Atacante do Timão passou dois anos nas categorias de base do Tricolor, mas acabou sendo liberado porque não gostava de ir às aulas
Romarinho foi dispensado pelo São Paulo por tirar notas baixas (Foto: Arquivo Pessoal)
Como colocar na cabeça de um garoto que, além de marcar gols, ele precisaria ter bom desempenho na escola? Criado solto pelas ruas da pequena Palestina, no norte do estado de São Paulo, Romarinho só queria saber de futebol. Sem a supervisão da mãe, empregada doméstica, e do o pai, funcionário na zona rural, nunca foi incentivado a se destacar em sala de aula. E, por pouco, não pagou caro por isso.
– Ele não queria saber de estudos. Sempre que a gente o encontrava, estava brincando com a bola, ou com ela entre as pernas, assistindo à televisão – afirmou o coordenador de futebol da Prefeitura de Palestina, Hérico Cardoso Lima, um dos responsáveis por indicá-lo ao Tricolor.
Até a quarta série do ensino fundamental, em Palestina, Romarinho tinha boas notas. Quando chegou ao São Paulo e passou a estudar em Barueri, seus conceitos despencaram. Nos dois primeiros bimestres da quinta série, ele foi mal Matemática, Ciências e Geografia, principalmente. Em Língua Portuguesa e História foi apenas "satisfatório". As faltas também eram problemas: no segundo bimestre, chegou a ter oito ausências nas aulas de Português e sete em Matemática. Já em Educação Física, tudo bem: plenamente satisfatório (veja boletim abaixo).
NS significa "Não Satisfatório". S: "Satisfatório". PS: "Plenamente Satisfatório".(Foto: Reprodução)
Apesar do bom futebol, o acordo era de que ele só permaneceria nas categorias de base se conseguisse um desempenho, no mínimo, satisfatório na escola. Romarinho, porém, levava funcionários (do colégio e do São Paulo) à loucura com o comportamento ruim e as faltas constantes. O Tricolor ainda teve paciência, chegou a designar um psicólogo para tentar controlá-lo, mas desistiu.
Romarinho em visita ao Morumbi, simulandocobrança de escanteio (Foto: Arquivo Pessoal)
A saída mexeu com Romarinho. A comida em Palestina não era tão farta quanto no CT de Barueri, e um dos maiores clubes do país fechava as portas logo nas primeiras tentativas de encontrar um futuro. O recomeço foi difícil e digno de um peregrino. Rio Preto-SP, Vitória, Jaboticabal-SP, Rio Branco-SP, Desportivo Brasil-SP e São Bernardo se juntaram ao Tricolor no currículo antes mesmo de completar 18 anos.
– Ele sentiu muito quando teve de voltar para casa, porque tudo era diferente. Em Barueri, ele tinha comida, roupa lavada, existia uma estrutura por trás. Em casa, a família passava por dificuldades, e a comida não era a mesma. Felizmente, outros times apareceram, e ele conseguiu seguir a carreira – afirmou Hérico Lima.
O que seria dele sem o futebol?"
José Geraldo de Oliveira, gerente da base tricolor
Coincidência ou não, Romarinho recebe cuidados especiais do Timão, principalmente pela exposição à mídia, alavancada com o sucesso repentino. Entrevistas exclusivas são raras (também pela vontade dele) e, quando autorizadas, acontecem sempre de forma coletiva no CT Joaquim Grava sob a supervisão do clube.
O técnico Tite e a diretoria também tomam cuidados com os passos fora da casa alvinegra. Broncas e multas, sobretudo por atrasos aos treinamentos, ajudaram a controlá-lo. Novo, famoso e com bom salário, Romarinho é considerado “avoado” demais para gerir a própria vida. Até sua empregada doméstica foi indicada pelo Timão.
Em 2008, quando ainda jogava no Rio Branco, muito antes de chegar ao Corinthians, Romarinho declarou que gostaria de voltar a defender o São Paulo. Domingo, ele tem a chance de colocar o Tricolor em sua lista de vítimas entre os gigantes do estado.
– Ficamos felizes que ele tenha conseguido ser jogador. O que seria dele sem o futebol? – questionou José Geraldo de Oliveira.
Romarinho, ainda criança, visita o Morumbi (Foto: Arquivo Pessoal)
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