sábado, 1 de fevereiro de 2014

Após desistir da aposentadoria, Índio 'lucra' com a crise e vira titular no Rio

Bisneto de uma índia, levantador se beneficia com saída do capitão Bruninho para o vôlei italiano, ganha moral com o chefe e vê sua vida mudar da água para o vinho

Por Rio de Janeiro

Quando Bruninho reuniu o elenco do Rio de Janeiro no vestiário do Tijuca Tênis Clube após um dia comum de treino e comunicou que estava de saída para o vôlei italiano, o pressentimento de Alexsandro Garcia Vicente foi ruim. Além de o atual campeão da Superliga masculina ficar sem seu líder, o reserva Índio perdia sua referência e maior conselheiro dentro de quadra. A ficha de que a vaga deixada pelo melhor levantador do mundo tinha acabado de cair no seu colo, e que sua vida mudaria completamente dali em diante, demorou um pouco a cair. Mais precisamente até a estreia como titular na derrota em casa para o Taubaté. Mesmo após um indigesto 3 a 0 goela abaixo, o substituto do capitão da seleção brasileira sabia que havia chegado sua vez e que era hora de transformar a crise financeira, após a saída da OGX como patrocinadora master da equipe carioca, na grande oportunidade de sua carreira.

Alexsandro ao lado do Brunho, sua referência no vôlei (Foto: Arquivo pessoal) 
Com a saída do capitão Bruninho, que deixou o 
Rio de Janeiro para jogar na Itália, o levantador 
Índio assumiu a responsabilidade de comandar o 
 atual campeão da Superliga dentro de quadra 
(Foto: Arquivo pessoal)

- Confesso que deu aquele friozinho na barriga e bateu aquela ansiedade até a primeira partida sem ele. Mas a ficha caiu assim que entrei em quadra, e percebi que dali para frente era comigo e que não tinha outro jeito. Sabia que minha responsabilidade iria dobrar. Mas o Bruninho conversou bastante comigo, me deu algumas dicas e me passou muita confiança. Ele foi muito importante nesse processo, afinal não estava substituindo qualquer um. É um desafio bom na carreira de qualquer jovem atleta. Minha vida mudou da água para o vinho - afirmou.   

Sabia que minha responsabilidade iria dobrar. Mas o Bruninho conversou bastante comigo, me deu algumas dicas e me passou muita confiança. Minha vida mudou da água para o vinho
Índio
 
Carreira que por muito pouco não chegou ao fim precocemente após a temporada 2012/2013, quando o jogador defendeu o extinto time de Pindamonhangaba, hoje Taubaté. Cansado da desgastante rotina de treinos, viagens e jogos, o levantador, que neste sábado comandará o Rio de Janeiro contra o Volta Redonda, às 20h, em Ilha de São João, pela 6ª rodada do segundo turno da Superliga masculina, voltou para o pequeno município de Matosinhos, a cerca de 40km de Belo Horizonte, e resolveu dar um tempo longe das quadras ao lado da família.

Convites para um retorno não faltaram, mas as dores no corpo e as incertezas em relação ao futuro fizeram o levantador de 23 anos manter de pé sua decisão de parar de jogar. Índio só não esperava que um inesperado telefonema do técnico Marcelo Fronckowiak fosse mudar seus planos e interromper seu descanso.

- Lembro que estava dormindo em casa quando o telefone tocou. Era o Marcelo (Fronckowiak) para dizer que o Guilherme tinha se machucado e que precisava de um reserva para o Bruninho. Não pensei duas vezes, e aceitei o desafio. Primeiro por ser um pedido dele, que foi meu treinador no Minas Tênis e é uma pessoa muito importante na minha carreira, e depois pela oportunidade de defender o atual campeão da Superliga num time repleto de craques da seleção brasileira - contou o levantador.

Mosaico Índio vôlei  (Foto: Editoria de Arte) 
Com a mesma personalidade que 
substituiu o capitão Bruninho no 
time do Rio de Janeiro, Índio 
mostra intimidade com seu 
violão e com a namorada 
Camila, ex-jogadora de 
vôlei do Minas Tênis e do 
Mackenzie (Foto: Editoria de Arte)
 
Se após a debandada dos medalhões o sonho do bicampeonato da Superliga ficou distante e foi "negociado" internamente por uma simples e honrosa classificação aos playoffs, o reconhecimento e a exposição no cenário nacional caminham a passos largos. De um mero desconhecido a titular do atual campeão brasileiro, Índio ainda está se acostumando com o assédio dos cariocas. Principalmente na Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, onde divide um apartamento com o oposto Bob e com o central campeão olímpico Rodrigão, dois dos reforços que permaneceram na equipe após a saída da OGX.


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Entre um mergulho na Praia da Barra e um simples passeio pelas ruas da sede dos Jogos Olímpicos de 2016, os pedidos para uma foto ou um autógrafo têm se multiplicado a cada  dia. Difícil agora tem sido encontrar uma brecha na agenda para conciliar a vida de "celebridade" instantânea com o pouco tempo livre fora das quadras para desbravar a Cidade Maravilhosa. Sempre sob o olhar atento da namorada Camila, que aproveitou uma folga na faculdade para visita o namorado no Rio de Janeiro. 
 
- Já avisei a ele que em breve pretendo vir morar no Rio, porque senão ele me enrola. Afinal, já estamos juntos há sete anos, né! - provocou a ex-jogadora de vôlei de 23 anos, com passagens pelo Minas Tênis e Mackenzie.

Evangélico e leitor voraz de autores bíblicos, o "point" preferido desse mineiro de Matosinhos é a Assembleia de Deus, no próprio bairro onde vive. Mas o hobbie que tem ocupado a maior parte do tempo do levantador quando ele não está em quadra com o time do Rio de Janeiro é dedilhar os acordes de seu violão. 

vôlei indio jogador do rio de janeiro (Foto: Marcello pires) 
Quando não está em quadra, o levantador Índio 
mostra intimidade com seu violão nas horas 
vagas (Foto: Marcello pires)
 
- Como meu avô tocava lá em Minas, eu tinha uma pequena noção e sempre quis aprender. Assim que cheguei no Rio fui presenteado com um violão pelo pai de um atleta do time juvenil do Tijuca que também frequenta a Assembleia de Deus. Me interessei tanto pelo assunto que acabei aprendendo sozinho pela internet e acho que toco bem. Outro dia fiz um luau para uns amigos lá em Itaipuaçú e pelo menos ninguém reclamou (risos) - disse Índio, que tem no seu repertório músicas gospels, evangélicas e sertanejas.

Descendência indígena não influenciou no apelido
Apesar de ser bisneto por parte de mãe de uma índia, o substituto de Bruninho afirma que curiosamente o apelido surgiu por acaso. Embora seus traços entreguem o parentesco distante, Alexsandro lembra que conviveu pouco com as tradições indígenas e sua única referência é a avó Lourdes, com quem o jogador morou a vida toda.

- Eu era pequeno quando minha bisavó morreu e convivi muito pouco com ela. Minha avó até manteve algumas tradições com orações e superstições indígenas por um tempo, mas com o nascimento dos netos esse ritual foi se perdendo - explicou o torcedor do Cruzeiro, que antes do vôlei arriscou uma bolinha por influência do pai Evaldo.

- Meu pai foi jogador do Vila Nova, de Belo Horizonte, e passou pela categorias de base do Fluminense, mas teve um problema nas costas e parou de jogar cedo. Eu joguei até os 12 anos, mas como jogador de futebol fui um grande levantador (risos).  


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2014/02/apos-desistir-da-aposentadoria-indio-lucra-com-crise-e-vira-titular-no-rio.html

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