domingo, 30 de março de 2014

Prandelli diz que Brasil é obrigado a vencer, mas vê Itália como em 1982

Técnico afirma que Azzurra mereceu vitória na Espanha, não garante Balotelli na Copa e põe pressão em Felipão: 'Brasil tem obrigação de vencer e ser protagonista'


Por Florença, Itália


A era de Cesare Prandelli na seleção italiana começou em 2010, após a humilhante eliminação ainda na primeira fase da Copa do Mundo na África do Sul. Com o técnico no lugar de Marcello Lippi, a Azzurra trocou o esquema defensivo por uma formação mais ofensiva - 4-3-3 -, com Balotelli como único centroavante apoiado por um meio-campo de luxo formado por De Rossi, Pirlo e Marchisio. Os resultados apareceram com o vice na Eurocopa de 2012 e o terceiro lugar na Copa das Confederações de 2013. O ápice do projeto Prandelli é o Mundial no Brasil. Com um time maduro e sólido, a Itália enfrenta outras duas campeãs do mundo no Grupo D (Inglaterra e Uruguai, além da Costa Rica). Fã de Felipão e Thiago Silva, o treinador vê o Brasil com a obrigação de ser campeão em casa, demonstra preocupação com a fase de Balotelli e afirma que há semelhanças entre sua equipe e a geração vencedora de 1982.

- Estou convicto que não somos o melhor time, mas que podemos vencer os melhores - disse Prandelli em entrevista ao GloboEsporte.com, em Florença. 
Contagem regressiva: faltam 74 dias para o início da Copa do Mundo
 Como jogador, Prandelli nunca foi um craque. Como treinador, ele tem um currículo pouco recheado de títulos, mas seus times sempre jogaram um futebol atraente e consistente. Aos 57 anos, o ex-meia colecionou passagens por vários clubes italianos antes de assumir a Azzurra. Quando comandava a Fiorentina, Prandelli viveu um momento dramático com a morte da sua esposa, que faleceu em 2007 com uma doença terminal. A fé em Deus e a proximidade dos dois filhos o ajudaram a recuperar a alegria de viver e a força para voltar a amar. Hoje, o treinador italiano, vive em Florença com a nova namorada. Prandelli se assume como um homem de família e por isso permitiu que as famílias dos jogadores fiquem hospedadas no mesmo hotel que servirá de base da Azzurra, em Mangaratiba (RJ), durante a Copa.

Treino Itália Prandelli (Foto: AP)
Com Prandelli, Itália foi vice-campeã da 
Europa e ficou em terceiro na Copa das 
Confederações (Foto: AP)

Confira a entrevista completa:

GLOBOESPORTE.COM: Já esteve no Brasil durante a Copa das Confederações, o que achou do país?
Prandelli: Um país jovem, com vontade de crescer e muitas ideias. Gostei bastante. É um país muito grande de dimensões difíceis de imaginar para nós italianos e por isso será uma Copa muito cansativa.

A Itália teme novas manifestações durante a Copa?
Não, de maneira alguma estamos preocupados com isso. Nem nos assustam.

E por que a escolha do resort Portobello, em Mangaratiba, para a concentração?
Queríamos otimizar o tempo, não queríamos perder tempo em  deslocamentos de ônibus do hotel para o centro de treinos. Procuramos um lugar que nos desse a possibilidade de treinar e dormir no mesmo recinto. Acho que é o local ideal para preparar a Copa.

Itália ficará concentrada no Hotel Portobelo, em Mangaratiba (Foto: Divulgação)
Hotel Portobelo, em Mangaratiba, 
foi escolhido pela Itália como base 
durante a Copa do Mundo (Foto: 
Divulgação)

As famílias também ficarão no local, é verdade?
Sim, pela primeira vez, os familiares vão poder acompanhar os jogadores e a comissão técnica durante a Copa. Acredito que seja importante a presença das famílias e, sobretudo, das crianças para aliviar um pouco a pressão. 
Essa medida foi, de certa forma, influenciada pelo que aconteceu com jogadores da seleção espanhola durante a Copa das Confederações?
(risos) Não, de maneira alguma. Não é uma medida de precaução. É um desejo de estar com as esposas, os filhos, de conviver e passar bons momentos juntos. Estou confiante que a concentração dos jogadores vai aumentar com as famílias por perto.

Já decidiu se vai autorizar os seus jogadores a utilizarem as redes sociais na concentração?
Ainda não decidimos. Mas penso que nos 30 dias que poderemos estar no Brasil, aqueles que tiverem alguma coisa a dizer ou a comunicar, podem usar as coletivas de imprensa para fazer isso, até como forma de respeito pelos jornalistas que nos vão acompanhar.

Se pudesse convocar jogadores de outras seleções, como um armador, por exemplo, quem escolheria?

Buffon Itália (Foto: Getty Images)Buffon é um dos remanescentes da Copa do Mundo de 2006 na Azzurra (Foto: Getty Images)

É complicado para mim responder a essa pergunta, porque se o fizesse, estaria faltando com respeito aos meus jogadores. Quando falamos de seleção italiana, falamos de um grupo de muito respeito e profissionalismo. Estou convicto que não somos o melhor time, mas que podemos vencer os melhores.

Qual é o objetivo da Itália nesta Copa?
Vencer o grupo, alcançar as oitavas de final, porque estamos num dos grupos mais difíceis do torneio. Depois disso, é claro que todos os treinadores sonham vencer a Copa. 

A Itália se assume como candidata ao título?
Eu repito tantas vezes, a função do treinador também passa por transmitir otimismo ao time e por isso também devo sonhar. O Brasil sim tem obrigação de vencer e de ser protagonista desta Copa. Nós temos a obrigação de jogar bem. Se jogarmos bem, melhor do que os outros times, aí sim podemos pensar em vencer o Mundial. 

Neste momento é difícil imaginar a Azzurra sem Pirlo e Buffon. Campeões do mundo em 2006 ainda lideram este time. É um limite da Itália?
Um limite? Não. É um valor adicional. Já foram campeões do mundo, sabem como vencer e vão ajudar os restantes jogadores a vencer.

Além de Pirlo e Buffon, torcedores pedem a convocação de outros campeões do mundo, como Totti e Luca Toni. Eles têm chances?
Eu sempre disse que estamos observando todos e não fechamos as portas a ninguém. Mas temos de ter em conta sobretudo estes meninos que deram a oportunidade à Itália de se qualificar para a Copa. Vamos analisar estes casos com calma até à data da convocação.

Como analisa este momento crítico de Balotelli? Com o Milan ele não tem sido decisivo, perdeu a titularidade, mas com a seleção italiana sempre foi determinante.
É verdade. Nós também nos questionamos sobre isso. Com a gente, Mario sempre fez boas apresentações, pelo menos, sempre esteve dentro da partida. No campeonato, várias vezes, ele parece estar ausente. Esse é um motivo de preocupação, mas nós não conseguimos decifrar o motivo desta diferença. Agora, Mario deve respeito aos torcedores, dirigentes e à camisa do Milan. Na seleção, o seu comportamento sempre foi positivo. É verdade que está sendo muito criticado, mas cabe a ele sair dessa situação sozinho, demonstrando todos os dias o seu respeito pela camisa rossonera. Tem de trabalhar e só com vontade e empenho ele poderá melhorar a sua situação no Milan.

balotelli milan banco de resevas (Foto: Agência EFE)
Má fase de Balotelli no Milan deixa o 
técnico da seleção preocupado para o 
Mundial no Brasil (Foto: Agência EFE)

Está preocupado sobre como irá chegar Mario Balotelli aqui a Coverciano no fim de maio depois de uma temporada decepcionante?
Inicialmente, 30 jogadores serão convocados e vamos fazer testes físicos para avaliar o estado e a condição física dos atletas antes de anunciar a lista definitiva dos 23. Ninguém pode dar como certa esta convocação, todos devem merecer a vaga, e Mario também.

Quer dizer que Balotelli poderá ficar fora?
Não disse isso, disse apenas que todos devem chegar fisicamente prontos e isso significa que devem treinar bem diariamente com os seus clubes.

Os italianos justificam o comportamento de Balotelli com a sua idade. Mas com 23 anos, no futebol, já não é assim tão jovem. Será que não é o momento de assumir isso?
A Itália bateu o Brasil de forma justa e merecida em 1982"

Prandelli
 Já há algum tempo que paramos de falar que ele é jovem. Esperamos que ele assuma a responsabilidade do seu personagem. É um campeão midiático, conhecido no mundo inteiro, mas eu quero ter um campeão em campo, porque no fim, o que contam são os resultados, as apresentações e os gols.
A Itália é uma seleção que consegue sempre superar as expectativas.

Foi assim em 1982 e em 2006. Sente que são subestimados pelas outras seleções?
A história das Copas do Mundo é muito especial, porque em 82, a Itália partiu em silêncio, mas era um time muito sólido. Era um grupo que trabalhava junto há quatro anos, desde a Copa da Argentina em 78, um time de campeões, campeões em todos os sentidos, que souberam lidar com críticas rigorosas e souberam se superar. Venceram com muito mérito essa Copa, porque durante um mês trabalharam de forma perfeita. É isso que nós queremos fazer agora, encontrar sinergias e forças que, por vezes, pensamos de não ter, para dar apoio a esse grupo para que também eles possam se superar em momentos de dificuldade.

Se o Brasil tivesse vencido a Copa de 1982, acha que o futebol de hoje poderia ser diferente?

Zico, Copa 1982, Brasil x Itália (Foto: Agência Getty Images)Brasil de Zico caiu para a Itália na Copa do Mundo de 1982 (Foto: Agência Getty Images)

Não. A Itália bateu o Brasil de forma justa e merecida. Era uma equipe psicologicamente invencível e por isso marcou essa Copa. O futebol prossegue pela mesma estrada, não mudaria nada, porque cada time continuou propondo o futebol em que acredita e cada seleção deve trabalhar para agradar e dar alegrias à torcida.

Mas atualmente quais são as diferenças entre Itália e Brasil?
Existem quatro seleções que são tecnicamente superiores a todas as outras: Brasil, Espanha, Alemanha e Argentina. As restantes, como a Itália, devem trabalhar para encontrar uma boa condição no torneio e o momento adequado. Com boa condição física e uma boa estratégia de jogo, podemos evoluir tecnicamente. 

O que é que mais admira na seleção do Brasil?
É um time com grande capacidade física, mas também com grandes habilidades técnicas. Eu aprecio muito o trabalho de Luiz Felipe Scolari porque, em poucos meses, deu uma alma, um estilo de jogo, mas sobretudo uma mentalidade ao time. Todos as seleções vão encontrar um time focado na vitória, mas com o objetivo de jogar bem, porque o Brasil atualmente pratica um ótimo futebol.

Qual o talento individual que mais admira do Brasil?
Thiago Silva. É um jogador que representa algo extraordinário na  Itália, porque conseguiu desenvolver uma grande capacidade de organização defensiva e também no centro do campo. É um exemplo de jogador moderno, sabe cobrir todas as posições. Depois há outros jogadores com ótimas qualidades técnicas no Brasil, são todos jogadores de grande nível.
O Brasil sim tem obrigação de vencer e de ser protagonista desta Copa. Nós temos a obrigação de jogar bem"
Prandelli

Outro elo entre a Itália e o Brasil são os jogadores brasileiros com passaporte italiano que já declararam o seu desejo em representar a Azzurra. O Brasil acabou de perder Diego Costa. Pode perder Jonathan e Jorginho por exemplo?
Os brasileiros não devem ficar preocupados, porque têm tantos, tantos jogadores que poderiam ser generosos e ajudar quem não tem as mesmas possibilidades. Sobre esses casos, eu fico muito contente por um jogador com dois passaportes pedir para vestir a camisa azzurra. Quer dizer que estamos transmitindo uma imagem bonita da nossa seleção e vamos refletir tecnicamente sobre esses casos. Ao nível burocrático é preciso muito tempo e por isso não sei se em pouco tempo podemos pensar de poder integrar estes jogadores.

Cesare Prandelli vai continuar no comando da seleção italiana após a Copa do Mundo independentemente do resultado da Copa?
Refletimos sobre o caminho futuro a seguir e o que me deixa muito orgulhoso é que, pela primeira vez, a seleção italiana não espera pelo resultado de um torneio para dar continuidade a um trabalho. Este é um atestado de grande estima pelo meu trabalho.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2014/03/prandelli-diz-que-brasil-e-obrigado-vencer-mas-ve-italia-como-em-1982.html

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