sábado, 23 de fevereiro de 2013

De cerebral a salvador, D'Ale encara Gre-Nal 'diferente': 200 jogos no Inter


Meia estreou justamente em clássico de 2008. GLOBOESPORTE.COM reconta seus passos e traz depoimentos de personalidades coloradas

Por Tomás Hammes Porto Alegre

"D'Alessandro entrou para o rol dos jogadores mais importantes da história do Internacional". A frase vem do presidente Giovanni Luigi. Uma espécie de síntese definitiva e cheia de autoridade sobre o significado deste argentino de Buenos Aires, criado no bairro de La Paternal, mas que se enraizou em Porto Alegre. Neste domingo, quando entrar no gramado do Estádio Centenário para a disputa do Gre-Nal válido pelas quartas de final da Taça Piratini - primeiro turno do Gauchão - completará 200 jogos pelo clube gaúcho, de acordo com as estatísticas do próprio site colorado.

Justamente em um Gre-Nal, principal clássico do Rio Grande do Sul, embate que marcou sua estreia. E no qual costuma se dar bem. D’Ale já disputou 16 jogos contra o Grêmio. Venceu sete, empatou cinco e sofreu apenas quatro derrotas, tendo marcado seis gols (assista a todos os gols no clássico no vídeo acima). Detalhe: quando marcou, o Inter nunca perdeu. O retrospecto positivo foi um dos fatores que aumentaram sua representatividade, atesta o ex-presidente Fernando Carvalho, um dos responsáveis pela sua contratação em 2008.

- Ele atendeu tudo o que era esperado. Vai bem em Gre-Nal, é um jogador decisivo, que ganhou tudo e cresce no jogo importante.

A minha disposição é sempre a mesma. Só que Gre-Nal é diferente. Tive a sorte de ser um cara que faz gol em Gre-Nal, e, claro, marca tanto no clube quanto na cabeça do torcedor. Consegui fazer minha parte"
D'Ale sobre a fama em Gre-Nais

D'Ale também tem dificuldades em explicar o que ocorre no clássico. Não importa o momento, mesmo que passe por uma má fase técnica ou com problemas de lesão, ele se supera e consegue ter um papel destacado na equipe.

- A minha disposição é sempre a mesma. Só que Gre-Nal é diferente. Tive a sorte de ser um cara que faz gol em Gre-Nal, e, claro, marca tanto no clube quanto na cabeça do torcedor. Consegui fazer minha parte.

Contratação mais cara do clube - cerca de US$ 6 milhões - (com exceção de Oscar, que estava no Inter, mas o time pagou R$ 15 milhões para encerrar o imbróglio envolvendo o meia), talvez nem ele mesmo quando foi apresentado na sala de imprensa, naquele 31 de julho de 2008, planejasse permanecer tanto tempo no Beira-Rio. Ou ir tão bem. No domingo, completará 1638 dias de clube. Em sua quinta temporada, alcança o número histórico de 200 confrontos. História que El Cabezón já escreveu no Inter, com as conquistas da Libertadores (2010), Copa Sul-Americana (2008), Recopa (2011) e três Gauchões (2009, 2011 e 2012).
A competitividade e o foco de D'Ale

Fernando Carvalho é só elogios ao gringo. O ex-dirigente entende que o armador se adaptou ao estilo gaúcho de vida. Mas não só isso. Muitas vezes acusado de desagregador, D'Ale é visto como um grande profissional, que busca a excelência no desempenho e no crescimento do clube assim que vê a consistência no planejamento.

- Foi uma contratação exitosa. Das que eu participei, foi a de maior valor financeiro. É um dos profissionais mais corretos, focados, que, quando acredita no projeto, integra. Eu gosto muito dele. Já está há quase cinco anos no clube. É como a gente fala. Ele se aquerenciou.


D'Alessandro autografa camisa 200 de torcedor do Inter (Foto: Tomás Hammes / GLOBOESPORTE.COM)D'Alessandro autografa camisa 200 de torcedor do Inter (Foto: Tomás Hammes / GLOBOESPORTE.COM)

A idolatria a D'Ale não se restringe aos torcedores e dirigentes. Ela atinge até históricos jogadores do clube. Para o Príncipe Jajá, ex-meia colorado dos anos 70, o argentino está no olimpo dos principais atletas dos 103 anos de clube:

- O D’Alessandro está entre os grandes jogadores do Inter. Sem ele, o Inter não ganharia a Sul-Americana e o bi da Libertadores. Ele foi fundamental. É diferenciado, ele sempre tem uma carta na manga.

Grêmio, Estudiantes, São Paulo, Boca Juniors, Mazembe, Corinthians. Se o Inter jogou bem, o resultado passou por D’Alessandro. Se o Inter jogou mal, da mesma forma. A análise não sai de um simples torcedor. Quem atesta é Batista, volante, ex-companheiro de Jajá.

- O Inter se ressente bastante quando está sem ele ou quando o D’Alessandro não atua bem. É ele quem faz o time andar. É cerebral. Ele cai para os lados, aparece para receber, leva o jogo para os cantos. O D’Alessandro é o salvador.  Isso é o que ele representa para o Internacional.
Elogios do chefe e do grupo


D'Alessandro e Dunga conversam em separado (Foto: Diego Guichard)D'Alessandro e Dunga conversam em treino(Foto: Diego Guichard)

Após um 2012 turbulento, envolto em lesões, o camisa 10 parece ter se encontrado com a chegada de Dunga. Mantido como capitão, recuperou a motivação com o novo técnico e voltou a ser o protagonista que todos esperam. O chefe, aliás, o tem como homem de confiança e é todo elogios para o pupilo:

- Existe 10 como ele? O D’Alessandro é um jogador representativo. Ele é muito competitivo.

O atual grupo também rende elogios a D’Ale. O camisa 10 é, além de expoente técnico, a principal liderança no vestiário e tem o respeito de todos, tanto dos mais renomados, como os mais novatos. Fred, revelação colorada em 2012, não esconde a idolatria pelo companheiro:

- É um jogador muito importante para equipe. É o nosso capitão, o líder. Ele corre bastante, nos ajuda e sempre apoia quem chega. A gente aprende muito com o D’Ale.

Língua afiada


dalessandro internacional faixa do grêmio campeão  (Foto: Divulgação / Torcida Camisa 12)Após título do Gauchão em 2011, D'Ale mostra faixa criada para comemorar taça do Grêmio (Foto:Divulgação / 
Torcida Camisa 12)

D'Alessandro não é lembrado apenas pelo talento com os pés. As suas frases também ficam marcadas. Não perde uma oportunidade de alfinetar o rival. Mesmo após o revés para o Mazembe, em 2010, lembrou o período sem taças relevantes do Grêmio.

- Desde que cheguei a Porto Alegre, não vi o Grêmio ser campeão.
Após perder para o Corinthians no Brasileirão do ano passado, quando o Colorado passava por muitos problemas, D’Alessandro foi perguntado na saída de campo se achava que a equipe de Vanderlei Luxemburgo, que lutava pelo vice-campeonato, poderia golear na partida que marcaria a despedida do Estádio Olímpico (que segue recebendo jogos). Irritado com a pergunta, disparou:

- Eu fui goleado alguma vez em Gre-Nal!? Agora, por que falar que vai ser goleado? É a mídia que tem vontade disso.

Na conquista do Gauchão de 2011, em meio ao jantar do título sobre o Grêmio em pleno Olímpico – com um gol seu -, pegou uma faixa com os dizeres do rival campeão, levantou e posou para foto. Este enfrentamento, quando o time ainda era comandado por Paulo Roberto Falcão, também está reservado com carinho na memória do articulador. Após perder por 3 a 2 no Beira-Rio no jogo de ida, o Inter devolveu o placar e, nos pênaltis, fez 5 a 4, com atuação destacada do argentino, autor do terceiro gol no tempo normal.

- Poucas vezes se ganha um clássico fora de casa em uma final, como ocorreu no Gauchão de 2011. Ainda mais daquele jeito, perdendo o primeiro em casa, ficando com o título nos pênaltis, no campo do grande rival.


Internacional Taça de Campeão, D'alessandro (Foto: Wesley Santos / Futura Press)D'Ale provoca gremistas após mais um clássico (Foto: Wesley Santos / Futura Press)
Estreia em Gre-Nal anunciava predestinação

A estreia não poderia ser em outro jogo: um Gre-Nal. No dia 13 de agosto de 2009, o então camisa 15 debutava pelo clube em partida válida pela Copa Sul-Americana. Ainda carecendo de melhor entrosamento, teve um rendimento apenas discreto. Seria em outro Gre-Nal, entretanto, que comprovaria o acerto da contratação, a alegria dos colorados e o pavor dos gremistas. No dia 28 de setembro, foi o maestro da goleada sobre os rivais por 4 a 1, marcando um gol e participando dos outros três. O jogo é, para o gringo, um dos seus principais pelo Inter:


D'Ale no Inter
199 jogos 40 gols

Estreia
13/08/2008 - Inter 1x1 Grêmio

1º gol
14/09/2008 - Botafogo 1x2 Inter

Títulos
Copa Sul-Americana: 2008
Gauchão: 2009, 2011 e 2012
Libertadores: 2010
Recopa: 2011

- Eu lembro de quase todos os Gre-Nais, mas o dos 4 a 1 foi inesquecível. Fazer um gol, com minha família no campo, do jeito que se deu. É muito difícil ter um placar tão elástico em um clássico.
 
A coroação do primeiro ano viria na sequência, na Copa Sul-Americana. Com destaque para seu desempenho na vitória por 2 a 1 sobre o Boca Juniors em plena La Bombonera, pelas quartas de final. D’Ale foi o grande nome do jogo.

No dia seguinte ao duelo, o Olé, principal jornal esportivo argentino, estampou o ex-jogador do River Plate como o “Fantasma da Bombonera”.

Altos e baixos em 2009

Veio 2009 e a esperança de o Inter se reencontrar com um título nacional. Que bateu na trave duas vezes. Na Copa do Brasil, o Colorado perdeu para o Corinthians de Ronaldo. Após levar 2 a 0 no Pacaembu, empatou em 2 a 2 no Beira-Rio. Com a taça escapando, a cabeça de D’Ale esquentou. O argentino saiu correndo atrás do zagueiro Willian, com os punhos fechados, querendo briga. Acabou expulso.



D'Ale em Gre-Nais
16 jogos
7 vitórias
5 empates
4 derrotas
6 gols

Durante o Brasileirão, teve um desentendimento com Tite. Acabou colocado no banco de reservas, lugar que pouco visitou. O técnico foi demitido. Para o seu lugar, foi trazido Mário Sérgio, ex-ponta do Inter, campeão brasileiro em 1979, que, assim como D’Ale, era conhecido tanto pelo talento quanto pelo temperamento quente. A química entre os dois foi rápida. E, no Gre-Nal do dia 25 de outubro, voltou a deixar sua marca. Chutou de longe aos três minutos, e viu Victor, histórico freguês, falhar.

Em 2010, o Rei da América


D'Alessandro Inter meia (Foto: Tomás Hammes / GLOBOESPORTE.COM)D'Alessandro com o troféu de melhor da América (Foto: Tomás Hammes / GLOBOESPORTE.COM)

A taça nacional não veio. Assim como na Copa do Brasil, o segundo lugar. Mas, com ele, a vaga à Libertadores. E, nela, voltou a brilhar. Dividiu os louros da conquista com Giuliano. Na semifinal contra o São Paulo no Morumbi, cobrou a falta que acertou o calcanhar de Alecsandro e morreu no fundo da rede de Rogério Ceni.

Após deixar de lado o Brasileirão para privilegiar a preparação para o Mundial, o Inter acreditava que traçava o caminho rumo ao bi do planeta. Porém, os africanos do Mazembe terminaram com o sonho. A derrota por 2 a 0 na semifinal frustrou os colorados que estavam em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e os de Porto Alegre. Ainda mais por ver D’Ale sucumbir e não conseguir repetir a magia da Libertadores.
O fracasso no mundo árabe não diminuiu os feitos do gringo, que acabou eleito o melhor jogador da América naquela temporada pelo jornal uruguaio El País por suas atuações na Libertadores.

Gol em Gre-Nal coloca time na Libertadores
O ano de 2011 não foi tão brilhante quanto o primeiro semestre de 2010. Porém, não deixou de ter sua importância. D’Ale completou a tríplice coroa continental, com a conquista da Recopa sobre o Independiente.
O ponto alto viria na última rodada do Brasileirão. O Inter precisava vencer o Grêmio para garantir vaga à Libertadores. O jogo teve poucas alternativas de gol. Mas D’Ale, sempre ele, levava perigo a todo o momento ao gol de Victor. Acabou carimbando o passaporte do time ao marcar de pênalti.

China, protagonismo na decisão do Gauchão, lesões e lançamento da marca
D'Ale atendeu tudo o que se esperava. É um dos profissionais mais corretos, focados, que, quando acredita no projeto, integra. Eu gosto muito dele"
Fernando Carvalho, ex-presidente do Inter

A temporada de 2012 não foi toda para se esquecer. Mesmo sem estar na plenitude da forma, atuou no segundo tempo da final do Gauchão contra o Caxias e fez o Inter virar a partida para 2 a 1 e ficar com o troféu.

Porém, esta é uma das únicas lembranças que El Cabezón guarda do último ano. A outra foi a demonstração de paixão dos torcedores ao implorarem pela sua permanência no Beira-Rio. No início da temporada, o Shanghai Shenhua, da China fez uma proposta milionária que o balançou (ofereceu US$ 10 milhões por dois anos de contrato). Na estreia do Inter pela Libertadores, diante do Once Caldas, D’Ale, alçado a capitão, ouviu o apelo dos colorados que lotaram o Beira-Rio para que não deixasse o clube. E não terminou aí. Alguns fãs foram até o prédio onde o argentino mora e suplicaram para que não cedesse aos dólares no dia 18 de janeiro. Treze dias depois, após oficializar que seguiria no Inter, os fãs foram novamente à sua residência, desta vez para agradecer.

- Não tenho palavras para descrever aquilo. São coisas que o dinheiro não compra. Nunca pensei que teria isso. Foi algo diferente, impressionante. Tenho reconhecimento pelo que fiz no Inter. Nem tudo é dinheiro na vida.
D’Ale não conseguiu retribuir o carinho com atuações do mesmo nível. Sofreu com as lesões musculares, que só o permitiram atuar em 33 das 69 partidas no ano. No Gre-Nal que encerrou o Brasileirão, teve nova boa atuação, regendo o time que, mesmo com dois jogadores a menos em grande parte do segundo tempo, segurou o empate em 0 a 0 e colocou o Grêmio na primeira fase da Libertadores.

Antes do jogo, no dia 27 de novembro, D'Alessandro passou por um fato inusitado. O armador foi criticado por torcedores em um treinamento. O descontentamento vinha pela declaração que, se precisasse, "pularia da barca" (assista ao vídeo).

Ainda em 2012, o Inter lançou a marca "D'Ale 10". A linha com produtos licenciados do meia iniciou com a comercialização de chicletes e alfajores do argentino. No início desta temporada, chegaram ao mercado as camisetas. O diretor executivo de marketing do clube, Jorge Avancini, vibra com a aceitação do público:

- O "D'Ale 10" está indo muito bem. Teve uma grande entrada no ramo da alimentação. Agora a gente está trabalhando na parte do vestuário, que também está bem.
Bem como a relação de D'Ale com o clube, resumida por suas próprias e definitivas palavras:

- É muito difícil eu sair do Inter. Quando sair, será complicado. Hoje, eu sou colorado.

D'Alessandro meia Inter (Foto: Tomás Hammes / GLOBOESPORTE.COM)D'Alessandro, com a sua marca no Inter (Foto: Tomás Hammes / GLOBOESPORTE.COM)
 
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/internacional/noticia/2013/02/de-cerebral-salvador-dale-encara-gre-nal-diferente-200-jogos-no-inter.html

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