Ministro do Esporte fala sobre repercussão dos protestos, excessos da polícia, gastos com o Mundial e relação com Fifa após 'chute no traseiro'
Aldo Rebelo não esconde que o Brasil atravessa um momento delicado com a
onda de protestos que se espalhou pelas ruas durante a Copa das
Confederações. Mas não crê que a repercussão internacional das
manifestações atrapalhará a imagem do país no exterior ou a realização
do evento. Para o ministro do Esporte, a Fifa não encontraria lugar
melhor para realizar a Copa do Mundo de 2014. Ainda que admita excessos
da Polícia Militar e de manifestantes, e que se esforce para esclarecer a
diferença entre gastos com o Mundial e investimentos que não
dependeriam da realização do evento e foram apenas adiantados, ele
afirma que a maior preocupação agora é com a entrega no prazo dos
estádios restantes para a competição do ano que vem e não vê
possibilidade de uma situação semelhante à do Engenhão, no Rio, se
repetir.
Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, Rebelo explica os motivos
do aumento dos valores na matriz de responsabilidade da Copa (10% nos
últimos três meses, passando de R$ 25,5 bilhões para R$ 28,1 bilhões) e
de o governo oferecer benefícios fiscais para que o evento seja
realizado. O ministro não crê que haverá impacto no turismo para o
Mundial por causa dos protestos, mas pensa em nova estratégia de
comunicação para levar informação com mais clareza à população sobre os
custos do evento.
Sobre a repercussão internacional das cenas de violência por parte da polícia e de manifestantes, opinou:
- A violência é sempre um fenômeno presente nas manifestações sociais em todo o mundo. No Brasil, nós precisamos ao mesmo tempo enfrentar, dentro da lei e do que a Constituição determina, o direito da livre manifestação das ideias e preservar o interesse das pessoas contra o exagero ou a violência de setores de manifestantes. O próprio governador Geraldo Alckmin admitiu a existência de excessos no caso da repressão à violência das manifestações de São Paulo. O próprio governador do Rio de Janeiro também admitiu. E naturalmente esses exageros serão apurados sem prejuízo do trabalho da polícia naquilo que lhe compete.
Confira a íntegra da entrevista do ministro do Esporte, Aldo Rebelo:
GLOBOESPORTE.COM: A Copa das Confederações começou com vaias à Dilma e no desenrolar da competição, esse crescimento da onda de protestos pelo país. Qual o impacto disso para o evento e para a imagem que o Brasil esperava transmitir com a realização desse evento?
ALDO REBELO: Creio que as manifestações não afetam a imagem do Brasil. Nós projetamos a imagem de um país democrático, que pode conviver com essas manifestações, respeitar, impedir os atos de violência, de depredação, de ameaça à integridade física das pessoas ou do patrimônio, e ao mesmo tempo organizar um evento de grande importância como a Copa das Confederações. São insatisfações acumuladas, não necessariamente dirigidas contra o evento, o governo, o prefeito, o governador, são manifestações que têm sua origem em insatisfações da população em relação aos serviços públicos, saúde, educação, transporte, segurança. A nossa habilidade é conviver com isso, assegurando o direito dos manifestantes e garantindo a realização dos eventos.
Houve uma grande repercussão internacional sobre essa questão da violência, não apenas por grupos de manifestantes, mas também por parte da Polícia Militar. Até que ponto isso arranha a imagem do governo e do Brasil no exterior?
A violência é sempre um fenômeno presente nas manifestações sociais em
todo o mundo. Vivemos, não faz muito tempo, um ciclo de grande violência
na periferia de Londres. A cidade foi praticamente submetida a uma
rebelião da sua população mais jovem, com cenas de violência,
incêndios... A mesma coisa aconteceu em Paris, não faz muito tempo, e
essas manifestações que têm ocorrido no Egito, na Turquia, na Sìria...
No Brasil, nós precisamos ao mesmo tempo enfrentar, dentro da lei e do
que a Constituição determina, o direito da livre manifestação das ideias
e, ao mesmo tempo, preservar o interesse das pessoas contra o exagero
ou a violência de setores de manifestantes.
Mas houve excesso por parte da polícia?
O próprio governador Geraldo Alckmin admitiu a existência de excessos no caso da repressão à violência das manifestações de São Paulo. O próprio governador do Rio de Janeiro também admitiu. E naturalmente esses exageros serão apurados sem prejuízo do trabalho da polícia naquilo que lhe compete.
Houve uma declaração de um tenente-coronel em Belo Horizonte afirmando que a política agora seria de tolerância zero nas manifestações. O senhor tomou conhecimento dessa declaração?
Sim, eu vi a declaração publicada pelos jornais. A manifestação do policial de Minas não é em relação às manifestações, mas em relação à violência. Ele procura destacar que as manifestações pacíficas são até protegidas, como devem ser, pelas forças de segurança. Mas os atos de violência, depredação do patrimônio público, o saque de lojas, agressão contra pessoas, incêndio de automóveis, não pode e não deve ser tolerado em benefício das próprias manifestações pacíficas, para não serem confundidas com esse tipo de ato.
O senhor acredita que esses protestos vão trazer um impacto grande no turismo para a Copa do Mundo? As projeções terão de ser refeitas diante desse novo quadro?
Eu não creio que haja nenhum prejuízo para a presença dos turistas no Brasil. Não creio que tenham havido grandes cancelamentos de visitas a Londres e a Paris por conta daquelas manifestações violentas. Acho que um ou outro pode transferir, remarcar, mas quase a totalidade manterá a viagem, a visita, mesmo com essas demonstrações que nós testemunhamos.
A Fifa já afirmou algumas vezes que não há plano B, não há possibilidade de tirar a Copa do Brasil, mas obviamente houve esse receio e, por isso, o questionamento. Esse temor chegou ao Planalto em algum momento?
Não, não tememos porque o governo procurou fazer a sua parte. Promover a garantia da realização das manifestações e também a proteção de todas as pessoas que foram participar dos jogos da Copa das Confederações. Proteger as delegações, atletas, jornalistas, turistas, e acho que o mundo inteiro pôde acompanhar esse esforço. Além disso, não creio que a Fifa tenha um lugar melhor para realizar a Copa do Mundo. É o país do futebol, o único a participar de todas as Copas, o único a vencer a Copa cinco vezes, tem o maior artilheiro das Copas, revela os maiores astros do futebol mundial...
Durante o "briefing" da Fifa, o senhor e secretário-executivo
do ministério, Luís Fernandes, apresentaram novos números atualizados da
matriz de responsabilidades da Copa. Esses números mostram um
crescimento de 10% nos últimos 3 meses e 40% desde 2010 nos
investimentos. O que explica esse aumento? Por que os números originais
não são mantidos?
São alterações no que chamamos de matriz de responsabilidade, porque as obras relacionadas com a Copa estão divididas em duas categorias. A primeira abrange as obras ligadas aos encargos que o governo assinou com a Fifa, às obrigações do país candidato: as obras nos estádios, as obras que ligam os estádios ao setor hoteleiro e aos aeroportos. As outras obras são as obras da chamada matriz de responsabilidade, não são obrigações que assumimos com a Fifa. São obrigações assumidas pelo governo federal, pelas prefeituras das cidades-sede, pelos governos estaduais das sedes, antecipando obras em sua maioria do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), obras que já estavam previstas independente de Copa ou de Olimpíada. Seriam realizadas com Copa no Brasil ou não. São obras de mobilidade urbana, para melhorar o tráfego, os portos, os aeroportos, as vias de acesso. Mas essa matriz sofre alterações. Por quê? Porque para estar na matriz de responsabilidade, a obra tem ficar pronta até a Copa do Mundo. Do contrário, ela sai e volta para o PAC. Será entregue fora desse prazo. Mas outras obras também entram na matriz de responsabilidade. Agora mesmo, por exempolo, introduzimos uma série de obras da orla de Salvador, a pedido da Prefeitura de Salvador. E, naturalmente, incluindo novas obras, você altera o valor total da matriz de responsabilidade.
Depois do "chute no traseiro", como é a sua relação hoje com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke?
O governo cuida do interesse público e nacional. A Copa do Mundo traz grandes benefícios para o país. As consultorias apontaram, em trabalho sobre o impacto da Copa no Brasil, que poderão ser gerados 3.6 milhões de empregos. Pode gerar investimentos da ordem de R$ 3,40 do setor privado para cada R$ 1 de investimento público. Aumentar a arrecadação do país, promover a ampliação da renda no Brasil. Esse é o interesse público na Copa do Mundo, emprego, renda, melhoria da infra-estrutura, da segurança pública, das telecomunicações e da mobilidade urbana. Além disso, o país terá uma promoção das suas cidades em todo o mundo a um custo muito inferior ao que pagaríamos sem a Copa. A Fifa cuida naturalmente da parte técnica, do evento e dos interesses dos seus patrocinadores. Nós procuramos trabalhar em cooperação e quando há divergências, diferenças, o governo defende o interesse nacional e procura fazer com que isso prevaleça. Mas é uma relação que tem de ser de cooperação, não tem sentido fazer uma Copa do Mundo com o governo em guerra com os organizadores ou patrocinadores.
Quais são os ajustes que deverão ser feitos para a Copa do Mundo? O que já foi possível detectar que terá de ser melhorado?
A primeira preocupação naturalmente é cumprir o prazo de entrega dos estádios, o que nós não conseguimos na Copa das Confederações. Apenas Fortaleza e Belo Horizonte entregaram dentro do prazo que era dezembro de 2012. Alguns foram entregues um pouco depois e outros muito depois do prazo estabelecido. Quando você entrega fora do prazo, você prejudica os eventos-teste e o esforço para conferir cada uma das operações no estádio. Então acho que houve um prejuízo por conta desse atraso que precisamos corrigir. Houve também um problema ou outro na mobilidade urbana, no Recife houve um registro de lentidão na operação do metrô, que não é responsabilidade do governo estadual, é de uma empresa da União, e precisamos aperfeiçoar. A Copa das Confederações ajuda nesse aspecto.
O senhor deixou em aberto a possibilidade de adotar uma nova estratégia para levar uma informação mais clara sobre os investimentos para o povo?
Tenho feito um esforço de transmitir essas informações, de mostrar que não há propriamente gasto com a Copa, que é um empreendimento essencialmente privado. Incentivos que são concedidos levam em conta o interesse público. Como, por exemplo, o incentivo à indústria automobilística, que nos últimos anos foi de R$ 27 bilhões. Por que essa renúncia fiscal? Para manter 27, 28 mil empregos. Se o governo não fizesse isso, esses empregos seriam perdidos para a indústria automobilística do México, da Argentina, dos Estados Unidos, da China, ou sei lá de onde, então isso nós levamos em conta. Como, por exemplo, há renúncia fiscal sobre o papel de jornal. Por quê? Para tornar mais barato e facilitar o acesso à informação. Na Copa, a renúncia, como no caso de São Paulo para o estádio de Itaquera, foi para promover o desenvolvimento daquela região da capital paulista, que tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), para levar serviços públicos, valorizar e atrair investimentos privados para a região.
Ocorreu no Rio de Janeiro um caso grave, que chegou a atrapalhar os planos da Itália, que foi a interdição do Engenhão. Um estádio feito para o Pan de 2007 e que já terá de passar por uma reforma estrutural. A princípio seria por conta de pressa na execução da obra. Existe o temor de que isso possa acontecer com estádios da Copa, justamente por conta dessa pressa, desse atraso na finalização das arenas?
Não, porque aprendemos com episódios como o do Engenhão. O que houve no Engenhão? Foram feitas duas licitações: uma para construção do estádio, outra para a cobertura do estádio. Quando a empresa que construiu terminou a sua parte, a empresa que deveria instalar a cobertura disse: 'Eu não tenho condições de instalar a cobertura'. Ou você fazia outra licitação com a grave consequência de não ter o estádio pronto para a sua finalidade, que era o Pan, ou chamava uma empresa para executar o projeto da empresa que ganhara a licitação e no fim das contas disse que não tinha condições. Com base no projeto existente, uma outra empresa executou e a consequência foi uma imprecisão, um erro, alguma falha técnica que causou a interdição. Procuramos aprender, corrigir, para que não nos vejamos novamente diante de uma situação parecida.
Sobre o desempenho da seleção brasileira, qual é a sua opinião e quais os palpites para as semifinais da Copa das Confederações?
Eu sou muito otimista em relação à seleção brasileira. Contamos com os melhores do mundo, mesmo que a Argentina tenha o Messi, o nosso time, coletivo, desequilibra. Mesmo a Espanha com essa formação que é basicamente do Barcelona, mostrou sua vulnerabilidade nos jogos contra os clubes da Alemanha, especialmente os do Barcelona contra o Bayern de Munique recentemente (pelas semifinais da Liga dos Campeões). O Brasil tem os melhores defensores que jogam na Europa, volantes com capacidade de levar a bola ao ataque que não tínhamos talvez desde a época do Clodoaldo, do Falcão, temos atacantes excepcionais, ainda em evolução, como o próprio Neymar e o Lucas... Talvez não tenhamos um camisa 10 como já tivemos, como o Zico, o Ronaldinho Gaúcho, mas acho que o nosso time é muito bom e jogando em casa, acho que somos favoritos. Acho que há um certo favoritismo da Espanha e do Brasil nas semifinais, mas são clássicos do futebol mundial, não são partidas normais. Mas vejo Brasil e Espanha como favoritos e, para a final, Brasil, especialmente por jogar em casa e pelo apoio da torcida.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2013/06/aldo-nao-creio-que-fifa-tenha-um-lugar-melhor-para-realizar-copa.html
Aldo Rebelo descarta guerra com Fifa após polêmico 'chute no traseiro' de Valcke (Foto: Vicente Seda)
Sobre a repercussão internacional das cenas de violência por parte da polícia e de manifestantes, opinou:
- A violência é sempre um fenômeno presente nas manifestações sociais em todo o mundo. No Brasil, nós precisamos ao mesmo tempo enfrentar, dentro da lei e do que a Constituição determina, o direito da livre manifestação das ideias e preservar o interesse das pessoas contra o exagero ou a violência de setores de manifestantes. O próprio governador Geraldo Alckmin admitiu a existência de excessos no caso da repressão à violência das manifestações de São Paulo. O próprio governador do Rio de Janeiro também admitiu. E naturalmente esses exageros serão apurados sem prejuízo do trabalho da polícia naquilo que lhe compete.
Confira a íntegra da entrevista do ministro do Esporte, Aldo Rebelo:
GLOBOESPORTE.COM: A Copa das Confederações começou com vaias à Dilma e no desenrolar da competição, esse crescimento da onda de protestos pelo país. Qual o impacto disso para o evento e para a imagem que o Brasil esperava transmitir com a realização desse evento?
ALDO REBELO: Creio que as manifestações não afetam a imagem do Brasil. Nós projetamos a imagem de um país democrático, que pode conviver com essas manifestações, respeitar, impedir os atos de violência, de depredação, de ameaça à integridade física das pessoas ou do patrimônio, e ao mesmo tempo organizar um evento de grande importância como a Copa das Confederações. São insatisfações acumuladas, não necessariamente dirigidas contra o evento, o governo, o prefeito, o governador, são manifestações que têm sua origem em insatisfações da população em relação aos serviços públicos, saúde, educação, transporte, segurança. A nossa habilidade é conviver com isso, assegurando o direito dos manifestantes e garantindo a realização dos eventos.
Houve uma grande repercussão internacional sobre essa questão da violência, não apenas por grupos de manifestantes, mas também por parte da Polícia Militar. Até que ponto isso arranha a imagem do governo e do Brasil no exterior?
Valcke e Aldo fazem balanço da primeira fase da Copa das Confederaçõs (Foto: Agência Estado)
Mas houve excesso por parte da polícia?
O próprio governador Geraldo Alckmin admitiu a existência de excessos no caso da repressão à violência das manifestações de São Paulo. O próprio governador do Rio de Janeiro também admitiu. E naturalmente esses exageros serão apurados sem prejuízo do trabalho da polícia naquilo que lhe compete.
Houve uma declaração de um tenente-coronel em Belo Horizonte afirmando que a política agora seria de tolerância zero nas manifestações. O senhor tomou conhecimento dessa declaração?
Sim, eu vi a declaração publicada pelos jornais. A manifestação do policial de Minas não é em relação às manifestações, mas em relação à violência. Ele procura destacar que as manifestações pacíficas são até protegidas, como devem ser, pelas forças de segurança. Mas os atos de violência, depredação do patrimônio público, o saque de lojas, agressão contra pessoas, incêndio de automóveis, não pode e não deve ser tolerado em benefício das próprias manifestações pacíficas, para não serem confundidas com esse tipo de ato.
O senhor acredita que esses protestos vão trazer um impacto grande no turismo para a Copa do Mundo? As projeções terão de ser refeitas diante desse novo quadro?
Eu não creio que haja nenhum prejuízo para a presença dos turistas no Brasil. Não creio que tenham havido grandes cancelamentos de visitas a Londres e a Paris por conta daquelas manifestações violentas. Acho que um ou outro pode transferir, remarcar, mas quase a totalidade manterá a viagem, a visita, mesmo com essas demonstrações que nós testemunhamos.
A Fifa já afirmou algumas vezes que não há plano B, não há possibilidade de tirar a Copa do Brasil, mas obviamente houve esse receio e, por isso, o questionamento. Esse temor chegou ao Planalto em algum momento?
Não, não tememos porque o governo procurou fazer a sua parte. Promover a garantia da realização das manifestações e também a proteção de todas as pessoas que foram participar dos jogos da Copa das Confederações. Proteger as delegações, atletas, jornalistas, turistas, e acho que o mundo inteiro pôde acompanhar esse esforço. Além disso, não creio que a Fifa tenha um lugar melhor para realizar a Copa do Mundo. É o país do futebol, o único a participar de todas as Copas, o único a vencer a Copa cinco vezes, tem o maior artilheiro das Copas, revela os maiores astros do futebol mundial...
Aldo Rebelo faz vistoria no Maracanã antes da Copa das Confederações (Foto: André Durão)
São alterações no que chamamos de matriz de responsabilidade, porque as obras relacionadas com a Copa estão divididas em duas categorias. A primeira abrange as obras ligadas aos encargos que o governo assinou com a Fifa, às obrigações do país candidato: as obras nos estádios, as obras que ligam os estádios ao setor hoteleiro e aos aeroportos. As outras obras são as obras da chamada matriz de responsabilidade, não são obrigações que assumimos com a Fifa. São obrigações assumidas pelo governo federal, pelas prefeituras das cidades-sede, pelos governos estaduais das sedes, antecipando obras em sua maioria do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), obras que já estavam previstas independente de Copa ou de Olimpíada. Seriam realizadas com Copa no Brasil ou não. São obras de mobilidade urbana, para melhorar o tráfego, os portos, os aeroportos, as vias de acesso. Mas essa matriz sofre alterações. Por quê? Porque para estar na matriz de responsabilidade, a obra tem ficar pronta até a Copa do Mundo. Do contrário, ela sai e volta para o PAC. Será entregue fora desse prazo. Mas outras obras também entram na matriz de responsabilidade. Agora mesmo, por exempolo, introduzimos uma série de obras da orla de Salvador, a pedido da Prefeitura de Salvador. E, naturalmente, incluindo novas obras, você altera o valor total da matriz de responsabilidade.
Depois do "chute no traseiro", como é a sua relação hoje com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke?
O governo cuida do interesse público e nacional. A Copa do Mundo traz grandes benefícios para o país. As consultorias apontaram, em trabalho sobre o impacto da Copa no Brasil, que poderão ser gerados 3.6 milhões de empregos. Pode gerar investimentos da ordem de R$ 3,40 do setor privado para cada R$ 1 de investimento público. Aumentar a arrecadação do país, promover a ampliação da renda no Brasil. Esse é o interesse público na Copa do Mundo, emprego, renda, melhoria da infra-estrutura, da segurança pública, das telecomunicações e da mobilidade urbana. Além disso, o país terá uma promoção das suas cidades em todo o mundo a um custo muito inferior ao que pagaríamos sem a Copa. A Fifa cuida naturalmente da parte técnica, do evento e dos interesses dos seus patrocinadores. Nós procuramos trabalhar em cooperação e quando há divergências, diferenças, o governo defende o interesse nacional e procura fazer com que isso prevaleça. Mas é uma relação que tem de ser de cooperação, não tem sentido fazer uma Copa do Mundo com o governo em guerra com os organizadores ou patrocinadores.
Quais são os ajustes que deverão ser feitos para a Copa do Mundo? O que já foi possível detectar que terá de ser melhorado?
A primeira preocupação naturalmente é cumprir o prazo de entrega dos estádios, o que nós não conseguimos na Copa das Confederações. Apenas Fortaleza e Belo Horizonte entregaram dentro do prazo que era dezembro de 2012. Alguns foram entregues um pouco depois e outros muito depois do prazo estabelecido. Quando você entrega fora do prazo, você prejudica os eventos-teste e o esforço para conferir cada uma das operações no estádio. Então acho que houve um prejuízo por conta desse atraso que precisamos corrigir. Houve também um problema ou outro na mobilidade urbana, no Recife houve um registro de lentidão na operação do metrô, que não é responsabilidade do governo estadual, é de uma empresa da União, e precisamos aperfeiçoar. A Copa das Confederações ajuda nesse aspecto.
O senhor deixou em aberto a possibilidade de adotar uma nova estratégia para levar uma informação mais clara sobre os investimentos para o povo?
Tenho feito um esforço de transmitir essas informações, de mostrar que não há propriamente gasto com a Copa, que é um empreendimento essencialmente privado. Incentivos que são concedidos levam em conta o interesse público. Como, por exemplo, o incentivo à indústria automobilística, que nos últimos anos foi de R$ 27 bilhões. Por que essa renúncia fiscal? Para manter 27, 28 mil empregos. Se o governo não fizesse isso, esses empregos seriam perdidos para a indústria automobilística do México, da Argentina, dos Estados Unidos, da China, ou sei lá de onde, então isso nós levamos em conta. Como, por exemplo, há renúncia fiscal sobre o papel de jornal. Por quê? Para tornar mais barato e facilitar o acesso à informação. Na Copa, a renúncia, como no caso de São Paulo para o estádio de Itaquera, foi para promover o desenvolvimento daquela região da capital paulista, que tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), para levar serviços públicos, valorizar e atrair investimentos privados para a região.
Ocorreu no Rio de Janeiro um caso grave, que chegou a atrapalhar os planos da Itália, que foi a interdição do Engenhão. Um estádio feito para o Pan de 2007 e que já terá de passar por uma reforma estrutural. A princípio seria por conta de pressa na execução da obra. Existe o temor de que isso possa acontecer com estádios da Copa, justamente por conta dessa pressa, desse atraso na finalização das arenas?
Não, porque aprendemos com episódios como o do Engenhão. O que houve no Engenhão? Foram feitas duas licitações: uma para construção do estádio, outra para a cobertura do estádio. Quando a empresa que construiu terminou a sua parte, a empresa que deveria instalar a cobertura disse: 'Eu não tenho condições de instalar a cobertura'. Ou você fazia outra licitação com a grave consequência de não ter o estádio pronto para a sua finalidade, que era o Pan, ou chamava uma empresa para executar o projeto da empresa que ganhara a licitação e no fim das contas disse que não tinha condições. Com base no projeto existente, uma outra empresa executou e a consequência foi uma imprecisão, um erro, alguma falha técnica que causou a interdição. Procuramos aprender, corrigir, para que não nos vejamos novamente diante de uma situação parecida.
Sobre o desempenho da seleção brasileira, qual é a sua opinião e quais os palpites para as semifinais da Copa das Confederações?
Eu sou muito otimista em relação à seleção brasileira. Contamos com os melhores do mundo, mesmo que a Argentina tenha o Messi, o nosso time, coletivo, desequilibra. Mesmo a Espanha com essa formação que é basicamente do Barcelona, mostrou sua vulnerabilidade nos jogos contra os clubes da Alemanha, especialmente os do Barcelona contra o Bayern de Munique recentemente (pelas semifinais da Liga dos Campeões). O Brasil tem os melhores defensores que jogam na Europa, volantes com capacidade de levar a bola ao ataque que não tínhamos talvez desde a época do Clodoaldo, do Falcão, temos atacantes excepcionais, ainda em evolução, como o próprio Neymar e o Lucas... Talvez não tenhamos um camisa 10 como já tivemos, como o Zico, o Ronaldinho Gaúcho, mas acho que o nosso time é muito bom e jogando em casa, acho que somos favoritos. Acho que há um certo favoritismo da Espanha e do Brasil nas semifinais, mas são clássicos do futebol mundial, não são partidas normais. Mas vejo Brasil e Espanha como favoritos e, para a final, Brasil, especialmente por jogar em casa e pelo apoio da torcida.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2013/06/aldo-nao-creio-que-fifa-tenha-um-lugar-melhor-para-realizar-copa.html
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