sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Um ano após prata, vôlei masculino dá adeus à 'era Giba' e vive transição

Desde revés em Londres, Brasil tenta se reinventar: medalhões deixaram time, líderes surgiram e jovens talentos, como Lucarelli, ganharam espaço

Por Gabriel Fricke Rio de Janeiro

header 1 ano após Londres (Foto: arte esporte)
As memórias da decisão do vôlei masculino nas Olimpíadas de Londres, em 2012, ainda estão frescas. Não apenas pela medalha de prata, mas pela forma dolorida como ela foi parar no peito de Murilo, Bruninho e cia. Ainda mais agora, há duas semanas, quando o Brasil voltou a ser derrotado em uma decisão pelo mesmo adversário em outra competição. No ano passado, após abrir 2 a 0 na Rússia e ter dois match points, a equipe comandada por Bernardinho teve um apagão na capital britânica, levou a virada e saiu cabisbaixa com uma derrota por 3 sets a 2, no tie-break. A partir daí, nasceu a necessidade de reformulação. Surgiu um novo momento do vôlei brasileiro, aquele ao qual o técnico Bernardinho se refere como "fase de transição", com muitas mudanças, desde o fim da "era Giba" ao surgimento de novas lideranças misturadas a jovens talentos.

Nomes consagrados, que naquela ocasião foram referência, como Giba, Ricardinho, Serginho e Rodrigão deram lugar a novos talentos, como Lucarelli, Ary, Isac e Maurício Souza. Juntamente a eles, foram mesclados alguns atletas que já estavam em Londres e se tornaram líderes por conta de sua rodagem. São os casos de Bruninho e Lucão, ambos com 27 anos, e Leandro Vissotto, com 30, três dos líderes do novo grupo, que vai lutar pelo ouro em 2016, no Rio de Janeiro.

- Coadjuvantes se tornam protagonistas com algumas peças que vamos inserir. Essa reformulação é um processo. Vários desses jogadores já estão com a gente desde o último ciclo olímpico. É uma renovação natural após as saídas dos remanescentes da geração campeão olímpica em Atenas - comentou Bernardinho, que já comanda a seleção desde 2001 e é campeão olímpico (2004), tricampeão mundial (2002, 2006 e 2010), octacampeão da Liga Mundial (2001, 2003,2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010), entre outros títulos.


Mosaico um ano de Londres (Foto: Editoria de Arte) 
 

A média de idade da equipe que esteve na capital inglesa era de 31,08 anos. Enquanto isso, o atual elenco que esteve na Liga Mundial e perdeu para a Rússia na final em Mar del Plata, na Argentina, por 3 sets a 0, tem média de 27,68 anos. Jogadores como William Arjona, João Paulo Bravo, Dante, Raphael, Alan e Mário Junior, todos com mais de 30 anos, ainda não têm vaga garantida na seleção que vai estar no Rio 2016. Mesmo assim, Bernardinho deixa claro que a seleção segue com atletas experientes, não apenas novatos, já que, mesmo aqueles que têm menos idade possuem rodagem.

- Temos o Dante, em um momento em que precisamos avaliar se continua ou não, entre outros que ainda vamos ver. Esse "mix" que fizemos, com mudanças importantes, gera pressão. Estamos apenas dando sequência no trabalho. Temos o Lucarelli, que vem bem. Temos a participação do Lucão, que é importante. O Bruno tem ido bem, com entusiasmo, faz muitas defesas. Nenhum desses jogadores está estreando na seleção. Todos já têm uma certa experiência. Mas esperamos ser competitivos novamente - relatou Bernardinho.

Com apenas 21 anos, Lucarelli é referência e foi "espectador" em Londres


vôlei lucarelli brasil e rússia liga mundial (Foto: FIVB) 
Lucarelli é o grande "novo talento" do Brasil (Foto: FIVB)
 
Quando se fala em seleção brasileira de vôlei na atualidade, o ponteiro Ricardo Lucarelli é sempre lembrado. Mas quem vê que o jogador nasceu em 1992 se assusta e pode se perguntar: "Como alguém com 21 anos é referência no Brasil em quadra?". O que falta em idade, sobra em dedicação e vontade e talento para o atleta.

Em 2010, ele foi campeão sul-americano juvenil pelo país. No ano seguinte, integrou a equipe que ficou em quinto no Campeonato Mundial. Além disso, defendeu o Minas nas temporadas 2011/2012 e 2012/2013 da Superliga masculina de vôlei e se destacou. Em 2012, em Londres, não atuou, mas acompanhou o time para ganhar experiência, apesar de não ter sido inscrito. Na Liga Mundial, foi o maior pontuador do Brasil, com126 pontos, sendo 103 de ataque, 14 de bloqueio e nove de saque. Até o técnico Bernardinho se rendeu ao talento do jogador.

Há quanto tempo não temos um ponteiro com a condição dele?"
Bernardinho
 
- Ele tem ido bem, mas pode ser ainda melhor. Tem potencial. Estamos trabalhando com ele há algum tempo. O trabalho no Minas também foi muito importante. Nós o levamos para Londres para ter uma vivência olímpica. Tudo isso deu deu a ele a condição de estar ao lado de grandes jogadores, vivenciando aquele tipo de situação, para que estivesse pronto... Ele tem muito potencial físico. Há quanto tempo nós não temos um ponteiro com a condição dele? Os golpes que tem, as bolas de meio-fundo. Ele tem a manualidade que o Nalbert tem, com a explosão e o salto do Giba. Se a gente conseguir trabalhar bem e ele amadurecer, ganhar confiança, tem condições de se tornar um jogador como estes, deste quilate. Mas precisa ter calma - afirmou.
A opinião do comandante do Brasil é a mesma do ex-atleta, ouro em Atenas 2004, Nalbert.
- O Lucarelli esteve com o grupo vice-campeão olímpico em Londres e vai chegar nos Jogos do Rio com 24, 25 anos. O jogador atualmente atinge o auge da maturidade aos 30, mas ele vai chegar em 2016 muito bem e com uma larga experiência por ter vivido todo esse processo de renovação - comentou Nalbert sobre o garoto de 1,85m e 79 kg.

As comparações com Giba, que está sem atuar no momento, mas jogou as Olimpíadas de Londres, têm sido inevitáveis. Os dois possuem grande explosão e são ótimos saltadores. Além disso, a dedicação é outro fator que os aproxima. Mas Lucarelli, sempre como olhar tranquilo e sem ficar deslumbrado com os elogios, prefere manter os pés no chão.

- Acho que sucessor do Giba não vai ter. Giba só existe um na história do vôlei. Eu tento dar o meu melhor para tentar ajudar a equipe, como o Giba ajudou em todos estes anos. E fico muito feliz com a oportunidade de estar jogando na seleção. Sempre foi meu sonho desde pequeno, quando comecei a jogar vôlei. Espero me manter na seleção, vou agarrar com unhas e dentes (a oportunidade), e espero poder dar alegrias para todo mundo - garantiu Lucarelli.

Novos líderes guiam os mais jovens na reformulação do Brasil

lucão brasil x eua volei masculino maracananzinho (Foto: Fabio Motta/Agência Estado)Lucão é um dos líderes do Brasil
(Foto: Fabio Motta/Agência Estado)
 
Com as saídas de Giba, Ricardinho, Serginho e Rodrigão, coube a Bruninho, Lucão, Éder Carbonera e Leandro Vissotto a função de liderar a seleção brasileira nessa fase de transição. Apoiando os mais jovens e mostrando sua experiência em quadra, apesar de serem relativamente novos, eles têm sido essenciais, como guias da renovação do Brasil.

Aos 27 anos, o levantador Bruninho foi campeão da Superliga masculina de vôlei pelo Rio de Janeiro na atual temporada. Além disso, tem duas pratas nas Olimpíadas, em 2008 e 2012, fora os quatro ouros e duas pratas na Liga Mundial (2006, 2007, 2009, 2010, 2011 e 2013). Filho do técnico Bernardinho, ele aceita bem a função de líder.


- Acho que não só eu, como outros jogadores mais experientes, temos hoje uma responsabilidade um pouco maior. Eu vejo isso do último ciclo, mas é tranquilo. Acho que temos que liderar com exemplos, nos esforçando a cada dia para que os mais novos já entendam essa mentalidade, essa filosofia que os jogadores mais antigos estão tentando mostrar para eles, que é de muito sacrifício, muita dedicação. Acho que é só assim mesmo. Liderando com o exemplo, sem falar muito, e apenas tentando mostrar para eles o caminho - comentou Bruninho, um dos mais festejados pela torcida brasileira sempre que entra em quadra.

Bruninho vôlei Brasil (Foto: FIVB) 
Bruninho também tem missão de comandar os mais novos (Foto: FIVB)
 
Evidentemente, a liderança dos "medalhões", como a de Giba, é sentida na pele, como afirma Leandro Vissotto. Mas tudo tem seu começo, meio e fim. E, segundo o atleta, é a hora de novos valores ficarem no comando.

É o momento dos novos líderes darem a contribuição"
Leandro Vissotto
 
- A liderança dele sempre vai fazer falta. Acho que, como tudo na vida, tem um começo e um fim. Ele deixou sua contribuição de uma forma excepcional. Sem dúvidas a pessoa dele vai sempre fazer falta, a liderança. Mas acho que, juntamente com novos jogadores aí, como o Lucarelli, o Tiago, o Lipe. É o momento dos novos líderes darem a contribuição para a seleção como o Giba deu - disse o oposto do Ural Ufa, da Rússia, de 30 anos.

O central Éder Carbonera, do Cruzeiro, de 29 anos, destaca, além dos novos líderes, o aumento da força física e, cada vez mais, da altura da seleção.

- O Bernardo sempre tenta chamar os jovens que se destacam nas categorias de base para a seleção adulta muito antes de serem utilizados. Eu, o Lucão e outros jogadores desse grupo, por exemplo, estamos treinando com a seleção principal desde 2007 e agora que estamos tendo realmente chance de jogar. A cada geração a força física e a média de altura da seleção aumenta. Eu, que sempre fui m dos mais altos, já estou começando a me sentir baixinho - concluiu.
Dos chamados novos líderes Bruninho, Lucão, Leandro Vissotto e Éder Carbonera, apenas o último ficou fora de Londres, em 2012. Além dos três primeiros, o elenco enxuto tinha ainda mais nove atletas. Dentre eles, os medalhões Ricardinho, de 37 anos, que não joga mais pela seleção brasileira e vai defender o recém-criado Maringá na Superliga; Murilo Endres, que acertou a volta para o Sesi-SP por duas temporadas; Dante, que fechou com o Panthers, do Japão, nesta quinta, mas estava no Rio de Janeiro; o astro Giba, que estava no Drean/Bolívar, da Argentina; Rodrigão, que migrou para a areia depois de jogar no Al-Rayan, do Qatar; e Serginho, do Sesi-SP. Desses atletas, somente Dante e Murilo Endres seguem na reformulada equipe. O último ficou fora da Liga Mundial por conta de uma lesão no ombro que o obrigou a passar por uma cirurgia.
  • Fim de uma era
    Giba

    Ícone do voleibol mundial, Giba não faz mais parte do elenco da seleção brasileira. Ao lado de Serginho, Ricardinho e Rodrigão, era um dos medalhões de um ciclo recheado de títulos. O atleta tem 36 anos e seu último clube foi o Drean/Bolívar, da Argentina.
    Vôlei Giba Brasil Estados Unidos (Foto: FIVB/Divulgação)
  • novos líderes
    Bruninho

    Com a saída de 'medalhões', novas lideranças precisaram aparecer. Coube a Bruninho, filho do técnico Bernardinho, passar experiência aos novatos. Ao lado dele, estão Leandro Vissotto, Éder Carbonera e Lucão, com a mesma função na seleção.
    Bruninho, levantador do Rio de Janeiro (Foto: Gaspar Nobrega / INOVAFOTO)
  • jovens talentos
    Lucarelli

    Na fase de transição da seleção brasileira de vôlei, jovens talentos não faltam. O principal deles é Ricardo Lucarelli, de apenas 21 anos, que tem sido comparado a Giba por suas
     características em quadra, e é a grande esperança do novo ciclo
    .Lucarelli vôlei treino seleção (Foto: Divulgação / CBV)
Confira um comparativo das equipes de Londres, em 2012, e da Liga Mundial, em 2013:

Seleção Brasileira de Vôlei Masculino nas Olimpíadas de Londres 2012

Levantadores:
Bruninho – Rio de Janeiro – 26 anos
Ricardinho - Maringá - 37 anos

Opostos:
Leandro Vissotto – Ural Ufa, da Rússia – 30 anos
Wallace – Cruzeiro – 26 anos

Ponteiros:
Murilo Endres – Sesi-SP – 32 anos
Dante  – Panthers, do Japão – 32 anos
Thiago Alves – Rio de Janeiro – 26 anos
Giba – Ex-Drean/Bolívar, da Argentina – 36 anos

Centrais:
Sidão – Sesi-SP – 30 anos
Lucas Saatkamp “Lucão” – Sesi-SP – 27 anos
Rodrigão – Ex-Al-Rayan, do Qatar, atualmente na areia - 34 anos

Líberos:
Serginho – Sesi/SP - 37 anos

Seleção Brasileira de Vôlei Masculino na Liga Mundial 2013

Levantadores:
Bruninho – Rio de Janeiro – 26 anos
William Arjona – Cruzeiro – 33 anos
Murilo Radke – Campinas – 24 anos
Raphael – Trentino, da Itália – 34 anos

Opostos:
Leandro Vissotto – Ural Ufa, da Rússia – 30 anos x
Wallace – Cruzeiro – 26 anos
Théo – Rio de Janeiro – 29 anos
Renan – São Bernardo - 23 anos

Ponteiros:
Rodrigo Lucarelli – Minas – 21 anos
Thiago Alves – Rio de Janeiro – 26 anos
Lipe – Zaksa, da Polônia – 29 anos
João Paulo Bravo – Arkas, da Turquia – 34 anos
Dante  – Panthers, do Japão – 32 anos
Ary – Sesi-SP – 22 anos
Maurício Borges – Cruzeiro - 24 anos

Centrais:
Isac – São Bernardo – 22 anos
Éder – Cruzeiro – 29 anos
Sidão – Sesi-SP – 30 anos
Maurício Souza – Minas – 24 anos
Lucas Saatkamp “Lucão” – Sesi-SP – 27 anos

Líberos:
Alan – Campinas – 33 anos
Mário Jr. – Rio de Janeiro – 31 anos


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2013/08/um-ano-apos-prata-volei-masculino-da-adeus-era-giba-e-vive-transicao.html

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