terça-feira, 2 de julho de 2013

Churrascos, rifas e saudades: Vanuatu dribla obstáculos de olho no Rio 2016

Representantes do arquipélago do Pacífico Sul, Elwin e Iatika estreiam em Mundiais apesar de dificuldades para custear viagens da preparação olímpica

Por Helena Rebello Direto de Stare Jablonki, Polônia
 
Os aplausos, mesmo que modestos em relação aos dados às adversárias polonesas, deixaram Elwin e Iatika arrepiadas. A dupla estreante em Mundiais estava ali, na quadra central do torneio mais importante de suas vidas, realizando um dos muitos sonhos da infância relacionados ao vôlei de praia. Nem a derrota para Lili/Bárbara desanimou a dupla. Do arquipélago de Vanuatu, no Pacífico Sul, para o mundo, as atletas usam a criatividade para arrecadar fundos e custear a campanha rumo aos Jogos do Rio de Janeiro. Por enquanto, mesmo que ainda modestos, os resultados nas areias são a maior esperança de desembarcar no Brasil em 2016.

vôlei de praia Elwin e Iatika Stare Jablonki (Foto: FIVB)Elwin e Iatika realizam sonho de disputar o primeiro Mundial da carreira em Stare Jablonki (Foto: FIVB)
 
Elwin e Iatika apareceram para o mundo do vôlei de praia em 2009 ao vencerem o campeonato da Oceania. A Federação Internacional de Vôlei (FIVB), que até então não as conhecia, pediu para que a australiana Natalie Cook, representante da entidade na região, coletasse maiores informações. A campeã olímpica enviou às ilhas seu treinador e a jovem técnica Lauren McLeod. Lauren aceitou o desafio de treinar a parceria e até hoje segue à frente da dupla em múltiplas funções.

Matauatu e Elwin, vôlei de praia, Vanuatu (Foto: Divulgação/FIVB)Elwin com Matauatu no evento teste de Londres:
redução de verba fez delegação diminuir (Foto:FIVB)
 
 
No início, a meta era classificar a dupla para os Jogos de Londres 2012. O Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) abraçaram a causa e deram o suporte financeiro necessário para levar a parceria ao Circuito Mundial. A estreia veio em 2011, e as atletas sentiram o gosto de pisar em solo olímpico no evento-teste britânico. Mas bateram na trave na hora de garantir a vaga na competição do ano seguinte. Sem o objetivo alcançado, temeram o fim da trajetória na elite internacional. Mas não ficaram de mãos atadas.

Sem um patrocinador fixo, Elwin, Iatika e Lauren passaram a arrecadar fundos por conta própria. Organizaram eventos como churrascos e festas na comunidade local e fizeram rifas. Lauren passou a treinar times estrangeiros no exterior em troca de estadia gratuita da equipe no local. O número de participação em torneios caiu, mas as duas conquistaram a vaga para o Mundial de Stare Jablonki e reavivaram as esperanças de seguir no Circuito.

Vanuatu tem 83 ilhas e pouco mais de 200 mil habitantes. Cada região possui um dialeto próprio, e o idioma oficial de Elwin e Iatika, nascidas em Port-Vila, é o Bishlana
 
- Meu pai me encorajou a começar a jogar para que eu pudesse ser a primeira pessoa a família a viajar em um grande avião. Agora espero que as pessoas em nosso país sigam nossa batalha, que mais mulheres e juvenis comecem a participar de modalidades esportivas e tentem dar o seu melhor. Espero que algumas pessoas em nosso país possam ver pelo menos um de nossos jogos aqui. Estamos muito animadas. Perdemos a classificação para Londres, mas vamos continuar tentando para o Rio - disse Elwin.

vôlei de praia intercâmbio Elwin Iatika Vanuatu (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)Agachadas, Elwin e Iatika com dinamarqueses: Lauren dá treinos em troca de estadia (Arquivo Pessoal)
 
Na estreia no campeonato polonês, a equipe de Vanuatu frustrou a torcida local ao derrotar as polonesas Bekier e Oleksy por 2 sets a 0, com parciais de 21/14 e 21/13. No  segundo jogo,  porém, as duas não resistiram à força das brasileiras Lili e Bárbara Seixas. Nada que desanime a dupla, que sonha superar o 17º lugar alcançado no Grand Slam de Xangai de 2012.

vôlei de praia Elwin Vanuatu filha (Foto: Arquivo Pessoal)Elwin com a filha Jennifer, de apenas quatro anos:
ausência é 'compreendida' (Foto: Arquivo Pessoal)
 
- Acho que a parte mais difícil já passou. No início foi mais duro porque era preciso fazer uma escolha. Tenho duas crianças e às vezes fico longe deles por duas semanas, às vezes por um mês. Agradeço muito aos meus pais e meu marido por cuidar deles quando estou fora. Agora conhecemos melhor as jogadoras e conseguimos jogar melhor. E as crianças já entendem. É só voltarmos com um presente ou com um chocolate que elas entendem - brincou Iatika.

Apesar do esforço que faz pelo projeto, a técnica Lauren Mcleod teme pelo futuro. Sem salário fixo, a australiana espera que algum patrocinador ou alguma entidade de sensibilize com a história de suas comandadas para que elas possam seguir no esporte de alto rendimento.

- Pela parte do vôlei acho que é realmente possível que elas consigam uma vaga para os Jogos do Rio. Essa é a "parte fácil" do nosso trabalho, ir para a areia e trabalhar duro. Mas o problema é que não temos o dinheiro para viajar o quanto precisamos para competir. Estamos fazendo o melhor que podemos, e este Mundial é a consolidação do nosso trabalho. Achamos que o programa cairia depois que não conseguimos a classificação para Londres, mas aí mudamos nosso foco para o Mundial.  Foi algo muito importante para que atraíssemos mais uma vez o interesse das pessoas no Pacífico, conseguíssemos apoio e para que a comunidade do vôlei veja o nosso esforço. É sempre possível trabalhar mais duro na areia, mas no campo financeiro temos nossos limites.

Na fase de classificação, em jogo válido pelo Grupo M, Iatika e Elwin enfrentam ainda as italianas Gioria e Giombini. As duas primeiras colocadas da chave avançam para a fase de mata-mata, assim como as oito melhores terceiras colocadas.

FONTE:
http://sportv.globo.com/site/eventos/circuito-mundial-de-volei-de-praia/noticia/2013/07/churrascos-rifas-e-saudades-vanuatu-dribla-obstaculos-de-olho-no-rio-2016.html

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