Com oito gols em
oito jogos, artilheiro do estádio após reinauguração traça meta ousada,
se espanta com marca de Zico e sonha com gol de bicicleta
Por Cahê Mota
Rio de Janeiro
Neymar, Fred, David Villa, Fernando Torres, Xavi, Iniesta, Balotelli,
Pirlo e Chicharito. A lista de craques que já pisaram no novo Maracanã é
de respeito, mas de brilho efêmero. Com exceção dos brasileiros,
marcados pelo título da Copa das Confederações, o restante virou
estatística e são apenas novos famosos a passarem por ali. Com o fim da
competição, a Fifa deu uma brecha de um ano até a Copa do Mundo e
colocou o estádio à disposição de "mortais". E, neste grupo, um nome
começa a ligar sua identidade ao principal palco do futebol nacional: Hernane.
Se não conta com a grife dos craques internacionais, o atacante do
Flamengo tem gols, e é com eles que começa a fazer história no estádio (assista ao vídeo ).
Hernane é o artilheiro do Maracanã após reabertura do estádio (Foto: Cahê Mota)
O período ainda é curto, apenas quatro meses e meio. A marca ainda é
modesta: somente oito gols. Mas, seja de bico ou de letra, ninguém
marcou mais gols no novo Maracanã que o Brocador. Com média de um por
jogo, Hernane pisou no gramado pela primeira vez no clássico com o
Botafogo, pelo Brasileirão. Vindo do banco de reservas, até finalizou
bem em duas oportunidades, mas foi diante do Fluminense que realizou o
sonho de balançar a rede do palco que conheceu ainda na juventude.
- Quando era mais novo, vim jogar um interclubes aqui (no Rio) pela
AABB de São Paulo e tive esse privilégio de conhecer o Maracanã. Da
arquibancada, eu olhei esse estádio maravilhoso e não imaginaria que um
dia eu estaria aqui sendo o artilheiro do novo Maracanã. Me identifiquei
bastante com esse estádio aqui, muito maravilhoso. Espero poder marcar
muitos gols aqui.
Obina, Zico e meta ousada
Hernane se acostumou a balançar a rede do Maraca
após a reabertura do estádio (Foto: Cahê Mota)
A visita esporádica não afastou Hernane do Maracanã. Baiano, o
atacante, que iniciou a carreira no São Paulo e rodou pelo interior até
chegar à Gávea, mantinha pela televisão a relação afetiva com o estádio e
o time do coração: o próprio Flamengo. Torcer na arquibancada nunca fez
parte da rotina, mas pela telinha o Brocador viu, há sete anos, um
conterrâneo transformar em realidade aquilo que era quase uma utopia
para ele.
- Minha maior recordação é um pouco recente. Foi no jogo Vasco e
Flamengo, pela Copa do Brasil, que o Obina fez o gol na final. Esse é um
resultado que me marcou bastante.
Como Obina, Hernane chegou ao Flamengo cercado por desconfianças e até
um certo folclore amenizado pelos gols. Só em 2013 já foram 25, perto da
sua meta de 30. No Maraca, foram oito em oito jogos. Número que o
coloca com certa folga no topo da artilharia do estádio - Fred, do
Fluminense, que está lesionado, e Fernando Torres têm quatro -, mas o
Brocador quer mais, muito mais até dezembro.
- No Maracanã, eu pretendo fazer em torno de doze a quinze gols.
Terminar o ano com quinze gols no Maraca seria muito importante.
Para isso, Hernane terá de oito a onze jogos para disputar ainda em
2013 - depende da classificação na Copa do Brasil. Meta ousada, mas
alcançável. Já o mesmo não pode ser dito em relação ao recorde histórico
do estádio. Aos 27 anos, o atacante precisaria ser uma máquina de gols
para chegar aos 333 de Zico, goleador máximo do Maracanã.
- Faltam trezentos e vinte e cinco... É um número muito alto, né?!
(risos). Mas eu acho que eu pretendo fazer muitos gols ainda com a
camisa do Flamengo.
Após letra, Brocador sonha 'pedalar'
Dos oito gols marcados até o momento, um é especial para Hernane: o
primeiro dos dois marcados diante do Fluminense. O carinho não é somente
por ter sido também o primeiro de sua história no Maracanã, mas,
principalmente, pela forma como aconteceu: com um lindo toque de letra.
- É o momento. Acho que nos gols você nunca espera o que você vai
fazer. Você tem que estar pronto para qualquer momento a bola sobrar e
você tocar para o gol de qualquer maneira. Na hora do lance, o Léo
(Moura) viu o meu posicionamento. Ele sabe que eu... Vou cortar aqui,
porque senão alguém vai descobrir a minha grande jogada com o Léo Moura
(risos). Ele viu que eu tomei a frente do zagueiro e deu um passe
rasteiro. Foi aí que eu consegui dar o toque de letra e fazer um belo
gol.
Hernane sonha com gol de bicicleta no Maracanã (Foto: Cahê Mota)
Desde então, Hernane já fez gols de diferentes maneiras. Com toque
sutil por cima do gol, de cabeça, de pênalti, escorando sem goleiro e
até de chutão, meio que de bico, diante do Criciúma. O atacante segue o
lema de Dadá Maravilha, em que "não existe gol feio, feio é não fazer
gol". Entretanto, se pudesse escolher, o Brocador não esconde que
gostaria de deixar sua marca em grande estilo.
- Acho que um gol de bicicleta vai ficar marcado para a história, né? O
de letra é um gol muito difícil, mas geralmente a bola vem mais
embaixo, então é mais fácil. Com a bola em cima é muito raro acontecer
um lance para você dar uma bicicleta. Se eu conseguir fazer um gol de
bicicleta no Maracanã, sem dúvida vai ser esse gol (o mais bonito).
Nesta quinta-feira, às 21h (de Brasília), Hernane volta ao Maracanã
para encarar o Internacional, pela 27ª rodada do Brasileirão. Um gol de
bicicleta será muito bem-vindo, mas com uma meta pessoal a alcançar o
Brocador não tem dúvidas: seja como for, o que importa é fazer o gol.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2013/10/casa-do-brocador-de-bico-ou-de-letra-hernane-se-consagra-no-maracana.html