sexta-feira, 25 de julho de 2014

Achei! Harison recorda fase em que teve Kaká como reserva no São Paulo

Atualmente na disputa da Série C pelo Duque de Caxias, meio-campo fala do começo da carreira no Tricolor e da transferência conturbada do Guarani para a Ponte Preta


Por Belém

Harrison - ex-paysandu (Foto: globoesporte.com)Ex-Tricolor com o filho mais novo, Zion (Foto: Jorge Sauma/GloboEsporte.com)

Para a maioria da crônica esportiva, Harison Nery não passou de uma promessa do São Paulo e ganhou fama na cola de Kaká – que deve reestrear pelo Tricolor neste domingo, contra o Goiás. Sim, quando apareceu para o mundo da bola, em 2000, o jogador era “o cara” da base são-paulina, capitão de uma equipe vitoriosa, que logo ganhou vez no time principal e deixou no banco justamente o pentacampeão mundial. E a história rende até os dias de hoje, mesmo sem fazer o menor sentido para Harison. Ele garante que nunca existiu reserva ou titular e, sim, a opção do então técnico Vadão por um atleta dois anos mais experiente e com estilo que melhor se encaixava ao sistema tático. 
  
Mas jogar no São Paulo, segundo o paraense, não era tarefa das mais fáceis. O elenco era recheado de jogadores renomados e, mesmo com a aposentadoria de Raí às portas, o clube ainda tinha Marcelinho Paraíba, Carlos Miguel, Hugo, Fábio Simplício, Júlio Baptista e o chileno Maldonado. As oportunidades, claro, não seriam muitas, e Harison tinha objetivos maiores na carreira. O principal deles era alcançar a tão sonhada independência financeira sem perder a chance de fazer parte da história de grandes clubes.  

Harison - São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)
Harison, de pé, no canto direito da imagem, 
foi campeão do Torneio Rio-São Paulo, em 
2001. Na imagem: Kaká, Belleti, Fábio 
Simplício, Gustavo Nery, Carlos Miguel, 
Luis Fabiano, Maldonado e França 
(Foto: Arquivo Pessoal)

– Muita gente tinha subido naquela época. A gente tinha ganhado tudo na base e eu era capitão, tinha mais idade, por isso falam isso, mas nunca achei que o Kaká era meu reserva. Nossa função era diferente. Ele era mais um ponta de lança, e eu, mais armador. Além disso, era opção do treinador. O São Paulo tinha uns dez meias e eu sabia que não ia jogar como queria. Foi quando eu recebi uma proposta milionária e preferi sair para fazer o meu ‘pé de meia’ no Japão e ajudar minha família. Fui e sou muito feliz no futebol – relembra.  

Harison  (Foto: Arquivo Pessoal)Paraense em ação pelo União de Leiria (Foto: Arquivo Pessoal)

Do tema “Kaká” restou o respeito, as resenhas dos encontros casuais e a admiração pelo futebol do craque. Aos 34 anos, Harison agora vive uma nova fase, mas segue jogando profissionalmente por amor ao esporte. Ele e o ex-palmeirense Washington são os principais jogadores do Duque de Caxias na disputa da Série C. O meia relembra com orgulho da carreira e dos amigos que fez ao longo de 15 anos.    

– Cada um de nós dois fez seu destino. Eu passei por muitos lugares incríveis, rejeitei convite do Flamengo para permanecer na Ponte Preta, fiz história em Portugal, China, Guarani... No Japão pude estabelecer uma amizade com o Zico, um ídolo para mim. E continuo atuando porque tem muito meia ruim jogando e sei que jogo mais uns três anos fácil. Esse ano estive no Marcílio Dias e aceitei o desafio de vir para o Duque ajudar nessa caminhada – recorda.  

Nunca achei que o Kaká era meu reserva. Nossa função era diferente. Ele era mais um ponta de lança e eu mais armador (...).  E continuo atuando porque tem muito meia ruim jogando"  
Harison Nery

Harison ainda foi protagonista de uma relação de amor e ódio com as torcidas da Ponte e Guarani. Em 2004, pelo Bugre, ele foi ídolo, mas se transferiu para a Macaca no ano seguinte. De herói, virou carrasco em pouco tempo, mas reconquistaria seu espaço anos depois, ao voltar a vestir a camisa do time do Brinco de Ouro.

– Fiz um caminho delicado. Participei de uma temporada muito boa pelo Guarani, mas acabei indo para a Ponte. A torcida ficou chateada, mas entendeu que eu era profissional. Não recordo de outros jogadores que fizeram esse caminho. Cheguei à Ponte ainda sob a desconfiança, mas marquei nas três partidas iniciais e caí nas graças do torcedor. Até que, depois de algum tempo, acho que em 2009, voltei ao Guarani e a torcida me acolheu bem, pelo menos é o sentimento que tenho até hoje – acredita.  
Harison inspira irmão mais novo


O ex-meia do São Paulo também despertou no caçula o desejo de uma carreira no esporte. Hadson se tornou jogador de futebol, mas fez um caminho diferente. Em vez de começar no Tricolor – como o irmão –, optou pelo Corinthians, só que o sucesso acabou menor e a carreira seguiu no mesmo rumo.  

Hadson Nery - Lembra Dele (Foto: Jorge Sauma)
Hadson Nery atualmente agencia 
carreira de jogadores e guarda 
imagens dos tempos em que atuava 
profissionalmente (Foto: Jorge 
 Sauma/GloboEsporte.com)

– Não dá para comparar. Eu sou meia e ele era lateral esquerdo. Tinha mais técnica e era mais forte, mas ele é esquentado, por isso preferiu parar mais cedo, aos 32 anos. No futebol a gente precisa de paciência, saber engolir algumas coisas e esperar. Hadson era habilidoso e um bom jogador, teve chance e eu pude ajudar. Jogamos juntos em Portugal (no União de Leiria), que era um sonho do meu pai. Ele também passou pelo Japão, no Frontale, Paysandu e Remo – revela Harison. 
  
Os primeiros passos dos irmãos Nery só foram dados graças ao Seu Benedito, principal incentivador da carreira dos filhos. Bem relacionado, primeiro levou Harison ao São Paulo. Pouco depois, pressionado pelo caçula, que também queria jogar em um clube fora do Pará, conseguiu que Hadson participasse de uma peneira no Timão. 
  
Ele (Cuca) disse: ‘Comigo você não joga’. Aí a briga foi feia. Ele tinha alguma coisa pessoal contra mim"
Hadson Nery

– Logo no primeiro momento, o Harison foi embora por ser o mais velho dos filhos e sempre sonhou em jogar no São Paulo. Já o meu desejo era jogar no Corinthians. Eu sofria pressão em Belém porque o meu irmão já estava fora, e ‘se foi um, tem que ir o outro’. O meu pai fez todo o processo novamente, indo para São Paulo. Conseguiu me inscrever em uma peneira do Corinthians, mas não tinha para minha idade. Como sempre joguei em categorias acima, encarei e fui, sem medo. Depois de uma semana de avaliações por lá, fiquei nas divisões de base aos 14 anos – contou Hadson.
    
Em campo, a carreira foi de altos e baixos. O lateral esquerdo relembra bons momentos no futebol ucraniano, onde jogou por Spartak Ivano-Frankivsk e SC Tavriya. Mas sua história ficou marcada pela polêmica com o Paraná e o seu então treinador, Cuca, com quem já havia tido problemas anos antes, ainda no Remo. Sem vez no Tricolor da Vila, Hadson ouviu de Cuca que não jogaria sob seu comando, mesmo sem saber exatamente a razão. 
  
Hadson com Emerson Sheik (Foto: Arquivo Pessoal)Hadson foi companheiro de Emerson Sheik no Frontale, do Japão (Foto: Arquivo Pessoal)

– Eu não fiquei muito tempo no Paraná, pouco mais de um ano. Tive sérios problemas de lesão logo no começo. Na 6ª rodada do Brasileiro, me falaram que o Cuca não contava mais comigo. Não ia me mandar embora, só me afastou. Foi aí que eu entrei no pé de briga com o Paraná durante quatro meses. Nesse tempo tive propostas do Náutico e de um clube de São Paulo, mas não me liberaram. Fui falar com o Cuca, que nem trabalhou comigo direito, nem no Remo. Ele disse: "Comigo você não joga." Aí a briga foi feia. Ele tinha alguma coisa pessoal contra mim. Eu fui pra cima do Paraná para rescindir contrato, e o clube me devia muito dinheiro – detalhou.

Em outubro de 2007, o Tribunal Superior do Trabalho condenou o clube paranaense a pagar um valor superior a R$ 3 milhões ao ex-jogador. A dívida foi negociada e o jogador afirmou que recebe as parcelas até hoje. Desde que decidiu "pendurar as chuteiras", Hadson administra uma empresa que agencia carreira de atletas e preside o Bragantino, clube que vai disputar a segunda divisão do Campeonato Paraense.


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