Ele
virou realidade aos 27 anos. Ao contrário da maioria dos jogadores,
surgiu tarde para o futebol. Foi depois de perambular por equipes
pequenas que Josiel
se tornou o artilheiro do Brasileirão, em 2007, pelo Paraná, com 20
gols. No ano seguinte, foi contratado por um dos maiores clubes do
Brasil, o Flamengo, e ganhou fama nacional. Mas seus tempos de glória
também duraram pouco. E agora Josiel volta às origens para tentar
retomar a carreira.
Depois da passagem pelo Flamengo, o
atacante não brilhou tanto por onde passou. Colecionou clubes e algumas
decepções. Chegou a atuar no esporte amador para, aos 33 anos, ressurgir
no Inter de Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, onde
tudo começou para ele.
Com trajes típicos, Josiel prepara um churrasco
em casa (Foto: Arquivo Pessoal)
Enquanto
espera para voltar às competições, Josiel relembra com carinho a
carreira. Não guarda mágoas da equipe carioca, apesar de não ter tido o
contrato de empréstimo renovado quando havia finalmente “engrenado”, em
sua própria leitura. A adaptação demorou. O gaúcho chegou ao Flamengo em
agosto de 2008, quando os companheiros de equipe já estavam acostumados
com o ritmo do Brasileirão. Ele, porém, sofria com dificuldades para
acompanhar os treinamentos.
Os meses no Al-Wahda, nos
Emirados Árabes, clube para o qual foi transferido após defender o
Paraná, fizeram com o que o jogador voltasse ao Brasil com o
condicionamento físico prejudicado. Demorou seis meses para marcar seu
primeiro gol com a camisa do Flamengo. Balançou as redes pela primeira
vez somente no dia 1º de fevereiro de 2009, contra o Volta Redonda, pelo
Estadual (veja o gol no vídeo abaixo).
-
Lá (Al-Wahda), não tinha tanta cobrança. Não era como no Brasil, que
todo jogo é uma pressão. Foi uma experiência boa, outra cultura, outro
país, mas aqui você tem vontade de correr. Tem o calor humano - avalia
sobre o período em terras estrangeiras.
Sobre sua passagem pelo Flamengo, viu pontos positivos.-
No início, foi um pouco complicado (Flamengo), achei que não ia dar
certo. Mas em 2009, quando fizemos a pré-temporada, melhorou muito.
Tanto que fui vice-artilheiro do Carioca. Dizem que minha passagem não
foi boa, mas, para mim, foi. Minha média é das melhores. Joguei 30 jogos
e fiz 13 gols.
Embora tenha se destacado no Estadual, Josiel
deixou o Flamengo pouco tempo depois. Sua saída foi anunciada após a
derrota de 5 a 0 para o Coritiba, pela 6ª rodada do Campeonato
Brasileiro, em junho. A justificativa dada ao atacante foram os alto
valores que envolviam a renovação de empréstimo com o Al-Wahda.
A torcida por Brocador
O
gaúcho nascido em Rodeio Bonito, município de 5.751 habitantes, enxerga
sua saída como natural. Lamenta não ter tido mais tempo para se
destacar, mas acredita serem “questões do futebol”. O tempo que faltou a
Josiel, aliás, ajudou a sacramentar o surgimento de um outro atacante
em condições semelhantes.
Eu já tinha sido destaque. A cobrança era maior"
Josiel, atacante
Hernane,
de 27 anos, mesma idade com que Josiel brilhou pelo Paraná, teve um
caminho igualmente difícil. Nos primeiros seis meses de Flamengo, marcou
apenas três vezes. E, quando parecia ter provado qualidade, ao
tornar-se artilheiro do Carioca em 2013, foi sacado do time para a
entrada de Marcelo Moreno.
Ao contrário de Josiel, contou com
um trunfo: chance para provar que merecia espaço. O atual camisa 9 só
não deixou o clube em setembro de 2012 porque insistiu em ficar. Os
cariocas, que tentavam duas contratações, ofereceram Hernane como uma
das opções para negócio. Mas o jogador não foi convencido. Bateu o pé e
pediu outra oportunidade. Deu certo. Hernane virou o Brocador. Marcou 36
gols na temporada e tornou-se o artilheiro do Brasil no ano.
-
Eu torço por ele. Até chegar ao Flamengo, ele era uma aposta. Conseguiu
provar. E ele teve um tempo a mais que eu, tem futuro, está fazendo
muitos gols. Pode crescer ainda. Eu já era um jogador que tinha sido
destaque. A cobrança era maior. (...) Não sei dizer se faltou apostarem
em mim como apostaram nele.
Ficou no passado. Se o clube pagasse os
valores, eu poderia ficar. Mas o Al-Wahda pediu um valor muito alto -
analisou.
Melhor ano
Josiel não tem dúvidas quando o assunto é a temporada no Paraná: 2007 foi o melhor ano de sua carreira
(confira no vídeo ao lado dois gols do atacante contra o Flamengo em julho de 2007).
Quando chegou ao clube do Sul do país, não imaginava o que estava para
acontecer. Em seus pensamentos, a artilharia do Brasileirão e a
contratação pelo Flamengo ainda eram distantes. Isso porque, três
temporadas antes, o atacante havia sofrido uma lesão que o fez ter
dúvidas de que poderia seguir a carreira.
Foram anos rodando
em times do interior gaúcho. Além do começo no Inter SM, em 1998, foi
emprestado para times como Pelotas, São José, Avenida e Juventude. O
“divisor de águas” foi justamente a fratura na fíbula, que sofreu em
2004, em um despretensioso amistoso disputado com a seleção amadora da
cidade de Santa Maria.
Ficou seis meses parado. Questionou se
seria possível retornar aos gramados. Afinal, não contava com a idade
como sua aliada. Mas o destino mudou. O jogador se recuperou e, dois
anos depois, foi transferido para o Brasiliense, pelo qual disputou a
Série B. A partir da segunda divisão, conseguiu a porta de entrada para o
Paraná.
Josiel afirma que quer permanecer perto
de casa (Foto: Arquivo Pessoal)
Durante
toda a competição de 2007, viveu a expectativa da conquista pessoal. A
disputa com Acosta, que atuava pelo Náutico, era acirrada. A briga
aconteceu até o fim, com diferença de apenas um gol. Josiel terminou com
20, e Acosta, com 19.
- Na verdade, eu não acreditava até a
última rodada que seria artilheiro. Há três anos, eu estava no futebol
do interior, com uma lesão. Eu não sabia que ia voltar a jogar futebol
daquele jeito. Parecia que eu estava realmente sonhando. Era um um
sonho, inacreditável. Eu estava com um gol na frente (de Acosta). Aí no
último jogo eu não fiz gol, e ele também não fez. Se ele fizesse,
empataria comigo. Sem dúvida, foi o meu melhor ano. Nós (Paraná) fomos
rebaixados, isso não foi bom. Mas, individualmente, sim.
O
estrelato, para ele, chegou tarde. Os anos em que brilhou, no entanto,
ajudaram a construir a independência financeira. O esporte, atualmente,
não é sua única fonte de renda. Mantém uma propriedade de terra em
Rodeio Bonito como negócio paralelo.
- Consegui, graças a
Deus. Daquele ano do Paraná para frente, melhorou muito. Porque jogando
no interior (do RS), você ganha para se manter, para sobreviver. Depois
de 2007, consegui muita coisa na minha vida particular. Me deu uma
responsabilidade, uma garantia boa, até porque alguns conseguem começar a
ganhar dinheiro com 15, 16 anos. Eu fui ganhar dinheiro com quase 30 -
apontou, bem-humorado.
Início da vida cigana
Dois
anos depois da “temporada dos sonhos”, Josiel iniciou um período de
vida cigana. Pouco se destacou e passou por muitos clubes. A saída do
Flamengo determinou seu retorno ao Al-Wahda. A equipe árabe, porém, não
iria aproveitar o jogador. Com isso, foi transferido para o Jaguares, de
Chiapas, no México, na metade de 2009.
O contrato com a
equipe estrangeira era de um ano. O gaúcho permaneceu por apenas seis
meses. Complicações familiares, segundo ele, desviaram o foco. Ele
retornou ao Brasil, mas ficou o restante do tempo de vínculo sem poder
atuar.
- Minha mãe teve um problema de saúde, uma complicação
que eu não esperava. Não conseguia ficar em paz. Era uma opção que
tinha de fazer. Fiquei de janeiro até junho ou julho (de 2010) sem poder
jogar. Foi o tempo mais difícil da carreira, porque a gente não sabia o
que ia acontecer com ela, era uma doença grave - lamentou.
A
parada terminou com a contratação pelo Atlético-GO. Em Goiânia, mais
dificuldades chegaram para Josiel. Em quase um ano de clube, o jogador
sofreu com lesões e atuou em apenas 12 partidas. Com a decepção, foi
apresentado ao Paysandu em julho de 2011.
Polêmicas
Josiel deixou o Paysandu após polêmica
(Foto: Divulgação / Paysandu)
A
carreira do jogador foi marcada por episódios que chamaram a atenção
fora dos gramados. Três meses depois de chegar ao Pará, Josiel causou
polêmica por comentários no Facebook. Através do perfil “Tchê Loko”,
publicou mensagens a amigos demonstrando insatisfação por morar em Belém
e declarando o desejo de deixar a cidade.
- Mas que vontade
de um bailão de chope. Deus me livre ter que aguentar mais um mês! É
f... Saudade do meu Rio Grande, Goiânia, de gente bonita – escreveu.
O
episódio desagradou aos paraenses, e o clima para a permanência do
atleta ficou insustentável. Josiel voltaria a atuar somente em 2012. Foi
contratado pelo Macaé para a disputa do Campeonato Carioca. Tornou-se
artilheiro do time na competição, mas deixou a equipe após o término do
Estadual.
Escolheu, então, jogar pelo Cuiabá. Os planos, mais
uma vez, foram frustrados. Marcou apenas um gol na disputa da Série C e
foi dispensado em novembro de 2012. A chance do recomeço viria poucos
dias depois, com a contratação pelo Rio Branco para a disputa da Série
A-2 paulista. O problema é que Josiel se envolveuem outra situação
extracampo.
Depois do recesso de Natal, ele não se
reapresentou para os treinamentos no dia 26 de dezembro, data prevista
para o retorno. A direção e o técnico Luiz Carlos Ferreira optaram por
não contar mais com o atleta. Apesar das situações protagonizadas por
ele, o morador de Santa Maria não se considera polêmico e minimiza os
ocorridos.
- Eu já tinha falado com ele (treinador), que eu
moro longe de Porto Alegre, cidade onde eu tinha de pegar o voo. Eu saí
um dia antes da minha cidade para ir de ônibus a Porto Alegre. Mas não
tive como voltar a tempo. Eles acharam melhor eu não ficar. Não
brigamos, não discutimos - defende-se.
- E, no Paysandu, foi um mal-entendido. Uma palavra mal colocada causa uma repercussão enorme. Mas eu não quis ofender ninguém.
O retorno
Josiel foi apresentado no Inter de Santa Maria
(Foto: Daniel Pillar/Divulgação Inter de Santa Maria)
Josiel
chegou a jogar pelo Volta Redonda no Carioca deste ano. Depois de não
se destacar, passou a atuar no esporte amador, pelo Cometa, de Santa
Catarina. Garante, entretanto, que a escolha de deixar o profissional
não tem relação com a forma física ou o cansaço. Tomou a decisão para
ficar próximo da família e da mãe, que havia passado por nova cirurgia.
A
proposta do Inter de Santa Maria, que disputará a Divisão de Acesso do
futebol gaúcho em 2014, o convenceu por uma razão: une questões pessoais
e profissionais. O atacante mora na cidade com a esposa e duas filhas.
Vai trabalhar, portanto, ao lado de casa. A mãe vive a cerca de 300km,
em Rodeio Bonito. Além disso, a volta para o time que o lançou no
futebol é uma “forma de agradecimento”.
- Todo mundo
perguntava na cidade a razão de eu não voltar a jogar. Eu recebi uma
ligação perguntando qual era a minha intenção. A minha vontade é de
permanecer aqui (Santa Maria). Então eles me chamaram para conversar.
Foi tudo muito rápido, dois encontros. A apresentação foi excelente, até
mais do que eu esperava. Eu saí daqui como uma promessa e hoje volto
como uma realidade, por tudo que vivi. É uma forma de agradecer.
Futuro
Por
enquanto, o principal objetivo é ajudar o clube a voltar para a Série A
do Gauchão. Caso a experiência seja positiva, Josiel pensará no que
fazer se surgirem novas propostas. Ainda há tempo para boas atuações,
pensa ele. No período em que ficou no amador, também procurou não
descuidar totalmente do preparo físico. Seguiu em academias e afirmou
não ter "desaprendido" a balançar as redes.
O mais importante,
no entanto, é que Josiel possa ter um bom retorno para coroar os tempos
em que ainda era uma promessa. Afinal, como um "bom filho", depois de
colecionar acertos, erros e perambular por Brasil, México e mundo árabe,
está novamente em casa.
*Texto de Paula Menezes, sob supervisão de Paulo Ludwig
Josiel viveu seu melhor ano no Paraná
(Foto: Agência Lance)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/rs/noticia/2014/01/achei-josiel-artilheiro-do-brasileirao-de-2007-tenta-recomecar-em-casa.html