domingo, 21 de junho de 2015

Mundial Sub-20: sérvios fumantes, encontro no shopping e Fifa quieta

Bastidores do torneio têm entidade tentando distanciar torneio de escândalo, reunião inusitada e tensa entre brasileiros e uruguaios, e pulmões resistentes dos campeões



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Auckland, Nova Zelândia

 
Os dias que antecederam a final do Mundial Sub-20 foram curiosos. Todas as quatro seleções que chegaram a Auckland para a decisão e a disputa do terceiro lugar ficaram no mesmo hotel, no centro da cidade. Enquanto brasileiros e senegaleses pouco apareciam no saguão, malineses desfilavam sorridentes, e os sérvios fumavam. Exatamente: os garotos que seriam campeões não escondiam o nervosismo e apareciam em público com cigarros, sem qualquer tipo de repreensão por parte da delegação. Um traço da cultura de um país que há 20 anos esteve envolvido numa sangrenta guerra, mas que não prejudicou a seleção. 

Afinal, a Sérvia foi campeã disputando quatro prorrogações seguidas. Contra o Brasil, mesmo sem muito fôlego, soube dosar a energia e, num contra-ataque a dois minutos do fim, fez o gol da vitória por 2 a 1, que garantiu o título. Haja pulmão para aguentar tanta correria e tanta fumaça. 

- Quando acabou o tempo normal, comentamos entre nós que isso era o que sabíamos fazer melhor: jogar bem as prorrogações. É preciso estar preparado física e mentalmente – disse o técnico da Sérvia, Veljko Paunovic, após a vitória sobre o Brasil, exibindo orgulhoso o troféu, enquanto seus jogadores cantavam no ônibus. 

Brasil x Sérvia Mundial sub-20 - AP (Foto: AP)
Sérvios comemoram o título do Mundial 
Sub-20 (Foto: AP)


Provocações: sina brasileira

Apesar do vice-campeonato, a seleção brasileira tem motivos para deixar a Nova Zelândia de cabeça erguida. A opinião no elenco é que foi possível resgatar um pouco a imagem do futebol do país após o fracasso na Copa do Mundo em 2014. Mas os meninos sentiram na pele que o processo de reconstrução é longo. 

Jorge Brasil Uruguai Mundial Sub-20 (Foto: AP)Jorge passa por Pereiro na partida contra o Uruguai, pelas oitavas de final (Foto: AP)


Por duas vezes no Mundial, os garotos souberam reagir às provocações. O caso mais curioso foi contra o Uruguai. Quando as duas delegações chegaram a New Plymouth nos dias que antecederam o duelo pelas oitavas de final, os jogadores ganharam uma tarde de folga. Só que a cidade é pequena, com 70 mil habitantes e poucas opções de entretenimento. 

Resultado: alguns jogadores, de ambos os times, foram para o shopping – que fecha às 17h30. O encontro entre rivais foi inevitável, com troca de provocações entre os grupos. Melhor para o Brasil, que dominou o jogo, sofreu, mas garantiu a classificação nos pênaltis. 

Outro momento em que os jogadores se sentiram provocados foi na semifinal. Quando o técnico de Senegal, Joseph Koto, disse que o Brasil não era mais o mesmo dos tempos de Pelé, Ronaldinho ou Zico, os meninos se inflamaram. Viram a notícia poucas horas depois, mostraram entre eles e se motivaram. A resposta veio em campo: vitória por 5 a 0 e classificação para a final.

- A gente ficou sabendo. Assim que peguei o celular, vi no Facebook. Achei desnecessário. Ele (Koto) tem razão. Aqui na nossa equipe não tem mais Ronaldinho, Pelé e Zio, mas esse grupo é muito forte, cada um correndo pelo outro. Acho que ele deu mole de falar isso. Jogou a bola para eles. Eles entraram como favoritos, não respeitaram a gente – disse Gabriel Jesus na época. 


Mundial quieto: a Fifa agradece

Apesar do estádio lotado na decisão no estádio North Harbour, o Mundial Sub-20 esteve, em si, esvaziado. No entorno da seleção, por exemplo, pouquíssimos familiares viajaram para acompanhar de perto as atuações da equipe. Até os olheiros compareceram de maneira tímida; muitos preferiram acompanhar a competição por programas, em vez de ir à Nova Zelândia. Na primeira fase, os centros de imprensa estiveram vazios. Na véspera da final, por exemplo, foram canceladas as tradicionais entrevistas coletivas, por falta de quórum de jornalistas.

Centro de mídia New Plymouth (Foto: Felipe Schmidt)
Centro de mídia em New Plymouth: poucos 
jornalistas acompanharam o Mundial 
(Foto: Felipe Schmidt)


O entorno mais tranquilo, talvez, tenha sido um fator determinante na campanha da seleção. Sem a presença maciça de empresários, poucas especulações surgiram: Danilo interessaria a Monaco e Juventus; Alef entrou na mira do Benfica; Marlon faria parte do pacote que o Barcelona está fechando com o Fluminense. O ambiente também esteve bom, e os jogadores sempre enfatizaram a união do grupo ao longo do torneio. 

Por outro lado, o clima no Mundial nem sempre foi tranquilo. A competição começou justamente na semana em que o escândalo da Fifa explodiu. Perguntas sobre o assunto foram proibidas nas entrevistas coletivas; assessores da entidade não mostraram muita disposição para atender pedidos relativos ao tema. Joseph Blatter, futuro-ex-presidente, desistiu de viajar à Nova Zelândia para prestigiar a final do torneio. 


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