sábado, 9 de março de 2013

O bom filho: Dunga volta às origens em Ijuí e honra família de boleiros


Técnico faz a primeira final no comando do Inter em sua terra natal. Família Verri tem serviços prestados ao futebol da região. Pai foi artilheiro

Por Diego Guichard Direto de Ijuí, RS

dunga ijuí especial inter (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)Dunga, nos tempos da juventude e início da carreira (Foto: Reprodução/Globoesporte.com)

Disciplinado, sério e batalhador. São apenas alguns dos adjetivos recebidos por Dunga de amigos e conhecidos na região de Ijuí, onde nasceu e foi criado no meio de boleiros da família Verri, tradicional da região no meio do futebol. E é em seu reduto familiar que o técnico encara a sua primeira final no comando do Inter. Neste domingo, diante dos olhos de quem o viu crescer, decide o primeiro turno do Gauchão com o São Luiz.

Historiador e jornalista, Ademar Campos Bindé, de 80 anos, escreveu sobre a história do futebol da cidade no livro "A história do futebol em Ijuí". O pesquisador nominou a trajetória da família do treinador como a "dinastia dos Verri".


- Duvido que exista outra família no mundo que tenha tantas pessoas ligadas ao futebol - opina Bindé, na própria residência, enquanto exibe com orgulho imagens históricas do esporte na região.

A história da família confunde-se com a do futebol no município distante 400 quilômetros de Porto Alegre. Tudo iniciou com Caetano Verri, avô de Dunga e goleiro do Grêmio Foot-Ball Ijuhyense. Teve seis filhos, todos jogadores: Carlinhos, Waldemar (Bica), Dari (Marimba), Getúlio (Bugio), Edgar (Dega) e Edelceu, o pai de Dunga, que morreu há pouco mais um ano, aos 71.


Edelceu iniciou e encerrou a carreira no São Luiz. Como atacante, foi o maior artilheiro da região, tendo balançado as redes em 155 oportunidades, atestam os registros. Chegou a jogar pelo maior rival, o Gaúcho. Ao marcar um gol contra seu clube do coração, levou as mãos à cabeça, perplexo.

No São Luiz há 24 anos, o zelador Alberi Amorim é uma espécie de faz-tudo. É ele quem cuida do gramado para a decisão da Taça Piratini. Na memória, de quando ainda era adolescente, tem a imagem de Edelceu como goleador.

- Ele fazia gols de tudo que é jeito. Eram dois ou três por partida. De fora da área, era brincadeira - relembra Alberi.

pai dunga inter ijuí especial (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)Pai de Dunga lamenta gol que ele mesmo marcara (Foto: Reprodução/Globoesporte.com)

Teimosos e vencedores: o DNA dos Verri

E então começou a história de Carlos Caetano Bledorn Verri. Nasceu em 31 de outubro de 1963. Recebeu no nome homenagem para o avô Caetano. Como era comum na família, logo recebeu um apelido: Dunga, em referência ao famoso anão, já que era bastante retaco.

Os Verri tinham liderança, é do DNA deles. Não admitem perder e querem sempre ter razão"

Ari Bertolo, presidente do
primeiro time amador de Dunga

Na cidade da região noroeste do estado, atuou na adolescência como atleta do time amador Ouro Verde. Lá, descobriu-se como um volante aguerrido e aprendeu a ser competitivo. Levado pelo pai, era sempre o primeiro a chegar e último a deixar os treinos.

- Ele disputava a bola como se fosse o último pedaço de carne, não queria perder nunca. Tinha essa ambição sempre, uma tenacidade de vencedor. E nosso time era forte, prova que, de 10 campeonatos nos anos 70, o Ouro Verde só perdeu dois - contou Ari Bertollo, fundador e ex-presidente do Ouro Verde. - Os Verri tinham liderança, é do DNA deles. Não admitem perder e querem sempre ter razão.

Mas, muito antes disso, na infância, praticamente cresceu em um gramado. Ao lado da casa do hoje treinador do Inter, um campo para treinamentos.

Goleiro e "dono da bola"


dunga ijuí especial bindé inter (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)Bindé tem a história do futebol em Ijuí na ponta dalíngua (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)

Na manhã chuvosa desta sexta-feira, em uma rua tranquila de Ijuí, a reportagem do GLOBOESPORTE.COM chega até a casa da família de Dunga, onde reside a dona Maria Verri, mãe do treinador. Aperta-se a campainha uma, duas vezes, mas ninguém atende a porta.

Do outro lado da rua, surge sozinho seu Fausto, dono de um minimercado homônimo proprietário, localizado na frente da residência. O homem de meia idade sorri e avisa:

- É melhor vocês saírem da chuva. A dona Maria não fala com a imprensa. Tem medo de que algo saia distorcido.

Do estabelecimento, Fausto teve a oportunidade de acompanhar a família Verri. Segundo ele, Dunga cresceu como uma criança reservada. No futebol, no entanto, sempre foi obstinado. Era o “dono na bola”.

- O Dunga gostava mesmo era de jogar como goleiro. E queria jogar sempre. Era o dono da bola. Se ele não jogava, não saía jogo - brinca Fausto.

Carreira no Inter
Dunga atuou um ano no Ouro Verde, sendo campeão metropolitano no ano de 1980, quando tinha 16 anos. Era um campeonato amador que contava com quase 100 equipes da região de Ijuí. Mesmo novo, chamava atenção pelo vigor físico. A última partida pela equipe foi com vitória em cima do São José (da região) por 3 a 0. Dois dias depois, estava no Inter, levado pelo padrinho Emídio Perondi.

- Não era um craque, mas foi um cara dedicado que enfrentou todas as dificuldades. O grande incentivador dele foi o Abílio dos Reis (olheiro histórico do clube). A família Verri era toda de craques - destaca o conselheiro do Inter, ex-presidente do São Luiz e ex-presidente da Federação Gaúcha de Futebol.

Resta saber como será o reencontro de Dunga com sua terra natal. O treinador embarcará com a delegação do Inter de avião fretado na tarde deste sábado. Chegará na cidade de cerca de 80 mil habitantes no final da tarde. E, mesmo que esteja focado na decisão da Taça Piratini, certamente terá flashbacks da infância, dos tempos de goleiro... enfim, de quando era o dono da bola. O que pode voltar a acontecer. O São Luiz é o último obstáculo.

casa dunga ijuí inter (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)Ao lado da casa em que cresceu, o campo que embalou o sonho de Dunga no futebol (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)


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