Com último
julgamento por doping previsto para outubro, na Suíça, meia inicia
preparação e diz: 'Nunca vou perder a alegria de jogar futebol'
Por Gustavo Rotstein
Rio de Janeiro
Carlos Alberto treina com o Bangu: mantendo a orma até a liberdade (Foto: Gustavo Roststein)
A última lembrança que Carlos Alberto
tinha do Estádio Eustáquio Marques era a do dia em que marcou três gols
sobre o Flamengo num clássico dos juvenis quando defendia o Fluminense.
Na última sexta-feira, já consagrado e a bordo de um carro que fazia
jus às suas conquistas, ele retornou ao local para uma espécie de
recomeço. Ainda à espera de mais um julgamento da acusação de doping, o
meia iniciou os treinamentos com a equipe do Bangu. Sem qualquer vínculo
com o clube, seu objetivo é não perder o ritmo e estar pronto para
quando voltar a ter o direito de jogar futebol.
Em agosto, Carlos Alberto foi condenado a um ano de suspensão por
doping, em decisão tomada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
Com alguns descontos, ele retornaria aos gramados entre maio e junho de
2014, mas a decisão final será tomada pela Corte Arbitral do Esporte
(CAS, na sigla em inglês). Provavelmente em outubro, na Suíça, ele
saberá exatamente quando será liberado para exercer sua profissão, o que
não acontece desde 8 de junho, data de sua última partida pelo Vasco (1
a 1 com o Bahia). Em 2 de agosto seu contrato com o clube foi
encerrado.
Por isso, a fisionomia de Carlos Alberto ao iniciar os treinos com o
Bangu era de satisfação. Mesmo em meio à incerteza do futuro havia a
consciência de que é necessário estar preparado para quando a liberdade
chegar. Com o filho Lucca, de 4 anos, brincou no gramado. Na
arquibancada do estádio, localizado no bairro de Curicica, Zona Oeste do
Rio de Janeiro, a mulher Carol assistia a tudo.
- O que aconteceu foi triste, mas ele vai dar a volta por cima e no ano
que vem vai dar muitas alegrias ao futebol. O Carlos Alberto é um
guerreiro.
Carlos
Alberto e o Bangu treinam em estádio que foi locação do fictício time
do Divino, da novela 'Avenida Brasil' (Foto: Gustavo Roststein)
Mesmo conhecendo poucos jogadores do Bangu, Carlos Alberto deixou a
timidez de lado. No aquecimento, brincou com alguns atletas e fez
piadas. Em campo, treinou como se estivesse perto de disputar uma final:
não fugiu das divididas, cometeu faltas quando necessário, deu bronca e
orientou os garotos.
Enfim, repetiu atitudes das quais sentia saudade.
À beira do campo, o ex-ponta Marinho observava com atenção. Auxiliar do
técnico Mazola, aquele que é um dos maiores ídolos da história do
Bangu, pelo qual brilhou na década de 80, comemorou a presença de Carlos
Alberto, mesmo sabendo que o jogador de 28 anos participará apenas dos
treinos da equipe em Curicica – duas vezes por semana – e não poderá
disputar as partidas da Copa Rio – competição que o time lidera e que dá
vaga na Copa do Brasil e na Série D.
Marinho acompanha treino de Carlos Alberto no Bangu (Foto: Gustavo Roststein)
- O Carlos Alberto é um grande atleta e um garoto muito bom. Só de ele
treinar aqui vai animar muito essa garotada - disse Marinho, de 57 anos.
Há 12 anos, Marinho cruzava bola para outro considerado craque mas que
não tinha clube para jogar. Em 2001, Ronaldinho Gaúcho realizou alguns
treinos com o Bangu, em Moça Bonita, após se desligar do Grêmio e antes
de acertar com o Paris Saint-Germain. O jogador decidiu manter a forma
para se preparar para defender a seleção brasileira.
Atualmente, Carlos Alberto treina no estádio que serviu de locação para
os jogos do Divino, time fictício de futebol da novela “Avenida
Brasil”. Sua história, entretanto, é real. Mas ele se recusa a enxergar
algo diferente de um final feliz.
- Estar no campo é sempre gratificante. Aqui no Bangu eu posso
trabalhar bem e com privacidade. Mais cedo ou mais tarde eu vou voltar,
então preciso estar em forma. E o que mais sinto falta é dessa rotina.
Uma águia não pode ficar no galinheiro - brincou.
Por orientação de seus advogados, Carlos Alberto não pode falar sobre
seu caso de doping nem de nada relativo ao processo. Mesmo assim, com
palavras agradeceu o acolhimento do Bangu e, convidado por Mazola, falou
aos jogadores, antes do treino, sobre o que significava estar ali.
- Quero agradecer a oportunidade de estar aqui trabalhando com vocês. O
que nós mais gostamos de fazer é estar no campo, e nesse momento estou
impedido. Mas a verdade vai aparecer, e até lá espero fazer o máximo
para colaborar. Esse campo me traz ótimas recordações, e fico feliz de
compartilhar isso com vocês.
Carlos Alberto (centro) fala a jogadores do Bangu antes de primeiro treino (Foto: Gustavo Roststein)
Desde o fim de seu contrato com o Vasco, Carlos Alberto tem valorizado a
vida em família. Além disso, tem concentrado seus esforços em trabalhos
físicos numa academia e na administração de um restaurante em parceria
com o atacante Alecsandro, do Atlético-MG. Mas ele garante que o
principal tem sido o prazer de estar mais tempo com os filhos Lucca e
Davi, de 1 ano.
Carlos Alberto mata saudade da bola treinando com o Bangu (Foto: Gustavo Roststein)
- Às vezes a gente pensa em desistir. Mas com a família nós somos mais
fortes. Fico feliz de estar com eles e seguir trabalhando, porque tenho
saúde e porque eles dependem de mim - lembrou o meia, que em seu
primeiro treino recebeu a visita de Luciana Lopes, sua advogada. Ela é
filha de Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio de
Janeiro e ex-presidente do Bangu.
Com um título da Liga dos Campeões e do Mundial no currículo (ambos
pelo Porto, em 2004), Carlos Alberto procurou valorizar um simples
treino do Bangu deixando claro que em Curicica, em São Januário ou no
Estádio do Dragão, entra em campo com apenas um sentimento.
- Eu nunca vou perder a alegria de jogar futebol.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2013/09/espera-da-liberdade-carlos-alberto-mantem-forma-em-treinos-do-bangu.html