Público aponta engarrafamento, acesso ao
estádio e assentos numerados como problemas no Brasil x Chile, teste
para Copa das Confederações
Por Rodrigo Fuscaldi e Valeska Silva
Belo Horizonte
Se em campo a seleção brasileira enfrentou dificuldades no empate por 2 a 2 com o Chile,
a situação não foi muito diferente para os 53.331 torcedores que foram
ao Mineirão na noite de quarta-feira. No primeiro evento-teste com o
time de Luiz Felipe Scolari para a realização da Copa das Confederações
de 2013, o estádio não foi aprovado integralmente pelo público
Assim como no jogo que marcou a reinauguração da arena,
na vitória por 2 a 1 do Cruzeiro sobre o Atlético-MG, em fevereiro,
quem foi ao local elegeu como os maiores vilões o engarrafamento para
chegar ao estádio, a demora nas catracas de acesso e a confusão nos
assentos numerados. Em menor escala, houve quem apontasse a pouca opção
nas lanchonetes e a sujeira no estádio como problemas. Entretanto, a
comunicação dos voluntários e a segurança foram motivo de elogios.
O Comitê Organizador Local (COL), responsável pelo evento, admitiu que
houve problemas, mas ressaltou que foram pontuais e que o teste serviu
exatamente para identificar e sanar as falhas já na Copa das
Confederações. O torneio será realizado de 15 a 30 de junho, e a sede
mineira abrigará três jogos (Nigéria x Taiti, em 17 de junho, Japão x
México, em 22 de junho, e a semifinal de 26 de junho).
Filas
longas na entrada, engarrafamento, confusão com ingressos e lugares
marcados e até o feião tropeiro: reclamações de torcedores no primeiro
jogo da Seleção no novo Mineirão (Fotos: GLOBOESPORTE.COM)
A primeira reclamação começou no trânsito. Mas quem chegou cedo ao
Mineirão não teve dificuldades. No esquema testado, nos moldes dos
torneios da Fifa, apenas veículos previamente credenciados acessaram o
entorno do estádio e tiveram acesso aos estacionamentos, além das 1.500
pessoas que pagaram R$ 50 para estacionar no estádio.
As pessoas ficam bebendo no lado de fora e querem entrar faltando dez minutos"
Tiago Paes, gerente operacional do COL
Houve bloqueios no entorno do estádio, o que deu mais espaço e
segurança para os torcedores transitarem. Porém, nas avenidas de acesso,
as coisas pioraram a partir das 18h, com o horário do rush. À medida em
que se aproximava o horário da partida, o volume de carros aumentava e a
situação ficou complicada. Para piorar, uma greve de professores
atrapalhou o trânsito na Avenida Antônio Carlos, uma das duas principais
ligações do centro da cidade ao estádio.
Entretanto, nem todos reclamaram do trânsito. Para o advogado Júlio
Rubens, a segurança compensou o tempo perdido no engarrafamento. Até
porque, só circulava no entorno do Mineirão quem tinha ingresso.
- Peguei trânsito pesado, mas acho que a medida de tirar os carros ao
redor do Mineirão foi boa. Deu para andar numa boa, sem risco - disse
Júlio, que levou os dois filhos para conhecer o Mineirão.
Em relação aos estacionamentos, exclusivos para o uso de quem havia
adquirido o bilhete antecipado, a falta de sinalização dificultou a
localização dos motoristas. Voluntários e policiais militares muitas
vezes não sabiam dar a localização exata dos estacionamentos.
Reformado para 2014, Mineirão recebe quase 54 mil pessoas para amistoso (Foto: Rodrigo Fuscaldi)
Cerveja e catraca causam problemas na entrada
Mas o maior problema foi certamente a entrada no estádio. A uma hora de
o jogo começar, as filas eram longas e pareciam não diminuir.
- Minha família ficou mais de uma hora na fila para entrar. Não adianta
comprar ingresso antecipado, ter lugar marcado, chegar com
antecedência. O torcedor não conseguia entrar no estádio - disse a
publicitária Thaís Almeida.
Tiago Paes, gerente operacional do Comitê Organizador Local (COL) não
negou a existência do problema, mas disse que ele é causado por um fator
cultural: o consumo de cerveja.
- As pessoas ficam bebendo no lado de fora e querem entrar faltando dez
minutos. Isso sobrecarrega o sistema de catracas, que sofre com o pico
de pessoas. Para resolver, só tendo catracas no estádio todo, o que é
impossível. Acredito que com a liberação da cerveja na Copa das
Confederações, esse problema será minimizado. E ele acontece também no
Engenhão, no Rio de Janeiro, aqui no Independência...
Flagrante da fila na entrada do estádio quando a partida já havia começado (Foto: Tarcísio Badaró)
Para o jornalista Ricardo Corrêa, contudo, o problema foi outro.
- Não é falta de catraca para as pessoas entrarem. É a revista, é
óbvio. De nada adianta ter 20 catracas e seis ou sete caras para fazer a
revista. Com isso, há quem não tenha visto grande parte do jogo. E, não
duvido, há quem tenha desistido.
A minutos do apito inicial, a situação ficou tensa. Aos gritos de
“vergonha”, muitos começaram a protestar. Como a situação era
irremediável, a organização permitiu que o público entrasse em qualquer
setor, o que resolveu o problema da entrada. Mas a medida teve outro
impacto. Pessoas começaram a chegar em setores que não correspondiam aos
de seus ingressos. O resultado é que, em alguns blocos, havia mais
gente do que lugares para sentar. Também teve torcedor sendo
surpreendido ao chegar e ver seu lugar já ocupado. A polícia militar
interveio em ao menos duas situações, quando torcedores quase brigaram
por causa do problema.
Tiago Paes reconheceu o problema. Porém, o fator cultural mais uma vez entrou em pauta.
- Todas as catracas aceitam todos os ingressos para que as pessoas
circulem e achem seus lugares. Mas as pessoas, por questão de educação e
cultura, circulam e sentam em outros lugares. Vamos ter (na Copa das
Confederações) mais orientadores para colocar as pessoas nos assentos
corretos.
Ingressos também geram confusão entre torcedores
Muitos torcedores também reclamaram de problemas com ingressos.
Duplicidade, falsificação, má impressão e até falta de informação
correta nos bilhetes.
- Eu fui tomar o meu assento e, quando cheguei, estava ocupado. Você
compra o ingresso e não tem direito ao seu lugar - reclamou o empresário
Paulo Garcia.
Exemplo de ingresso com problema: reticências no lugar do setor (Foto: Reprodução/ Internet)
Tiago Paes, além de ressaltar que a responsabilidade pelos bilhetes na
partida era da CBF, explicou que estão previstos postos de apoio aos
torcedores na Copa das Confederações.
- Estamos juntando o máximo de informações para verificar o que
aconteceu com a impressão dos ingressos. Na Copa da Confederações
teremos, ao lado das catracas, o ponto de resolução de problemas de
ingressos. Serão de seis a oito pontos para resolver eventuais
problemas.
O CEO do Comitê Organizador Local (COL), Ricardo Trade, disse que o
serviço será corrigido na Copa das Confederações e na Copa do Mundo.
- Estamos cientes dos problemas. Observamos e vamos solucionar. Na Copa
das Confederações e na Copa do Mundo, o sistema de bilhetagem será
outro, mais rápido e eficiente. Vai ser diferente.
Outra crítica, ainda que de parte reduzida da torcida, foi direcionada às lanchonetes e à sujeira do estádio, ainda empoeirado.
- Entrando na fila da lanchonete ao fim do primeiro tempo, você não
consegue comprar o (feijão) tropeiro antes de começar o segundo tempo.
Só se sair antes do tempo acabar. Se quiser comprar refrigerante,
passará o mesmo suplício. Ademais, o estádio estava sujo. Muito sujo -
disse Ricardo Corrêa.
Apesar dos transtornos enfrentados pelo público, a avaliação da
organização foi positiva. Antes e durante a partida, vários serviços
foram testados pelos inspetores da Fifa. Foram avaliados serviços de
limpeza e coleta seletiva de recicláveis, orientação ao público e uso do
assento numerado, condições do gramado e dos equipamentos necessários à
prática do futebol, boas condições de sonorização e do telão,
transporte público, mobilidade urbana, transmissão das emissoras de
televisão, segurança e atendimento médico.
De acordo com Tiago Paes, é preciso mais tempo para somar todas as informações e, então, fazer uma análise do evento.
- Não paramos todas as áreas para conversar, mas, de forma geral, foi
tudo bem. Da área de competições, testamos vestiários, chegada das
equipes, alimentação, teste de transporte, com apenas carros
credenciados chegando, todos escoltados. Testamos àrea de voluntários e,
ainda que com uma operação reduzida, funcionou muito bem, com
alimentação, posicionamento e distribuição de uniformes. Testamos área
de tecnologia, com parte de rádio, som, luz, também de forma positiva.
Problemas aconteceram, mas é normal, vamos aproveitá-los para corrigir
no futuro.
Também consciente dos problemas, Ricardo Trade afirmou que o evento foi
um sucesso. Segundo ele, das 14 áreas avaliadas, apenas o serviço ao
espectador apresentou falhas. Ele também fez coro à questão dos
problemas com ingresso pertencer à CBF, no jogo desta quarta.
- Tudo o que há relacionado à bilhetagem é de inteira responsabilidade
da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Problema de ingresso é com
eles. Vamos analisar quais foram as falhas e relatar às pessoas
competentes, para que não se repita.
O secretário extraordinário para a Copa do Mundo em Belo Horizonte,
Tiago Lacerda, também aprovou o teste e disse que o Mineirão está
praticamente pronto para receber as competições internacionais.
- O Mineirão foi o estádio do Brasil que teve mais operações. Esse
amistoso foi o 11º evento, entre jogos e o show do Elton John. O COL tem
testado alguns itens. Para esse jogo, foram liberadas 1.500 vagas no
estacionamento, o que não vai acontecer na Copa das Confederações e na
Copa do Mundo. O evento de hoje foi importante para integrar as esferas
federais, estaduais e municipais e serve, também, para mostrar que a
Copa está próxima.
O COL ainda vai consolidar todas as informações em um documento oficial, no entanto, ainda sem data para ser publicado.
Próximos testes
Até a Copa das Confederações, outros quatro jogos servirão de teste
para o torneio. O próximo já será neste domingo, na partida entre Bahia e
Vitória, na Fonte Nova, em Salvador, pelo Campeonato Baiano. Ainda
haverá um jogo do Náutico, contra um adversário a ser definido, na Arena
Pernambuco, além de Flamengo e Santos, na primeira rodada do Campeonato
Brasileiro, no Estádio Nacional de Brasília, e o Brasil e Inglaterra,
na reinauguração do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Seleção comemora gol contra o Chile, mas deixa o campo vaiada pela torcida mineira (Foto: Mowa Press)
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