Na última década, a rivalidade entre Corinthians e Internacional
acendeu após o Brasileirão de 2005 e a Copa do Brasil de 2009, quando os
paulistas se sagraram campeões. Fora de campo, é mais recente a disputa
entre os dois clubes por títulos - e por fontes de receita. Os
colorados, que tradicionalmente são líderes em faturamento com sócios,
perderam esse posto para o Timão em 2012. Em compensação, retomaram a
primeira colocação em venda de jogadores - quesito em que também levaram
a melhor nos últimos anos.
A receita total do Corinthians no ano passado foi muito maior do que as
dos demais. Foram R$ 358,5 milhões, cerca de R$ 70 milhões a mais que o
segundo colocado, São Paulo. A vantagem já era ampla em 2011, mas
aumentou graças a evoluções em quase todos os itens - cotas de TV,
publicidade e patrocínio, quadro social e bilheteria. A exceção foi
justamente com venda de jogadores, número que passou de R$ 59,7 milhões
em 2011 para R$ 33,8 milhões em 2012. O Inter cresceu e atingiu o
primeiro lugar, com R$ 71,6 milhões.
Os valores, que constam da tabela abaixo, foram divulgados pelos
próprios clubes em seus balanços financeiros e organizados pelo
consultor de marketing Amir Somoggi.
O diretor executivo de futebol do Colorado, Newton Drummond, lembra
que, sem o Beira-Rio, o Inter perde até 30% do faturamento com
bilheteria. Por isso, vender jogadores tornou-se uma necessidade. Mas
ele avisa que a prática não será mais a tônica em breve.
- Os clubes têm um passivo anterior que dificulta uma receita positiva.
A venda de jogadores ainda é importante para equilibrar as contas. Não é
algo negativo, está dentro do nosso contexto, mas não pode ser
permanente. É um planejamento transitório. Não tem saída. Isso vai
acontecer até 2014, quando o Inter poderá procurar o equilíbrio de
outras formas - afirma Drummond.
O consultor de marketing Amir Somoggi entende a atitude dos colorados,
mas aponta falhas que impedem um melhor retorno financeiro.
- Por estar fora do eixo Rio-São Paulo, o Inter vende para ter um time
competitivo, mas não consegue construir ídolos que gerem bilheteria e
produtos. Ele abre mão de muita receita e paga muito por direitos
econômicos - diz o especialista.
Se perdeu o primeiro posto em transferência de jogadores, o Corinthians
deu o troco em arrecadação com o quadro social e amador. O Inter se
orgulha de ter o maior número de sócios no país (107 mil), mas não
arrecadou tanto quanto o rival - que teve uma ascensão de 52% em relação
a 2011, pulando de R$ 32 milhões para R$ 47,6 milhões.
O diretor financeiro do Corinthians, Raul Corrêa da Silva, afirma que
foi buscar no Barcelona a fórmula do sócio-torcedor, que garante a
fidelidade da torcida e reverte em dinheiro para a bilheteria. Neste
tópico, a hegemonia vem aumentando de forma crescente há quatro anos - a
diferença para o segundo colocado foi de R$ 3 milhões em 2009; R$ 6
milhões em 2010; R$ 9 milhões em 2011; e R$ 10 milhões em 2012.
Corinthians vem aumentando
sua vantagem sobre o segundo colocado no ranking de faturamento com bilheteria
- Nosso sócio-torcedor não dá direito apenas a um ingresso. Quanto mais
se usa, mais pontos se ganham para garantir entrada em jogos
importantes, como contra o Boca Juniors. Quando se tem um jogo como
esse, quem tem acesso é o mais fiel ao longo do tempo. Temos 60 mil
adimplentes, jogos lotados no Pacaembu e ingressos com custo médio de R$
35 - disse o dirigente.
Amir Somoggi prefere ressaltar os números alcançados pelo Grêmio, que
também ultrapassou - por pouco - o Inter no ranking de quadro social e
amador: R$ 46,2 milhões contra R$ 46 milhões. Esse item representa, para
o Tricolor, uma porcentagem alta da receita total: quase 20%. Para o
Colorado, representa 17%; para o Corinthians, 13%.
- O Grêmio fatura mais do que o Inter com menos torcida e,
proporcionalmente, mais do que o Corinthians, o que é muito mais
rentável.
O Inter faz planos ousados para retomar a liderança. De acordo com o
diretor de marketing Jorge Avancini, o objetivo é passar dos atuais 107
mil cadastrados para 130 mil até 2014.
Santos fica em segundo lugar em publicidade e patrocínio
O principal contributo (R$ 1,2 bilhão) aos cofres dos 12 clubes
avaliados foi a cota de TV, que sofrerá uma queda neste ano, já que as
luvas de contratos foram pagas em 2012. Mesmo assim, Amir Somoggi
calcula que a receita do futebol, que alcançou R$ 2 bilhões em 2012, não
deve cair.
- A principal dúvida é como ficará a situação financeira dos clubes sem
as luvas. Mas eles vivem um bom momento. Todas as receitas cresceram em
relação às de outros anos. O Botafogo ganhou com o marketing sobre o
Seedorf, por exemplo. A bilheteria depende do estádio e da situação do
time - avalia Amir.
Santos faturou R$ 17,8 milhões em publicidade em 2009, ano de estreia de Neymar. Em 2012, o número foi de R$ 50,3 milhões
O Santos também aparece como destaque em um dos quesitos. Os contratos
publicitários obtidos graças a Neymar alavancaram o clube ao segundo
posto em renda de patrocínio em 2012, atrás apenas do Corinthians. O
sucesso dessa receita, no entanto, é ameaçado pelas especulações
envolvendo a saída do craque para exterior. O vice-presidente Odílio
Rodrigues explica que não há um plano consolidado que preveja essa
eventualidade, mas garante que não há dependência de Neymar.
- Ele traz muitos ganhos não só na área esportiva, pois valoriza a
marca e aumenta o quadro de sócios. Mas o conjunto também é relevante:
títulos, boas apresentações em campo. Sem dúvida ele é importante, mas,
se um dia sair, o Santos vai sobreviver. Com todo respeito a ele, mas o
fundo é sempre maior que qualquer jogador.
Em 2009, ano de estreia de Neymar entre os profissionais, o Santos
faturou R$ 17,8 milhões com patrocínio e publicidade. Em 2012, o número
subiu para R$ 50,3 milhões.
* Texto de Guilherme Marçal, estagiário, sob a supervisão de Bernardo Ferreira
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2013/05/corinthians-e-inter-travam-duelos-parte-na-briga-por-receitas.html