Fabiana, Carol Albuquerque, Sassá e Ana
Beatriz tentam recuperar o tempo perdido e dividem rotina de treinos da
equipe com livros e trabalhos de casa
Por João Gabriel Rodrigues
São Paulo
O professor Roberto de Oliveira une letras e números no quadro negro,
sob o olhar atento de seus alunos. À sua frente, 20 estudantes tentam
entender aquela fórmula que há tempos ficou perdida na memória. Anotam
tudo em seus cadernos, antes de tirarem suas dúvidas. Naquele grupo,
jovens, trabalhadores e aposentados tentam recuperar o tempo perdido
dentro das salas de aula. E, entre eles, alguns rostos conhecidos. Na
escola acima do ginásio do clube, jogadoras do Sesi-SP também se
esforçam para voltar aos estudos depois tomarem o rumo das quadras, anos
atrás.
Apresentadas ao projeto educacional do clube, Fabiana, bicampeã
olímpica com a seleção brasileira, Sassá, Carol Albuquerque e Ana
Beatriz resolveram voltar no tempo e retomar os estudos. As jogadoras
fazem uma espécie de supletivo para conseguir finalizar o ensino médio
em até um ano e meio. Elas, que pararam de estudar em períodos
diferentes, dividem a rotina de treinos e jogos com os livros e tentam
recuperar o ritmo dentro das salas de aula.
Fabiana parou de estudar ainda adolescente. Naquela época, já confiava
em um bom futuro dentro das quadras e, por isso, optou pelo vôlei.
Agora, com a carreira consolidada, tenta vencer a falta de tempo para,
enfim, finalizar os estudos.
Sassá, Ana Beatriz e Fabiana atentas na aula de matemática (Foto: Marcos Ribolli / GLOBOESPORTE.COM)
- Naquela época, era continuar no vôlei ou nos estudos. E eu quis optar
pelo vôlei, que eu sabia que eu estava crescendo em quadras. Agora,
faço a parte física de manhã, descanso à tarde e treinamos de novo. E às
19h30m eu tenho meu supletivo – brincou Fabiana.
Incentivada pelas companheiras, Carol Albuquerque, campeã olímpica em
Pequim 2008, também quis retomar os estudos. Em sua primeira semana nas
aulas, a levantadora pediu material emprestado para o filho e “queimou” a
cabeça para tentar entender as tais fórmulas de matemática.
Jogadoras saem do treino para as aulas de
matemática (Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
- Eu parei no segundo ano, fui reprovada em 1993 e agora estou
voltando. Relembrar matemática, física, é complicado. Estou queimando a
cabeça (risos). Peguei caderno do meu filho, estojo, tudo. Mas vale a
pena – disse a levantadora.
Dentro de sala, as jogadoras não recebem tratamento especial. O
professor, no entanto, diz que nem seria preciso. Segundo Roberto de
Oliveira, as atletas são tão empenhadas quanto as outras alunas.
- Elas são muito empenhadas, já têm alguma escolaridade e estão
tentando recuperar o tempo perdido. Elas me respeitam bastante. A Sassá é
muito empenhada, a Bia também. E a Fabiana está indo muito bem, é muito
aplicada. O duro é quando ela vem aqui tirar dúvida, tenho de ficar
olhando para cima – brincou o professor.
Apesar do moral com o mestre, Fabiana diz que o retorno à sala de aula não foi tão fácil.
- Ele está puxando o meu saco (risos). Quando eu cheguei, não entendia nada. Mas estou me empenhando para aprender – disse.
A presença das companheiras ilustres dentro da sala de aula anima
também as outras alunas. A dona de casa Heuvanir Amorim disse que as
jogadoras servem de inspiração dentro de sala.
- É surpreendente ver que elas também estão recomeçando. É um incentivo
a mais, elas vão somar muito à aula – disse Heuvanir, que retomou os
estudos há três anos.
No sistema do Sesi, as provas são todas feitas durante uma semana, após
o período de um ano e meio de aulas. Mas, mesmo sem avaliações, um
hábito tradicional dos tempos de escola não ficou para trás.
Alunos tentam recuperar o tempo perdido nas salas de aula ( Marcos Ribolli / GLOBOESPORTE.COM)
- A Sassá cola de mim toda hora, sempre olha para trás para copiar os
trabalhos – entrega Fabiana, apesar da negativa da companheira.
Mesmo com as viagens e jogos, as alunas podem recuperar o material
através de vídeos das aulas diárias. Segundo o Sesi, até mesmo jogadoras
de outros clubes já procuraram a diretoria para saber se é possível
retomar os estudos mesmo sem jogar por lá. Renato Tavolari Neto,
supervisor de vôlei da equipe, afirma que as portas estão abertas.
- A notícia corre. Nas redes sociais, nas conversas depois dos jogos,
os atletas conversam sobre isso. Alguns atletas de outros clubes já
disseram que querem estudar por aqui. E o Sesi está de portas abertas.
Sassá atenta para aula (Foto: Marcos Ribolli /
GLOBOESPORTE.COM)
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