Dante e Thiago Alcântara marcam no começo, freiam empolgação da torcida do Raja e garantem o quinto título do time alemão em ano com 50 vitórias em 56 partidas
Por Victor CanedoMarrakesh, Marrocos
O
ano de 2013 seria o de uma epopeia chamada Raja Casablanca. Os
marroquinos encantaram o Mundial de Clubes, eliminaram o Atlético-MG de
Ronaldinho Gaúcho e levaram a África até a final com o seu time menos
badalado. Mas então surgiu o Bayern de Munique pelo caminho. O time de Guardiola, Ribéry, Müller e outros craques. E de Dante.
O zagueiro brasileiro viveu neste sábado o seu dia de astro ao fazer o
gol da vitória por 2 a 0, em Marrakesh, que selou a quinta missão para
uma equipe avassaladora.
Thiago Alcântara,
outro brasileiro - embora naturalizado espanhol -, completou o placar
numa decisão que por algumas vezes teve pouca emoção. O Raja não foi
páreo diante da alta estirpe alemã, mas pode se orgulhar por ter caído
de pé. Os donos da casa terminaram a partida lamentando três chances
ótimas de gol e ainda viram o goleiro Askri trabalhar menos do que o
esperado.
Lahm ergue a taça à frente de Ribéry: alemães são
campeões de quase tudo no ano (Foto: Reuters)
Este
é o terceiro título mundial do Bayern de Munique, o primeiro com a
chancela da Fifa. Em 1976, os bávaros superaram o Cruzeiro em jogos de
ida e volta na disputa do Mundial Interclubes. Em 2001, derrotaram o
Boca Juniors, no Japão - e agora se igualam ao próprio time argentino,
Inter de Milão, São Paulo, Real Madrid, Nacional e Peñarol. O Milan
segue como maior campeão do torneio, com quatro canecos.
Talvez
a conquista de 2013, porém, seja a mais especial delas, pois encerra um
ano glorioso na história do clube. Ela simboliza o quinto título de
seis possíveis (Campeonato Alemão, Copa da Alemanha, Liga dos Campeões e
Supercopa Europeia). Apenas a Supercopa da Alemanha escapou dos dedos
para o rival Borussia Dortmund.
As taças são a
recompensa pela eficiência ao longo do ano. Com Guardiola e o antecessor
Jupp Heynckes, o Bayern fez 56 partidas ao longo de 2013. Venceu 50
vezes, empatou três e perdeu três. Apenas com o catalão à frente do
time, são 29 jogos, 24 vitórias, três empates e duas derrotas. Números
que falam por si só.
Deus
Alá foi piedoso com o Raja Casablanca ao longo do Mundial de Clubes.
Gols nos acréscimos, na prorrogação, de pênalti a minutos do fim... Mas
não seria ele o responsável por realizar o sonho marroquino numa final
contra o todo poderoso Bayern de Munique. É daqueles casos que nem a
força divina poderia decidir nas quatro linhas. Faltava ali algo que
sobrava no time alemão: categoria.
Rei Mohammed VI posa com o time do Raja antes
da partida: empolgação marroquina dura pouco
(Foto: AFP)
O
Raja viveu últimas semanas mágicas, com todo um enredo pautado pela
superação de um time que só disputou o torneio por ser o campeão do
país-sede. A empolgação que comoveu Agadir e Marrakesh levou até mesmo o
Rei Mohammed VI ao estádio, acompanhado por Joseph Blatter, Jêróme
Valcke e sua trupe da Fifa. Havia um notório sentimento do “sí, se
puede” na versão árabe. Mas o sonho durou exatos sete minutos.
Até
o gol do brasileiro Dante, que na quinta-feira sequer sabia se seria
titular, o estádio vivia os seus momentos de puro êxtase. Imaginem se o
chute de Iajour, aos quatro, balançasse as redes de dentro - e não de
fora. Imaginem se Karrouchy saísse um pouco antes da pequena área e não
deixasse o zagueiro em condições para abrir o placar?
Não
há muito que se lamentar, porém. O Bayern precisou de pouquíssimo tempo
para mostrar que a diferença entre o melhor time da Europa e o do
Marrocos era gigantesca, talvez do tamanho das contas bancárias de seus
elencos. Aos 22, depois de quase balançar a rede com Müller e Alaba,
saiu o segundo: o lateral-esquerdo avançou pela esquerda, cortou o
marcador e rolou para Thiago Alcântara colocar no canto de Askri.
Thiago Alcântara abraça Alaba: autor de gol e
maestro no meio de campo do Bayern de
Munique (Foto: AP)
A
vantagem deu conforto ao Bayern – não acomodação. O time de Guardiola
seguiu mordendo, marcando forte e foi dono da bola por um tempo precioso
(75% de posse). Quando soube o que fazer com ela, criou chances, com
Shaqiri e Thiago. Quando não soube, Neuer entregou um presentão para
Chtibi, que quase levou a torcida ao delírio com um gol de fora da área.
Foi
uma atuação digna do Raja neste Mundial. Quem esperava um massacre no
segundo tempo viu os marroquinos quase diminuírem com Iajour, aos 11.
Uma cabeçada potente, embora sem direção, que exigiu reflexo de Neuer.
Entre sua sinfonia de toques envolventes, o Bayern também levou perigo.
Shaqiri, a novidade de Pep no time titular, carimbou o travessão após
cruzamento de Lahm. Thiago jogou o rebote para fora.
Os
marroquinos se orgulhavam de seu papel. Cantaram mesmo sem enxergar
alguma perspectiva de reação. Vaiaram os alemães quando já pareciam
comemorar o título em alto e bom som. E cantaram de novo. Em campo,
quase foram ao delírio com as chances desperdiçadas por Mabide,
Moutaouali e Kachani. A taça estava mesmo destinada ao "Super Bayern".
Torcida do Bayern marca presença no Marrocos:
festa vermelha mais uma vez em 2013 (Foto: Reuters)
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