Após ano de altos e baixos, bronze em Londres fica fora dos Jogos do Rio, se renova em busca de novos objetivos, descarta aposentadoria e cogita estudar Administração
Após ficar fora das Olimpíadas do Rio, Juliana traça Circuito Brasileiro e Mundial como metas para 2016 (Foto: Carol Fontes)
- A gente teve um momento muito bom na Noruega (campeã no Major Series de Stavanger). Pintaram oportunidades, mas, infelizmente, não conseguimos agarrá-las. Se tivéssemos êxito, as coisas poderiam ser diferentes. O fato é que a gente está fora. Não conseguimos nos reerguer de alguns baques. Teve um momento que fiquei triste, demora para cair a ficha e realizar que você não tem mais condições. Aceitar leva tempo, leva uma maturação. Os times que vão para 2016 foram melhores neste ano. É admitir isso, colocar a mochila nas costas e trabalhar mais. A vida continua.
Tem ainda o ano que vem. Estou realinhando as ideias. Passei um momento em que dei uma chutada de balde, saí um pouco das minhas metas, mas já estou me preparando para 2016. Apesar de ser reserva, quero fazer um ano melhor e sentir a sensação de disputar títulos. Tudo começa na preparação. Quero me manter bem o ano inteiro, formar uma parceria forte, fazer um bom Brasileiro e chegar bem para o Circuito Mundial - revelou Juliana.
Ao lado da ex-parceira Larissa, Juliana
conquistou a medalha de bronze nas
Olimpíadas de Londres 2012 (Foto: Reuters)
- Eu falo que sou uma águia. A águia tem uma história interessante. Primeiro, ela é soberana e faz tudo. Aí chega um momento da vida em que que ela alcançou tudo, os voos mais incríveis, para depois vir o momento que ela não consegue mais voar. A unha fica torta, e ela vai para a montanha. Tenta voar o mais alto que ela pode e fica reclusa. Pega o bico e começa a bater na unha. Vai tirando unha por unha em um processo é superdoloroso, que leva tempo. Depois de tirar todas as unhas, leva tempo para cicatrizar até ela voltar a ter a sobrevida. A águia sempre consegue voar para onde quiser.
Os ventos podem estar fracos ou fortes, mas ela vai. Estou agora no momento da montanha. Passei por um momento bem triste e, por isso, fiquei reclusa. Com oportunidades bombando, quis ficar no meu canto para me preservar. Às vezes, nesse nosso mundo, tem que ser super herói. Não podemos nem nos dar o luxo de sofrer, mas, somos seres humanos. Embora a gente consiga sair e suportar inúmeras coisas, tem horas que a gente sente. Mas isso tudo passou. Agora, é bola para frente - acrescentou.
Campeãs em Stavanger, Noruega, Juliana e
Maria Elisa não se classificaram para 2016
(Foto: Denis Ferreira Netto/CBV)
- Foi a primeira vez na minha vida em pleno estar bem que eu pensei em não jogar mais. Nem quando eu me machuquei em 2008 (às vésperas das Olimpíadas de Pequim, abdicando da competição), nunca havia pensado nisso. Foi a primeira vez que passou pela minha cabeça. Pensei em ficar do lado do meu pai, mas os meus irmãos e a minha família falaram para eu não fazer isso, porque ele tinha muito orgulho de mim e eu poderia deixá-lo ainda mais doente se ficasse no Brasil. Eu fraquejei em muitos momentos, coisa que dificilmente acontecia, mas, é bola para frente. O mundo é cheio de oportunidades, e os campeonatos estão em aberto - declarou.
Nos momentos difíceis, ela se agarrou à família como um porto seguro para se reerguer.
- Tem certas coisas que a gente tem, outras que não. As Olimpíadas não tinham o nome de ninguém, estava tudo em aberto. Mas existem coisas suas, os títulos e a sua família. Eu passei por um momento ruim quando o meu pai estava com problemas de saúde. Quando eu saí para viajar, pensei que nunca mais iria ver o meu pai, a pessoa que eu mais amava no mundo, que eu mais amo até hoje. Toda a vez que o meu telefone tocava, eu pensava que era algo relacionado a ele. Foram oito semanas de muita tensão. Quando eu cheguei no Brasil, só deu tempo de enterrá-lo, que era uma vontade que eu tinha também. Não queria que ele fosse embora sem enterrá-lo. A minha vontade foi feita, e ele foi descansar. Quatro dias depois, era o meu aniversário. Foi o pior aniversário da minha vida, longe da minha família e com um resultado ruim, que contava para as Olimpíadas. As Olimpíadas vão acontecer, mas o meu pai é uma perda irreparável, que ninguém substitui. As pessoas que me conhecem sabem o quanto eu era ligada ao meu pai - disse Juliana, que passou a infância e adolescência em Natal.
Aos 32 anos em uma das modalidades que apresenta uma maior longevidade no esporte, Juliana espera que o corpo determine o momento de parar. Prefere não pensar nos Jogos de Tóquio 2020 e foca no presente.
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Acostumada a vencer, Juliana superou ano de altos e baixos e foca em 2016 (Foto: FIVB)
Não sou a melhor jogadora, nunca fui, mas eu tenho desejo de jogar e de desfrutar do esporte que poucas pessoas têm. Sempre dou muito mais do que eu posso. Quero sentir a adrenalina máxima. Se for para sair exausta de todos os jogos, eu vou sair. Não vou poupar energia - contou a atleta, que tem usado o tempo livre para estudar os mais variados assuntos, de publicidade a finanças.
Recentemente, Juliana passou a integrar o Programa de Carreira do Atleta (PCA), iniciativa criada há quatro anos pelo Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), área de educação do Comitê Olímpico do Brasil (COB), para auxiliar atletas que estejam em transição de carreira. A quarta turma do projeto conta com 13 nomes do esporte nacional, incluindo quatro campeões olímpicos: Fofão, Ricardinho e André Heller (vôlei); e Ricardo (vôlei de praia), também em atividade.
- O curso é legal para te dar um direcionamento. Tem gente que acha que tem aptidão para ser treinadora. Eu gosto muito de jornalismo, de me comunicar, e tem uma área muito bacana que eu também gosto que é publicidade. Tenho umas ideias rápidas e loucas, que sempre funcionam. Meus amigos que têm agência dizem que eu tenho esse tato natural. Sou hiperativa demais. Depois de me aposentar, penso administrar as minhas coisas, ter uma vida bacana e viver outras coisas que eu não vivi. O vôlei me ajudou a ter a maturidade que outras faculdades não me dariam. Eu penso em fazer administração no futuro, mas não sei se esta vai ser a minha vocação. Tenho gostado muito de estudar. Nunca é tarde para começar. A vida vai ensinando a gente, e existe tempo para tudo - contou a multicampeã.
O próximo compromisso de Juliana nas areias será a etapa do Circuito Brasileiro em Bauru (SP), de quinta-feira a domingo. Ao lado de Maria Elisa, a santista, dona de cinco títulos em etapas nacionais em São Paulo, tentará bater a marca da campeã olímpica Sandra Pires, com o mesmo número de conquistas. A disputa terá a presença dos classificados para 2016 (Ágatha/Bárbara, Larissa/Talita, Alison/Bruno Schmidt, Evandro/Pedro Solberg) e novas formações. Oscar passará a jogar com Allison Francioni, enquanto Thiago reeditará a equipe com Pedro Cunha, em uma troca de parceiros. O circuito ainda passará este ano por Curitiba (PR), de 3 a 6 de dezembro.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei-de-praia/noticia/2015/11/inconstante-juliana-supera-perda-do-pai-e-do-rio-2016-aceitar-leva-tempo.html
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