Convocado para a seleção brasileira por um time do nordeste, ex-goleiro relembra auge no Sport e anos como reserva de Rogério Ceni no São Paulo
Bosco encerrou a carreira em 2011, mas garante: não por vontade própria. Depois de deixar o São Paulo ao fim do seu contrato, ele viajou para curtir férias nos Estados Unidos. A intenção era passar apenas 15 dias, mas o "esquecimento" dos clubes prolongou a estadia e encaminhou o adeus ao futebol.
- Parei com 36 anos. No meu projeto, eu jogaria por mais dois anos, mas não apareceu nada para mim. Fui para os Estados Unidos e na época mantive um celular apenas para receber propostas, mas não apareceu nada. Ninguém me ligou. Então, fui ficando. Para não dizer que não apareceu nada, tive conversas com Santa Cruz e Fortaleza, mas não vingou - relembra o ex-goleiro, que na época dispensou o serviço dos empresários.
A permanência nos Estados Unidos se deu por conta de um investimento da época de atleta profissional. Com os Estados Unidos vivendo uma crise no setor imobiliário, Bosco viu surgir a oportunidade de comprar um imóvel em Orlando. A princípio, a ideia era ter a casa apenas para passar férias, mas na prática foi diferente.
Aposentado, Bosco está de bem com a vida
(Foto: Lucas Liausu)
(Foto: Lucas Liausu)
Nova carreira longe dos gramados
Nos Estados Unidos, Bosco ainda curte uma vida de recém-aposentado. Leva os filhos para o colégio, cozinha para a família e participa de cultos na igreja. Os dias rotineiros, no entanto, estão perto de acabar. Isso porque ele está iniciando uma nova carreira. Será um empresário na área de cosméticos.
- Eu e minha esposa temos uma clínica de estética em São Paulo e quando fomos para Orlando queríamos levar uma filial para lá. Até conseguimos o visto de investidor, mas acabou não dando certo. Depois, minha esposa conheceu uma pessoa lá que tinha um projeto parecido, e juntos decidimos abrir uma empresa. Hoje, temos esse projeto da fábrica de cosméticos. Já contratamos um químico e em janeiro vamos começar a fabricar os produtos. Já temos até cliente. Estamos entusiasmados.
Bosco exibe a camisa de Magrão, a quem
considera o maior goleiro da história do
Sport (Foto: Lucas Liausu)
O brilho no Sport
Pernambucano, o ex-goleiro viveu seu auge na Ilha do Retiro. Na primeira passagem - entre 1994 e 2000 -, chegou à seleção brasileira pelas mãos de Vanderlei Luxemburgo em 1999. O ano anterior havia sido o mais importante até então. Em 1998 e em 2000, Bosco fez parte de dois dos maiores times da história do Rubro-Negro pernambucano. Campeões estaduais, ambos fizeram boas campanhas no Brasileirão.
O de 2000 terminou a primeira fase da Copa João Havelange em segundo lugar - atrás apenas do Cruzeiro. Depois, foi eliminado nas quartas de final pelo Grêmio do então inspiradíssimo Ronaldinho Gaúcho. Aquele time levou o técnico Emerson Leão à seleção brasileira, mas o ex-goleiro considera o de 1998 - que colocou o meia Jackson na Seleção - ainda melhor.
- O time de 98 foi melhor, mas o de 2000 foi mais unido. Tínhamos um time um pouco mais limitado, mas ganhamos muita coisa. Caímos na Copa João Havelange em um jogo roubado contra o Grêmio. Passamos por cima de muita coisa em 2000, com salários atrasados inclusive, e conseguimos vencer. Em 1998, a gente sabia que ia vencer quando entrava em campo. A confiança era muito grande. Ganhamos vários clássicos de goleada. Foi um ano brilhante.
Ex-goleiro recebeu homaenagem do São Paulo (Foto: Wander Roberto/VIPCOMM)
Quando é questionado sobre o São Paulo, é nítido o sentimento "dividido". Os olhos brilham quando fala do momento em que foi contratado, dos primeiros anos, mas ao mesmo tempo Bosco revela uma ponta de mágoa quando o assunto é a sua saída, em 2011.
- Machuquei o joelho no final do meu contrato, fiz uma cirurgia e tinha seis meses para me recuperar. Pedi para renovar o contrato por oito meses, mas eles só quiseram por seis. Eu queria ter dois meses, depois de recuperado, para aparecer, mas não aconteceu.
Para Bosco, muito da sua decisão por encerrar a carreira se deve à atitude da diretoria do São Paulo.
- Quando eles me liberaram, ficou uma coisa no ar. Ninguém sabia se eu tinha me recuperado de fato. Poderia ser diferente. Fiquei meio indignado na época, mas hoje vejo que são coisas do futebol.
A tristeza da saída, no entanto, nem de longe se parece com a empolgação quando soube do interesse do São Paulo. Bosco tinha 30 anos na época, já era ídolo do Sport e defendia o Fortaleza. Contratado em 2004, vivia um bom momento no clube cearense, mas não pensou duas vezes em aceitar a proposta do clube paulista mesmo sabendo que seria reserva.
Em seis anos de São Paulo, Bosco diz que
sempre se deu bem com Rogério Ceni
São Paulo (Foto: AFP)
Boa relação com Rogério Ceni
Apesar de estar no São Paulo como "rival" de Rogério Ceni, Bosco garante que nunca teve nenhum problema com o eterno camisa 1 do São Paulo. Muito pelo contrário. A relação é boa desde antes do Tricolor paulista.
- Sempre tive uma relação muito boa com ele. A gente concentrava junto quando os jogos eram fora de São Paulo. Quando eram no Morumbi, ele tinha um quarto especial. Rogério é um cara fantástico. Nunca vi um profissional assim. Ele trabalha muito. Sempre chega antes de todo mundo para treinar.
Bosco: de volta ao pedaço de chão onde
vivenciou os melhores momentos da
carreira (Foto: Lucas Liausu)
Volta para o Brasil
Como está começando um negócio novo nos Estados Unidos, Bosco ainda não tem planos para voltar a morar no Brasil. Ele vê o retorno como algo natural, mas coloca duas condições para que isso aconteça.
- Hoje eu não voltaria, até porque meus filhos não querem voltar. Depois que eu deixar esse novo negócio bem tranquilo, posso pensar em voltar, mas não voltaria para qualquer coisa. Só se fosse um convite de um clube de futebol para eu trabalhar na comissão técnica.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2014/01/lembra-dele-hoje-nos-eua-bosco-relembra-o-fim-ninguem-me-ligou.html
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