segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Com simpatia e determinação, sérvia vira o novo xodó do Rio de Janeiro

Brincalhona, Brankica Mihajlovic não esconde admiração por Bernardinho e Fabi, e elege Gabi como professora de português; estreia será no Mundial

Por Rio de Janeiro

Brankica Mihajlovic caminha pela quadra da Urca como se estivesse em casa. Precisou de menos de uma semana de treinamento com o Rio de Janeiro para se sentir assim. Num estalar de dedos virou a Branca, e entendeu que a alcunha não era apenas uma forma de encurtar seu nome. Tinha também relação com o tom de sua pele. Achou graça e passou a fazer piada sobre o tema. Aos 22 anos, a ponteira sérvia ri de si mesma com a mesma facilidade com que arranca gargalhadas das companheiras. O temperamento brincalhão e o interesse declarado em aprender com "os melhores" a transformaram no novo xodó do time. Mas ela quer mais. Pretende fazer valer a aposta feita por Bernardinho e ajudar a equipe a conquistar títulos. A primeira oportunidade de mostrar serviço será no Mundial de Clubes, que será disputado a partir de quarta-feira, em Zurique, na Suíça. O adversário da estreia será o Iowa Ice, dos EUA.

Vôlei Brankica Rio de Janeiro (Foto: Marcio Rodrigues / MPIX ) 
Brankica Mihajlovic fara sua estreia no Mundial de Clubes (Foto: Marcio Rodrigues / MPIX )
 
Desde sua chegada ao Brasil, no domingo retrasado, Mihajlovic procurou aprender rapidamente a forma de jogar do atual campeão brasileiro. Encontrou por aqui um treino mais intenso do que estava acostumada, além de um trabalho de musculação mais forte e um jogo mais rápido do que o da Europa. Nascida em Brcko, na Bósnia e naturalizada Sérvia, ela já defendeu o Brcko, o Volero Zurich (Suíça), o Hyundai (Coreia do Sul) e RC Cannes (França). Diante de qualquer dúvida, não é raro vê-la ao lado de Fabi e Gabi. A líbero chamava a sua atenção desde os 15 anos, quando acompanhava suas defesas pela TV. Com a jovem ponteira teve identificação imediata e tratou logo de alçá-la ao posto de professora de português.

- Branca teve uma lesão no cotovelo e não atuou na fase final do Europeu. Mas ela está apta agora a jogar. É uma menina que entrou e já está falando as primeiras palavras em português.
Está muito entrosada, cheia de energia e potencial. Em pouco tempo, conquistou corações e nossa simpatia. Veio com o intuito de crescer e queremos dar isso a ela.  É uma jogadora que chama a atenção pelo grande potencial no ataque e o saque viagem forte. Temos trabalhado muito o passe dela e aí ela demonstra uma baixa autoestima quando erra. Olha para a Fabi e diz: "O seu bate na mão. O meu bate na parede". Ela vai ter que recuperar isso - disse Bernardinho.

Vôlei Brankica, Fabi e Gabi Rio de Janeiro (Foto: Danielle Rocha) 
Brankica brinca com Fabi e Gabi no último treino antes do embarque para o Mundial (Foto: Danielle Rocha)
 
Esse é o único momento em que o sorriso deixa o rosto de Mihajlovic. A bola que não toma a direção certa a faz balançar a cabeça e balbuciar algumas palavras baixinho. O acerto na nova tentativa traz o alívio. Queria ter a precisão de Fabi no fundamento. No entanto, não esconde a admiração de fã ao admitir que isso não será possível.

- Não posso ser como ela. Fabi é única. Mas sei que vou ser melhor no passe. Chegar ao nível dela é impossível (risos). Eu não esperava receber esse carinho todo. Eu via a Fabi pela TV e agora estou aqui, jogando com ela. Não é uma coisa pequena para mim.  Ela me ajuda muito e não posso acreditar que seja assim, uma pessoa normal. Então, eu procuro sempre distribuir positividade para todas elas - sorriu.

Vôlei Brankica e Gabi Rio de Janeiro (Foto: Danielle Rocha) 
Gabi virou professora de português oficial (Foto: Danielle Rocha)
 
Gabi agradece a boa energia. A simples menção do nome da nova companheira já é suficiente para arrancar uma risada. É assim na quadra e fora dela. Além de ensinar o vocabulário básico para que entenda melhor as orientações dadas nos treinos, as lições incluem expressões para que a ponteira consiga se virar bem no dia a dia. Morando sozinha em Copacabana, a sérvia tem passado bem no teste. Mistura espanhol, português e inglês a uma boa dose de simpatia, e tira de letra a barreira que poderia existir. Para não perder o hábito, fez Gabi rir ao dizer: "Eu falei que você me ensinou palavrões". Fez a brincadeira e negou tudinho depois para alívio da amiga. Dia desses, após fazer uma boa defesa, ouviu Bernardinho gritar "boa!". Não precisou de intérprete para entender que aquela palavra era sinal de algo bem feito.

- No que acho que ele vai poder me ajudar a evoluir? Em tudo!  Ele é simplesmente inacreditável. É muito bom treinador e sei que vou aprender muito.

Quer também relembrar os passos ensinados pela irmã mais velha para não fazer feio no Rio. Na ocasião, a tentativa de torná-la uma dançarina falhou. Mihajlovic não gostava, achava que não levava jeito para se arriscar nos ritmos latinos e sempre que podia corria para a quadra. Ora para se arriscar no handebol e basquete ora para  jogar vôlei. Hoje, se arrepende de não ter se esforçado um pouquinho mais para dominar o samba e o tango. Já ouviu dizer que precisará aprender a dançar funk. Respira fundo e sorri.

Vôlei Brankica Rio de Janeiro (Foto: Danielle Rocha) 
Brankica brinca ao ver a máquina apontada em sua direção (Foto: Danielle Rocha)
 
Filha de uma dona de restaurante e de um professor, Brankica Mihajlovic não esconde o gosto pela leitura. Principalmente dos dramas. O cinema é outra paixão. Entre os filmes marcantes, pela mensagem, ela frisa, está "Forrest Gump, o contador de histórias". Entre os ídolos, o compatriota Novak Djokovic. Entre os lugares a serem conhecidos na cidade a lista inclui Cristo Redentor, Pão de Açúcar e parques. A "comida deliciosa" ela já provou e aprovou.

Depois da participação olímpica nos Jogos de Londres e do terceiro lugar no Grand Prix deste ano, a jogadora de 1,89m quer que a primeira experiência no vôlei brasileiro seja perfeita. A conquista do título mundial inédito para o grupo seria um bom começo.

-  Nem em sonho eu pensei que estaria aqui. Então, quero aprender e poder ajudar esse time.
E do mesmo jeito que chegou, deixou a quadra. Sorriso largo e mais uma mostra de que a adaptação está sendo rápida 

- Tchau. Muito obrigada! - disse em bom português.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/10/com-simpatia-e-determinacao-servia-vira-o-novo-xodo-do-rio-de-janeiro.html

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