Atacante, ex-Bota e Voltaço, se recupera
de lesão no tendão de Aquiles. Ele acredita que foi milagre ter
sobrevivido em tragédia que matou seu amigo
Por Fred Huber
Rio de Janeiro
Fábio posa na frente das camisas do Botafogo e
do Volta Redonda (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos 32 anos, Fábio Penchel, ex-Botafogo e Volta Redonda, quer
recomeçar. Sem entrar em campo desde o Carioca de 2011, quando defendia o
Resende, o atacante está em busca de um novo clube para tentar encerrar
a saudade de fazer o que mais gosta: gols. Uma tragédia em sua vida fez
com que esta vontade de voltar a viver dias de felicidade em sua
profissão aumentasse ainda mais.
Em março, Fábio se envolveu em um grave acidente de carro na rodovia
BR-393, em Paraíba do Sul, no interior do Rio de Janeiro. Um caminhão
desgovernado invadiu a pista e acertou seu veículo. O atacante, que
estava no carona, só teve alguns arranhões, mas seu amigo, Rubimar
Carvalho da Silva, que estava ao volante, não resistiu aos ferimentos e
morreu. O jogador acredita que foi um milagre ter sobrevivido.
- Perdi um amigo especial, muito querido. Fizemos uma viagem. Na ida,
eu fui dirigindo. Na volta, foi ele. Muito complicado, era muito meu
amigo. Ainda tentei socorrê-lo, mas não foi possível. Pelos ferimentos
que ele teve e pelo que sobrou do carro, não tem explicação para eu
estar vivo. Nasci de novo, tive apenas leves cortes, praticamente nada.
Depois disso, acabo tendo uma outra visão da vida, passo a dar mais
valor ao que realmente faz diferença.
Bem preparado fisicamente, ainda dou um caldo bom"
Fábio, atacante
Fábio está em processo final de recuperação de uma lesão no tendão de
Aquiles e estuda propostas para o segundo semestre. Ele, que planeja
mais três ou quatro anos de carreira, quer analisar tudo com bastante
calma para não fazer a decisão errada.
- Rompi um pedaço do tendão de Aquiles durante o Carioca do ano
passado. Apenas a fisioterapia não resolveu, precisei fazer a cirurgia.
Estou me recuperando e muito em breve estarei pronto para jogar. Já tive
dois convites, um da Série B e outro da Série C. Vou cuidar do meu
corpo primeiro e depois ver onde vou jogar. Não tenho mais tempo para
errar. Estou com 32 anos e acredito ter mais três ou quatro anos de
carreira.
Confiante, o atacante acredita estar em boa forma para ter um
desempenho parecido com o que teve em 2002, quando, com a camisa do
Volta Redonda, marcou 16 gols e foi o artilheiro do Estadual.
- Estou no meu melhor peso, o mesmo de quando fui artilheiro do Carioca. Quem acreditar em mim não vai se arrepender.
Fábio durante seu trabalho de recuperação da lesão no tendão de Aquiles (Foto: Arquivo Pessoal)
Confira a entrevista com Fábio:
GLOBOESPORTE.COM: Como foi a recuperação desta complicada lesão? O Adriano tem tido muita dificuldade...
FÁBIO: Minha lesão foi um pouco diferente da
dele. O rompimento do meu tendão foi parcial, e o dele foi total. Outra
diferença entre eu e o Adriano é a conta bancária (risos). O problema no
tendão de Aquiles é um pouco diferente, é um tecido pouco irrigado. É
uma coisa bem delicada. Procurei perder o máximo de peso possível para
não forçá-lo muito. Agora estou correndo sem dor, fortalecendo a região.
Foi o seu problema físico mais complicado na carreira?
Foi minha terceira cirurgia, já tive que fazer no joelho. Tudo na perna esquerda. Minha vida sempre foi de muita superação.
O que é mais complicado neste longo período longe dos gramados? O quanto que esta inatividade pode te prejudicar neste retorno?
Minha maior saudade é de fazer gol. É uma coisa indescritível, isso que
me move. Sou bem consciente. Bem preparado fisicamente, ainda dou um
caldo bom. Estou na parte final da minha recuperação e vou começar a
negociar com quem acreditar em mim. Quem acreditar, não vai se
arrepender.
Você jogou no Botafogo de 2002 a 2004. Quais as principais lembranças do clube?
Ainda tenho um processo contra o Botafogo (cobrança), infelizmente, por
culpa do presidente da época, o Bebeto de Freitas. Mas tenho o maior
orgulho de ter vestido aquela camisa. Ajudei o time a retornar à
Primeira Divisão, joguei no ano do centenário. Fiz 17 gols, alguns deles
marcantes (acima, relembre a vitória de 2 a 1 sobre o São Paulo em 2002, na qual Fábio marca o segundo gol alvinegro).
Em qual outro clube considera que teve uma passagem marcante?
Fábio comemora gol pelo Volta Redonda: 'É o meu
xodó' (Foto: Agência Reuters
O Volta Redonda é o meu xodó. Consegui ser artilheiro de um campeonato
importante (Carioca) por um time pequeno. Acho que desde 1984 (Claudio
Adão, pelo Bangu) que não tinha um goleador fora dos quatro grandes.
Fomos campeões da Taça Guanabara contrariando todo mundo. Pelo Volta
Redonda, fiz 49 gols no total.
Desde 2001, após o início deste século, ninguém fez mais gols
que você em uma edição do Carioca. Foram 16 em 2002. O que representa
esta marca?
É um orgulho. Fora o Edilson (também 16 gols, em 2001), que encerrou a
série do Romário, ninguém fez tantos gols. E são muitos grandes
atacantes que jogam no Rio.
Como foi jogar no Al Hazm, da Arábia Saudita? Sentiu muito a
diferença cultural, tem alguma história interessante da passagem por lá?
Foi uma experiência legal, a parte financeira é boa. Mas parece o pior
lugar do mundo. Fui sozinho para uma cidade pequena e com costumes
difíceis para nós brasileiros. Foi inusitado. O Iranildo já tinha jogado
lá no ano anterior. O que ajudava é que o treinador, atualmente
auxiliar do Mourinho, era português. Eu nunca tinha saído do país... e
depois ainda teve a época do Ramadã.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2012/05/achei-apos-grave-acidente-fabio-conta-horas-para-voltar-jogar.html