Caímos
no conto do vigário, porque o Pato foi do
Inter para o Milan por um jogo. Quando ele começou a não jogar, o Milan
inventou
que ele estava contundido. Hoje está claro que isso era um artifício
usada para não mostrar o jogador. Não havia água de São Gennaro que
curasse
Antônio Roque Citadini
Antônio Roque Citadini voltou à linha de frente da política
do Corinthians fazendo barulho com sua candidatura à presidência, pela chapa "Pró Corinthians".
Crítico ferrenho do grupo encabeçado por Andrés Sanchez, o ex-presidente do Tribunal
de Contas de São Paulo conseguiu unir a oposição, ganhou o apoio de um poderoso
integrante da situação e projeta uma grande mudança no clube caso saia vencedor das
eleições do dia 7 de fevereiro.
– O problema básico é que o futebol perdeu a mão, gastou de
uma forma equivocada, a mais. Isso levou a esse desequilíbrio – afirmou.
Entre os gastos exagerados, Citadini detona o investimento
de mais de R$ 40 milhões na contratação de Alexandre Pato. Vendê-lo poderia
causar um desafogo nas contas, mas, sem propostas, a solução foi emprestá-lo ao
São Paulo com 50% dos salários pagos pelo Corinthians. Para Citadini, só um
milagre salva.
– Nós deveríamos rezar uma missa por dia para aparecer um negócio – disse.
Citadini é da chapa "Pró Corinthians", da oposição (Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Vice
de futebol entre 2001 e 2004, período em que o
Corinthians era gerido em parceria com o fundo americano Hicks Muse,
Citadini ganhou
força na eleição ao se transformar no único candidato da oposição para
enfrentar o situacionista Roberto de Andrade. Mais que isso, ganhou o
incentivo de
Luis Paulo Rosenberg, dissidente do grupo da situação e antigo homem de
confiança de Andrés Sanchez.
– Ele está ajudando muito na campanha e ajudará muito na gestão. Não sei bem
como vamos definir as coisas. Mas a regra é que aqueles que ajudam ganhar
ajudam a administrar – projetou.
Leia a entrevista com Antônio Roque Citadini:
O grupo da situação
sempre tentou investir em jogadores renovados para reforçar o elenco, mas agora
o Corinthians vem atravessando uma grave crise econômica. Que estratégia você
planeja para o futebol?
A situação financeira não é boa. A própria direção fala. Eu acho que essa
coisa precisa ser bem colocada. O clube que ganha títulos é aquele com as
contas equilibradas. Se você estiver com as contas esculhambadas, não ganha.
Você precisa contratar tendo uma situação equilibrada, porque aí paga em dia,
atrai jogador, ele joga com mais dedicação. De cada dez títulos, em nove você está
com a situação financeira equilibrada. A primeira coisa é colocar as contas em
dia.
O orçamento deste ano diz que o
Corinthians tem apenas R$ 10 milhões para contratar...
Esse orçamento é hipotético. Nosso problema é caixa, não é previsão. O clube
precisa resolver suas contas pagando em dia, usando os recursos que recebe.
Isso é importante fazer. Eu não penso nos R$ 10 milhões. Você ter mais ou
menos. O problema é caixa.
Osmar Stábile, Paulo Garcia, Roque Citadini
e Emerson Piovezan se juntaram na oposição
(Foto: Martin Fernandez)
Como você analisa
essa crise financeira do clube e o atraso no pagamento dos salários? Alguns
jogadores falam disso publicamente.
O problema básico é que o futebol perdeu a mão, gastou de uma forma
equivocada, a mais. Isso levou a esse desequilíbrio. No campo da despesa, é
gastar melhor. No campo das receitas, é faturar mais. Infelizmente, temos
mudanças na economia do país, as empresas estão puxando o freio. Os clubes
também são atingidos com isso.
O grupo da situação alega que a
apropriação indébita de tributos, denunciada pelo Ministério Público Federal,
era necessária para fazer o clube andar na gestão de Andrés Sanchez. Você
concorda?
Todos eles reconhecem que foi um erro. O clube acaba ficando vulnerável, como
ficou. O melhor é que isso não ocorra. Todo mundo acha isso.
Não gosto muito de ser o juiz da história. O Mário foi presidente, ganhou
títulos, mas acho que se cansou muito cedo de ser presidente, falava toda hora
que não via a hora de deixar. Ele vai ser analisado pela história
Antônio Roque Citadini
Vender o Alexandre
Pato pode ser uma solução para esse momento financeiro ruim?Não sei, acho que ninguém compra. Eu não gosto de ficar criticando um
jogador ou uma contratação. Muitas vezes você acredita que vai dar certo e
depois dá errado. É do futebol. No caso do Pato, que envolvia muito dinheiro, deveríamos
ter nos informado melhor. Caímos no conto do vigário, porque o Pato foi do
Inter para o Milan por um jogo. Quando ele começou a não jogar, o Milan inventou
que ele estava contundido. Hoje está claro que isso era um artifício que o
Milan usava para não mostrar o jogador. Não havia água de São Gennaro que
curasse. Na verdade, com isso, eles conseguiram manter o Pato como um
supercraque e repassaram para o Corinthians como um supercraque. Ele já não era
naquela altura, como provou no Corinthians e no São Paulo. Agora é aguentar o
tranco. Foi feito dessa forma, o clube vai ter de aguentar.
Mas o que fazer com
ele, então?
Quem é que vai comprar? O Corinthians não é o Milan, que conseguiu a proeza de
escondê-lo dois anos. Não dá para ser feito no Corinthians pelo tipo da
torcida, pela nossa história. Aqui, o jogador é bom ou ele racha. Nós
deveríamos rezar uma missa por dia para aparecer um negócio. Depois da compra qualquer coisa era uma
solução. O problema foi ter caído nisso.
Pensa em vender
outros?
Depende de ter jogador para vender. Não sei se temos tantos craques assim
para vender.
Em junho, o Corinthians terá de pagar a
primeira parcela do estádio. Como pensa em gerir essa conta?Eu não sei o valor. Mas vamos ter de pagar o estádio. É um belo estádio,
moderno, gosto de ver futebol lá. Se nós não tivermos condições de pagar um
estádio, ninguém tem. Eu sempre fui a favor. O estádio foi uma grande coisa. O Corinthians
aproveitou muito bem a Copa do Mundo, se comprometeu, porque ficou com grande dívida,
mas construiu um estádio moderno e salvou a cidade de um vexame. A cidade até
deve favor ao Corinthians.
Citadini voltou à linha de frente da política alvinegra (Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Que análise você faz
da administração de Mário Gobbi?
Não gosto muito de ser o juiz da história. O Mário foi presidente, ganhou
títulos, mas acho que se cansou muito cedo de ser presidente, falava toda hora
que não via a hora de deixar. Ele vai ser analisado pela história.
Um dos vices dele,
Luis Paulo Rosenberg, pulou para a oposição e vai te apoiar. Como aconteceu esse
processo?
O Luis Paulo foi uma das pessoas de maior destaque (da situação). Ele e o
Andrés. Ele teve papel muito importante no estádio. O apoio dele foi muito
importante nos termos em que aconteceu. Primeiro, ele reconheceu que nós,
especialmente eu, estávamos fazendo um trabalho muito positivo. Ele é uma
pessoa respeitada por todo mundo como um dirigente de qualidade. Candidato
nunca se surpreende com apoio. Foi muito positivo.
Qual será a função dele na sua
administração?
Ele está ajudando muito na campanha e ajudará muito na gestão. Não sei bem como
vamos definir as coisas. Mas a regra é que aqueles que ajudam ganhar ajudam a administrar.
Ele deve administrar a arena?
Não há dúvida.
A situação diz que sua relação com um de
seus vices na chapa, Osmar Stábile, é péssima. Isso é verdade?
É uma avaliação equivocada. Houve uma divisão dura na situação. Eu diria que
aquele grupo originário que elegeu Andrés e Gobbi se dissolveu. O grupo de
agora é diferente. Não é só o Luis Paulo (que saiu). Nós demos uma demonstração
de grande capacidade política. Se a situação joga na divisão da oposição para
ganhar, eles podem tirar o cavalo da chuva.
Paulo Garcia abriu mão da candidatura
para apoiá-lo. Ele também terá cargo na sua diretoria, como no futebol, por
exemplo?
Nenhuma das pessoas que estão aí, Paulo ou Luis Paulo, será surpresa (se
aparecer na direção). Eles estão na linha de frente da eleição. Surpresa seria
se eles não estivessem.
Eles (situação) falam que eu não gosto do clube
social. Eu sou o que mais frequenta o clube social. Alguns de lá não vão ao
clube, não gostam e só fazem média. Eles estão fazendo coisas inimagináveis. Eles
fecharam o restaurante em pleno verão. Isso é gostar do clube social?
Antônio Roque Citadini
Muito se fala sobre um racha no grupo da
situação. O quanto isso foi importante na sua candidatura?
A divisão ajudou. Eu conheço o clube. Há um sem número de pessoas que praticamente
abandonou ao clube, que não aderiu à oposição, mas que foi para casa. Isso
também é importante.
Existe uma história
de que você era favorável ao fim do clube social quando foi vice-presidente na
gestão Dualib. Isso é verdade?
Eu defendia a separação do futebol do clube social e dos esportes olímpicos. E acabou
ocorrendo. Quer dizer, o que eu defendia é que o futebol não poderia ser gerido
como o social e os esportes olímpicos, como orçamento e sua forma de gestão. A lei
mudou e estabeleceu isso. Eles (situação) falam que eu não gosto do clube
social. Eu sou o que mais frequenta o clube social. Alguns de lá não vão ao
clube, não gostam e só fazem média. Eles estão fazendo coisas inimagináveis. Eles
fecharam o restaurante em pleno verão. Isso é gostar do clube social?
Mas há uma lenda de
que você queria jogar cimento nas piscinas...
Não foi lenda. Houve um projeto que iria redefinir todo o Parque São Jorge.
As piscinas ficariam numa ponta, o ginásio mudaria. Era um projeto que a Hicks (Muse,
ex-parceira do clube) queria. Aquilo (sede) foi sendo construído de acordo com a
oportunidade. Comprava terreno e construía. Se fosse construir o estádio lá,
ele seria basicamente em cima da sede e do ginásio, que é o espaço maior. Nunca
houve história de aterrar a piscina. Se o clube fosse fazer esse programa, ele
teria mudanças. Não sabemos o que faríamos com a sede. Mas isso tudo está
superado.
Quais seus planos para o clube social e
os esportes olímpicos?O clube social tem de melhorar. Eles falam que eu não gosto, mas eles não
gostam. A piscina está com ladrilho quebrado, o restaurante não funciona, todas
as áreas têm queixa. O clube precisa voltar a ter esportes olímpicos, não é só
futsal e natação. Precisamos pensar no basquete e outros que o Corinthians foi
importante. Temos de nos abrir a outros esportes.
Como pensa em lidar com a renovação de
contrato de Paolo Guerrero?Não sei quanto ele está pedindo. Mas, de qualquer forma, o Guerrero é um jogador
de qualidade. O clube precisa ver como vai pagar. Ele é um grande jogador, se identificou
com o clube. Essa é a grande vantagem. Você tem um limite, mas tem de fazer um
esforço grande.
Você foi dirigente do
futebol durante a parceria com a Hicks Muse. É favorável ao retorno desse tipo
de gestão?
O futebol mudou, hoje tem mais dinheiro que naquela época. As parcerias
estão superadas. Depois da MSI, que foi desastrosa, fica difícil qualquer
outra.
Citadini espera sair vencedor no sábado, dia 7(Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Uma parte da torcida
reclama que os ingressos estão caros. O que você pensa sobre os valores?Os sócios do clube reclamam que querem ter acesso para comprar. O Fiel Torcedor
também e há reclamação do preço final. O Fiel Torcedor foi coisa importante. Precisamos
melhorar, possibilitar que ele dê um salto. Tem um monte de mudanças que
podemos fazer. Devemos caminhar para os clubes europeus, com venda de ingressos
só pela internet. Temos de acabar com essa coisa de fila para comprar. É pré-histórico.
Há setores que precisam ser caros. Eu sou sócio-torcedor VIP. Acho que tenho de
pagar caro, porque o clube oferece cadeira, banheiro, estacionamento... Mas também
precisa de ingressos populares, ou então vai mudar nossa história, coisa que
não queremos.
Integrantes do departamento de futebol
atual acreditam que você fará uma grande reformulação no setor, seja com
dirigentes ou funcionários. Esse é o caminho?É possível que mude muitas coisas. Fui diretor de futebol quatro anos, nada
ali para mim é estranho. Segundo, porque eu sou o candidato da mudança, não sou
da continuidade. Nós precisamos reduzir custos, estamos gastando muito. Não com
jogador, mas com o departamento de futebol, como médico, funcionário. Tudo isso
está ganhando muito, demais. Ganhando coisa de um outro tempo que não existe
mais.
O Corinthians brigará por títulos em
2015?Essa é uma grande sorte. Estamos vivendo uma crise, mas todo mundo está.
Nós rapidamente temos condição de sairmos forte disso. Vamos brigar por
títulos.
FONTE:
http://glo.bo/1EAJ2OC