mas sempre que você estiver num restaurante, vai vir um corintiano para te agradecer. Isso já acontece, não?
Acontece,
acontece... De 2012 para cá, eu ainda me sinto sem jeito porque muita
gente participou. E o que os torcedores veem são os atletas, o
treinador, alguns dirigentes... mas tem tanta gente, a tia que arruma
nosso quarto, as tias da cozinha... tanta gente que participa, né?
Individualizar uma conquista tão grande...não dá.
Emerson, sempre bom falar com você. Quando você quiser, chama e a gente vem de novo com o ônibus.
É, eu estou falando pouco, mas achei o ônibus irado.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2015/03/emerson-sheik-quebra-silencio-e-fala-sobre-polemico-atraso-dez-minutos.html