Bastidores do torneio têm entidade tentando distanciar torneio de escândalo, reunião inusitada e tensa entre brasileiros e uruguaios, e pulmões resistentes dos campeões
Os dias que antecederam a final do Mundial Sub-20 foram
curiosos. Todas as quatro seleções que chegaram a Auckland para a decisão e a
disputa do terceiro lugar ficaram no mesmo hotel, no centro da cidade. Enquanto
brasileiros e senegaleses pouco apareciam no saguão, malineses desfilavam sorridentes, e
os sérvios fumavam. Exatamente: os garotos que seriam campeões não escondiam o
nervosismo e apareciam em público com cigarros, sem qualquer tipo de repreensão
por parte da delegação. Um traço da cultura de um país que há 20 anos esteve
envolvido numa sangrenta guerra, mas que não prejudicou a seleção.
Afinal, a Sérvia foi campeã disputando quatro prorrogações
seguidas. Contra o Brasil, mesmo sem muito fôlego, soube dosar a energia e, num
contra-ataque a dois minutos do fim, fez o gol da vitória por 2 a 1, que
garantiu o título. Haja pulmão para aguentar tanta correria e tanta fumaça.
- Quando acabou o tempo normal, comentamos entre nós que
isso era o que sabíamos fazer melhor: jogar bem as prorrogações. É preciso estar
preparado física e mentalmente – disse o técnico da Sérvia, Veljko Paunovic,
após a vitória sobre o Brasil, exibindo orgulhoso o troféu, enquanto seus jogadores cantavam no ônibus.
Sérvios comemoram o título do Mundial
Sub-20 (Foto: AP)
Provocações: sina brasileira
Apesar do vice-campeonato, a seleção brasileira tem motivos
para deixar a Nova Zelândia de cabeça erguida. A opinião no elenco é que foi
possível resgatar um pouco a imagem do futebol do país após o fracasso na Copa
do Mundo em 2014. Mas os meninos sentiram na pele que o processo de
reconstrução é longo.
Jorge passa por Pereiro na partida contra o Uruguai, pelas oitavas de final (Foto: AP)
Por duas vezes no Mundial, os garotos souberam reagir às
provocações. O caso mais curioso foi contra o Uruguai. Quando as duas
delegações chegaram a New Plymouth nos dias que antecederam o duelo pelas
oitavas de final, os jogadores ganharam uma tarde de folga. Só que a cidade é
pequena, com 70 mil habitantes e poucas opções de entretenimento.
Resultado: alguns jogadores, de ambos os times, foram para o shopping – que fecha às 17h30.
O encontro entre rivais foi inevitável, com troca de provocações entre os
grupos. Melhor para o Brasil, que dominou o jogo, sofreu, mas garantiu a
classificação nos pênaltis.
Outro momento em que os jogadores se sentiram provocados foi
na semifinal. Quando o técnico de Senegal, Joseph Koto, disse que o Brasil não
era mais o mesmo dos tempos de Pelé, Ronaldinho ou Zico, os meninos se
inflamaram. Viram a notícia poucas horas depois, mostraram entre eles e se
motivaram. A resposta veio em campo: vitória por 5 a 0 e classificação para a
final.
- A gente ficou sabendo. Assim que peguei o celular, vi no
Facebook. Achei desnecessário. Ele (Koto) tem razão. Aqui na nossa equipe não
tem mais Ronaldinho, Pelé e Zio, mas esse grupo é muito forte, cada um correndo
pelo outro. Acho que ele deu mole de falar isso. Jogou a bola para eles. Eles
entraram como favoritos, não respeitaram a gente – disse Gabriel Jesus na
época.
Mundial quieto: a Fifa agradece
Apesar
do estádio lotado na decisão no estádio North
Harbour, o Mundial Sub-20 esteve, em si, esvaziado. No entorno da
seleção, por
exemplo, pouquíssimos familiares viajaram para acompanhar de perto as
atuações
da equipe. Até os olheiros compareceram de maneira tímida; muitos
preferiram
acompanhar a competição por programas, em vez de ir à Nova Zelândia. Na
primeira fase, os centros de imprensa estiveram vazios. Na véspera da
final, por exemplo, foram canceladas as tradicionais entrevistas
coletivas, por falta de quórum de jornalistas.
Centro de mídia em New Plymouth: poucos
jornalistas acompanharam o Mundial
(Foto: Felipe Schmidt)
O entorno mais tranquilo, talvez, tenha sido um fator
determinante na campanha da seleção. Sem a presença maciça de empresários,
poucas especulações surgiram: Danilo interessaria a Monaco e Juventus; Alef
entrou na mira do Benfica; Marlon faria parte do pacote que o Barcelona está
fechando com o Fluminense. O ambiente também esteve bom, e os jogadores sempre
enfatizaram a união do grupo ao longo do torneio.
Por outro lado, o clima no Mundial nem sempre foi tranquilo.
A competição começou justamente na semana em que o escândalo da Fifa explodiu.
Perguntas sobre o assunto foram proibidas nas entrevistas coletivas; assessores
da entidade não mostraram muita disposição para atender pedidos relativos ao
tema. Joseph Blatter, futuro-ex-presidente, desistiu de viajar à Nova Zelândia
para prestigiar a final do torneio.
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