quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Tranquilo e confiante, Hungaro inicia uma nova era: 'Seedorf virou passado'

Sem mudar a sua rotina ao encarar o maior desafio da carreira, treinador mostra otimismo com a equipe e diz que o Alvinegro vai superar a saída do craque holandês

Por Saquarema, RJ

Em casa no Botafogo, o novo comandante da equipe, Eduardo Hungaro, encara em 2014 o maior desafio da sua carreira. Mas as atitudes e o jeito tranquilo não mudam. Nem com a notícia de que Seedorf - seu principal jogador - deixou o clube ele perde a calma, a segurança e a confiança numa boa temporada do Alvinegro.

- Agora temos que ultrapassar essa situação, o Seedorf não faz mais parte do Botafogo. Temos que entender que, a partir de hoje, ele virou passado e correr olhando para frente - afirmou o treinador, de 50 anos.


Eduardo Hungaro, técnico do Botafogo (Foto: Fred Huber) 
Eduardo Hungaro comanda a pré-temporada do 
Botafogo em Saquarema (Foto: Fred Huber)

No ano passado, Duda, como é conhecido no clube, era auxiliar do técnico Oswaldo de Oliveira e recebia frequentes elogios, já que por muitas vezes elaborava os treinos e era o responsável por assistir aos jogos de cima e passar as informações ao treinador durante o intervalo. 


Agora, sua voz anda mais rouca por causa dos gritos nos treinos, e seu telefone toca bem mais. Apesar disso, por enquanto, ele consegue manter a rotina. Daqui a algum tempo vai ficar mais difícil almoçar no restaurante da sede do clube sem ser assediado por sócios e torcedores.

- Não sei se esta tranquilidade vai continuar desta forma.

Confira a entrevista completa:

GloboEsporte.com: O que mudou na sua vida depois da efetivação no cargo de treinador?

Eduardo Hungaro: O nível de responsabilidade aumentou muito. No cotidiano ainda não houve uma grande mudança, até porque logo após a efetivação eu viajei para um curto período de férias. As pessoas não me reconhecem na rua ainda. Então, não senti essa mudança significativa. Mas agora não tem comparação o número de ligações e solicitações que recebo. Tenho que saber dizer sim e não.

Recebi telefonema do presidente e do Sidnei (Loureiro, gerente de futebol), e a confirmação mesmo só recebi na manhã do dia em que fui apresentado. Não sei ao certo, mas antes acho que realmente a direção procurou os nomes que foram especulados (Tite, Autuori e Cuca)
Eduardo Hungaro

Você tem passado a maior parte do seu tempo no Botafogo, né?
Gosto de ficar bastante tempo no clube, sempre aparece uma coisa ou outra para resolver. Na função que estou, tenho que me dedicar muito.

O que você gosta de fazer quando não está trabalhando? Tem algum hobby

Sou muito caseiro, muito família. Gosto de estar em casa com a esposa, filhas, neto... Não sou muito de sair, apenas faço as coisas de um cidadão normal, como ir ao cinema e restaurante. Tudo sem exagero.

Antes de se dedicar exclusivamente ao futebol, você dava aula de Educação Física em escolas. Como foi esta transição?

Tenho uma história simultânea do futebol com a Educação Física. Só depois que fui para Portugal que passei a viver exclusivamente do futebol. Em 94, trabalhava em colégios e tinha escolinha de futebol em Jacarepaguá. Uma vez ou outra, tinha alguma oportunidade em categoria de base de algum clube. Minha vida até 2007 foi essa. Felizmente, deu tudo certo em Portugal. Aí depois voltei para o Brasil, para a base do Botafogo, e trilhei meu caminho até chegar onde estou.

Como foram as conversas antes da sua confirmação no cargo? Quando soube que seria o técnico do Botafogo em 2014?  
As conversas começaram a partir do momento em que ficou definida a saída do Oswaldo, que não acertou a questão contratual. Recebi telefonema do presidente e do Sidnei (Loureiro, gerente de futebol), e a confirmação mesmo só recebi na manhã do dia em que fui apresentado. Não sei ao certo, mas antes acho que realmente a direção procurou os nomes que foram especulados (Tite, Paulo Autuori e Cuca).

Como era sua relação com Oswaldo, e qual grau de participação você acredita que teve no sucesso do time? 

O Oswaldo é uma pessoa maravilhosa, e o Luiz Alberto (auxiliar) também. Ganhei a confiança através do meu trabalho, sei que tive uma participação importante. Eu era o cara responsável por assistir ao jogo de cima e no intervalo conversava com o Oswaldo sobre o que estava acontecendo. Desde o jogo após aquele goleada frente ao São Paulo (4 a 0, no dia 30 de agosto de 2012) que assumi esta função. Antes, eu viajava para observar os adversários e fazer relatórios. Então, assisti de cima aos últimos 80 jogos do Botafogo e tenho condições de avaliar.Sei que o fato de a torcida não me conhecer bem gera uma desconfiança, mas também sinto que não existe implicância prévia
Eduardo Hungaro

O Oswaldo em alguns momentos sofreu hostilidade da torcida. Como acredita que será com você?
É difícil prever o que vai acontecer. Quando as vitórias acontecem, tudo fica mais fácil. Ano passado, a torcida se manifestou. Sei que o fato de a torcida não me conhecer bem gera uma desconfiança, mas também sinto que não existe implicância prévia.

Você ainda tem mantido o hábito de almoçar no restaurante de General Severiano. Acha que vai conseguir fazer isso daqui para frente?

É, não sei se vai ser possível. Ali naquele ambiente eu já sofro um assédio legal, as pessoas pedem foto. Não sei se esta tranquilidade vai continuar desta forma. Mas sou uma pessoa simples, acredito que, quanto mais você encarar de forma natural, mais as pessoas vão te deixar à vontade. Pretendo levar uma vida normal. Mas, se isso gerar algum tipo de dificuldade, vou precisar tomar as providências. Espero poder fazer as coisas que sempre fiz, mas entendo que algumas vezes as pessoas podem se manifestar movidas pela paixão. Acho essa minha locomoção pelo clube interessante, dá para saber como as coisas estão se comportando.

Por causa dos gritos nos treinos, sua voz já parece mais rouca. Até quando ela vai suportar?
Acho que estou rouco desde os 20 anos de idade (risos). Tenho minha forma de conduzir o trabalho sempre incentivando. Não são gritos só de cobrança, a grande maioria é para alguma coisa positiva. Acho fundamental na alta performance você sinalizar, apontar os caminhos. A forma que encontrei de desenvolver o meu trabalho foi essa. Tem treinadores com este estilo que fizeram sucesso, e tem outros com estilos diferentes que também tiveram sucesso.

Como é iniciar o trabalho com a notícia da saída do Seedorf, a principal referência do time?

Ele (Seedorf) não construiu essa mentalidade sozinho. Temos outros líderes, como o Jefferson e o Bolívar, além do Renato, que tem um estilo mais suave. O que foi construído foi por todos, principalmente pelo Oswaldo. É uma coisa sólida
Eduardo Hungaro

Tudo aquilo que as pessoas imaginam de fora é a mais pura verdade. É um cara que foi fundamental na criação da mentalidade da equipe, e o que ele deixou não se apaga. O importante é esta educação. Não que ele tenha sido pai, foi um companheiro que caminhou lado a lado. Ele trouxe experiência vencedora de que, independente da dificuldade que aparecer, é preciso ter atitude para confrontar e conseguir superar. A gente contava com ele, mas temos que dar um ponto final nisso. Ele não construiu essa mentalidade sozinho. Temos outros líderes, como Jefferson e Bolívar, além do Renato, que tem um estilo mais suave. O que foi construído foi por todos, principalmente pelo Oswaldo. É uma coisa sólida. A saída dele não vai afastar isso. Agora temos que ultrapassar essa situação, o Seedorf não faz mais parte do Botafogo. Temos que entender que a partir de hoje ele virou passado e correr olhando para frente.

Eduardo hungaro Seedorf botafogo despedida (Foto: Satiro Sodré / SSPress) 
Ombro amigo: Eduardo Hungaro abraça 
Seedorf, que não conteve o choro na sua 
despedida do Botafogo (Foto: Satiro
 Sodré / SSPress)
 
Se animou com os reforços para o ataque (Ferreyra e Zeballos)?
Os reforços estão chegando. Era um setor no qual realmente estávamos precisando, e desde o início eu sabia das conversas. Acho que teremos um grupo bastante equilibrado. Zaga, laterais, volantes, meias e atacantes... Os cinco setores estão bem preenchidos. Confirmadas essas contratações, teremos um elenco equilibrado.

Vai conseguir se dividir entre o time do Carioca e o da Libertadores?

Vou dirigir os jogos. Conseguimos contornar a questão do calendário. Antes havia possibilidade de dois jogos no mesmo dia, aí eu teria que definir um lado.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/
botafogo/noticia/2014/01/tranquilo-e-
confiante-hungaro-inicia-uma-nova-era-
seedorf-virou-passado.html

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