O menino franzino, de infância humilde em Novo Repartimento, pequena
cidade do interior do Pará, conseguiu vencer. A carreira do atacante
Erik, de apenas 20 anos, só está no começo, mas
o jogador do Goiás, eleito a revelação do Campeonato Brasileiro, sabe que
vários obstáculos foram deixados para trás com muita luta e coroados com um
prêmio individual na principal competição do país. Da infância na roça até o
sucesso com a camisa esmeraldina, Erik teve muita história para contar. Aos 10
anos, o fã do baixinho Romário foi visitar um tio em Goiânia e, por acaso,
participou de uma peneira no Goiás. Destaque na partida, ele não voltou mais
para sua cidade.
Erik tem 15 gols na temporada,
sendo dois no Campeonato Goiano, três na Copa Sul-Americana e 10 no
Brasileirão. As boas atuações ganharam mais visibilidade quando o garoto fez
três gols no Atlético-PR, na 18ª rodada, e não saiu mais do time titular. Erik
tem contrato com o Goiás até 2018, só que além de sonhar com um futuro fora do
país, sabe que a diretoria pode negociá-lo para equilibrar as contas. E se
engana quem pensa que se alçar voos maiores o atacante deixará suas origens
para trás. Em entrevista ao GloboEsporte.com, a revelação do Campeonato
Brasileiro falou do bom momento, dos planos para o futuro e de um sonho
especial: ajudar as pessoas de sua terra natal.
Foi uma surpresa ser eleito a
revelação do campeonato? Como você recebeu a notícia?
- Eu estava tranquilo. Não
esperava que o resultado saísse agora, mas eu estava na briga para ser a
revelação, portanto, torcia por isso. Mas ontem (segunda-feira) eu não sabia.
Um amigo meu me mandou um link da matéria e me deu os parabéns. Depois
começaram a chegar mais mensagens. Me emocionei, é um momento marcante para mim
e para minha família.
E como está sendo o dia?
- Um dia diferente, sem dúvida.
Muitas ligações, mensagem e carinho dos amigos e família. Está bem agitado,
está legal.
Destaque do Goiás, Erik comemora prêmio de
revelação do Brasileiro (Foto: Adalberto
Marques / Ag. Estado)
Como foi a reação dos
companheiros de Goiás?
- Todo mundo me deu os parabéns,
recebi várias mensagens. O presidente, os demais dirigentes, funcionários, todo
mundo me parabenizou.
Apesar de o Goiás não ter
conquistado nenhum título em 2014, o ano tem sido bom para você. De que maneira
analisa sua temporada?
- Individualmente foi um ano de
afirmação. Um ano de grandes conquistas, três gols na Copa Sul-Americana, dois
no Campeonato Goiano e 10 no Brasileiro. Poderia ter sido melhor para todo
grupo e para o Goiás, pois temos jogadores de qualidade. A gente sabe que a
permanência na Série A foi um bom objetivo conquistado, contudo, poderíamos ter ido
além. Só que nós estamos plantando. Com certeza teremos boas conquistas pela
frente.
A transição da base para o time
profissional foi fácil? Como foi subir para o time principal em 2013 e ter
poucas oportunidades?
- Realmente eu joguei pouco, só que
nunca me abalei. É preciso ter paciência e continuar trabalhando. Foi um ano de
aprendizado. O Campeonato Brasileiro tem um nível muito alto, para mim é o mais
difícil do mundo. Nós temos grandes equipes, clubes que brigam forte em
competições como a Libertadores. Felizmente em 2014 eu pude ter uma boa
sequência e mostrar meu potencial.
Erik
chegou ao Goiás aos 10 anos e não saiu mais.
Jogador guarda recordações
das categorias de base
(Foto: Fernando Vasconcelos / Globoesporte.com)
E por que o Goiás não foi tão
longe?
- Montamos um time com muitos
jogadores da base. A diretoria conteve os gastos. Mesmo assim, a gente tem um
grupo qualificado. Torço para que todos fiquem e para que façamos uma boa
pré-temporada, pois temos condições de fazer um grande trabalho em 2015.
Você estará no clube em 2015?
- Tenho contrato até 2018,
gostaria de ficar e ajudar mais o Goiás. Mas eu deixo o futuro para que a
diretoria e meu empresário resolvam. Se pintar uma boa negociação para ambos os
lados, talvez seja a hora de sair.
E está preparado para sair do
país ou para outro clube brasileiro?
- Apesar de ter apenas 20 anos,
estou em uma fase madura. Me sinto preparado sim. O jogador de futebol hoje
precisa amadurecer rápido, acho que esse é um diferencial. Estou
preparado sim, porém, vou respeitar a vontade de todos.
Já recebeu muitas propostas?
- Tive algumas sondagens de
clubes do Brasil e de fora também, mas por enquanto eu trato com muita cautela.
Erik passou a infância na roça, em Novo Repartimento-PA (Foto: Fernando Vasconcelos)
Qual é seu sonho como jogador?
- Acho que todo mundo sonha com a
Seleção e com um grande clube lá fora, mas eu também tinha sonhos como jogar no
Maracanã e este eu já realizei.
E como pessoa, qual é seu sonho?
- Eu quero abrir uma instituição
de caridade para ajudar pessoas na cidade onde eu nasci (Novo
Repartimento-PA).
Quero pensar no bem destas pessoas, preciso fazer algo para melhorar a
vida delas. Tive uma infância complicada, graças a Deus consegui trilhar
um bom caminho e quero ter condições de poder ajudar as pessoas que lá
estão.
Tem algum grande ídolo no
futebol? Alguém que sirva de inspiração?
- Apesar de ter nascido em 1994,
meu grande ídolo é o Romário. Nasci um dia depois da final da Copa dos Estados
Unidos. Meu pai sempre falou muito do Romário. Depois eu fui vendo ele jogar,
vi seus gols, seus vídeos, era um jogador incrível. O que o baixinho fazia
dentro da área era brincadeira. No Barcelona, na Seleção e em grandes clubes do
Rio ele jogou muito.
Por falar em Romário e em
Seleção, você já foi convocado para a seleção sub-20 no ano passado. Está
ansioso para voltar?
- Eu sou um cara bem tranquilo,
procuro não ficar ansioso antes de jogos e nem com esta questão da Seleção. Preciso
continuar meu trabalho. Claro que é um sonho para qualquer jogador defender o
Brasil, só que tudo tem seu momento. Talvez esse prêmio tenha vindo em boa hora.
Erik
exibe medalhas e sua maior conquista: a
camisa do Brasil vestida na
seleção sub-20
no ano passado (Foto: Fernando
Vasconcelos /
Globoesporte.com)
O que te faz manter esta
tranquilidade tão grande?
- Minha família e as pessoas que
estão próximas de mim. Sempre estou com meu pai (Bernardo), minha mãe (Walmira)
e minha noiva (Weidila). Eles me dão a força que eu preciso, estão comigo nos
bons e maus momentos.
Como foi perder o título goiano
no último minuto da final contra o Atlético-GO? Aprendeu muito com isso?
- Também faz parte desta grande
temporada. A carreira não é feita só de momentos bons. Realmente foi muito
difícil, quase não consegui dormir, entretanto, nesses momentos a gente
conta com o apoio da família. Eles me ajudaram muito.
Espera que o Ricardo Drubscky
fique no Goiás?
- Ele me ajudou muito, foi um
grande técnico para mim. Já trabalhou muito com a base. No ano passado eu tive
paciência porque o Enderson Moreira não me deu tanta chance, mas esperei a hora certa.
Trabalhei bem com o Claudinei Oliveira também antes da chegada do Ricardo e
pude aproveitar da melhor forma possível.
Você percorreu todas as
categorias da base do Goiás. Com certeza viu muita gente ficar pelo caminho,
como é isso para um jogador de futebol?
Alguns se perdem, mexem com droga, vão para o lado errado(...)
É preciso ter paciência
Erik, atacante do Goiás
- Participei de várias peneiras,
não dá nem para ter noção de quantos jogadores não conseguiram ter uma boa
carreira. É triste. Alguns se perdem, mexem com droga, vão para o lado errado. Outros
simplesmente deixam o futebol e vão trabalhar em outra área. E tem também
aqueles bons jogadores que não têm a cabeça no lugar. É preciso ter paciência,
este é o segredo.
Do atual elenco do Goiás com quem
você mais conversa?
- Converso com quase todo mundo,
mas tem alguns que me ajudam bastante. O Amaral, o Felipe Macedo, são grandes
amigos. O David também é um grande exemplo de profissional e de pessoa. Nós o
chamamos de “coroa”.
E como você chegou ao Goiás?
- Eu estava vendo um jogo da
escolinha quando vim para Goiânia visitar meu tio. Curiosamente, precisaram de um jogador
para substituir outro menino e a
chuteira dele tinha o mesmo número do meu pé.
Entrei, joguei bem e já falaram para meu pai que não era para eu voltar para a
roça.
No futebol brasileiro atual,
alguém te chama atenção?
- Temos grandes jogadores como o
Éverton Ribeiro, que foi eleito pelo segundo ano consecutivo o melhor do
campeonato. Também temos o Robinho. Gosto muito dele por seu estilo de jogo. E
outro atleta o qual admiro bastante é o Paulo Henrique Ganso. Apesar de não
sermos da mesma posição, eu o admiro por sua classe e também por representar
bem meu estado (Pará).
O Goiás teve a pior média de público
do Campeonato Brasileiro e se despede da torcida domingo, contra a Chapecoense.
O que dizer para a torcida esmeraldina?
- É uma despedida, a última
rodada, espero que o Goiás vença para deixar uma boa impressão. Queria contar
com o apoio dos torcedores. Foi um ano de poucas contratações, o clube diminuiu
seus gastos. Não tivemos uma grande sequência para empolgar a torcida, mas ela
sempre é importante. Sempre queremos ver casa cheia.
Erik comemora gol contra o Fluminense na
Copa Sul-Americana (Foto: André
Costa / Ag. Estado)
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