segunda-feira, 22 de julho de 2013

Pode acreditar: virada do Nacional de Medellín é exemplo para Galo na final

Time colombiano superou desvantagem de dois gols contra Olimpia na final da Libertadores de 1989 e, com Higuita inspirado, venceu nos pênaltis

Por Felipe Schmidt Rio de Janeiro

Nas quartas de final, foram máscaras do Pânico. Nas semis, um apitaço ensurdecedor. Para apoiar o Atlético-MG no segundo jogo da final da Libertadores, na próxima quarta-feira, no Mineirão, a torcida do Galo poderia usar outro artifício para assombrar o Olimpia: camisas listradas em verde e branco, do xará Nacional de Medellín, campeão em 1989 contra os paraguaios justamente ao superar uma desvantagem de 2 a 0 na primeira partida e conquistar o título nos pênaltis.
Até hoje, o Atlético Nacional é a única equipe, desde que a regra de desempate por saldo de gols foi adotada nas decisões da Libertadores, a se recuperar de um revés por 2 a 0 na final. Derrotado em Assunção, o time devolveu o placar na Colômbia, e, nos pênaltis, graças a um inspirado René Higuita, que defendeu quatro cobranças, venceu por 5 a 4.

time Atlético Nacional final Olimpia 1989 (Foto: Conmebol) 
Equipe do Atlético Nacional campeã em 1989, com Higuita como grande estrela (Foto: Conmebol)
 
Por outro lado, o Olimpia tem em seu banco de reservas um "sobrevivente" daquele jogo. Ever Almeida, atual técnico do Decano, era o goleiro da equipe em 1989. No tempo normal, ele foi superado duas vezes, por Miño, contra, e Usuriaga, de cabeça. Nos pênaltis, o hoje treinador foi parado por Higuita, que voou no canto direito para defender o chute rasteiro do rival. Depois, Almeida quase se redimiu: pegou as cobranças de Alexis García e Perea, mas viu seus companheiros caírem perante o arqueiro adversário.

O Nacional parecia com medo de vencer. Higuita defendeu três cobranças consecutivas na série alternada, mas seus companheiros também desperdiçaram. Somente quando Sanabria isolou seu chute, Leonel Álvarez converteu e garantiu a taça aos colombianos.

Pressão e altitude
O trabalho de recuperação, porém, começou muito antes. Técnico daquela equipe, Francisco Maturana lembra que, mesmo com a derrota na partida de ida, os jogadores tinham confiança numa virada, pois haviam atuado bem em Assunção.

- O resultado no Paraguai foi um pouco largo, nós merecíamos mais. Então, nos preparamos para a partida de volta com muita esperança. Sabíamos que poderíamos inverter a situação, mesmo com uma desvantagem grande. É complicado uma equipe se aventurar para fazer três gols, mas nos enchemos de otimismo – lembrou o treinador, em entrevista por telefone.

Francisco Maturana técnico Colômbia arquivo (Foto: AFP) 
Francisco Maturana, comandante do Nacional em 1989, pede calma ao Atlético-MG (Foto: AFP)
 
Na época, o Atlético Nacional tinha uma grande equipe, formada apenas por jogadores colombianos. Muitos deles formariam a base da seleção nacional nos anos seguintes: Higuita, Andrés Escobar, Leonel Álvarez, Usuriaga e Tréllez, entre outros.

- O Nacional tinha um time muito unido, vibrante, somente com jogadores colombianos, muitos deles do departamento de Antioquia, região onde fica o clube. Isso despertou um grande fervor, uma grande identificação com os torcedores. Quase todos os atletas estiveram na seleção – contou o jornalista Óscar Ostos, do diário “El Tiempo”.

Além da ótima equipe, o Nacional tinha ainda outras cartas na manga: a altitude de Bogotá – a partida não pôde ser disputada em Medellín porque o estádio Atanasio Girardot não atendia às exigências da Conmebol – e a pressão da torcida.

- O que mais me lembro daquela partida é a hostilidade da torcida. Naquela época, quando se chegava a um país, as pessoas começavam a tornar as coisas mais difíceis aos adversários. Não que isso nos tenha prejudicado, pois soubemos fazer o que precisávamos. Isso não significa que o time jogou assustado, mas foi marcante – recordou Raúl Amarilla, atacante do Olimpia na época.

Raul Amarilla jogo Atlético Nacional final Olimpia 1989 (Foto: Conmebol) 
Amarilla recebe a marcação de defensores do Nacional na final de 1989 (Foto: Conmebol)
 
Para o jornalista Ostos, a hostilidade também teve a ver com o momento do futebol colombiano, às voltas com o narcotráfico.

- O ambiente foi muito hostil. Inclusive, há muitos rumores, nunca comprovados, de que foi algo bastante pesado, porque essa era a época em que o narcotráfico teve mais presença nos clubes colombianos. Daquela equipe, três jogadores já morreram, todos assassinados: Escobar (morto após a Copa do Mundo de 1994, supostamente por causa de um gol contra que causou perdas em uma aposta de traficantes), Usuriaga (cujo motivo da morte segue sem resolução) e Felipe Pérez (morto logo após deixar a prisão por associação com o tráfico).

Para Maturana, a pressão da torcida não foi tão importante quanto o cansaço provocado pela altitude.

- Nós sabíamos que a altura nos prejudicava, mas os atrapalhava mais ainda. Quanto à torcida, não acredito que foi preponderante, porque em Bogotá ela era muito fria. Só começou a incentivar quando fizemos o primeiro gol.

Usuriaga gol Atlético Nacional final Olimpia 1989 (Foto: Conmebol) 
Usuriaga sobe mais que Ever Almeida para fazer o segundo gol do Nacional (Foto: Conmebol)
 
Conselhos para o Galo
Em Belo Horizonte não há altitude, mas o apoio dos torcedores tampouco é uma preocupação para o Atlético-MG. Treinador de Cuca no Valladolid, da Espanha, em 1990, Maturana acredita que a maior lição que a vitória do Atlético Nacional pode dar ao Galo é a paciência.

- Gostaria de mandar um abraço ao Cuca, porque o conheço, foi meu jogador no Valladolid. Não vi o primeiro jogo, mas acho que o Atlético-MG mostrou seu valor nas partidas anteriores, tem argumentos para ganhar. O que tenho para dizer a Cuca é para ele manter a paciência. Ter o futebol bem jogado, com bom posicionamento, mas, principalmente, manter a calma – disse Maturana.

Cuca Atlético-MG decisão Libertadores Olimpia (Foto: Reuters) 
Pupilo de Maturana, Cuca comanda o Atlético-MG na decisão da Libertadores (Foto: Reuters)
 
O técnico colombiano lembra de uma situação do jogo de 1989 que ilustra bem seu conselho. Animado, ele entrou em campo com um time ofensivo: três atacantes e muita pressa. Não deu resultado. No segundo tempo, rearrumou a equipe, que melhorou e chegou aos gols necessários.
- Eu coloquei três atacantes, mas nós não ficávamos com a bola, portanto não podíamos atacar. Quando acabou o primeiro tempo, refizemos o planejamento. Tomei uma medida pouco popular: tirei um atacante e coloquei um volante para recuperar a bola. A partir daí, os jogadores ficaram mais calmos, tiveram segurança para buscar o resultado, e saíram os gols que empataram a série.

Depois, nos pênaltis, Higuita estava num dia muito especial.

Aposta em Ronaldinho
Para Ostos, a paciência é realmente a virtude de que o Galo precisa para reeditar o feito do Nacional. Ele lembrou que o Santa Fé, equipe colombiana eliminada pelo Olimpia na semifinal, também sofreu para superar a defesa paraguaia.

- Basicamente, tem que se manter a mesma filosofia. O Santa Fé sofreu com o Olimpia, que tem seu estilo, se suporta bem na defesa, é muito forte no jogo aéreo. Não acho que a pressão vai influenciar o Olimpia, pois são jogadores experientes, que não têm pena se tiverem de chutar a bola para fora do estádio.

O que tenho para dizer a Cuca é para ele manter a paciência. Ter o futebol bem jogado, com bom posicionamento, mas, principalmente, manter a calma"
 Francisco Maturana
 
Amarilla tem uma visão parecida. Esta é a sétima final do Olimpia, e, por isso, o ex-atacante não acredita que os paraguaios vão cometer os mesmos erros do passado.

- As pessoas que vivenciaram o jogo de 1989 não vão permitir que aconteçam os mesmos equívocos no Olimpia. A experiência conta muito. Já o Atlético não precisa de conselho. Está na final, então isso significa que o time está indo bem.

Além da paciência e da pressão, o jornalista Ostos acha que o Atlético-MG tem ainda outra arma importante. Os cabelos também são longos, o estilo é igualmente polêmico, mas não é Higuita. Trata-se de Ronaldinho Gaúcho, outro candidato a carrasco do Olimpia na Libertadores.

- Ronaldinho é capaz de fazer a diferença. No Santa Fé havia Omar Pérez, mas ele não esteve bem contra o Olimpia, e isso marcou. Acho que vai acontecer o mesmo com o Atlético: é preciso que Ronaldinho esteja bem.
 
Ronaldinho Gaúcho Atlético-MG decisão Libertadores Olimpia (Foto: AP) 
Mal no primeiro jogo, Ronaldinho pode se recuperar na próxima quarta-feira (Foto: AP)
 
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/libertadores/noticia/2013/07/e-possivel-algoz-do-olimpia-nacional-de-medellin-vira-exemplo-para-o-galo.html

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