terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Silêncio, pizzas e seguranças: família faz vigília e 'blinda' Schumi em hospital

Familiares sofrem com assédio da imprensa e se revezam para acompanhar luta do heptacampeão, internado em UTI em andar cercado por oito seguranças em Grenoble

Por Direto de Grenoble, França

Às 11h07 do dia 29 de dezembro de 2013, a rotina da família Schumacher mudou. Passando férias em Méribel, famosa estação de esqui no sudeste da França, os parentes do heptacampeão viram o ex-piloto sofrer um inusitado acidente com graves consequências. Logo Schumi, que por toda sua carreira se arriscou, com tamanho sucesso, a mais de 300km/h na Fórmula 1. De lá para cá, o dia a dia dos familiares passou a ser em um hospital a 120km do local do acidente, transmitindo energias positivas ao alemão. Michael Schumacher está internado em coma induzido no Centro Hospitalar Universitário de Grenoble (CHU), pacata e gelada cidade universitária que possui os Alpes Franceses estampados em sua paisagem.


Helicóptero de resgate como o que resgatou Michael Schumahcer, no Hospital de Grenoble (Foto: Reuters) 
Helicóptero de resgate como o que resgatou 
Michael Schumahcer, no Hospital de 
Grenoble (Foto: Reuters)

A mulher Corinna, os filhos Mick (14) e Gina (16), o irmão Ralf e o pai Rolf se revezam na vigília pelo ente querido. Eles contam com a ajuda diária de Sabine Kehm, assessora do piloto e única porta-voz nesse momento difícil. É de Sabine que vêm as escassas informações do estado de saúde do ex-piloto. Após as duas cirurgias no cérebro nos primeiros dias, faz uma semana que os boletim se resumem a informar que a condição do paciente é estável, porém ainda considerada crítica.


Sabine Khem, assessora de Michael Schumacher (Foto: Agência AFP) 
Sabine Khem, assessora de Michael 
Schumacher, é a porta-voz (Foto: Agência AFP)

Das bocas dos familiares, nenhuma palavra. As únicas manifestações foram escritas, em duas ocasições, agradecendo a força dos fãs após e as manifestações de carinho no aniversário de 45 anos do piloto, em 3 de janeiro, quando centenas de Ferraristas fizeram uma bela homenagem ao piloto. Há nove dias eles entram e saem do hospital e evitam falar com a imprensa. Possuem todo o direito. No entanto, alguns fotógrafos e cinegrafistas, volta e meia, acabam passando da linha imaginária do bom senso, o que já rendeu discussão com fãs da Ferrari, alguns chega-pra-lá de Corinna e insistentes pedidos de respeito à família por parte de Sabine. 

Nesta terça-feira, porém, o incômodo com o assédio e as informações não-oficiais sobre o estado de saúde do heptacampeão fizeram Corinna enviar um comunicado à imprensa, através de Sabine, pedido para o jornalistas deixarem o hospital:

- Por favor, ajudem-nos em nossa luta comum com Michael. É importante para mim que não pressionem os médicos e o hospital para que eles possam trabalhar em paz. Confiem nas declarações deles e deixem a clínica e nossa família em paz, por favor - escreveu Corinna.


Corinna Schumacher tenta fugir das câmeras na chegada ao hospital neste sábado (Foto: AFP) 
Corinna Schumacher tenta fugir das câmeras na 
chegada ao hospital no sábado (Foto: AFP)


Hospedados em um hotel no centro de Grenoble, os familiares costumam chegar às 9h da manhã, a bordo de uma Mercedes preta e uma BMW branca, e deixam o local por volta das 18h, 19h. Sempre acompanhados de motoristas, eles acessam o hospital por um estacionamento especial, na lateral do prédio.

Até aí, apesar da não comunicação, há um contato próximo com a mídia, quase físico. Só até aí. Da porta para dentro, não há mais tem acesso. Paciente “especial”, Schumi está em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) no quinto andar do prédio, no setor de Neurocirurgia. No andar, há oito seguranças, cinco particulares e três emprestados pelo hospital. Tudo para evitar que alguém tenha acesso ao local, como o caso do jornalista que se vestiu de padre para tentar acompanhar a segunda cirurgia do alemão.

Uma das paredes do quarto é colada na lateral esquerda do prédio, mas não há janelas. O acesso é restrito até à família. Apenas uma pessoa pode entrar por vez. E com aventais e toucas higiênicas, como de praxe em locais de tratamento intensivo.

Enquanto um familiar está dentro do quarto, os demais ficam pelo corredor. Nenhum deles desce ao refeitório para não ser abordado. Funcionários levam lanches do hospital ao quinto andar. Para não ficar na mesmice, porém, no sábado, o patriarca Rolf chegou com nove caixas de pizza.

Apesar da gravidade do caso, o clima da família Schumi não é tão pesado quanto nos primeiros dias, quando o estado do ex-piloto era absolutamente imprevisível. Os semblantes ainda são de tensão e preocupação, mas com a estabilidade do quadro na última semana, até alguns esboços de sorrisos puderam ser vistos ocasionalmente, relatam fontes próximas.



Ralf Schumacher, irmão mais novo de Michael (Foto: AFP) 
Ralf Schumacher, irmão mais novo de Michael, 
sob olhar do pai, Rolf (Foto: AFP)

No domingo, Sabine conseguiu até ir para Genebra, Suíça, passar o dia em casa, voltando apenas nesta segunda-feira. Corinna foi outra que teria dado um pulo na casa da família Schumi, em Gstaad, também no país vizinho, a cerca de 1h30 de carro, mas voltou no mesmo dia.

A presença de Schumi mudou também a rotina do hospital. Apesar de especializado em traumas decorrentes da prática de esqui - já que está próximo de Les Allues, maior área esquiável do mundo -, o CHU não estava acostumado com tanto assédio a um paciente.

De um dia para o outro, centenas de jornalistas estavam na porta do hospital. De todos os lugares do mundo: Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Espanha, Brasil, Portugal, Holanda, Japão...  A quantidade de carros e caminhões de transmissão atrapalhava a saída de ambulâncias e ocupava vagas destinadas aos demais pacientes, forçando a direção do local a interceder e improvisar um terreno baldio como estacionamento para a imprensa.



Michael Schumacher hospital imprensa (Foto: Reuters) 
Jornalistas de todo o mundo foram para frente 
do hospital de Grenoble (Foto: Reuters)

Com o passar dos dias e a pouca quantidade de informações, o número de veículos foi minguando. Após nove dias de internação, seguem em Grenoble canais alemães, terra natal de ex-piloto, italianos, berço da Ferrari, franceses, país local, e brasileiros, quem podem até não simpatizar tanto com o alemão, mas reconhecem a importância do maior campeão da F-1.

A diminuição é compreensível e com o pedido de Corinna deverá se intensificar. Sinal de que Schumi ainda tem um longo caminho pela frente em busca de mais uma conquista, sua total recuperação. E como escreveu seu maior rival nas pistas, o finlandês Mika Hakkinen, em uma comovente carta, que Michael, “pelo menos dessa vez, não tente bater o relógio”. A corrida será longa, e o importante é a vitória.



Michael Schumacher Ferrari (Foto: Getty Images) 
Michael Schumacher em uma de suas 
dezenas de vitórias pela Ferrari 
(Foto: Getty Images)

FONTE:

Nenhum comentário: