sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Fanático FC: com 120 camisas do Remo, torcedor faz 'velório' do rival

Engenheiro Julio Martins mora em Rio Branco (AC), mas não deixa distância apagar a paixão azulina. Coleção de uniformes vem de 1987

Por Rio Branco, AC

“Porque somos do Clube do Remo. Numa só voz diremos que não tem igual”. O amor que o engenheiro civil Julio Martins, 36 anos, sente pelo Remo faz jus ao hino do time. Paraense, mas morando em Rio Branco, capital do Acre, que fica a cerca de 2.500km de Belém, o torcedor é apaixonado pelo clube. Aliás, não é à toa que ele tem 120 camisas do Remo, guarda todos os ingressos de jogos, coleciona jornais e tem objetos personalizados com as cores azulinas. Uma paixão que parece não ter limites e que começou de forma inusitada: na torcida do Paysandu, que foi rebaixado para a Série C e ganhou até um "velório" especial.

Coleção no Acre, torcedor tem 120 camisas do Remo (Foto: Arquivo Pessoal) 
Julio Martins mostra as 120 camisas que tem
 do Remo (Foto: Arquivo Pessoal)
 
As camisas da coleção de Julio Martins vão de 1987 a 2013. No total, são 120 modelos. Todos do Remo. Uniformes de viagem, de treino, de jogo, não importa: as camisas, guardadas em uma mala, são uma parte da incontestável paixão do torcedor pelo clube.

- Comecei a colecionar mesmo em 2008. A maioria compro pela internet, mas as mais antigas não têm. Para conseguir esses modelos, vou "catando". Uma vez estava andando pela rua e vi um pedreiro com uma camisa de 1994. Ofereci R$ 30, e ele vendeu para mim – revela Martins, que já pagou R$ 350 em uma camisa versão de 1989 (a mais cara da coleção).

Coleção: no Acre, torcedor tem 120 camisas do Remo a mais cara (Foto: João Paulo Maia) 
Uniforme de 1989 é o mais caro da coleção:
 R$ 350(Foto: João Paulo Maia)
 
A que mais custou dinheiro, porém, não é a de maior representatividade para o paraense. Com orgulho, ele diz que o uniforme que o ex-craque Artur Oliveira, o rei Artur, vestiu em 1991 (ano em que o Remo foi tricampeão invicto) e autografou é o mais valioso. O número da coleção deve aumentar. Julio já aguarda ansioso o uniforme de 2014 e segue a incansável busca por modelos antigos.

A loucura do torcedor azulino não para por aí. Em dois álbuns e uma caixa pequena, ele coleciona todos os ingressos dos jogos a que já assistiu e guarda vários jornais que destacam os títulos e o histórico do Clube do Remo. Além disso, alguns objetos da casa de Julio, como copos e árvore de natal, são personalizados com as cores do time.

Coleção no Acre, torcedor tem 120 camisas do Remo (Foto: João Paulo Maia) 
Coleção no Acre: torcedor tem 120 camisas do 
Remo (Foto: João Paulo Maia)
Papão? Só a primeira vez...

O azulino, acredite, já esteve do outro lado do Mangueirão, na torcida do Paysandu. Na decisão do returno do Estadual de 89, Julio e o tio, que torce pelo Papão, foram ao estádio. Na oportunidade, vitória remista. Não teve jeito. O jovem, que na época tinha 12 anos, se encantou com a festa adversária e desde então, de forma emblemática, torce pelo Remo.

- Em Belém, é muito tradicional o pai ou o tio levar os mais jovens da família ao estádio. Meu tio, que é Papão, ficou até com raiva depois (risos) - conta.

Torcedor do Remo Julio Martins faz velório pelo rebaixamento do Paysandu (Foto: Arquivo Pessoal) 
Torcedores do Remo fazem velório pelo
rebaixamento do Paysandu 
(Foto: Arquivo Pessoal)
 
Julio Martins deixou Belém em 2001 para morar em Rio Branco, onde reside com a esposa e duas filhas. Apesar da distância e da saudade de ver o time jogando, ele afirma que a paixão que começou em 1989 continua a mesma.

- Quando me mudei para Rio Branco, não tinha internet banda larga, era discada, e pouca gente tinha acesso. O jeito para saber algo sobre o time era ir ao orelhão e ligar para perguntar sobre os resultados dos jogos.

Após o rebaixamento do Paysandu para a Série C do Campeonato Brasileiro, os remistas não perdoaram. Longe de Belém, Julio e um amigo fizeram uma homenagem especial ao principal rival: um velório, com direito a vela e caixão.

Declínio e esperança
As duas palavras são antagônicas, mas são termos presentes na torcida remista. Após o declínio para o status de "time sem série", a esperança dos apaixonados azulinos é que a equipe consiga retomar uma vaga no cenário do futebol brasileiro.

- A queda começou em 2008, quando caímos para a Série D. Foi uma tristeza, uma sensação ruim. Mas agora o clube está melhorando na estrutura física e organizacional. Com certeza vamos nos reerguer. O Remo não é um simples time de futebol. O Remo representa uma nação. No Pará, são oito milhões de pessoas, e metade disso torce pelo Remo. O fundo do poço chegou, não tem como ir aquém disso. Temos que pegar os exemplos ruins e não repetir – analisa Julio Martins, que é sócio do clube e faz parte da torcida RemoAcre, que tem cerca de 30 componentes.


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