Recordista de jogos pelo Corinthians, ex-lateral é funcionário da prefeitura de São Sebastião e crê que crise no time acabaria se jogadores reagissem: 'A coisa está feia'
Wladimir, lateral-esquerdo ex-Corinthians, hoje trabalha em São Sebastião (Foto: Filipe Rodrigues)
Sociólogo e dirigente do Timão, Adilson Monteiro Alves dá a voz para que cada jogador dê seu ponto de vista sobre o que está errado. Entre os jogadores está o lateral-esquerdo Wladimir, atleta que mais vestiu a camisa do Corinthians na história, com 803 jogos disputados durante duas passagens, entre 1972 e 1987. Ali começa uma lavação de roupa suja com críticas para questões estruturais e individuais no ambiente alvinegro. Diante dos problemas levantados, a solução sugerida pelo próprio Adilson foi ousada para um país que vivia assolado pela ditadura: as decisões do clube seriam decididas por votos de jogadores e funcionários. Cada atleta teria voz, mas, para isso, teria de corresponder em campo. O movimento recebeu o nome de "Democracia Corintiana".
Prestes a completar 60 anos, o ex-lateral hoje é funcionário da prefeitura de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Atua como porta-voz do prefeito Ernane Primazzi em conversas com deputados e outros políticos para projetos envolvendo o município de pouco mais de 70 mil habitantes. Apesar do novo cargo, andar com Wladimir na rua é ser parado a cada passo para ouvir uma análise sobre a situação do Timão, a relação conturbada entre time e torcida e o que precisa ser feito. Para ele, a solução é dar poder e responsabilidade para que os jogadores se unam e definam os rumos do clube.
Eles têm que achar a forma para reagirem. Está feia a coisa
Wladimir, sobre atual fase do Corinthians
– Era
uma situação adversa. Tínhamos caído para a Taça de Prata. Isso para um
clube com a grandeza do Corinthians é mortal. Passamos a refletir sobre
o que estava acontecendo e o que tinha acontecido. A partir disso, cada
um começou a expor o que estava acontecendo. Esse exercício de
participação foi essencial para a gente denominar "Democracia
Corintiana". Tínhamos o prazer de participar das decisões. Pela
experiência, sabemos que a resposta está lá dentro. Não somos nós de
fora que vamos sugerir. Eles têm que achar a forma exata para reagir.
Está feia a coisa - afirma o lateral, que tem 32 gols marcados e quatro
títulos paulistas conquistados pelo clube alvinegro.
realidade corintiana
Wladimir em seus primeiros anos de Corinthians
(Foto: Agência Estado)
(Foto: Agência Estado)
– O amor pelo time foi amadurecendo a
partir do momento em que defendíamos o
Corinthians e vivíamos a mística. Fiz uma excursão pela Europa e em
todos os países havia corintianos, que vinham nos dar boa sorte e
mostrar que pagavam a taxa de associado ao clube. Isso tudo faz do
Corinthians um dos
maiores do mundo, sem dúvida.
O jovem jogador agradou ao técnico Yustrich e só abandonou a posição de titular na lateral esquerda 13 anos depois. Antes disso, colaborou para o fim da seca de títulos do Alvinegro e liderou um dos momentos mais marcantes da história do Timão.
fim do jejum e início da democracia
Mais leve, o Corinthians ainda voltou a vencer o torneio em 1980. Mas, no ano seguinte, veio a derrocada. Oitavo colocado no Paulista e 26º no Campeonato Brasileiro, o Timão foi obrigado a disputar a Taça de Prata do nacional de 1982. Foi então que houve a reunião e a decisão para que os jogadores passassem a tomar decisões vitais que envolviam o elenco. Tudo era votado. Aqueles que não se adaptaram deixaram o clube, como lembra Wladimir.
– Em um grupo de 20, 30 pessoas,
lógico que existem aqueles que pensam diferente e quatro ou cinco
saíram. A maioria decidiu que faríamos tudo coletivamente. Isso foi
perfeito porque tínhamos um grupo que pensava mais ou menos a mesma
coisa, consciente das responsabilidades. Graças a isso, atingimos um
estágio maravilhoso dentro do futebol.
De bicicleta, Vladimir marca contra o Tiradentes
na maior goleada da história do Brasileiro: 10 a 1
(Foto: Agência Estado)
wladimir x maradona
Quando chegaram as novas eleições do Timão, Pasqua teria que vencer um cartola lendário se quisesse se reeleger. Seu adversário foi Vicente Matheus. Para ganhar o apoio dos torcedores, Vicente usou Wladimir como bandeira de campanha. Se fosse eleito, traria o lateral-esquerdo de volta.
Foto de Wladimir em livro sobre história do Corinthians (Foto: Divulgação)
- Pela lei do passe da época, eu deveria ter 10 anos de clube e 32 anos de idade para ser dono do meu próprio passe. Já tinha 10 anos de Corinthians e tinha acabado de fazer 32 anos. Então recebi outras propostas interessantes e optei por sair - lembra o jogador.
Wladimir deixou o Corinthians em 1988 para defender a Ponte Preta. Sem ficar mais de um ano em outro clube na carreira, o lateral-esquerdo passou por Santos, Cruzeiro e São Caetano. Pendurou as chuteiras em 1991, pelo Central Brasileira.
vida na política
Veio então o convite, em 2009, para ser o secretário de Esportes de São Sebastião. Wladimir aceitou e comandou a pasta na cidade durante quatro anos. Após ser reeleito prefeito, Ernane Primazzi chamou o ex-jogador para o cargo de interlocutor para projetos que necessitem de apoio da Câmara dos Deputados de São Paulo ou de investidores.
Gabriel, filho de Wladimir, comemora título
gaúcho pelo Internacional (Foto: Wesley
Santos / Agência PressDigital)
– Digo o que acho que tenho que dizer e o que ele precisa fazer. Gabriel já é
maduro, uma pessoa independente. Ele sabe o que quer e sempre fez o que
quis. A gente busca orientar pela vivência.
Mas tenho de respeitar
porque cada um tem um jeito e o mundo é diferente - diz.
Além
de Gabriel, Wladimir é pai de Julio e Ludmilla, mais novos que o
lateral-direito. Todos os filhos são com Roseli dos Santos, com quem é
casado há 35 anos.FONTE:
http://globoesporte.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2014/02/lembra-dele-wladimir-compara-atual-fase-do-timao-ao-inicio-da-democracia.html
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