Lesão,
foco dividido ou desempenho realmente abaixo do esperado. Foram
diferentes os motivos, mas o fato é que ao menos quatro medalhas dadas
como muito prováveis nas contas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para
os Jogos Olímpicos Rio 2016 não foram alcançadas em campeonatos
mundiais este ano. Foram os casos de
Arthur Zanetti,
Mayra Aguiar,
Cesar Cielo
e do time masculino de vôlei. Medalhistas olímpicos há três anos, que
ficaram fora do pódio nas principais competições de 2015. Resultados que
surpreendem negativamente, mas não preocupam tanto dirigentes e
técnicos das confederações, confiantes no planejamento traçado e em um
bom rendimento dos astros e estrelas do Time Brasil nas Olimpíadas do
ano que vem.
Vindo de três pódios seguidos, Zanetti ficou
fora da final das argolas no Mundial de
Glasgow (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)
Eu acredito que é preciso ter um foco de atenção, diferente de um foco de preocupação"
Ney Wilson,gestor técnico de alto rendimento da CBJ
-
Eu acredito que é preciso ter um foco de atenção, diferente de um foco
de preocupação - afirmou o gestor técnico de alto rendimento da
Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson, ao analisar a
eliminação de Mayra no Mundial de Astana.
Para Alberto Silva, o
Albertinho, treinador da seleção brasileira masculina de natação, os
resultados abaixo do esperado de alguns dos principais nomes do país em
2015 surpreenderam. No entanto, podem até ser encarados como algo
positivo, ajudando a evitar um excesso de expectativa e aumentando a
motivação para os Jogos do Rio.
- Não era o desejado, mas considero como normal e pode até
ser benéfico. Às vezes, já se colocam atletas como muito favoritos
a um ano dos jogos. Isso pode ser bom, mas pode também deixar a guarda
baixa, confiança demais. Então, o principal é acompanhar se o trabalho
está sendo bem feito, se eles estão com a saúde boa, se os treinos estão
caminhando bem. Acho que esses atletas têm qualidade, estão fazendo um
bom trabalho e vão chegar nos Jogos e tirar o que se espera deles - avaliou Albertinho.
Com lesão no ombro, Cesar Cielo ficou sem pódio
em um Mundial após seis anos (Foto: Satiro Sodré)
A
meta do COB para as Olimpíadas de 2016 é colocar o Brasil entre os 10
primeiros no quadro geral de medalhas, que leva em consideração o número
de pódios, não os ouros. Apesar dos astros sem medalha este ano, o país
está próximo de alcançar o Top 10 do ranking dos campeonatos mundiais
de 2015 - o que seria um bom indicativo para os Jogos do Rio.
No
quadro de medalhas dos Mundiais deste ano, o Brasil aparece em 13º, com
17 pódios, dois a menos que Canadá e Ucrânia, que dividem a 10ª
colocação - a Nova Zelândia, com 18 pódios, está em 12º. Os destaques do
Brasil em 2015 foram vôlei de praia (cinco medalhas em seis possíveis),
canoagem (um ouro e um bronze de Isaquias Queiroz) e pentatlo moderno
(bronze de Yane Marques). Ainda serão realizados este ano a classe 49er
do Mundial de vela (Kahena e Martina são as atuais campeãs), o Mundial
feminino de handebol (Brasil
atual campeão) e o Mundial de levantamento de peso (Fernando Reis pode
surpreender com um pódio).
Mayra Aguiar foi surpreendida por polonesa
nas quartas de final do Mundial de Astana
(Foto: IJF Media / G. Sabau)
Procurado pelo GloboEsporte.com, o Comitê Olímpico do Brasil (COB)
informou que não fará qualquer análise sobre o desempenho das
modalidades ou atletas em questão, o que só vai acontecer no fim do ano,
quando o calendário de competições internacionais chegar ao fim. O COB
também ressaltou que essa é a política da entidade desde 2013, dando
preferência à consolidação de resultados para um balanço. O Comitê
explica que em sua análise de resultados leva em consideração também os
rankings (tênis, por exemplo), por isso a necessidade de aguardar até o
fim do ano.
Brasil ficou fora das semifinais da Liga
Mundial após derrota para a França
(Foto: EFE/ Antonio Lacerda)
CONFEDERAÇÕES: CLIMA DE ALERTA, MAS SEM
DESCONFIANÇA
Mesmo
com a opção do COB por fazer um balanço geral apenas ao fim do ano, é
possível perceber que a ausência no pódio de alguns nomes dados como
certos para medalhas nos Mundiais de 2015 gerou um alerta nas
confederações. No entanto, dirigentes e treinadores seguem confiantes no
trabalho de preparação dos atletas e comemoram outros bons resultados
no ano, importantes para o cumprimento das metas nas Olimpíadas de 2016.
No caso da ginástica artística, obviamente, não estava nos planos da Confederação Brasileira de Ginástica a
ausência de Arthur Zanetti na final das argolas do Mundial de Glasgow,
encerrado no último fim de semana. Ainda mais, com o campeão olímpico
de Londres 2012 vindo de três pódios consecutivos na competição (pratas
em 2011 e 2014, e ouro em 2013). Porém, o paulista contribuiu bastante
para a conquista da inédita classificação olímpica do Brasil para a
disputa por equipes nos Jogos do Rio.
Arthur Zanetti contribuiu para vaga inédita da equipe do Brasil nas Olimpíadas (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)
- Claro que não era o esperado, queríamos o
Zanetti dentro da final. Acho que foram alguns aspectos que colaboraram
com isso, mas o que tenho a fazer, e o que o grupo vai fazer, é olhar
para os nossos erros e corrigir, independentemente das outras
influências que tiveram para ele não estar nessa final. Ele é
nosso foco. Isso não muda absolutamente nada. Ele fez o papel dele e
muito bem, colaborou demais para essa classificação olímpica. Agora é
tocar para frente o trabalho, voltar a acreditar e, claro, fazer as
correções necessárias - afirmou o coordenador da seleção brasileira masculina de ginástica artística, Leonardo Finco.
Outra
atleta que teve um desempenho abaixo do esperado no Mundial de 2015 foi
a judoca bronze em Londres 2012 Mayra Aguiar. Campeã mundial do
meio-pesado feminino (78kg) no ano passado, em Chelyabinsk, era a
principal esperança de medalha no Mundial de Astana, no Cazaquistão, em
agosto. Expectativa frustrada quando a gaúcha foi
surpreendida pela polonesa Daria Pogorzelec nas oitavas de final e não chegou a disputar nem repescagem.
Para o gestor técnico de alto rendimento da CBJ, Ney Wilson, o
resultado foi uma espécie de "ponto fora da curva" no ciclo olímpico de
Mayra e não tira a brasileira da lista de fortes candidatas ao pódio em
2016.
- Para fazermos uma análise da Mayra, que sem dúvida
nenhuma é uma das favoritas da nossa modalidade, não dá para pensarmos
só no último Mundial. Ela teve um ciclo olímpico muito positivo, foi
campeã mundial no ano passado. Em 2013 também subiu ao pódio. Teve um
ciclo olímpico melhor do que o passado, o que sem dúvida nenhuma a
credencia a subir no pódio olímpico. Claro, é preciso fazer reajustes no
planejamento, no treino. Com certeza esse momento é algo para
acentuarmos nossa atenção em determinados pontos para que possamos
chegar aos Jogos Olímpicos com bastante possibilidade de chegar com ela
ao pódio - disse o dirigente.
Para a CBJ, Mayra Aguiar segue como uma
das favoritas ao pódio nos Jogos Rio 2016
(Foto: Divulgação)
No
caso da natação, o Brasil teve uma participação dentro da média no
Mundial de Kazan, também disputado em agosto. Foram três pódios em
provas olímpicas -
bronze de Bruno Fratus nos 50m livre,
prata de Thiago Pereira nos 200m medley e
bronze de Ana Marcela Cunha
na maratona aquática de 10km. Porém, a preocupação ficou por conta do
principal nome da equipe: Cesar Cielo. Com uma lesão no obro, o campeão
olímpico em Pequim 2008 ficou sem medalha em um Mundial pela primeira
vez desde 2009.
Mesmo no sacrifício, Cielo caiu na água para a
disputa dos 50m borboleta, prova em que buscava o tricampeonato. Mas o
rendimento não foi bom, e ele
terminou apenas na sexta colocação. A comissão técnica
decidiu então enviá-lo de volta ao Brasil para tratar da lesão, o que tirou o astro brasileiro da busca pelo inédito tetracampeonato mundial dos 50m livre.
- Foi uma fatalidade. Ele não chegou bem. Não dá para fazer uma avaliação
em cima disso - destacou o técnico Albertinho.
Em setembro, nasceu o primeiro filho de
Cesar Cielo com a esposa Kelly Gisch
(Foto: Reprodução / Instagram)
Passada
a frustração com o Mundial de Kazan, Cielo já está recuperado da lesão e
de volta aos treinos de preparação para o Torneio Open, em dezembro -
primeira seletiva olímpica da natação brasileira. No período, também se
tornou pai pela primeira vez - no dia 21 de setembro, nasceu Thomas,
filho do nadador com a modelo Kelly Gisch.
- Agora, está feliz, está recuperado, focado. Ficou dois
meses parado em recuperação, teve o nascimento do filho dele, mas já
voltou aos treinos, isso é o importante. Está muito focado e motivado,
tenho certeza que vai estar correspondendo todas as expectativas dos que
torcem por ele no ano que vem - concluiu Albertinho.
No vôlei de quadra, uma derrota para o ascendente time da França acabou custando a
eliminação precoce da seleção masculina na fase final da Liga Mundial,
disputada no Rio de Janeiro, em setembro - evento-teste para os Jogos
Rio 2016. Na avaliação da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV),
resultado a se lamentar, mas que não muda o planejamento e as
expectativas de um pódio olímpico no ano que vem.
- O ano de
2015 faz parte de uma programação que foi traçada lá atrás. O único
pecado que lamentamos é não ter tido a oportunidade de jogar uma
semifinal ou final de Liga Mundial no Maracanãzinho, para exercitar a
expectativa de uma competição dentro do Brasil. Mas, falando de ano, foi
positivo. Fizemos dez jogos amistosos e vencemos oito, todos contra
grandes seleções. Vencemos o Sul-Americano... Mas na Liga Mundial não
conseguimos o objetivo, que era chegar na final. Fomos desclassificados
por pontos e contra uma seleção que foi campeã e depois foi campeã
europeia (França). A nossa expectativa é a mesma, de buscar pódio e ter
ótimos resultados. Nada do que aconteceu abalou ou vai fazer mudar o
planejamento até os Jogos Olímpicos - avaliou o diretor de seleções da
CBV, Renan Dal Zotto.
*Colaboraram os repórteres Guilherme Costa e Marcos Guerra
Prata em Londres, seleção brasileira vai em
busca do ouro olímpico no Rio 2016
(Foto: Inovafoto/CBV)
FONTE: