sexta-feira, 3 de abril de 2015

"Amordaçado", Luxa se posiciona contra punição: "Não vão me calar"

Treinador se diz censurado pela Ferj e pelo TJD-RJ, revela que sequer irá ao Maracanã para o Fla-Flu e coloca esparadrapo na boca em protesto contra a censura


Por
Rio de Janeiro

 
Palavras firmes e uma imagem emblemática. Vanderlei Luxemburgo se posicionou nesta sexta-feira a respeito da suspensão de dois jogos recebida no Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ). Sem abrir espaço para perguntas, o treinador do Flamengo entrou na sala de coletivas do Ninho do Urubu para pronunciamento definitivo após ter uma liminar que o permitiria comandar a equipe no Fla-Flu de domingo concedida na quarta-feira e cassada no dia seguinte. Primeiro, falou como profissional. Depois, como cidadão. Por fim, "amordaçou-se", colocando um esparadrapo na boca e deixou o local (veja vídeo abaixo).


O comandante rubro-negro adiantou que, em decisão conjunta com Eduardo Bandeira de Mello, não irá ao Maracanã sequer para ver o clássico - Deivid comandará a equipe. Na parte mais firme do pronunciamento, Vanderlei disse sentir-se censurado, garantiu que não irá baixar a guarda diante das sanções e bradou pelo seu direito de expressão. Confira abaixo a declaração do treinador na íntegra:


Luxemburgo, coletiva Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
Luxemburgo põe fita na boca em protesto 
com a Ferj e o TJD-RJ (Foto: Gilvan 
de Souza / Flamengo)


Me senti violentado e agredido como cidadão.
Luxemburgo

- Conto com a colaboração de vocês para não ter perguntas, respeitando o meu momento. É só um pronunciamento em função das coisas que estão acontecendo. Acho importante meu posicionamento como cidadão e como profissional. Não é a primeira vez que fico fora de um jogo suspenso. Já aconteceu outras vezes e fui campeão, ganhei. Não vejo como problema para equipe, não vai existir algum tipo de prejuízo. Temos um processo trabalhado com o Deivid. É um situação do futebol, até por expulsão. Os jogadores sabem das nossas propostas. Já aconteceu uma situação em Macaé, onde o Paulo Victor não pôde atuar e tínhamos decisões. 
Por decisão minha, conversando com a presidência, se não posso estar no vestiário, não estarei no Maracanã, não vou ao jogo. Me senti prejudicado e não tem motivo para estar em um local onde não exercerei meu direito de trabalho. 

Vou ver o jogo como torcedor. Agora, como cidadão, em um momento importante do Brasil, onde estivemos recentemente uma eleição para presidente da República com debates ferrenhos, acusações, ideias, movimentos ruins de violência, onde confundiram processo democrático com violência e a população não aceitou. Em seguida, tivemos movimentos democráticos a favor e contra o governo. O direito do povo brasileiro foi conquistado através de lutas para quebramos a ditadura, direito de se expressar sem repressão. Não pode, em 2015, em um órgão importante do Rio de Janeiro, voltarmos a viver um momento de ditadura. Começamos lá atrás com a queda de um presidente e está na constituição o direito de liberdade de ir e vir, que não pode ser quebrado. Me senti violentado e agredido como cidadão. Já fiz muitas coisa que mereci ser punido. O que fiz foi buscar o melhor para o povo brasileiro. Em um momento onde tomamos uma derrota de 7 a 0 (7 a 1), busquei um caminho. Não me posicionei contra nenhum dirigente, mas contra qualquer federação que impeça jovens de jogar futebol. Quando usei o termo porrada, não era dar porrada na mão, foi um termo que usamos constantemente, vejo constantemente ser usado na televisão. Não foi tentativa de mandar agredir ninguém. Não podemos buscar através do futebol a moralidade de um segmento que não tem moral. Como cidadão brasileiro, venho repudiar. Vou continuar sendo da forma que sempre fui e vou seguir criticando o que achar que deve ser criticado. Nunca fui de ficar atrás de nada. Vou continuar buscando viver em um país melhor e que minhas filhas e meus netos encontrem um processo democrático ainda melhor. Não vão me calar de jeito nenhum. Se quiserem me tirar do Carioca, que me tirem. Só vou me posicionar quando tiver o meu direito de liberdade.


Luxemburgo, coletiva Flamengo (Foto: Cahê Mota)Técnico deixa sala de imprensa após pronunciamento com fita na boca (Foto: Cahê Mota)


Com dez desfalques para enfrentar o Bangu, na última quarta-feira, Luxemburgo atacou a Ferj por não poder buscar alternativas nas categorias de base. Por regulamento, só é permitido levar cinco juniores para as partidas do Campeonato Carioca.

- Tem que dar porrada na federação. Vou impedir o Bressan de ser convocado para a seleção olímpica? A federação só quer que tenha cinco amadores (juniores) inscritos. Tenho o Leonardo. O trabalho do Flamengo na base está excelente. Não temos quatro, temos cinco zagueiros. Um convocado (Bressan), o Samir está lesionado e o Wallace, suspenso. Temos 23 jogadores, mais quatro a sete do departamento amador. Aí acontece tudo para que a gente possa buscar no departamento amador. Hoje tenho o Sávio, Baggio, Jorge e Jajá. Não poderia pegar um zagueiro também? Não, porque só podem cinco inscritos dos juniores, e já tinha o Daniel como terceiro goleiro. O culpado sou eu ou o futebol está feito de maneira equivocada? 

O que posso falar? - disse, na ocasião.

No dia 20, dois dias antes do clássico diante do Vasco, Luxemburgo já havia criticado Rubens Lopes por ter assistido ao jogo do time cruz-maltino contra o Nova Iguaçu no camarote do presidente vascaíno, Eurico Miranda, em São Januário.

Luxemburgo foi punido com dois jogos de suspensão pela fala contra a Federação. O departamento jurídico do clube chegou a conseguir uma liminar liberando o técnico para o Fla-Flu. No entanto, um dia depois, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) voltou atrás a pedido da Procuradoria do TJD-RJ - órgão que já havia negado efeito suspensivo para o caso. Agora, o treinador terá que aguardar o julgamento do recurso no Pleno do TJD-RJ, ainda sem data para acontecer.

O efeito suspensivo favorável ao Flamengo na última quarta havia sido concedido pelo vice-presidente do STJD, Ronaldo Piacente, mas o presidente Caio Rocha teve um entendimento diferente do caso e mudou a decisão nesta quinta. De acordo com a Procuradoria do TJD-RJ, a liminar que liberava Luxa abriria uma jurisprudência perigosa, que levaria outras equipes de torneios regionais a impetrarem a medida como forma de evitar que os denunciados condenados cumpram suas penalidades dentro das competições em curso.

Luxemburgo não poderá sequer ter acesso ao vestiário do Flamengo no clássico. Com isso, Deivid, ex-atacante rubro-negro e atual auxiliar do treinador, é quem deve comandar a equipe neste domingo, no Maracanã.


FONTE:
http://glo.bo/1IZSXwk

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