quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Egípcios culpam crise do futebol no país por perder vaga na Copa de 2014

Povo lista prejuízo e pede volta do campeonato local, previsto para próximo dia 7

Por Direto de Cairo, Egito
Uma semana após a eliminação do Egito para Gana, na disputa por uma vaga na Copa do Mundo de 2014, a população do país ainda está engasgada com o assunto. Na capital Cairo, a opinião é unânime: a culpa de ver a seleção local amargar 24 anos longe do Mundial é da crise do futebol nacional (veja no vídeo acima). Desde a tragédia de Port Said, que deixou 72 mortos e 248 feridos em fevereiro de 2012, apenas seis meses de competição foram disputados nos últimos dois anos por questões de segurança. Para os egípcios, a falta de condicionamento físico devido à paralisação do torneio e a pressão da revolução política  - manifestações levaram ao fim do regime ditatorial de 30 anos de Hosni Mubarak e um ano depois fizeram o primeiro presidente eleito, Mohamed Morsi, ser deposto pelo exército - explica a queda nas eliminatórias africanas por 7 a 3 no placar agregado: 6 a 1 fora e 2 a 1 em casa.


Neste mês de novembro, os torcedores puderam voltar a ver futebol no Cairo, mas longe do Estádio Nacional, com 70 mil lugares. Por questões de segurança, as autoridades locais não autorizam grandes concentrações de pessoas na capital. Com isso, o estádio Arab Contractors, um dos menores do país com capacidade para 30 mil espectadores, foi o palco dos dois jogos na cidade: 2 a 1 da seleção sobre Gana e 2 a 0 do Al Ahly sobre o Orlando Pirates, da África do Sul, que deu o título de campeão africano para o time egípcio após empate por 1 a 1 na partida de ida.

De acordo com Gamal Raif, jornalista da revista "October Magazine" e diretor da "Dream TV", houve pequenos conflitos fora dos estádios nas duas ocasiões: por torcedores não conseguirem entrar no duelo entre clubes e por uma manifestação política ter acontecido simultaneamente ao confronto das seleções. Ele responsabiliza as torcidas organizadas pelos problemas e revela que o Campeonato Egípcio, antes previsto para começar no próximo sábado, teve sua data adiada para o dia 7 de dezembro.

- Todos os times estão preparados para isso. Espero que vá bem porque o último campeonato, no ano passado, foi interrompido por causa de uma nova revolução (contra o então presidente Mohamed Morsi). As torcidas organizadas, formadas por jovens, tiveram problema o tempo todo com exército e polícia porque eles não gostam de ser controlados, de seguir regras. Por isso o governo parou com os eventos futebolísticos. E esses torcedores apoiaram a segunda revolução porque o governo anterior queria controlá-los para dar segurança. Mas eles não entendem isso. 


Antes, a polícia não gostava de fazer a segurança dos jogos para não ter conflito com os torcedores. Agora o exército assumiu o controle. Todas as pessoas, da economia, da política, estão dando apoio para o campeonato voltar. Seria no dia 30, mas passou para o dia 7. No Egito, temos muitas pessoas trabalhando com esportes, especialmente o futebol. O turismo quebrou e agora tentamos consertar nossa imagem, mostrar que é seguro - afirmou Raif.



torcida al-ahly confusão tumulto egito (Foto: Agência AP) 
Torcedores do Al Ahly celebram veredicto no Cairo 
(Foto: Agência AP)

Os problemas de segurança, que levaram os jogos a serem realizados com portões fechados ou longe da torcida - o Al Ahly, por exemplo, fez sua campanha a mais de 400km da capital, em El-Gouna, junto ao Mar Vermelho - acarretaram numa crise financeira do esporte. Sem exposição da marca, os patrocinadores abandonaram as equipes, e Al Ahly e Zamalek foram considerados os campeões dos seus grupos sem jogar a fase final. Segundo o jornalista, a situação foi pior para os clubes de menor investimento do país e causará um impacto tão logo o campeonato retornar.


 - Sem campeonato não há dinheiro para os clubes. E os jogadores precisam receber, isso causou um grande problema. Os patrocinadores pararam de investir nos times e a economia do esporte caiu. Os pequenos clubes daqui têm bons jogadores e não querem vender. Mas agora eles não tem dinheiro. Já os clubes grandes ainda  têm um estoque e pegam esses jogadores.

O Egito disputou duas Copas do Mundo, ambas na Itália, quando acabou eliminado na primeira fase em 1934 e em 1990. Este ano, os torcedores se viram otimistas por voltar ao Mundial após a equipe vencer todos os jogos num grupo com Guiné, Moçambique e Zimbábue e somar o maior número de pontos da primeira fase. Porém, Raif disse que a goleada por 6 a 1 para Gana tirou todas as esperanças da população e lamentou pela atual geração egípcia não ter mais oportunidades de disputar o principal torneio de futebol do planeta.

- Nós sabíamos que não iríamos para a Copa do Mundo (após a goleada no jogo de ida para Gana). E nós estamos tristes porque jogadores como Aboutrika (35 anos), Mohamed Gedo (29 anos) e outras estrelas do Egito não terão mais tempo para jogar um Mundial, pois já estão com idade avançada. Acho que sempre tivemos má sorte nas eliminatórias - reclamou. 



Torcida Al ahly (Foto: Agência AP ) 
Torcida do Al Ahly pendurada no placar eletrônico 
do estádio (Foto: Agência AP )
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