Brasileiro reclama de chance pelo cinturão dada a Alexander Gustafsson, segundo do ranking, em vez dele próprio, que é o primeiro: 'Acho frustrante'
- Talvez eles (UFC) queiram o Jon Jones mais tempo como campeão. Vou chegar ali, vou estar muito bem preparado e não quero dar chance - disse em entrevista ao Combate.com.
Lyoto Machida vai estar em ação no UFC Rio 4, neste sábado (Foto: Ivan Raupp)
- Não chegaram realmente a falar comigo, mas fiquei sabendo que o Jon Jones estava machucado (ele lesionou o dedão do pé na vitória sobre Chael Sonnen). Aí tinha uma luta (contra Phil Davis) e eu aceitei. Foi interessante que de repente marcaram a luta do Gustafsson. Não sei se já estava programado tudo isso, ou se realmente aconteceu.
Lyoto contou ainda que programou o aumento de peso na preparação para Davis e defendeu seu estilo de luta, criticado por muitos. Disse que a derrota de Anderson Silva para Chris Weidman abre caminho para que ele desça de vez para os médios (até 84kg) e comentou a bela e divertida relação de amizade com Glover Teixeira em meio a uma possível luta contra o mineiro, que também figura entre os tops da categoria. A seguir, veja a entrevista completa:
COMBATE.COM: Você está morando nos EUA agora. Voltar ao Brasil é especial?
LYOTO MACHIDA: Muito especial. Só de pisar no aeroporto, de falar mais português... É um momento muito feliz.
Quais são as principais diferenças entre EUA e Brasil? Prefere morar lá ou aqui?
Agora estou preferindo morar lá. Estou numa fase da minha carreira em que preciso treinar bem. Não que no Brasil não tenha treino, mas lá é um pouco diferente. Lá eu não construí um círculo de amizades ainda, então consigo focar mais e treinar melhor. Consigo encontrar as pessoas certas para o que eu quero. Sparring grande, por exemplo.
Esta será sua primeira luta no Brasil pelo UFC. Por que acha que demorou tanto para isso acontecer?
Acho que tudo tem seu momento. Naqueles momentos foram outros lutadores no card principal. A minha oportunidade apareceu, e fiquei muito feliz de ter essa chance.
O UFC criou um ranking, mas dificilmente o segue na hora de escolher um desafiante ao cinturão.
É muito frustrante isso, principalmente para você, que está sentindo isso na pele?
Eu acho frustrante sim, porque a gente quer seguir a regra. Vamos seguir o ranking. Poxa, quero fazer de tudo para ganhar. É como uma classificação no futebol ou no tênis. Você tem que seguir aquele ranking para ter um parâmetro, vamos dizer assim. Então, não se tem mais parâmetro. Você é o quinto e de repente está lutando pelo cinturão. E às vezes sem motivo. Uma coisa é o primeiro não poder, o segundo estar machucado, o terceiro descer de categoria e você ser o quarto ou o quinto e disputar o cinturão. Outra coisa é você ser o primeiro e estar preparado, e darem a oportunidade para o segundo ou o terceiro. É frustrante isso para o lutador. Mas no fundo eu prefiro olhar cada oportunidade como única para mim. Lutar no Brasil é uma oportunidade única e estou feliz com isso. Sempre pensei positivamente. Se eu tiver que lutar pelo cinturão, vou estar mais bem preparado, mais bem tarimbado.
O Gustafsson é um cara que está atrás de você no ranking. Como você recebeu essa notícia de que ele disputaria o cinturão, e não você?
Foi muito interessante, né? Porque eles marcaram a minha luta, e uma semana depois marcaram a luta do Gustafsson. Foi tipo assim: "Lyoto, você vai ficar sem opção, porque o Jon Jones está machucado". Foi mais ou menos isso. Não chegaram realmente a falar comigo, mas fiquei sabendo que o Jon Jones estava machucado (ele lesionou o dedão do pé na vitória sobre Chael Sonnen). Aí tinha uma luta e eu aceitei. Foi interessante que de repente marcaram a luta do Gustafsson. Não sei se já estava programado tudo isso, ou se realmente aconteceu.
Por que você acha que o UFC está te travando em relação a essa disputa de cinturão?
Não sei. Talvez eles queiram o Jon Jones mais tempo como campeão. Vou chegar ali, vou estar muito bem preparado e não quero dar chance.
Lyoto Machida e Phill Davis se encaram após a coletiva do UFC 163 (Foto: Andre Durão)
Porque eu não quero ficar muito tempo parado. Acho que o lutador tem que estar lutando. Não fico muito satisfeito em ficar seis meses, oito meses sem lutar. O interessante é estar lutando. A nossa carreira é rápida, então tenho que estar lutando. Não posso ficar esperando só uma grande oportunidade. Se ficar, você acaba não fazendo nem uma nem outra.
Você acha que o Davis vem para amarrar a luta? Treinou bastante wrestling? Está preparado para o caso de ser amarrado?
Treinei (risos). É difícil falar, porque é a estratégia de cada um. Procuro fazer a minha luta.
Jorge Guimarães, seu empresário, publicou uma foto em que você aparece com 100kg, acima dos 96kg que costuma pesar. Você está querendo ficar mais forte daqui em diante?
Eu me programei para subir um pouco o peso, porque sabia que ia descer com os treinos. Aí eu aumentei a alimentação, fiz uma dieta mais rígida, com cinco ou seis refeições por dia, muita proteína, e subi um pouco de peso. Meu objetivo era esse, porque sei que na véspera (da pesagem) eu sempre começo a cair, pela adrenalina da luta. Para eu evitar essa queda muito grande, desta vez eu subi. Já vim calculando que estaria aqui esta semana com 97kg, 96kg.
Qual o seu palpite para Jon Jones x Alexander Gustafsson?
Acho que o Jon Jones é o favorito. Ele é o cara que está na frente, é o campeão e já defendeu várias vezes o cinturão. É o favorito.
A sua última luta, contra o Dan Henderson, foi bastante criticada. Você acha que ficou devendo ou as críticas foram exageradas?
Acho que naquele momento foi aquilo que aconteceu. As pessoas às vezes cobram, mas ele é um cara duro, ninguém pode negar. Cada luta é diferente, tem seu momento e suas peculiaridades. Penso assim. Nessa luta deu para fazer isso, e nessa outra luta não deu para fazer isso. Mas quero dizer que sempre venho muito bem preparado fisicamente. Nunca lutei despreparado. Sempre levei minha carreira muito a sério, em respeito a mim, aos meus fãs e a todos os telespectadores e lutadores também. Sempre gostei de me preparar bem.
Você tem um estilo de jogar no contra-ataque, é muito estrategista. Muita gente te elogia, dizendo que luta de forma inteligente, mas ao mesmo tempo muitos te criticam e te chamam de conservador demais. Como você recebe essas críticas?
Sou um lutador que tento dar o meu melhor, tento o nocaute. Mas muitas vezes não acho o caminho certo e tenho que ganhar a luta. Não deixo de ser um estrategista. O importante é ganhar a luta. A gente tenta o caminho até buscar. Mas muitas vezes é difícil. Muita gente não entende que o cara vem fazer o antijogo com você. Se eu cair no chão com um cara e for fazer o antijogo, é difícil alguém pegar. O cara faz a pegada e você tira. Agora, se o cara topa fazer o jogo de passar a guarda... Quando eu treino com o Roger (Gracie), se eu aceito o jogo dele, ele me pega. É jogo contra jogo ali. Às vezes o lutador tem que fazer o antijogo. Eu não consigo achar brecha, porque ele está muito fechado. É o time que jogou e botou 11 em campo, sendo que sete estão ali trás, para se defender o tempo inteiro e tentar o contragolpe. Seria mais ou menos essa analogia.
Você dizia que ainda não era a hora de baixar de categoria porque o Anderson Silva, seu amigo, era o campeão dos médios. Agora que ele perdeu o cinturão, isso abre caminho para você finalmente descer?
Acho que sim, abre um caminho sim. Acho que o Anderson vai voltar a lutar pelo cinturão, mas sempre falei para o UFC que eu poderia transitar nas duas categorias. Sou um cara que não é tão grande para os meio-pesados. Consigo bater o peso de baixo. Nunca fiz isso, mas acredito muito que consigo fazer. E eu conseguiria transitar nas duas categorias. É uma possibilidade.
Essa derrota do Anderson para o Chris Weidman surpreendeu muita gente. Você tirou algo de lição dela?
É difícil falar. Esse é um momento mais do Anderson. A gente tenta ver uma coisa que possa aprender, mas é um momento mais pessoal, mais dele. O aprendizado maior é da pessoa que está passando por isso.
O pessoal sempre comenta sobre uma possível luta entre você e o Glover Teixeira, que é muito seu amigo. Falando de uma forma geral, você tem alguma restrição de enfrentar alguém no UFC? Quais são os caras que você prefere não enfrentar?
O Glover é um cara que eu realmente não gostaria de enfrentar. E o Anderson (Silva) também. Ele (Spider) tem os mesmos empresários que eu (Jorge Guimarães e Ed Soares), e a gente entrou praticamente junto no UFC. Ele entrou seis meses antes só. Nós fomos os primeiros a fazer parte dessa nova era do UFC e temos uma boa relação. Também temos uma categoria de peso diferente, e esse é o principal motivo de eu não querer enfrentar o Anderson. Mas o Glover é o cara que eu considero mais fora de cogitação para enfrentar.
O brasileiro venceu Dan Henderson em sua última luta (Foto: Getty Images)
É uma situação complicada. Às vezes a gente fica impossibilitado de dizer "não" dessa forma.
Tem a história de que o seu pai, Seu Machida, apoia que vocês se enfrentem, né?
É, meu pai apoia. Ele vê diferente, vê uma luta mais profissional e tudo mais. Mas a questão não é só ser profissional. Ele (Glover) frequenta a minha casa, a gente sai para jantar junto, a gente é amigo e tem uma relação boa, conversa sobre muita coisa. É complicado você passar de um ponto ali, que pode estremecer uma relação. Ele sempre me ajuda. Passou dez dias agora comigo e me ajudou para esta luta. A gente viveu momentos fora da luta também. Em último caso pode ser que a gente talvez possa fazer alguma coisa.
O Glover contou que vocês conversam sobre isso na brincadeira. Como é isso?
A gente fala que, quando for lutar, eu vou ligar para ele e falar: "Olha, estou treinando isso" (risos). No treinamento, meu pai às vezes fica no córner dele para poder me dar dificuldade. Aí ele: "Glover, faz isso, faz aquilo". Aí a gente diz de sacanagem que na luta meu pai vai para o córner dele.
O UFC 163, ou UFC Rio 4, será realizado neste sábado, a partir das 19h30m (de Brasília), com transmissão ao vivo do canal Combate. O Combate.com fará a cobertura de todos os detalhes em Tempo Real e transmite ao vivo a primeira luta do card, entre os meio-médios Viscardi Andrade e Bristol Marunde. Nesta sexta, canal Combate e Combate.com farão a transmissão também ao vivo da pesagem, a partir das 16h.
UFC 163 (UFC Rio 4)
3 de agosto de 2013, no Rio de Janeiro
CARD PRINCIPAL
José Aldo x Chan Sung Jung
Lyoto Machida x Phil Davis
Cezar Mutante x Thiago Marreta
Thales Leites x Tom Watson
John Lineker x José Maria No Chance
CARD PRELIMINAR
Vinny Magalhães x Anthony Perosh
Amanda Nunes x Sheila Gaff
Serginho Moraes x Neil Magny
Ian McCall x Iliarde Santos
Rani Yahya x Josh Clopton
Ednaldo Lula x Francimar Bodão
Viscardi Andrade x Bristol Marunde
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