quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Karembeu vê França 'mais talentosa' e aposta em nova final contra o Brasil

Campeão mundial em 98, ex-volante elogia trabalho de Deschamps e evolução
dos Bleus, mas constata carência de um líder e crê em título brasileiro na Copa

Por Direto de Casablanca, Marrocos

Christian Karembeu Tour da Copa Argélia  (Foto: Thiago Lima)Christian Karembeu durante passagem do Tour da Copa pela Argélia (Foto: Thiago Lima)
 
Da suada classificação na repescagem para a final da Copa do Mundo de 2014. E contra o Brasil. Para Christian Karembeu, o salto é possível para a França "mais talentosa dos últimos tempos". Campeão mundial em 1998, o ex-volante dos Bleus viu no calvário francês durante as eliminatórias um processo de evolução do elogiado trabalho do técnico Didier Deschamps. O 3 a 0 sobre a Ucrânia na semana passada, que selou a sofrida vaga após perder o jogo de ida por 2 a 0, beirou a perfeição segundo o antigo companheiro de Roberto Carlos no espanhol Real Madrid. 

Ele evita comparações com sua geração, constata carência de um líder no elenco, diz que Zidane é insubstituível e que a equipe está abaixo de outras cinco seleções. Mas nada que o impeça de apostar numa revanche com os brasileiros na decisão, dependendo da posição de ambos no sorteio dos grupos no dia 6 de dezembro. Mesmo que isto custe a perda do título. 

- Seria adorável se a França pudesse enfrentar o Brasil. (...) Eles são os líderes, e para nós estar em campo contra o Brasil é um grande momento, enfrentando o melhor time do mundo. (...) A gente ganhou na França, talvez perca no Brasil... Pode ir para os pênaltis, não? (risos). Neste momento, o Brasil venceria a final por causa de sua maturidade, todos os seus jogadores disputam grandes campeonatos por grandes equipes - opinou o francês, com certa dificuldade para admitir os brasileiros como favoritos numa eventual revanche. 

Karembeu acompanha de longe sua seleção. O jogo da classificação, por exemplo, foi visto da Argélia, na África. Embaixador da Fifa, o ex-volante está viajando por alguns países com o "tour da taça" da Copa do Mundo. É quando pode erguer novamente a taça, que só pode ser tocada por chefes de estado ou campeões mundiais. E ele não esconde de ninguém a satisfação por isso. Vale até beijo no troféu "à la Cafu", como o próprio brincou. Em pouco mais de 30 minutos de bate-papo, ainda sobrou tempo para recordar história da infância - antes de deixar a Nova Caledônia para se naturalizar francês -, relembrar a traumática derrota do Brasil em 1998, alçar Gana como candidata à surpresa do próximo Mundial e, amparado pelos títulos do Campeonato Alemão, da Liga dos Campeões e da Supercopa Europeia, acreditar em Ribéry para faturar o prêmio de melhor jogador da temporada.

Karembeu com a taça da Copa, Tour da copa (Foto: Ted Craig / Coca-Cola) 
Karembeu com a taça da Copa do Mundo 
(Foto: Ted Craig / Coca-Cola)

Confira a entrevista completa:
Como é ser embaixador da Fifa e erguer o troféu novamente? 
É um título mais importante para mim, um privilégio, me faz estar perto do futebol novamente. E fazer as missões como embaixador é parte da paixão que eu sempre tive pelo esporte, de ser parte dos programas da Fifa. Por causa deste título, todos me recebem como um grande convidado. Todos sabemos que o futebol é muito popular, e com a filosofia da Fifa todas as portas se abrem. Estou muito orgulhoso por isso. A juventude precisa de direção, e tentamos dá-la porque acreditamos em sonhos, esperanças e emoções. 

Quando você ergue o troféu hoje, para você é a mesma emoção de quando fez o gesto em 1998?
Eu diria que é a mesma emoção de quando eu era criança. Costumo dizer que quando chego perto da taça, tem alguma energia que emana de dentro dela e nos faz querer tocá-la novamente. Talvez Deus me deu esta sorte de conquistar o troféu e, por isso, posso novamente erguê-lo. E quando você o tem nas mãos, faz você acreditar: "Sim, talvez eu fiz algo incrível. Obrigado aos meus companheiros pela chance de fazer parte desta vitória". Minha primeira Copa do Mundo foi em 1986, eu tinha 15 anos. Meu pai comprou uma televisão, e toda a família foi para minha casa. Eu não pude ver a tela porque havia muitas pessoas, mais de cem em um quarto (risos). Via só um pedacinho, mas não a bola. Sabia se era gol ou não pela reação do povo. Foi parte da minha história. Foi Brasil contra França, e o jogo foi para os pênaltis. A França passou, e para mim já foi uma final quando era criança. Eu me lembro bem do Zico e do Platini, os dois camisas 10, perderem seus pênaltis. Foi muito difícil de entender. Mas foi uma grande memória para mim e claro que adoro falar sobre o futebol brasileiro, porque eu adoro, é muito eficiente. Quando criança gostava de dizer que era Zico, Pelé, todos os grandes jogadores do Brasil. Nunca de um francês (risos). Mas depois quando joguei na França tinha Marius Trésor, Platini, todos queriam ser estes tipos de jogadores. Eu nunca soube que isso poderia acontecer, então quando uma seleção como a França me convida para defendê-la, eu tinha 15 anos. Fui para a França, fui educado como me tornar um jogador profissional. E passo a passo, sacrifícios e esforços me deram muitos compromissos e títulos. 

O que acha da atual seleção francesa?
Hoje acho que temos um dos times mais talentosos da França. Você vê Nasri, Benzema, Ribéry, Pogba, Matuidi, Varane, Sakho, Cabaye... Muitos grandes talentos. Não temos a experiência e maturidade como time, mas ao menos mostramos que podemos jogar. No último jogo por exemplo, da classificação, jogamos um futebol incrivelmente eficiente, como o Brasil. Um controle, um passe, um controle, um passe. Foi fácil e efetivo, um jogo completo. Eu não imaginava que eles podiam jogar assim, estava esperando isso há muito tempo e aconteceu agora. Antes, eu costumava dizer que não tínhamos um ritmo. Tínhamos muitos talentos, mas o jogo era muito confuso, não jogavam como um time. Na terça-feira foi uma vitória coletiva, e as individualidades apareceram. Nós demos este passo, de ser um todo eficiente. Didier (Deschamps, técnico) é parte disto, ele está tentando implementar sua filosofia: maior agressividade, controle de bola, antecipação... Eles participam mais do jogo no campo de ataque.

leomar Karembeu brasil x frança   (Foto: Getty Images)Leomar e Karembeu em lance do confronto entre Brasil e França (Foto: Getty Images)
 
Você enxerga alguma semelhança entre a França atual com a campeã do mundo em 1998? 
Talvez em algumas ações podemos ver semelhanças, mas só existe um Zidane. Não é possível substituir o Zidane. Então não há semelhança nesse ponto. Ele era o maestro da orquestra. Por um longo tempo nós não temos um líder, agora talvez ele surja com as vitórias. Veremos, mas ainda é muito cedo.
 
Mas você acha necessário ter um líder?
Em qualquer time você precisa de um líder. Os clubes têm sempre um líder. No Real Madrid é o (Cristiano) Ronaldo, no Barcelona é o Messi. E eles têm o mesmo papel por suas seleções, como foi com Zidane, Didier, Desailly. Antes teve Zico, Dunga, Pelé, Zagallo... Sempre tem um líder.
 
Quem é o mais próximo de ser um líder da atual geração francesa? 
Acho que Frank Ribéry pode ser um, mas talvez seja demais para ele carregar. Porém, se ele ganhar a bola de ouro, pode vir a se tornar este líder. Vejo alguém, mas precisa jogar mais, como Cabaye. É um meia como Didier Deschamps, carrega a bola, tem grande passe. Acho que o Didier encontrou seu próprio espelho no Cabaye. 

Acha que o Ribéry pode ganhar a bola de ouro este ano?
Messi este ano teve muitos problemas de lesão, como Ribéry já teve. A gente esquece que o Ribéry teve conquistas e as lesões o deixaram fora da relação. O foco é maior nos jogadores do Real Madrid, do Barcelona, porque é um jogo muito ofensivo, o show está lá. Mas Ribéry ganhou tudo com o Bayer de Munique, então... É possível. 

Até onde a França pode chegar na Copa do Mundo de 2014?
Na final, contra o Brasil de novo (risos). Mas agora depende do sorteio, não é? Seria adorável se a França pudesse enfrentar o Brasil. Não seria uma revanche, mas parte da história (da colonização). Talvez seja bom para os jogadores saberem que havia uma parte (das terras) ocupada pela França antes de saírem e deixarem só os portugueses. É ainda uma grande oportunidade de conhecer a cultura do Brasil. Eles são os líderes, e para nós estar em campo contra o Brasil é um grande momento, enfrentando o melhor time do mundo. 
 
No avião você comentou comigo sorrindo que o Brasil deve ganhar a Copa. Foi brincadeira ou realmente acha o Brasil favorito? 
Claro, nós ganhamos em casa em 1998. Eu sei que foi uma dor muito grande para os brasileiros perder para o Uruguai em casa tempos atrás. Agora tudo mudou. O Brasil é o líder de conquistas 
da Copa do Mundo e tem mais estrelas do que qualquer outra seleção. Por que eu disse aquilo? Pois o esporte, o futebol é claro, fez o Brasil se unir após ditaduras e democracias. Eu sei que o esporte deu esta oportunidade ao Brasil mais do que em qualquer parte do mundo. A gente pode falar do Ayrton Senna na Fórmula-1, Zico, Pelé e Ronaldo no futebol, grandes jogadores de basquete, de vôlei... O esporte é a cultura no seu país, está na veia. Estou muito orgulhoso de ver isto, para mim é um exemplo para todas as nações. E na última Copa das Confederações, vimos que o público empurrou o Brasil para o título.

Christian Karembeu of France goes in on Rivaldo of Brazil during the World Cup Final at the Stade de France in St Denis. France won 3-0.  (Foto: Getty Images) 
Christian Karembeu e Rivaldo em jogada da final da Copa 
do Mundo de 1998, na França (Foto: Getty Images)

Mas se a final for Brasil e França? 
Tem que perguntar ao Zico e ao Platini (risos). A gente ganhou na França, talvez perca no Brasil... Pode ir para os pênaltis, não? (risos). Neste momento, sim, o Brasil venceria a final por causa de sua maturidade, todos os seus jogadores disputam grandes campeonatos por grandes equipes.
 
Quais são as três seleções mais fortes do momento? 
Brasil, Itália, Alemanha, Espanha e Argentina. Você perguntou cinco?
Na verdade eram três (risos). 
É porque estes cinco já ganharam uma Copa do Mundo. Depois viriam a França e talvez a Inglaterra (risos). Mas se a gente falar de lógica, estes que já tem uma Copa, como o Uruguai também, devem ser o próximo vencedor. Estatisticamente, são sempre os mesmos: o Uruguai ganhou duas, a Argentina duas, a Alemanha três ou quatro, como a Itália, e só uma para França e Inglaterra. A não ser que alguém de fora surpreenda, que pode ser um time africano como Gana, que já quase foi à semifinal (em 2010).
Sobre a final contra o Brasil em 1998, o resultado foi uma surpresa para todos os brasileiros, que não entenderam o motivo de o time ter jogado tão mal. O que acha que aconteceu com o Brasil naquela ocasião? 
Todos nós sabíamos que se eles fossem para jogar, iriam nos matar. Então a gente estudou cada ação, movimento dos brasileiros, e o técnico quando montou o time determinou que antes de atacar tínhamos que proteger nosso gol. Tanto que naquela Copa do Mundo terminamos com a melhor defesa (dois gols sofridos, ao lado do Paraguai). Por exemplo, eu jogava com o Roberto Carlos e sabia como ele se movimentava, o Zidane jogava com outro brasileiro, então ensinamos aos companheiros como se resguardar. Bebeto, Rivaldo, tinham muitos com quem tomar cuidado. Foi um grande desafio para a gente porque já estávamos na final e em casa. As pessoas na França ficaram surpresas por termos chegado lá, mas confiaram nas nossas habilidades. E no intervalo a gente zerou o placar. Dizemos: "Vamos voltar para o 0 a 0, não podemos permitir perder a partida porque sabemos que o Brasil pode reagir". Respeitávamos aquele time. E outro fato foi a parte clínica do Ronaldo antes do jogo (o atacante teria sentido problemas estomacais). Mas era o Ronaldo, precisávamos ter cuidado com ele.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/tour-da-taca/noticia/2013/11/karembeu-ve-franca-mais-talentosa-e-aposta-em-nova-final-contra-o-brasil.html

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