A
grande movimentação e as pouco mais de 100 de pessoas no salão nobre
das Laranjeiras na manhã desta quinta-feira evidenciavam a importância
do que estaria por vir. Por 15 anos, Fluminense e Unimed quase se
confundiam no imaginário dos torcedores. A parceria, iniciada em 1999,
rendeu contratações de peso, títulos e um trânsito regular do presidente
da cooperativa de médicos, Celso Barros, no departamento de futebol. O
vínculo tinha validade até 2016. A empresa optou por encerrá-lo antes. E
o mandatário do clube, pego de surpresa, sem citar o nome da
cooperativa no início do seu discurso, se pronunciou.
- Foi uma
luta muito dura. É a luta dos bastidores, da organização. Pagamentos de
dívidas. Foi a prioridade número um nos meus últimos quatro anos. Isso
não aparece, ninguém gosta. Torcedor e imprensa gostam do jogo e das
polêmicas, mas alguém tem de fazer. Se não chegamos ao ideal, caminhamos
muito. O futuro passa por alguns pontos fundamentais. O futuro passa
por alguns pontos fundamentais. Pelas características do mercado atual, a
base é importante. Esse trabalho é feito aqui - afirmou o presidente.
A notícia movimentou os bastidores do Fluminense na quarta-feira,
quando a patrocinadora confirmou o que já vinha sendo especulado nos
últimos meses – em agosto, a empresa anunciara uma redução dos investimentos. Em novembro, dias antes do prazo para rediscussão do contrato, comunicou que não mais ajudaria com a contratação de reforços. O clube agradeceu
pela década e meia que resultou em títulos relevantes, com os dois
Brasileirões (2010 e 2012), e disse que trabalhou para minimizar os
prejuízos. Mas as dúvidas começaram a surgir.
Os
atletas têm vínculo trabalhista com o clube. Vamos honrar os
compromissos. Eles (jogadores) são importantes, têm história aqui, e
queremos que fiquem, que se sintam bem aqui"
Peter Siemsen
O GloboEsporte.com apurou que agora ex-parceira notificaria os atletas para informar que não pagará mais direitos de imagens
(a sua parte nos salários), mas a posição oficial do presidente da
empresa, Celso Barros, é de que todos os acordos serão cumpridos. A
saída da Unimed causou medo com o risco de um desmanche, apesar de o clube ter fechado no mesmo dia um patrocínio master com uma empresa de bebidas, que ocupará o principal espaço na camisa tricolor.
Durante
a entrevista, o vice de projetos especiais do clube, Pedro Antônio, foi
à mesa do presidente, colocou um copo do Matte Viton, produto do novo
patrocinador. No Twitter do clube, enquanto Peter Siemsen falava, imagens das novas camisas (tricolor, branca, laranja e de goleiro) eram publicadas.
O acordo foi confirmado no mesmo dia em que o encerramento do antigo
vínculo foi anunciado. E, no discurso, ao menos, há confiança por parte
do clube para um futuro melhor. Mas a realidade ainda é uma incógnita.
Confira os principais trechos da entrevista coletiva.
Fim da parceria após 15 anos
A
rescisão foi um opção da Unimed. Quem pode responder é a própria. Eu me
mantive aberto a soluções boas a todas as partes. Minha maior
preocupação é o torcedor, mas queria algo bom ao patrocinador e ao
clube. Procurei o melhor. Foi uma escolha da patrocinadora. Não tenho
dúvida de que valeu a pena. Falo como torcedor, pelos 15 anos. Como
dirigente, lamento que o trabalho de recuperação não tenha sido feito
antes. Poderíamos estar em melhor fase.
Jogadores sob contrato
Os
atletas têm vínculo trabalhista com o clube. Vamos honrar os
compromissos. Eles (jogadores) são importantes, têm história aqui, e
queremos que fiquem, que se sintam bem aqui. Antes (do fim da parceria
com a Unimed), alguns saíram. É algo normal. Não queremos perder
ninguém, mas o mercado pode apresentar propostas. É natural. Vamos
manter os ídolos e construir novos. Estive algumas vezes com três
executivos da Unimed. É claro que tive preocupação quanto à manutenção
do cumprimento dos contratos dos jogadores. Mas volto a dizer: foi uma
rescisão unilateral. Então, tive de me fiar na palavra deles. A Unimed,
na minha gestão, sempre honrou seus contratos. E acredito que o fará.
Não foi nada negociado. A Unimed rescindiu. A responsabilidade é dela.
Atletas com contratos encerrados
A
rescisão para nós poderia ocorrer no ano que vem, mas veio antes.
Estamos nesse processo de reorganização. Se for para trabalhar na
manutenção de um ou alguns, deve ocorrer nos próximos dias. Estamos
trabalhando. O orçamento é diferente. Os próximos dias vocês irão saber.
Renovação antecipada com Fred
É
difícil falar sobre o fim de 2015. A necessidade dos times se
apresentam durante a temporada. Sobre os jogadores que tem fim de
contrato no ano que vem, como é o caso de Fred, vamos trabalhar pelo
rendimento dele, pela nossa necessidade e pela vontade dele. É claro que
não descarto renovar com ele.
Novo patrocinador
Assinamos ontem
(quarta-feira). Foi um dia bacana. Será a Viton 44. Algumas marcas delas
serão utilizadas, e vamos valorizar a marca do nosso novo patrocinador.
Vai ser um patrocínio master. Não é exclusivo e o contrato é de dois
anos. O valor é sigilo. Nenhum patrocinador assina contrato sem sigilo.
Todos têm cláusula. Pelo clube, não teria problema, mas faz parte do
mercado.
Fluminense divulga camisas com a marca
do novo patrocinador do clube
(Foto: Divulgação/Fluminense)
Relação com patrocinadores
Outro
ponto fundamental é que o Fluminense se torna cada vez mais um porto
seguro a patrocinadores. A que ontem terminou (Unimed) e também a da
Adidas. Temos tradição nisso. Vamos reforçar e querer novas parcerias
longas. Queremos isso. Temos seriedade, e isso nos permitiu conter o
crescimento da dívida, até a reduzindo.
Novas contratações
O
Fluminense trabalha hoje dentro de um novo modelo. Queremos um modelo
sustentável. E, dentro dele, há espaço para grandes contratações, sim.
Folha salarial
Hoje,
talvez a grande dificuldade seja fazer uma grande aquisição, mas a
remuneração, direitos de imagem e salário... o custo não é tão grande
como vocês imaginam. No fundo, a folha do Fluminense talvez não
estivesse nem entre as cinco primeiros do Brasil.
Atraso de salários
Comparado
ao mercado, foram atrasos bem insignificantes em termos de salário.
Praticamente um mês uma vez e oito dias na outra. E só os salários mais
altos, os mais baixos estavam em dia. O que ficou para trás foram os
direitos de imagem, durante um período em que estávamos arrumando a casa
em relação à parte fiscal. Foi muito duro para nós. Estivemos muito
próximos do equacionamento total da dívida no fim de 2012 e por um
comportamento da área pública, não conseguimos. O Fluminense sofreu de
uma forma injusta e isso criou um desequilíbrio no mercado do futebol,
porque se deu para alguns e para outros se negou sem o menor pudor, sem
justificativas técnicas. O Fluminense é um clube com receita até menor
que outros, mas foi maltratado. Quando a gente vê tantos problemas no
Brasil, não se surpreende. Mas vamos sair mais fortes. Equacionamos
finalmente a dívida fiscal, com dois anos de atraso, só por conta da
área pública.
Campanha no Brasileirão
Deixamos
de ser campeões e lutamos pelo sexto lugar, uma posição honrosa. Mas o
mais importante, para mim, é a conexão com a torcida.
FONTE:
http://glo.bo/1GobmQL