Campeão mundial em 98, ex-volante elogia trabalho de Deschamps e evolução
dos Bleus, mas constata carência de um líder e crê em título brasileiro na Copa
Christian Karembeu durante passagem do Tour da Copa pela Argélia (Foto: Thiago Lima)
Ele evita comparações com sua geração, constata carência de um líder no elenco, diz que Zidane é insubstituível e que a equipe está abaixo de outras cinco seleções. Mas nada que o impeça de apostar numa revanche com os brasileiros na decisão, dependendo da posição de ambos no sorteio dos grupos no dia 6 de dezembro. Mesmo que isto custe a perda do título.
- Seria adorável se a França pudesse enfrentar o Brasil. (...) Eles são
os líderes, e para nós estar em campo contra o Brasil é um grande momento,
enfrentando o melhor time do mundo. (...) A gente ganhou na França, talvez
perca no Brasil... Pode ir para os pênaltis, não? (risos). Neste momento, o
Brasil venceria a final por causa de sua maturidade, todos os seus jogadores
disputam grandes campeonatos por grandes equipes - opinou o francês, com certa
dificuldade para admitir os brasileiros como favoritos numa eventual revanche.
Karembeu acompanha de longe sua seleção. O jogo da classificação, por
exemplo, foi visto da Argélia, na África. Embaixador da Fifa, o ex-volante está
viajando por alguns países com o "tour da taça" da Copa do Mundo. É
quando pode erguer novamente a taça, que só pode ser tocada por chefes de
estado ou campeões mundiais. E ele não esconde de ninguém a satisfação por
isso. Vale até beijo no troféu "à la Cafu", como o próprio brincou.
Em pouco mais de 30 minutos de bate-papo, ainda sobrou tempo para recordar
história da infância - antes de deixar a Nova Caledônia para se naturalizar
francês -, relembrar a traumática derrota do Brasil em 1998, alçar Gana como
candidata à surpresa do próximo Mundial e, amparado pelos títulos do Campeonato
Alemão, da Liga dos Campeões e da Supercopa Europeia, acreditar em Ribéry para
faturar o prêmio de melhor jogador da temporada.
Karembeu com a taça da Copa do Mundo
(Foto: Ted Craig / Coca-Cola)
Confira a entrevista completa:
Como é ser embaixador da Fifa e erguer o troféu novamente?
É um título mais importante para mim, um privilégio, me faz estar perto
do futebol novamente. E fazer as missões como embaixador é parte da paixão que
eu sempre tive pelo esporte, de ser parte dos programas da Fifa. Por causa deste
título, todos me recebem como um grande convidado. Todos sabemos que o futebol
é muito popular, e com a filosofia da Fifa todas as portas se abrem. Estou
muito orgulhoso por isso. A juventude precisa de direção, e tentamos dá-la
porque acreditamos em sonhos, esperanças e emoções.
Quando você ergue o troféu hoje, para você é a mesma emoção de quando
fez o gesto em 1998?
Eu diria que é a mesma emoção de quando eu era criança. Costumo dizer
que quando chego perto da taça, tem alguma energia que emana de dentro dela e
nos faz querer tocá-la novamente. Talvez Deus me deu esta sorte de conquistar o
troféu e, por isso, posso novamente erguê-lo. E quando você o tem nas mãos, faz
você acreditar: "Sim, talvez eu fiz algo incrível. Obrigado aos meus
companheiros pela chance de fazer parte desta vitória". Minha primeira
Copa do Mundo foi em 1986, eu tinha 15 anos. Meu pai comprou uma televisão, e
toda a família foi para minha casa. Eu não pude ver a tela porque havia muitas
pessoas, mais de cem em um quarto (risos). Via só um pedacinho, mas não a bola.
Sabia se era gol ou não pela reação do povo. Foi parte da minha história. Foi
Brasil contra França, e o jogo foi para os pênaltis. A França passou, e para
mim já foi uma final quando era criança. Eu me lembro bem do Zico e do Platini,
os dois camisas 10, perderem seus pênaltis. Foi muito difícil de entender. Mas
foi uma grande memória para mim e claro que adoro falar sobre o futebol
brasileiro, porque eu adoro, é muito eficiente. Quando criança gostava de dizer
que era Zico, Pelé, todos os grandes jogadores do Brasil. Nunca de um francês
(risos). Mas depois quando joguei na França tinha Marius Trésor, Platini, todos
queriam ser estes tipos de jogadores. Eu nunca soube que isso poderia
acontecer, então quando uma seleção como a França me convida para defendê-la,
eu tinha 15 anos. Fui para a França, fui educado como me tornar um jogador
profissional. E passo a passo, sacrifícios e esforços me deram muitos
compromissos e títulos.
O que acha da atual seleção francesa?
Hoje acho que temos um dos times mais talentosos da França. Você vê
Nasri, Benzema, Ribéry, Pogba, Matuidi, Varane, Sakho, Cabaye... Muitos grandes
talentos. Não temos a experiência e maturidade como time, mas ao menos
mostramos que podemos jogar. No último jogo por exemplo, da classificação,
jogamos um futebol incrivelmente eficiente, como o Brasil. Um controle, um
passe, um controle, um passe. Foi fácil e efetivo, um jogo completo. Eu não
imaginava que eles podiam jogar assim, estava esperando isso há muito tempo e
aconteceu agora. Antes, eu costumava dizer que não tínhamos um ritmo. Tínhamos
muitos talentos, mas o jogo era muito confuso, não jogavam como um time. Na
terça-feira foi uma vitória coletiva, e as individualidades apareceram. Nós
demos este passo, de ser um todo eficiente. Didier (Deschamps, técnico) é parte
disto, ele está tentando implementar sua filosofia: maior agressividade,
controle de bola, antecipação... Eles participam mais do jogo no campo de
ataque.
Leomar e Karembeu em lance do confronto entre Brasil e França (Foto: Getty Images)
Você enxerga alguma semelhança entre a França atual com a campeã do
mundo em 1998?
Talvez em algumas ações podemos ver semelhanças, mas só existe um
Zidane. Não é possível substituir o Zidane. Então não há semelhança nesse
ponto. Ele era o maestro da orquestra. Por um longo tempo nós não temos um
líder, agora talvez ele surja com as vitórias. Veremos, mas ainda é muito cedo.
Mas você acha necessário ter um líder?
Em qualquer time você precisa de um líder. Os clubes têm sempre um
líder. No Real Madrid é o (Cristiano) Ronaldo, no Barcelona é o Messi. E eles
têm o mesmo papel por suas seleções, como foi com Zidane, Didier, Desailly.
Antes teve Zico, Dunga, Pelé, Zagallo... Sempre tem um líder.
Quem é o mais próximo de ser um líder da atual geração francesa?
Acho que Frank Ribéry pode ser um, mas talvez seja demais para ele
carregar. Porém, se ele ganhar a bola de ouro, pode vir a se tornar este líder.
Vejo alguém, mas precisa jogar mais, como Cabaye. É um meia como Didier
Deschamps, carrega a bola, tem grande passe. Acho que o Didier encontrou seu
próprio espelho no Cabaye.
Acha que o Ribéry pode ganhar a bola de ouro este ano?
Messi este ano teve muitos problemas de lesão, como Ribéry já teve. A
gente esquece que o Ribéry teve conquistas e as lesões o deixaram fora da
relação. O foco é maior nos jogadores do Real Madrid, do Barcelona, porque é um
jogo muito ofensivo, o show está lá. Mas Ribéry ganhou tudo com o Bayer de
Munique, então... É possível.
Até onde a França pode chegar na Copa do Mundo de 2014?
Na final, contra o Brasil de novo (risos). Mas agora depende do sorteio,
não é? Seria adorável se a França pudesse enfrentar o Brasil. Não seria uma
revanche, mas parte da história (da colonização). Talvez seja bom para os
jogadores saberem que havia uma parte (das terras) ocupada pela França antes de
saírem e deixarem só os portugueses. É ainda uma grande oportunidade de
conhecer a cultura do Brasil. Eles são os líderes, e para nós estar em campo
contra o Brasil é um grande momento, enfrentando o melhor time do mundo.
No avião você comentou comigo sorrindo que o Brasil deve ganhar a Copa.
Foi brincadeira ou realmente acha o Brasil favorito?
Claro, nós ganhamos em casa em 1998. Eu sei que foi uma dor muito grande
para os brasileiros perder para o Uruguai em casa tempos atrás. Agora tudo
mudou. O Brasil é o líder de conquistas
da Copa do Mundo e tem mais estrelas do
que qualquer outra seleção. Por que eu disse aquilo? Pois o esporte, o futebol
é claro, fez o Brasil se unir após ditaduras e democracias. Eu sei que o
esporte deu esta oportunidade ao Brasil mais do que em qualquer parte do mundo.
A gente pode falar do Ayrton Senna na Fórmula-1, Zico, Pelé e Ronaldo no
futebol, grandes jogadores de basquete, de vôlei... O esporte é a cultura no
seu país, está na veia. Estou muito orgulhoso de ver isto, para mim é um
exemplo para todas as nações. E na última Copa das Confederações, vimos que o
público empurrou o Brasil para o título.
Christian Karembeu e Rivaldo em jogada da final da Copa
do Mundo de 1998, na França (Foto: Getty Images)
Mas se a final for Brasil e França?
Tem que perguntar ao Zico e ao Platini (risos). A gente ganhou na
França, talvez perca no Brasil... Pode ir para os pênaltis, não? (risos). Neste
momento, sim, o Brasil venceria a final por causa de sua maturidade, todos os
seus jogadores disputam grandes campeonatos por grandes equipes.
Quais são as três seleções mais fortes do momento?
Brasil, Itália, Alemanha, Espanha e Argentina. Você perguntou cinco?
Na verdade eram três (risos).
É porque estes cinco já ganharam uma Copa do Mundo. Depois viriam a França
e talvez a Inglaterra (risos). Mas se a gente falar de lógica, estes que já tem
uma Copa, como o Uruguai também, devem ser o próximo vencedor.
Estatisticamente, são sempre os mesmos: o Uruguai ganhou duas, a Argentina
duas, a Alemanha três ou quatro, como a Itália, e só uma para França e
Inglaterra. A não ser que alguém de fora surpreenda, que pode ser um time
africano como Gana, que já quase foi à semifinal (em 2010).
Sobre a final contra o Brasil em 1998, o resultado foi uma surpresa para
todos os brasileiros, que não entenderam o motivo de o time ter jogado tão mal.
O que acha que aconteceu com o Brasil naquela ocasião?
Todos nós sabíamos que se eles fossem para jogar, iriam nos matar. Então
a gente estudou cada ação, movimento dos brasileiros, e o técnico quando montou
o time determinou que antes de atacar tínhamos que proteger nosso gol. Tanto
que naquela Copa do Mundo terminamos com a melhor defesa (dois gols sofridos,
ao lado do Paraguai). Por exemplo, eu jogava com o Roberto Carlos e sabia como
ele se movimentava, o Zidane jogava com outro brasileiro, então ensinamos aos
companheiros como se resguardar. Bebeto, Rivaldo, tinham muitos com quem tomar
cuidado. Foi um grande desafio para a gente porque já estávamos na final e em
casa. As pessoas na França ficaram surpresas por termos chegado lá, mas
confiaram nas nossas habilidades. E no intervalo a gente zerou o placar.
Dizemos: "Vamos voltar para o 0 a 0, não podemos permitir perder a partida
porque sabemos que o Brasil pode reagir". Respeitávamos aquele time. E
outro fato foi a parte clínica do Ronaldo antes do jogo (o atacante teria
sentido problemas estomacais). Mas era o Ronaldo, precisávamos ter cuidado com
ele.FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/tour-da-taca/noticia/2013/11/karembeu-ve-franca-mais-talentosa-e-aposta-em-nova-final-contra-o-brasil.html
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