Berço de ouro não era suficiente para tornar clube grande, até que geração
de Gullit e Di Matteo dobra número de títulos, muda patamar e atrai russo
Fundado em 1905 por moradores de Fulham, bairro nobre de Londres, o Chelsea surgiu para incluir o futebol nas atividades do estádio de atletismo Stamford Bridge, já com 28 anos, e mostrou poder logo em sua primeira temporada. No lugar do amadorismo, o clube optou por nascer profissional e no terceiro ano disputou a primeira divisão. Sucesso meteórico, mas que também imediatamente deu lugar a uma rotina oscilante que nunca permitiu aos Blues uma identidade, fosse de grande ou até mesmo de pequeno, tamanhas idas e vindas na tabela.
– O Chelsea foi fundado por pessoas ricas e com planos grandiosos. Uma prova disso é que o clube já começou no profissionalismo e alcançou a primeira divisão no segundo ano. Em seguida, teve a maior média de público da Inglaterra. Sempre tratou-se de um grande clube, mas que não se acostumou com o sucesso em campo. Havia um grande estádio, uma grande torcida, grandes jogadores, mas faltavam os títulos. Sempre houve muito dinheiro, mas não o costume de vencer – resumiu o próprio Rick Glanvill.
Rick Glanvill posa com o livro no museu do Chelsea (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
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As origens não deixavam, o dinheiro muito menos, mas aos 90 anos o
Chelsea caminhava para ser um pequeno e se agarrava como podia ao status
de clube médio. Foi quando o clube decidiu se desprender do berço
genuinamente inglês, genuinamente londrino, e resolveu espalhar seu
dinheiro pelo mundo. Praticamente uma década antes da chegada de
Abramovich, ao término da temporada 1994/1995, uma reunião definiu que o
“quase pequeno” precisava abrir mão de suas vaidades para se tornar
“quase grande”.– É fácil identificar o Chelsea, basta olhar suas origens, o local onde joga. É uma área realmente especial de Londres, de gente rica, e sempre tratou-se de um clube que gostava de mostrar isso. O mais difícil foi entender que essa condição não era suficiente para transformá-lo em um dos maiores. Tudo mudou quando foi tomada a decisão de comprar gente de fora, trazer grandes nomes – explicou Simon Haydon, editor-chefe da agência de notícias AP, uma das maiores do mundo.
Visão aérea do Stamford Bridge. Clube foi fundado por moradores de Fulham (Foto: Getty Images)
Farto do rótulo de time de bairro que sequer conseguia se impor nacionalmente, o Chelsea resolveu usar de um expediente que tornou sua marca maior oito anos depois para se mostrar para o mundo: abrir os cofres. E o impacto foi imediato. De mero coadjuvante, o clube passou a protagonista, e estampou páginas de jornais Europa afora com as chegadas de nomes mundiais como Gianfranco Zola, Gianluca Vialli e o maior deles: Ruud Gullit. Aclamado como um dos maiores de sua época, o holandês foi um tiro certeiro e levou para o Oeste de Londres prestígio e visibilidade.
Ruud Gullit no museu do Chelsea: estrela da
geração (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
geração (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
Se em 90 anos de história os Blues tinham conquistado apenas cinco troféus, a primeira revolução financeira dobrou este número e levou o clube aos primeiros lugares da já rentável e badalada Premier League. Em oito anos, até a aparição de Abramovich, foram seis títulos: duas Copas da Inglaterra, uma Copa da Liga, uma Supercopa da Inglaterra e, acima de tudo, uma Copa dos Campeões da Europa e uma Supercopa da Europa. O Chelsea ainda não era gigante como Manchester United, Liverpool e Arsenal, mas se fazia perceber e preocupava.
Fotos do começo da história do Chelsea (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
Antes de ser demitido, há menos de duas semanas, Di Matteo atendeu o GLOBOESPORTE.COM e lembrou aqueles passos importantes para que o Chelsea se tornasse gigante.
– Fomos muito bem. Foi um período bem sucedido. Conseguimos ganhar copas domésticas e internacionais, como a Supercopa diante do Real Madrid. Tudo aquilo foi um começo para que o clube alcançasse essa nova dimensão.
Roberto Di Matteo e Ruud Gullit em 1997, muito antes de Abramovich aparecer no Chelsea (Getty Images)
O sucesso dessa geração é apontado ainda como fundamental para que Roman Abramovich escolhesse o clube para investir. O raciocínio é simples: se comprar os maiores era inviável diante do sucesso e da história, o russo naturalmente buscaria quem estivesse próximo e pudesse alcançar tamanho status. É a partir deste pensamento que surge aquele que, para muitos, é apontado como jogo mais importante da história do Chelsea, diante do Liverpool, em 11 de maio de 2003.
Abramovich não ia comprar o melhor time da Inglaterra. Isso é um fato.
Mas ele também não compraria pior. Era importante estar ali, entre os
5, e era onde estávamos."
Rick Glanvill, historiador do Chelsea
Com um Stamford Bridge lotado, o finlandês Sami Hyppia abriu o marcador logo nos minutos iniciais para o Liverpool. Ainda no primeiro tempo, porém, Marcel Desailly empatou e o dinamarquês Jesper Gronkjaer fez o gol que, para muitos, foi responsável por Abramovich decidir gastar quase 150 milhões de libras (R$ 515 milhões na cotação atual) e dar início, na temporada seguinte, a uma nova história.
– Abramovich não ia comprar o melhor time da Inglaterra. Isso é um fato. Mas ele também não compraria os piores. Era importante estar ali, entre os cinco, e era onde estávamos. Éramos um clube com potencial de vencer, que tinha perdido a Premier anos antes na última rodada, e tinha a competição mais importante da Europa pela frente. O investimento perfeito. Aquela vitória contra o Liverpool mudou tudo. Mudou a nossa história – analisou Rick Glanvill.
Gronkjaer celebra a vitória do Chelsea sobre Liverpool no último jogo antes da Era Abramovich (Getty Images)
– Não é possível mensurar o tamanho da contribuição de Mister Abramovich para esse clube, mas é importante lembrar que não somos um clube que surgiu do nada. Terminávamos em terceiro, quarto, quinto na Premier League, tínhamos acabado de conquistar alguns títulos. Não éramos como o Manchester City com o Sheik, por exemplo.
A verdade é que, se “não surgiu do nada”, o Chelsea precisou do empurrão do russo para alcançar tudo. De “quase grande”, o clube virou gigante graças à parceria que, em sua décima temporada, já rendeu 12 títulos, mais do que os 11 dos 98 anos anteriores.
Terry (centro) e Lampard (direita) são os únicos remanescentes do 'velho' Chelsea (Foto: Getty Images)
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