Eu comento esportes: Entrevistão: De volta às origens no Coxa, Keirrison prepara seu retorno

domingo, 14 de julho de 2013

Entrevistão: De volta às origens no Coxa, Keirrison prepara seu retorno

Depois de mais de um ano recuperando-se de duas lesões seguidas, o agora K19 tem mais uma chance para brilhar novamente no futebol

Por Gabriel Hamilko Curitiba

Keirrison tem apenas 24 anos, mas uma história de veterano no futebol. Ele já foi considerado menino-prodígio, ganhou fama e foi comprado pelo Barcelona como uma das promessas do futebol brasileiro. No entanto, nunca se firmou. Constantemente emprestado, rodou por vários clubes e viveu o pesadelo de seguidas lesões que o impossibilitaram de ter uma sequência em campo.

Para tentar voltar a ser o K9, o jogador foi emprestado ao Coritiba, seu primeiro time de destaque. Retornou às suas raízes. Chegou machucado no corpo e na alma, procurando abrigo, mas quis o destino pregar mais uma peça e mostrar que ainda havia outra provação. Uma nova lesão o afastou dos campos por um período que já ultrapassa um ano.

Neste domingo, o agora K19 - a camisa 9 tem dono: Deivid - pode deixar para trás toda a angústia que o acompanhou neste último capítulo longe dos gramados. Precisa mostrar para ele mesmo, e também para os outros, que está preparado. Depois, terá de provar que ainda pode ser o jogador matador que foi o artilheiro do Brasileirão de 2008, aos 20 anos de idade.

E sua (re)estreia não poderia ser mais representativa. Keirrison está à disposição do técnico Marquinhos Santos para enfrentar o arquirrival Atlético-PR, e o clássico será em casa, no Couto Pereira. A expectativa é grande. O atacante estará no banco, sem garantia de que será aproveitado. Ele sabe que a sua volta deve ser aos poucos. O tempo e a experiência já lhe deram a paciência de um veterano.

O GLOBOESPORTE.COM ouviu o jogador sobre suas expectativas e medos, sobre os momentos mais difíceis. E Keirrison contou como lida com as frustrações e planeja o que vem pela frente. Um futuro que mostra um garoto com muitos sonhos, incluindo o desejo de voltar so futebol europeu. Para mostrar que ainda é uma realidade.

Keirrison quer deixar para trás o caminho de dúvidas e voltar a jogar futebol (Foto: Gabriel Hamilko)

GLOBOESPORTE.COM: Você está em período de readaptação ao futebol, após ficar parado desde dezembro de 2011. Em quanto tempo acha que vai conseguir mostrar todo o seu futebol?
Keirrison: Nos próximos seis meses, talvez eu não possa dar 100%, mas tudo pode acontecer. Estou me preparando para que possa dar o meu melhor, mas também estou preparado se acontecer algo e precisar me readaptar de novo. Acredito muito no próximo ano. Mas serei como um menino que está em campo novamente.

Apesar de ter somente 24 anos, você se considera um jogador veterano pelo drama e superação fora dos gramados, além do seu currículo?

Nos próximos seis meses, talvez eu não possa dar 100%, mas tudo pode acontecer. Estou me preparando para que possa dar o meu melhor"

Keirrison

Eu não gosto de me comparar aos outros, pois acredito que os meninos de 24 anos no Coxa também têm suas bagagens. Porém, pelo meu histórico de passar por outros países, de viver outras culturas e de conquistar campeonato importantes, isso acabou me amadurecendo não só dentro de campo, mas fora também. Essas experiências eu conquistei desde pequeno. Subi novo para o profissional e tive que acelerar a minha maturidade. E continuo aprendendo com o pessoal da minha idade e com outros jogadores mais velhos. Fico feliz de saber que o pessoal tem um respeito.

Como você lidou com dois sentimentos que já passou no Coritiba. A alegria em voltar para o clube de origem e, logo depois, uma nova cirurgia na véspera do retorno?
Agradeço a diretoria, companheiros, comissão técnica e torcida pelo carinho. Foi um balde de água fria pela situação que aconteceu, mas o carinho que a torcida transmite em querer te ver de volta, isso é uma motivação muito grande. A alegria que tenho de estar no Coritiba é a maior satisfação, algo que me dá alegria em retornar aos campos.

Qual foi o pior momento da sua carreira? O último rompimento no ligamento do joelho ou não conseguir repetir o sucesso que teve?
(O rompimento) foi a maior luta que passei na minha vida, pois fiquei um pouco sem saber o que fazer no momento. Agradeço a minha família, que me apoiou e foi meu suporte. Acredito que todos passam por algum momento difícil, mas de formas diferentes. Essas dificuldades são para enfrentar com a cabeça erguida e plantar para colher no futuro também.

Keirrison pode retornar contra o maior rival do Coxa:o Atlético-PR (Foto: Divulgação / Coritiba)

Foi criada muita especulação sobre como você se machucou na última vez.
Eu já estava treinando, sempre procurava fazer o que acontecia em campo, como giro e movimentação, que é bem no joelho. Estava tudo certo. Já tinha feito um treino com bola, mas no meu segundo eu estava parado, fiz um movimento bem leve e normal, mas senti um desconforto no joelho. Achei estranho, pois já tinha feito um giro antes, jogadas de velocidade e coisas bem mais fortes. Fui para a fisioterapia e fiz gelo. O primeiro exame não constatou nada, mas no retorno senti o joelho estranho, e fizemos mais exames. Aí que apareceu um novo rompimento no ligamento cruzado. Não sei explicar o motivo, pois estava me sentindo bem antes. É difícil de explicar. Tem que enfrentar e continuar batalhando..

Na atual recuperação, você conseguiu ultrapassar uma barreira importante, que foi o treinamento com bola para integrado ao grupo. Como foi esse recomeço ao se livrar das muletas e colocando o pé no chão novamente?
Quando o pessoal avisou que no outro dia seria meu primeiro treino com bola, ficou difícil até para dormir. Desde pequeno, jogar futebol é aquilo que mais amo fazer na vida. Os companheiros me deram força, foi muito bacana, com treinamentos bons. Fazer (treino de) chute o gol, finalizar. Para mim foi uma vitória. Eu sei muito bem o que passei, com dois meses de muleta até poder andar de novo. Nunca vou esquecer desse momento.

Eu sei muito bem o que passei, com dois meses de muleta e depois poder andar de novo. Nunca vou esquecer desse momento"

Keirrison

Como foi a história de quando você aposentou as muletas? Você até tirou foto do momento para guardar de lembrança?
O médico disse que eu precisaria das muletas por dois meses, não poderia forçar o joelho direito. Foi uma luta, pois ficar dois meses daquele jeito foi chato. Tem que se concentrar e não pisar (no chão) mesmo. Procurei fazer o melhor para não pisar. Passaram os dois meses, eu cobrei os fisioterapeutas: "Hoje é o dia. Eu tenho que pisar, por favor". Foi estranho, pois pareceu que eu nunca havia andado, fiquei meio mancando. Daí eu disse: “Filma aí, que quando tiver em campo de novo vou relembrar desse momento". Aí que eu vi a evolução.

Pelo seu histórico de lesão, você ainda tem medo quando pisa ou na hora de dividir uma bola com outro jogador?
Agora está mais tranquilo. No começo, eu fazia treinamentos sem contato. O professor já explicava que tinha que evitar chegar muito próximo, para poder soltar e pegar essa confiança. Agora eu preciso de mais contato para pegar a confiança mesmo, mas estou bem tranquilo. As coisas estão caminhando bem e no tempo certo. Estou muito contente, muito feliz mesmo.

Keirrison quer passar pela Europa e provar o seu futebol com mais sequência (Foto:Arquivo Pessoal)

Como segurar a ansiedade na reta final, faltando pouco tempo para a reestreia no futebol?
Concentro-me muito no meu trabalho. Alguns falam que sou muito sério, muito bravo. Mas é que me concentro em cada movimento que faço, em tudo que o professor fala para mim. O treinamento é muito importante. Cada um se sente bem da forma que acha melhor, mas a minha ansiedade eu coloco no meu trabalho, porque ansiedade vai ter sempre, principalmente antes do jogo, mas em campo vai ser mais tranquilo.

Você gosta de relembrar os bons momentos que teve na sua primeira passagem pelo Coritiba?
Por mais que tenha passado um bom tempinho já, sim. É bacana. Com certeza agora vai ser uma história diferente que vou construir, e acredito que tenho muitos gols pela frente para fazer.

O dom de se posicionar, de estar preparado para finalizar, isso nunca se perde, por mais que fique parado. Isso é da pessoa"

Keirrison

Você crê que pode repetir o mesmo futebol da década passada?
O dom de se posicionar, de estar preparado para finalizar, isso nunca se perde, por mais que fique parado. Isso é da pessoa. Eu cresci muito com a experiência de ter treinadores diferentes, coisas novas que o futebol me proporcionou. Tenho que mudar a cada ano, pois a dificuldade aumenta. Não vai ter jogo que vou fazer cinco gols. Hoje é diferente, com uma pegada maior. O pessoal está mais atento a isso. Tenho que procurar sair das situações. Isso é o que vem de novo em mim.
Além da frustração recente que teve com a lesão, você acha que os seus últimos anos foram abaixo do que poderia render?
Lógico que a vontade era de continuar a minha carreira superbem. Tive dificuldades de me adaptar fora também. Mas não sou muito de dar desculpas. As coisas não aconteceram da forma que eu queria, e vou tenho de aceitar isso. Espero que um dia eu possa voltar à Europa, para mostrar o meu futebol. Quero chegar firme e forte, quero poder jogar. Não tive tanta sequência lá fora. Isso dificultou um pouco para mim. Se eu tiver uma oportunidade de voltar, vou voltar para jogar mesmo. É uma coisa que aprendi. Não adianta ir lá e não saber se vai jogar ou não.
Como lidar com a expectativa da torcida, que espera ver logo aquele goleador de 2008, o K9 matador?
Sei que tem a expectativa, pois eu criei isso, pelo que fiz dentro de campo. O grupo do Coritiba é legal. Competitivo, mas saudável. Isso beneficia a todos: time e torcida, pois assim vamos buscar títulos grandes. Estou contente de estar com esse grupo. O professor Marquinhos faz um grande trabalho.

Como foi acompanhar a conquista do tetracampeonato dos bastidores, sem ter o gostinho de entrar em campo?
Foi diferente, pois me senti como torcedor. Sou torcedor do Coritiba há muito tempo e estava ali, vendo tudo o que estava acontecendo, com muita vontade de estar lá dentro. Quantas vezes eu chutei a parede dos camarotes ou as cadeiras, pois a vontade de ajudar era grande. Mas para mim, a experiência foi muito diferente.

Agora você não é mais o K9, passou a ser o K19. Como foi a escolha do novo número?
Tranquilo. O Paulinho (Alves, supervisor do Coritiba) fez as numerações. O Deivid já vem jogando, e é natural que o atacante assuma a 9. Por mim não tem problema. Nós temos um grupo saudável. Pode ser 19 ou qualquer outro número, tanto faz. O que importa é voltar aos campos. Minha alegria é essa.