quarta-feira, 8 de maio de 2013

Slater sugere regra para competir 'até os 70' e relembra brigas com Irons


Aos 41 anos, hendecacampeão mundial gostaria que, a exemplo do golfe, grandes vencedores de etapas tivessem direito de disputá-las para sempre

Por Gabriele Lomba e Leo Velasco Rio de Janeiro

Kelly Slater coletiva Rio surfe (Foto: Ivo Gonzalez / Agencia O Globo)Slater volta ao Brasil depois de dois anos
(Foto: Ivo Gonzalez / Agencia O Globo)

Foram dois anos sem vir ao Brasil. No retorno, ideias a mil por hora e saudosismo ao recordar histórias. Kelly Slater, 41 anos, 11 títulos mundiais e atual líder do ranking, disputará toda a temporada 2013. Mas isso não basta. No Rio de Janeiro esta semana para a terceira etapa do Circuito Mundial masculino, o americano pretende usar a força de sua voz para sugerir mudanças à Associação dos Surfistas Profissionais (ASP). Quer mais convidados em cada um dos eventos, quer vagas “eternas” para grandes campeões. E assim, quem sabe, prolongar a carreira até a Terceira Idade.

Slater faz parte do conselho de atletas, que se reúne regularmente para debater regras do Circuito Mundial. Atualmente, 34 surfistas têm o direito de disputar o World Championship Tour (WCT), a elite, e, em cada etapa, participam dois convidados.

- Poderia ter uns 30 surfistas no circuito e mais convidados em cada etapa. Se o cara vencesse a etapa de Pipeline, por exemplo, poderia ficar cinco anos competindo lá como convidado. Ou se vencesse tantas vezes um determinado evento seria sempre convidado para ele. É algo que acontece no golfe, é muito legal. Mantém a tradição. É claro que um cara de 60, 70 anos não vai vencer um campeonato. Mas é legal para os fãs. Traz um algo a mais para o esporte.

surfe Kelly Slater em Pipeline (Foto: ASP)Slater quer sugerir mudanças nas regras do Mundial (Foto: ASP)

Não seria a primeira vez que uma ideia de Slater sairia do papel. Foi sugestão dele o "dual heat", sistema de disputa com duas baterias ao mesmo tempo. O formato salva campeonatos quando a janela de espera está prestes a se encerrar.
A mais nova ideia, se aprovada, seria uma garantia de ver Slater em ação por longo tempo. Pela regra que sugeriu, ele teria vaga eterna para o Pipeline Masters: é o recordista de vitórias na etapa mais tradicional do Mundial - seis (1992, 1994, 1995, 1996, 1999 e 2008).

- Se tivesse isso, aí eu competiria em Pipe até os 70 anos. Arriscaria minha vida para ter a chance de surfar lá - diz, rindo.

Slater parece ter abstraído o assunto aposentadoria. Nos últimos anos, fez do tema mistério. Uma certa tortura até. A cada derrota frustrante ou novo recorde, botava em dúvida sua participação na temporada seguinte. Ao longo de mais de duas décadas, viu adversários pararem de competir, viu novos surgirem. E se reinventou. Correu atrás e aprendeu manobras aéreas - principal trunfo das novas gerações. Só as dores, nas costas e no pescoço, por vezes fazem lembrar que o carequinha ali tem 41 anos.

- Não tenho um grande plano para o Circuito Mundial... Nos últimos anos, eu pensei muito em parar. Mas os campeonatos me ajudam a me manter motivado. Talvez, se eu não competisse mais, estaria surfando ondas melhores. Por outro lado, eu poderia não estar surfando tão bem quanto estou hoje.

surfe Kelly Slater nas quartas do Pipeline Masters (Foto: ASP)Slater quer competir em Pipeline até os 70 anos (Foto: ASP)

'Eu e Andy éramos como irmãos que se odiavam'

Kelly Slater e Andy Irons Bells Beach 2010 (Foto: Divulgação asp)Kelly e Andy em 2010, quando a rivalidade virou amizade (Foto: Divulgação asp)

Um dos maiores rivais, ele destacou - e muito -, é Adriano de Souza, o Mineirinho. Em Porto Rico 2010, na caminhada até o décimo título mundial, Slater disse que os duelos acirrados com o brasileiro o faziam lembrar Andy Irons. O havaiano, antigo desafeto, morrera dias antes daquela conquista, em decorrência de parada cardíaca e uso de drogas. E é aí que Slater se empolga ainda mais com a conversa. Os olhos ficam mais azuis, parecem querem voltar àquele tempo. Depois de muitos anos de "brigas", a rivalidade entre eles se tornou amizade.

Lembra com carinho do amigo, das histórias e até das brigas. Irons, campeão mundial de 2002 a 2004, foi seu maior rival de todos os tempos.
- Com o Andy era uma coisa pessoal. Éramos tão diferentes, de personalidades tão diferentes. Chegou a um ponto em quê... Teve uma vez que eu estava usando uma roupa de borracha branca. Ele passou por mim na água, remando, e gritou: “Eu odeio quem usa roupa branca. Odeio”. Éramos completamente opostos, como dois irmãos que se odiavam.

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