terça-feira, 19 de novembro de 2013

Lembra Dele? Dividido entre Ponte e SP, Ronaldão aposta em Luís Fabiano

Após bicampeonato mundial no Morumbi e fim de carreira no Majestoso, ex-xerife diz que é impossível torcer para apenas um clube na semifinal

Por Campinas, SP

Quando era jogador, Ronaldão não alisava. Pergunte a quem quiser: torcedores que o viram em campo, adversários – como o búlgaro Stoichkov, que sofreu com ele na final do Mundial de 1992 – e até ex-companheiros de time. Profissional sério, centrado e de físico avantajado, o antigo xerife mantém a postura dos tempos de atleta, mesmo que não exerça a função há 11 anos. Mas se o assunto é semifinal da Copa Sul-Americana entre São Paulo e Ponte Preta, que começam a decidir nesta quarta-feira uma vaga na grande decisão, o ex-zagueiro arruma uma forma de fugir da dividida. Coisa que não faria se ainda estivesse em campo, no Morumbi ou no Moisés Lucarelli.

Ronaldão ex-zagueiro São Paulo Ponte Preta (Foto: Murilo Borges) 
Ex-zagueiro reside em Campinas, mas não admite 
torcida por nenhum lado da semi (Foto: 
Murilo Borges)
 
– Eu sentiria uma lesão para não jogar (risos). Não dá para falar. O São Paulo, pela história, é o principal favorito, mas a Ponte não pode ser descartada. Minha família é de são-paulinos, mas sou residente em Campinas, sou ponte-pretano, meu filho também. É um jogo em que você fica neutro. Que vença o melhor. Minha história não pode pesar. Sentiria uma lesão grave e estaria fora dos dois times (risos) – brincou o paulistano, hoje com 48 anos e longe do futebol desde o ano passado. Ele trabalha atualmente com a divulgação de marcas de empresas brasileiras na Arábia Saudita.

A identificação de Ronaldão com os dois semifinalistas brasileiros é gigante. Apesar de ter atuado com outras seis camisas (Rio Preto, Shimizu-JAP, Flamengo, Santos e Coritiba, além da seleção brasileira), o ex-zagueiro é sempre lembrado pelo que fez no São Paulo e na Ponte Preta. Especialmente no Morumbi, sua casa por oito anos.

Contratado para ser lateral-esquerdo, Ronaldão virou zagueiro nas mãos do técnico Cilinho no fim dos anos 1980. Provou que o treinador estava certo. Já sob o comando de Telê Santana, ganhou tudo que podia com a camisa são-paulina: dois Mundiais, duas Libertadores, dois Brasileiros, quatro Paulistas e duas Recopas Sul-Americanas. Tanto sucesso lhe garantiu espaço na Seleção campeã do mundo em 1994, nos Estados Unidos. O xerife só deixou o clube tricolor por uma proposta financeiramente vantajosa do mercado japonês.

– Os Mundiais sempre ficaram marcados para mim porque tinha aquele papo que não iríamos vencer nenhum. E ganhamos todos – lembrou o ex-jogador, ao falar dos triunfos sobre Barcelona, em 1992, e Milan, em 1993.

Ronaldão São Paulo 1992 (Foto: Célio JR / Agência estado) 
Ronaldão treina no Morumbi: xerife da defesa de 
Telê Santana no Tricolor (Foto: Célio JR / Agência 
Estado)
 
Depois de rodar por outros clubes, Ronaldão aceitou a proposta para liderar a Ponte Preta no último – e talvez maior – desafio da carreira. Missão dada e cumprida com louvor. De 1998 a 2002, o defensor foi capitão num dos melhores momentos da história da Macaca. Ajudou o clube a avançar duas vezes à fase final do Campeonato Brasileiro, a disputar uma semifinal de Paulista e de Copa do Brasil e continuar na elite nacional. Colaborou tanto que, ao se aposentar, virou gerente do futebol ponte-pretano, cargo que ocupou até 2005.

– Todos os meus companheiros foram para times grandes depois. Fábio Luciano e Daniel foram campeões do mundo no Corinthians, o Fabinho venceu a Libertadores com o Internacional, o Washington chegou à Seleção, o Mineiro fez o gol do título mundial do São Paulo. Quando se monta elenco de qualidade, é possível competir de igual para igual com os grandes.

Ronaldão ex-zagueiro São Paulo Ponte Preta (Foto: Reprodução / EPTV) 
Na Ponte, xerife ajudou a liderar equipe jovem e 
conquistou bons resultados (Foto: Reprodução / 
EPTV)
 
O sucesso que tricolores e ponte-pretanos tiveram com Ronaldão em seus elencos não se repetiu este ano. O São Paulo foi eliminado no primeiro mata-mata da Libertadores, caiu para o Corinthians no Paulista e na Recopa e brigou várias rodadas para sair da zona de rebaixamento do Brasileiro. A Ponte também caiu diante do Corinthians no estadual e, apesar da boa campanha na Sul-Americana, dificilmente evitará a queda para a Série B do Brasileiro.

– São duas histórias praticamente iguais. O Brasileiro para o São Paulo foi muito desgastante. Tomou um susto muito grande, valorizou demais o elenco que tinha. Sentiram de perto o que é lutar contra o rebaixamento. Isso vai ser levado para a próxima temporada. A Ponte teve o mesmo erro. Frequentou muito a zona de queda, lutou bastante, mas infelizmente não vai conseguir sair. Acharam que tinham uma equipe forte para disputar o Brasileiro. Mas a equipe tem demonstrado muitos altos e baixos. Ela conseguiu uma vitória muito boa contra o Vasco e perdeu de 3 a 0 para o Vitória – comentou.

Luis Fabiano São Paulo Ponte Preta (Foto: Marcos Ribolli) 
Luis Fabiano contra a Ponte: revelação quer tirar
primeiro clube do páreo (Foto: Marcos Ribolli)
 
Com momentos bons e ruins em 2013, São Paulo e Ponte Preta precisam se apoiar naquilo que têm de melhor. O ex-zagueiro cita os destaques: Rildo, Adrianinho e William de um lado, Rogério Ceni, Ganso e Luis Fabiano do outro. O artilheiro tricolor, aliás, é a principal aposta de Ronaldão. Com passado no Majestoso e em baixa no Morumbi, o camisa 9 tem tudo para fazer a diferença nos dois jogos na opinião do ex-zagueiro.

– Ele sempre brilha quando chega nesse momento. E está na hora de ele voltar a brilhar. Infelizmente o adversário é o time que o lançou, mas são coisas do futebol. Às vezes, é o momento que ele encontra motivação para dar volta por cima. Talvez essa seja a hora de acontecer. Acho que o São Paulo tem grandes possibilidades de passar, mas é bom abrir o olho. A Ponte tem surpreendido muita gente na Sul-Americana. Futebol não tem lógica.

Os dois valorizaram demais os elencos que tinham. O São Paulo sentiu de perto o que é lutar para não cair . A Ponte achou que tinha um time forte, lutou bastante, mas sofreu com muitos altos e baixos"
Ronaldão
 
Ansioso pelo confronto, Ronaldão sequer verá o primeiro duelo, nesta quarta-feira, no Morumbi. O ex-zagueiro tem viagem marcada com a família para Nova York e pretende procurar o resultado da partida bem mais tarde, depois de andar muito pela maior cidade dos Estados Unidos. Para ele, até isso ajudará na imparcialidade.

– Vou passear bastante e à noite vejo o que aconteceu na internet. É até um refúgio. Depois fica fácil escolher para quem torcer no segundo jogo. Tem uma equipe que usa a razão, que está acostumada com torneios internacionais, que é o São Paulo, e outra que vai com o coração, a vontade, que é a Ponte Preta. A primeira partida vai decidir muita coisa – disse o ex-zagueiro, sem entrar em dividida. Esse é um novo Ronaldão, com velhas paixões.

Ronaldão é considerado um dos grandes zagueiros da história do São Paulo (Foto: Divulgação) 
Passado vencedor do São Paulo, que Ronaldão ajudou 
a escrever, pode ser útil na semi (Foto: Divulgação)

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/sp/campinas-e-regiao/noticia/2013/11/lembra-dele-dividido-entre-ponte-e-sp-ronaldao-aposta-em-luis-fabiano.html

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