Muricy não se sente respaldado por Aidar e desconfia da legitimidade de manifestação de organizada, enquanto Ataíde Gil Guerreiro tenta blindar o elenco
Muricy e Aidar (ao centro) estão estremecidos;
Ataíde (à direita) tenta controlar (Foto:
Rubens Chiri/saopaulofc.net )
Dentro de
campo, o São Paulo não demonstra padrão de jogo, fracassou em confrontos
importantes e, com apenas 13 partidas disputadas em 2015, já é muito
questionado. Fora de campo, a comissão técnica não se sente respaldada pelo
presidente do clube, que também não está satisfeito com o trabalho do treinador.
Nas
arquibancadas, cada vez menos torcida – na vitória sobre o São Bento, por 1
a 0, na última quinta-feira, apenas 4.507 pessoas testemunharam a partida. Antes
da partida, protestos contra os preços dos ingressos – o que demonstra que há
também crise entre torcedores e dirigentes.
Esse é o ambiente
que o São Paulo vive a menos de uma semana da sua primeira grande decisão na
temporada, contra o San Lorenzo, pela Taça Libertadores, quarta que vem, no
Morumbi. Se não vencer, o Tricolor se complica na classificação do Grupo 2 da competição continental.
Apesar da
nota oficial garantindo que a diretoria não pensa em demitir Muricy Ramalho,
divulgada na última sexta-feira, a verdade é que o técnico e o presidente
Carlos Miguel Aidar vivem em atrito há tempos. O dirigente já fez cobranças
públicas ao treinador. Internamente, o cartola reclama da inoperância de Muricy,
principalmente porque todos os pedidos de reforços feitos pelo técnico foram
atendidos, mesmo com a dificuldade financeira enfrentada pela diminuição das
receitas. Como consequência, desde abril do ano passado, quando Aidar assumiu o
comando do clube, houve dois atrasos em pagamentos de direitos de imagem dos
atletas.
Muricy por sua vez, é
direto: se não está agradando, que o demitam. O que o treinador não aceita é o
que ele chama de “pressão de dentro para fora”, ou seja, articulada por pessoas
do clube. Por isso, o claro recado dado na entrevista coletiva após o
jogo contra o São Bento.
– Ninguém chega a mim e pressiona.
Tem de ter coragem e ser forte para me peitar – afirmou.
Na novela em
que se transformou essa relação conflituosa, apareceu uma personagem nova: a
torcida organizada. No jogo contra o São Bento, foram criticados o vice de
futebol, Ataíde Gil Guerreiro, o gerente Gustavo Vieira de Oliveira, alguns
jogadores e Muricy Ramalho. Somente o presidente Carlos Miguel Aidar foi
poupado das críticas. O treinador não comenta abertamente, mas desconfia que as
manifestações foram “orientadas”.
Morumbi recebeu apenas 4.507 pessoas na
última quinta, contra o São Bento
(Foto: Marcos Ribolli)
– Aconteceram fatos neste ano que
não estão iguais ao ano passado. Está diferente. Isso não é bom e tira a
tranquilidade. Temos
de estar mais unidos e juntos. Não adianta separar. Estamos muito divididos.
Não podemos esconder – disse.
No Morumbi,
os insatisfeitos com Muricy alegam que ele está usando essa questão dos
protestos para desviar o foco e não falar sobre o fraco rendimento da
equipe, que tem uma vitória e uma derrota na Taça Libertadores e faz campanha
tranquila na primeira fase do Campeonato Paulista, mas sem brilho. Para piorar,
o grupo deixou a desejar nos jogos mais complicados que disputou no ano: perdeu
os dois clássicos que disputou com o Corinthians (0 x 2 e 0 x 1) e empatou sem
gols com o Santos. Um dirigentes que é contra a permanência de Muricy,
em conversa com o GloboEsporte.com, chegou a chamar treinador de marqueteiro.
Enquanto
tudo
isso acontece, o vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, faz o
que pode para blindar o elenco da turbulência nos bastidores. É nele que
os
jogadores e Muricy confiam. Foi de
Ataíde a ordem para transferir o treino da véspera do clássico contra o
Corinthians, disputado no último domingo, do CT da Barra Funda para o
Morumbi.
Isso porque a torcida organizada já havia organizado um protesto no CT.
Na
última hora, porém, o treino no estádio, que era fechado, foi aberto, e
oito ônibus com torcedores organizados seguiram para o local, o que
deixou Muricy ainda mais irritado. Não se sabe de quem partiu a ordem
para abrir o Morumbi aos torcedores, mas a tentativa de Ataíde acabou
frustrada
– o dirigente virou um dos alvos dos uniformizados.
Apesar de
tanta confusão, nada mudará na comissão técnica até o decisivo clássico contra
o Corinthians, no dia 22 de abril, pela Libertadores. O resultado determinará a
sequência dos acontecimentos. Mas, com Aidar no poder, diminui muito a
chance de Muricy Ramalho renovar seu contrato, que vence em 31 de dezembro.
Torcedors protestaram contra preços dos
ingressos na última quinta (Foto: Marcos Ribolli)
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