terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Fã de Romário e revelação da Série A, Erik sonha poder ajudar conterrâneos

Destaque do Goiás no Brasileiro revela inspiração no Baixinho para fazer gols e quer continuar ascensão para ter condições de melhorar a vida em Novo Repartimento-PA


Por
Goiânia



O menino franzino, de infância humilde em Novo Repartimento, pequena cidade do interior do Pará, conseguiu vencer. A carreira do atacante Erik, de apenas 20 anos, só está no começo, mas o jogador do Goiás, eleito a revelação do Campeonato Brasileiro, sabe que vários obstáculos foram deixados para trás com muita luta e coroados com um prêmio individual na principal competição do país. Da infância na roça até o sucesso com a camisa esmeraldina, Erik teve muita história para contar. Aos 10 anos, o fã do baixinho Romário foi visitar um tio em Goiânia e, por acaso, participou de uma peneira no Goiás. Destaque na partida, ele não voltou mais para sua cidade.

Erik tem 15 gols na temporada, sendo dois no Campeonato Goiano, três na Copa Sul-Americana e 10 no Brasileirão. As boas atuações ganharam mais visibilidade quando o garoto fez três gols no Atlético-PR, na 18ª rodada, e não saiu mais do time titular. Erik tem contrato com o Goiás até 2018, só que além de sonhar com um futuro fora do país, sabe que a diretoria pode negociá-lo para equilibrar as contas. E se engana quem pensa que se alçar voos maiores o atacante deixará suas origens para trás. Em entrevista ao GloboEsporte.com, a revelação do Campeonato Brasileiro falou do bom momento, dos planos para o futuro e de um sonho especial: ajudar as pessoas de sua terra natal.


Foi uma surpresa ser eleito a revelação do campeonato? Como você recebeu a notícia?
- Eu estava tranquilo. Não esperava que o resultado saísse agora, mas eu estava na briga para ser a revelação, portanto, torcia por isso. Mas ontem (segunda-feira) eu não sabia. Um amigo meu me mandou um link da matéria e me deu os parabéns. Depois começaram a chegar mais mensagens. Me emocionei, é um momento marcante para mim e para minha família.


E como está sendo o dia?
- Um dia diferente, sem dúvida. Muitas ligações, mensagem e carinho dos amigos e família. Está bem agitado, está legal.

Erik gol goiás x Bahia (Foto: Adalberto Marques / Ag. Estado)
Destaque do Goiás, Erik comemora prêmio de 
revelação do Brasileiro (Foto: Adalberto 
Marques / Ag. Estado)


Como foi a reação dos companheiros de Goiás?
- Todo mundo me deu os parabéns, recebi várias mensagens. O presidente, os demais dirigentes, funcionários, todo mundo me parabenizou.


Apesar de o Goiás não ter conquistado nenhum título em 2014, o ano tem sido bom para você. De que maneira analisa sua temporada?
- Individualmente foi um ano de afirmação. Um ano de grandes conquistas, três gols na Copa Sul-Americana, dois no Campeonato Goiano e 10 no Brasileiro. Poderia ter sido melhor para todo grupo e para o Goiás, pois temos jogadores de qualidade. A gente sabe que a permanência na Série A foi um bom objetivo conquistado, contudo, poderíamos ter ido além. Só que nós estamos plantando. Com certeza teremos boas conquistas pela frente.


A transição da base para o time profissional foi fácil? Como foi subir para o time principal em 2013 e ter poucas oportunidades?
- Realmente eu joguei pouco, só que nunca me abalei. É preciso ter paciência e continuar trabalhando. Foi um ano de aprendizado. O Campeonato Brasileiro tem um nível muito alto, para mim é o mais difícil do mundo. Nós temos grandes equipes, clubes que brigam forte em competições como a Libertadores. Felizmente em 2014 eu pude ter uma boa sequência e mostrar meu potencial.

Erik - infância - Goiás (Foto: Fernando Vasconcelos / Globoesporte.com)
Erik chegou ao Goiás aos 10 anos e não saiu mais. 
Jogador guarda recordações das categorias de base 
(Foto: Fernando Vasconcelos / Globoesporte.com)


E por que o Goiás não foi tão longe?
- Montamos um time com muitos 
jogadores da base. A diretoria conteve os gastos. Mesmo assim, a gente tem um grupo qualificado. Torço para que todos fiquem e para que façamos uma boa pré-temporada, pois temos condições de fazer um grande trabalho em 2015.


Você estará no clube em 2015?
- Tenho contrato até 2018, gostaria de ficar e ajudar mais o Goiás. Mas eu deixo o futuro para que a diretoria e meu empresário resolvam. Se pintar uma boa negociação para ambos os lados, talvez seja a hora de sair.


E está preparado para sair do país ou para outro clube brasileiro?
- Apesar de ter apenas 20 anos, estou em uma fase madura. Me sinto preparado sim. O jogador de futebol hoje precisa amadurecer rápido, acho que esse é um diferencial. Estou preparado sim, porém, vou respeitar a vontade de todos.


Já recebeu muitas propostas?
- Tive algumas sondagens de clubes do Brasil e de fora também, mas por enquanto eu trato com muita cautela.

Erik - infância - Goiás (Foto: Fernando Vasconcelos / Globoesporte.com)Erik passou a infância na roça, em Novo Repartimento-PA (Foto: Fernando Vasconcelos)


Qual é seu sonho como jogador?
- Acho que todo mundo sonha com a Seleção e com um grande clube lá fora, mas eu também tinha sonhos como jogar no Maracanã e este eu já realizei. 


E como pessoa, qual é seu sonho?
- Eu quero abrir uma instituição de caridade para ajudar pessoas na cidade onde eu nasci (Novo Repartimento-PA). Quero pensar no bem destas pessoas, preciso fazer algo para melhorar a vida delas. Tive uma infância complicada, graças a Deus consegui trilhar um bom caminho e quero ter condições de poder ajudar as pessoas que lá estão.


Tem algum grande ídolo no futebol? Alguém que sirva de inspiração?
- Apesar de ter nascido em 1994, meu grande ídolo é o Romário. Nasci um dia depois da final da Copa dos Estados Unidos. Meu pai sempre falou muito do Romário. Depois eu fui vendo ele jogar, vi seus gols, seus vídeos, era um jogador incrível. O que o baixinho fazia dentro da área era brincadeira. No Barcelona, na Seleção e em grandes clubes do Rio ele jogou muito.


Por falar em Romário e em Seleção, você já foi convocado para a seleção sub-20 no ano passado. Está ansioso para voltar?
- Eu sou um cara bem tranquilo, procuro não ficar ansioso antes de jogos e nem com esta questão da Seleção. Preciso continuar meu trabalho. Claro que é um sonho para qualquer jogador defender o Brasil, só que tudo tem seu momento. Talvez esse prêmio tenha vindo em boa hora.

Camisas - Erik - Goias (Foto: Fernando Vasconcelos / Globoesporte.com)
Erik exibe medalhas e sua maior conquista: a 
camisa do Brasil vestida na seleção sub-20 
no ano passado (Foto: Fernando 
Vasconcelos / Globoesporte.com)


O que te faz manter esta tranquilidade tão grande?
- Minha família e as pessoas que estão próximas de mim. Sempre estou com meu pai (Bernardo), minha mãe (Walmira) e minha noiva (Weidila). Eles me dão a força que eu preciso, estão comigo nos bons e maus momentos.


Como foi perder o título goiano no último minuto da final contra o Atlético-GO? Aprendeu muito com isso?
- Também faz parte desta grande temporada. A carreira não é feita só de momentos bons. Realmente foi muito difícil, quase não consegui dormir, entretanto, nesses momentos a gente conta com o apoio da família. Eles me ajudaram muito.


Espera que o Ricardo Drubscky fique no Goiás?
- Ele me ajudou muito, foi um grande técnico para mim. Já trabalhou muito com a base. No ano passado eu tive paciência porque o Enderson Moreira não me deu tanta chance, mas esperei a hora certa. Trabalhei bem com o Claudinei Oliveira também antes da chegada do Ricardo e pude aproveitar da melhor forma possível.


Você percorreu todas as categorias da base do Goiás. Com certeza viu muita gente ficar pelo caminho, como é isso para um jogador de futebol?
Alguns se perdem, mexem com droga, vão para o lado errado(...) 
É preciso ter paciência
Erik, atacante do Goiás
 - Participei de várias peneiras, não dá nem para ter noção de quantos jogadores não conseguiram ter uma boa carreira. É triste. Alguns se perdem, mexem com droga, vão para o lado errado. Outros simplesmente deixam o futebol e vão trabalhar em outra área. E tem também aqueles bons jogadores que não têm a cabeça no lugar. É preciso ter paciência, este é o segredo.


Do atual elenco do Goiás com quem você mais conversa?
- Converso com quase todo mundo, mas tem alguns que me ajudam bastante. O Amaral, o Felipe Macedo, são grandes amigos. O David também é um grande exemplo de profissional e de pessoa. Nós o chamamos de “coroa”.


E como você chegou ao Goiás?
- Eu estava vendo um jogo da escolinha quando vim para Goiânia visitar meu tio. Curiosamente, precisaram de um jogador para substituir outro menino e a chuteira dele tinha o mesmo número do meu pé. Entrei, joguei bem e já falaram para meu pai que não era para eu voltar para a roça.


No futebol brasileiro atual, alguém te chama atenção?
- Temos grandes jogadores como o Éverton Ribeiro, que foi eleito pelo segundo ano consecutivo o melhor do campeonato. Também temos o Robinho. Gosto muito dele por seu estilo de jogo. E outro atleta o qual admiro bastante é o Paulo Henrique Ganso. Apesar de não sermos da mesma posição, eu o admiro por sua classe e também por representar bem meu estado (Pará).


O Goiás teve a pior média de público do Campeonato Brasileiro e se despede da torcida domingo, contra a Chapecoense. O que dizer para a torcida esmeraldina?
- É uma despedida, a última rodada, espero que o Goiás vença para deixar uma boa impressão. Queria contar com o apoio dos torcedores. Foi um ano de poucas contratações, o clube diminuiu seus gastos. Não tivemos uma grande sequência para empolgar a torcida, mas ela sempre é importante. Sempre queremos ver casa cheia. 

Erik gol Goiás (Foto: André Costa / Ag. Estado)
Erik comemora gol contra o Fluminense na 
Copa Sul-Americana (Foto: André 
Costa / Ag. Estado)


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