quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Melhor árbitro do Paulistão abandona quadro da CBF e critica Sérgio Corrêa


Após apitar apenas uma partida no Brasileirão e não participar de testes físicos e teóricos, Guilherme Ceretta é afastado e dispara contra Comissão de Arbitragem




Por
Sorocaba, SP


Guilherme Ceretta de Lima comanda partida entre Ceará e Sampaio (Foto: Divulgação)Guilherme Ceretta de Lima não apitará mais pela CBF (Foto: Divulgação)


Eleito o melhor árbitro da última edição do Campeonato Paulista, Guilherme Ceretta de Lima parece ter perdido a esperança de ter reconhecimento nacional e internacional. Um dos aspirantes indicados no país ao quadro da Fifa, o árbitro anunciou que não apitará mais pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) enquanto a Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) for comandada por Sérgio Corrêa.

– Desde que os critérios começaram a não ser coerentes, não demonstrarem segurança para poder participar deste grupo, prefiro ficar apenas na FPF [Federação Paulista de Futebol]. Na Federação temos o suporte grande do coronel Marinho, que tem muita credibilidade, controle, critério e, além de tudo, é um ser humano que não mistura o pessoal com o profissional.

O estopim para Guilherme Ceretta desistir do quadro nacional de árbitros veio após deixar de participar da escala do Campeonato Brasileiro. Na atual edição, apitou apenas um jogo: a vitória do Flamengo sobre o Coritiba, válido pela sétima rodada. A não expulsão do atacante Wellington Paulista, que ofendeu o auxiliar Marcelo Van Gasse, resultou em um afastamento temporário (confira o lance no vídeo, clicando no LINK da FONTE no final da Postagem abaixo).

 Depois disso, acabou não participando de outros sorteios e se ausentando dos testes físicos e teóricos, critérios para seguir dentro da escala. Para Ceretta, a punição imposta pela CBF foi exagerada, e isso fez com que ele tomasse a atitude de não seguir mais apitando pela entidade.

 Pela CBF, enquanto a gente tiver esse tipo de pessoas no comando, em que os critérios não sejam bem definidos, que fica colocando em dúvida todo esse processo, eu prefiro ficar fora dele. Continuo apitando em São Paulo, sendo comandado por pessoas que têm caráter."
Guilherme Ceretta de Lima.

– O erro faz parte. Da mesma forma que um jogador perde um pênalti e não fica fora de partidas subsequentes. O puxão de orelha nos ajuda e a gente aprende muito com os nossos erros, individualmente mesmo. Não precisa ninguém falar nada porque sabemos quando vamos mal. A punição é mais pessoal do que profissional. Desde 2014, minhas escalas diminuíram e chegou ao ponto de eu decidir ficar fora. Eu vinha em uma sequência legal, fiz um Paulista de bom para ótimo, cheguei a receber o prêmio de melhor árbitro, fiz a final do campeonato e por alguns critérios, na minha opinião considerados abaixo do ideal, preferi não dar continuidade no processo de testes e provas perante à CBF. Quando a gente tem um grupo trabalhando de alguma forma errada ou sendo influenciado, o comando acaba sendo um pouco confuso – disse o árbitro.

Sem integrar mais o quadro nacional, a única chance de Ceretta voltar a apitar pela CBF é no caso da Federação Paulista de Futebol (FPF), por onde apita atualmente, indicá-lo na próxima temporada. Se isso não acontecer, o árbitro não poderá apitar partidas de competições nacionais em 2016. Aos 31 anos, Ceretta tinha grande chance de integrar o quadro de árbitros da Fifa no próximo ano. O último jogo apitado por ele foi no dia 12 de julho, no duelo entre Portuguesa Santista e Taboão da Serra, válido pela quarta e última divisão do futebol profissional de São Paulo.

Guilherme Ceretta de Lima árbitro da final paulista santos e corinthians (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Guilherme Ceretta de Lima deve seguir 
apitando apenas no estado de São Paulo 
(Foto: Marcos Ribolli)


Confira abaixo outros trechos da entrevista com o árbitro Guilherme Ceretta de Lima:

Como avalia o nível da arbitragem brasileira neste ano?
– Na maioria está sendo boa. Existe algumas revelações interessantes. Acho que o problema é quando você abre muito o leque, a qualidade acaba diminuindo. Com esse critério de fazer política com todos os estados para agradar, acaba dando brecha para que a qualidade diminua além do normal e a gente acabe tendo alguns erros que, para um campeonato com a qualidade que temos, não poderia estar acontecendo. A culpa não é só de uma pessoa, é um processo dentro da arbitragem que atrapalha um pouco a qualidade e, principalmente, a sequência de um trabalho.

Pensa em puxar um movimento de árbitros no Brasil, buscando a profissionalização? Conversou com outros árbitros?
– Eu não penso nisso. Acho que poucas pessoas terão força para que isso possa acontecer. As coisas são interligadas entre uma entidade e outra que nos defende, e vejo isso como uma tentativa frustrada. Ninguém que esteja dentro do meio e pense em fazer algo neste sentido, teria força suficiente para acabar com esse tipo de critério ou forma como ele é inserido no futebol. Não passa pela minha cabeça criar qualquer coisa, prefiro pensar individualmente e acho que se as pessoas não tivessem que correr tanto atrás desse sonho, ficaria mais fácil.

Pensa em abandonar a arbitragem?
– Pensei, mas são coisas que a gente gosta de fazer. São quase 15 anos de arbitragem e isso faz com que a gente tenha prazer. Pela CBF, enquanto a gente tiver esse tipo de pessoas no comando, em que os critérios não sejam bem definidos, que fica colocando em dúvida todo esse processo, eu prefiro ficar fora dele. Na Federação Paulista temos um comandante que tem um critério, inteligente, muito bem resolvido e que todo mundo respeita. Continuo apitando em São Paulo, sendo comandado por pessoas que têm caráter.

"OPÇÃO DO ÁRBITRO"

Sérgio Corrêa CBF (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Sérgio Corrêa, presidente da Conaf (Foto: André Durão / Globoesporte.com)


Sobre a desistência de Ceretta em participar da escala de árbitros do Brasileirão, o presidente da Conaf, Sérgio Corrêa da Silva, afirma que a opção foi única e exclusivamente do árbitro. A não participação nos testes de rotina para seguir apitando foram determinantes para a exclusão do seu nome dos sorteios no restante do Campeonato Brasileiro.

– O Ceretta foi promovido por nós como aspirante à Fifa, foi considerado o melhor árbitro do Paulistão e vinha sendo utilizado. Ele acabou fazendo dois jogos muito abaixo das suas atuações no estadual, em ABC x Paysandu na Copa do Brasil, e Coritiba x Flamengo pelo Brasileirão, que acabaram deixando ele de fora de algumas escalas. Mas o que ocasionou sua saída do sorteio foi a ausência nos testes físicos e teóricos promovidos por nós em julho. Não posso usar um árbitro que não passou por procedimentos que todos os outros passaram, isso seria falta de critério – disse o comandante da escala da comissão de arbitragem.

Sérgio Corrêa ainda cita os exemplos de Héber Roberto Lopes e até mesmo de Wilson Luiz Seneme, que acabou ficando fora de uma Copa do Mundo por não conseguir passar nos testes impostos pela entidade. Ainda segundo o presidente da Conaf, regularmente Ceretta pedia dispensa da escala.

– Ele sempre pedia dispensa da escala e, por não ser profissional, nós nunca exigimos ou cobramos algo dele. Tínhamos a esperança de tê-lo como árbitro da Fifa, pois tem idade e muita qualidade, mas isso não basta. Árbitro não é igual um jogador quando é craque, que não precisa treinar. O nosso caso é diferente, é necessário estar sempre estudando e se aprimorando. Ele não pode transferir a responsabilidade para nós, é uma opção dele – explicou Sérgio Corrêa.

Presidente da comissão de arbitragem do estado de São Paulo, o coronel Marinho, elogiado por Ceretta, diz que a decisão de deixar o quadro da CBF é uma decisão pessoal do árbitro e que deve ser respeitada.

– Eu agradeço as palavras do Guilherme Ceretta, um grande árbitro. Trata-se de uma decisão pessoal do árbitro, que devemos respeitar – avalia Marinho.


POLÊMICA COM Dudu
Na decisão do Campeonato Paulista deste ano, Ceretta acabou se envolvendo em confusão após expulsar o atacante Dudu e o meia Geuvânio, após os dois jogadores se desentenderem na entrada da área. Depois de receber o cartão vermelho, em lance com o santista, o atacante do Palmeiras deu um empurrão no juiz antes de seguir para o vestiário.

Denunciado por agredir o juiz durante o clássico na Vila Belmiro, o jogador foi condenado a 180 dias de suspensão. Após recurso, o atleta teve a pena reduzida para apenas seis jogos, o que causou revolta no árbitro.

dudu palmeiras juiz (Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo)
Ceretta acabou sendo empurrado por 
Dudu após expulsá-lo na final do 
Paulistão deste ano (Foto: Daniel 
Teixeira/Estadão Conteúdo)


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/sp/sorocaba/futebol/noticia/2015/10/melhor-arbitro-do-paulistao-abandona-quadro-da-cbf-e-critica-sergio-correa.html

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