Técnico afirma que Azzurra mereceu vitória na Espanha, não garante Balotelli na Copa e põe pressão em Felipão: 'Brasil tem obrigação de vencer e ser protagonista'
- Estou convicto que não somos o melhor time, mas que podemos vencer os melhores - disse Prandelli em entrevista ao GloboEsporte.com, em Florença.
Como jogador, Prandelli nunca foi um craque. Como treinador, ele tem um currículo pouco recheado de títulos, mas seus times sempre jogaram um futebol atraente e consistente. Aos 57 anos, o ex-meia colecionou passagens por vários clubes italianos antes de assumir a Azzurra. Quando comandava a Fiorentina, Prandelli viveu um momento dramático com a morte da sua esposa, que faleceu em 2007 com uma doença terminal. A fé em Deus e a proximidade dos dois filhos o ajudaram a recuperar a alegria de viver e a força para voltar a amar. Hoje, o treinador italiano, vive em Florença com a nova namorada. Prandelli se assume como um homem de família e por isso permitiu que as famílias dos jogadores fiquem hospedadas no mesmo hotel que servirá de base da Azzurra, em Mangaratiba (RJ), durante a Copa.
Com Prandelli, Itália foi vice-campeã da
Europa e ficou em terceiro na Copa das
Confederações (Foto: AP)
Confira a
entrevista completa:
Prandelli: Um país
jovem, com vontade de crescer e muitas ideias. Gostei bastante. É um país muito
grande de dimensões difíceis de imaginar para nós italianos e por isso será uma
Copa muito cansativa.
Não, de maneira alguma estamos preocupados com isso. Nem nos assustam.
E por que a escolha do resort Portobello, em Mangaratiba, para a concentração?
Queríamos otimizar o tempo, não queríamos perder tempo em deslocamentos de ônibus do hotel para o centro de treinos. Procuramos um lugar que nos desse a possibilidade de treinar e dormir no mesmo recinto. Acho que é o local ideal para preparar a Copa.
Hotel Portobelo, em Mangaratiba,
foi escolhido pela Itália como base
durante a Copa do Mundo (Foto:
Divulgação)
As famílias também ficarão no local, é verdade?
Sim, pela primeira vez, os familiares vão poder acompanhar os jogadores e a comissão técnica durante a Copa. Acredito que seja importante a presença das famílias e, sobretudo, das crianças para aliviar um pouco a pressão.
Essa medida foi, de certa forma, influenciada pelo que aconteceu com jogadores da seleção espanhola durante a Copa das Confederações?
(risos) Não, de maneira alguma. Não é uma medida de precaução. É um desejo de estar com as esposas, os filhos, de conviver e passar bons momentos juntos. Estou confiante que a concentração dos jogadores vai aumentar com as famílias por perto.
Já decidiu se vai autorizar os seus jogadores a utilizarem as redes sociais na concentração?
Ainda não decidimos. Mas penso que nos 30 dias que poderemos estar no Brasil, aqueles que tiverem alguma coisa a dizer ou a comunicar, podem usar as coletivas de imprensa para fazer isso, até como forma de respeito pelos jornalistas que nos vão acompanhar.
Se
pudesse convocar jogadores de outras seleções, como um armador, por exemplo,
quem escolheria?
Buffon é um dos remanescentes da Copa do Mundo de 2006 na Azzurra (Foto: Getty Images)
É complicado
para mim responder a essa pergunta, porque se o fizesse, estaria faltando com
respeito aos meus jogadores. Quando falamos de seleção italiana, falamos de um
grupo de muito respeito e profissionalismo. Estou convicto que não somos o
melhor time, mas que podemos vencer os melhores.
Qual é o
objetivo da Itália nesta Copa?
Vencer o
grupo, alcançar as oitavas de final, porque estamos num dos grupos mais
difíceis do torneio. Depois disso, é claro que todos os treinadores sonham
vencer a Copa. A Itália se assume como candidata ao título?
Eu repito tantas vezes, a função do treinador também passa por transmitir otimismo ao time e por isso também devo sonhar. O Brasil sim tem obrigação de vencer e de ser protagonista desta Copa. Nós temos a obrigação de jogar bem. Se jogarmos bem, melhor do que os outros times, aí sim podemos pensar em vencer o Mundial.
Neste momento é difícil imaginar a Azzurra sem Pirlo e Buffon. Campeões do mundo em 2006 ainda lideram este time. É um limite da Itália?
Um limite? Não. É um valor adicional. Já foram campeões do mundo, sabem como vencer e vão ajudar os restantes jogadores a vencer.
Além de Pirlo e Buffon, torcedores pedem a convocação de outros campeões do mundo, como Totti e Luca Toni. Eles têm chances?
Eu sempre disse que estamos observando todos e não fechamos as portas a ninguém. Mas temos de ter em conta sobretudo estes meninos que deram a oportunidade à Itália de se qualificar para a Copa. Vamos analisar estes casos com calma até à data da convocação.
Como analisa este momento crítico de Balotelli? Com o Milan ele não tem sido decisivo, perdeu a titularidade, mas com a seleção italiana sempre foi determinante.
É verdade. Nós também nos questionamos sobre isso. Com a gente, Mario sempre fez boas apresentações, pelo menos, sempre esteve dentro da partida. No campeonato, várias vezes, ele parece estar ausente. Esse é um motivo de preocupação, mas nós não conseguimos decifrar o motivo desta diferença. Agora, Mario deve respeito aos torcedores, dirigentes e à camisa do Milan. Na seleção, o seu comportamento sempre foi positivo. É verdade que está sendo muito criticado, mas cabe a ele sair dessa situação sozinho, demonstrando todos os dias o seu respeito pela camisa rossonera. Tem de trabalhar e só com vontade e empenho ele poderá melhorar a sua situação no Milan.
Má fase de Balotelli no Milan deixa o
técnico da seleção preocupado para o
Mundial no Brasil (Foto: Agência EFE)
Está
preocupado sobre como irá chegar Mario Balotelli aqui a Coverciano no fim de maio depois de uma temporada decepcionante?
Inicialmente,
30 jogadores serão convocados e vamos fazer testes físicos para avaliar o
estado e a condição física dos atletas antes de anunciar a lista definitiva dos
23. Ninguém pode dar como certa esta convocação, todos devem merecer a vaga, e
Mario também.Quer dizer que Balotelli poderá ficar fora?
Não disse isso, disse apenas que todos devem chegar fisicamente prontos e isso significa que devem treinar bem diariamente com os seus clubes.
Os italianos justificam o comportamento de Balotelli com a sua idade. Mas com 23 anos, no futebol, já não é assim tão jovem. Será que não é o momento de assumir isso?
Já há algum tempo que paramos de falar que ele é jovem. Esperamos que ele assuma a responsabilidade do seu personagem. É um campeão midiático, conhecido no mundo inteiro, mas eu quero ter um campeão em campo, porque no fim, o que contam são os resultados, as apresentações e os gols.
A Itália é uma seleção que consegue sempre superar as expectativas.
Foi assim em 1982 e em 2006. Sente que são subestimados pelas outras seleções?
A história das Copas do Mundo é muito especial, porque em 82, a Itália partiu em silêncio, mas era um time muito sólido. Era um grupo que trabalhava junto há quatro anos, desde a Copa da Argentina em 78, um time de campeões, campeões em todos os sentidos, que souberam lidar com críticas rigorosas e souberam se superar. Venceram com muito mérito essa Copa, porque durante um mês trabalharam de forma perfeita. É isso que nós queremos fazer agora, encontrar sinergias e forças que, por vezes, pensamos de não ter, para dar apoio a esse grupo para que também eles possam se superar em momentos de dificuldade.
Se o Brasil tivesse vencido a Copa de 1982, acha que o futebol de hoje poderia ser diferente?
Brasil de Zico caiu para a Itália na Copa do Mundo de 1982 (Foto: Agência Getty Images)
Mas atualmente quais são as diferenças entre Itália e Brasil?
Existem quatro seleções que são tecnicamente superiores a todas as outras: Brasil, Espanha, Alemanha e Argentina. As restantes, como a Itália, devem trabalhar para encontrar uma boa condição no torneio e o momento adequado. Com boa condição física e uma boa estratégia de jogo, podemos evoluir tecnicamente.
O que é que mais admira na seleção do Brasil?
É um time com grande capacidade física, mas também com grandes habilidades técnicas. Eu aprecio muito o trabalho de Luiz Felipe Scolari porque, em poucos meses, deu uma alma, um estilo de jogo, mas sobretudo uma mentalidade ao time. Todos as seleções vão encontrar um time focado na vitória, mas com o objetivo de jogar bem, porque o Brasil atualmente pratica um ótimo futebol.
Qual o talento individual que mais admira do Brasil?
Thiago Silva. É um jogador que representa algo extraordinário na Itália, porque conseguiu desenvolver uma grande capacidade de organização defensiva e também no centro do campo. É um exemplo de jogador moderno, sabe cobrir todas as posições. Depois há outros jogadores com ótimas qualidades técnicas no Brasil, são todos jogadores de grande nível.
Outro elo entre a Itália e o Brasil são os jogadores brasileiros com passaporte italiano que já declararam o seu desejo em representar a Azzurra. O Brasil acabou de perder Diego Costa. Pode perder Jonathan e Jorginho por exemplo?
Os brasileiros não devem ficar preocupados, porque têm tantos, tantos jogadores que poderiam ser generosos e ajudar quem não tem as mesmas possibilidades. Sobre esses casos, eu fico muito contente por um jogador com dois passaportes pedir para vestir a camisa azzurra. Quer dizer que estamos transmitindo uma imagem bonita da nossa seleção e vamos refletir tecnicamente sobre esses casos. Ao nível burocrático é preciso muito tempo e por isso não sei se em pouco tempo podemos pensar de poder integrar estes jogadores.
Cesare Prandelli vai continuar no comando da seleção italiana após a Copa do Mundo independentemente do resultado da Copa?
Refletimos sobre o caminho futuro a seguir e o que me deixa muito orgulhoso é que, pela primeira vez, a seleção italiana não espera pelo resultado de um torneio para dar continuidade a um trabalho. Este é um atestado de grande estima pelo meu trabalho.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2014/03/prandelli-diz-que-brasil-e-obrigado-vencer-mas-ve-italia-como-em-1982.html
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