quinta-feira, 7 de março de 2013

Maracanã: abaixo do nível do mar, região sofre com enchentes no Rio


Gramado teria passado a alagar após obras de rebaixamento em 2007. Bairro do estádio recebeu 90mm de chuva em 30 minutos na terça-feira

Por Felippe Costa, Leandro Canônico e Márcio Iannacca Rio de Janeiro


A imagem do Maracanã completamente alagado por conta da forte chuva que atingiu o Rio de Janeiro na noite da última terça-feira impressionou. Até o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, demonstrou preocupação e reuniu-se com o governador Sergio Cabral para saber os motivos do problema. Os responsáveis pela obra garantem que o prazo será cumprido (a Fifa espera a arena pronta em 27 de abril), mas a solução para as enchentes no estádio envolve toda a área onde o palco das finais da Copa das Confederações e da Copa do Mundo foi construído.

Em apenas 30 minutos, o estádio, que está com 87% de conclusão, recebeu um volume de 90mm (número considerado alto) na chuva de terça. Apesar de boa parte do sistema de drenagem já estar instalada, o local onde ficará o gramado ficou completamente alagado, assim como os vestiários. Cena semelhante à ocorrida em 2010, quando um jogo do Flamengo chegou a ser adiado na Libertadores. O problema está no tipo de terreno onde o Maracanã está localizado: originalmente um mangue, a área encontra-se abaixo do nível do mar.

Maracanã alagado pelas chuvas no Rio de Janeiro (Foto: Genílson Araújo / Agência O Globo)Local que terá o gramado e os vestiários do Maracanã ficaram alagados (Foto:Genílson Araújo/Ag. O Globo)

Por causa disso, o sistema de drenagem e escoamento de água tem de ser muito bem feito. Principalmente para enfrentar a influência da maré. Em dias de chuva, como a da última terça, é comum que o mar esteja mais cheio e crie uma barreira ainda maior para que a água daquela região chegue até ele, como explica Flávio Mascarenhas, professor da coordenação dos programas de pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em enchentes que atormentam a área do Maracanã.

- Toda aquela região está abaixo do nível do mar. E toda vez que há uma região mais baixa ela sofre influência da maré. Em geral, a maré alta está associada às fortes chuvas. Isso faz com que a água que está sendo escoada da planície encontra muros de água do mar e voltam para o local. Se não houver um projeto eficaz, toda vez que chover vai ser complicado naquela região - disse Mascarenhas.

Segundo o professor, a "culpa" das enchentes no estádio não é apenas do Rio Maracanã, mas também de outros rios que formam a Bacia Hidrográfica do Canal do Mangue, como o Joana. Também especialista em controle de enchentes na cidade, o assessor de meio ambiente do CREA-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Adacto Ottoni explicou que a poluição atrapalha demais o sistema de escoamento e drenagem, mas alerta também que a interferência do ser humano na natureza é algo muito sério.

- Tem enchente porque o Rio Maracanã transborda. E isso acontece porque a bacia está toda degradada, os rios estão cheios de lixo. A solução, então, é fazer uma gestão digna da bacia hidrográfica. Se tivesse uma boa floresta ainda, ela reteria 80% da água e somente 20% iria para o rio. Não transbordaria. É preciso construir barragens de cheia nos morros, tirar as ocupações irregulares e preencher com floresta - avaliou Ottoni.

Na tentativa de acabar com as enchentes naquela área, auxiliando os rios Maracanã e Joana, a prefeitura do Rio de Janeiro está construindo cinco "piscinões" na região (um na Praça da Bandeira, um no Alto do Grajaú, um na Tijuca e dois na Vila Isabel) para acumular a água em dias de chuva.

- Os piscinões não são obras erradas, mas não resolvem. Vão reduzir o problema, mas longe de ser a solução. Eles não atacam a degradação da bacia. Se piscinão resolvesse enchente, São Paulo não tinha nenhuma, porque lá está cheio de piscinão. Se a água chegar ao Rio Maracanã, ele vai transbordar. Não tem jeito. Aí, as piscinas vão ficar cheias de lixo e esgoto, tornando-se problema de saúde pública - disse Ottoni.

INFO ESCOAMENTO MARACANÃ (Foto: arte esporte)

O problema dentro do estádio
Responsável pela operação do Maracanã de 1995 a 2005, o engenheiro agrônomo Artur Jorge de Melo, especialista em gramados esportivos e drenagem automatizada, afirmou que o problema para o alagamento do campo não é do sistema do estádio, mas sim da macrodrenagem da bacia hidrográfica da região.

Segundo o especialista, não existe registro de alagamento do gramado do estádio antes das reformas de 2007. As obras foram realizadas para os Jogos Pan-Americanos e o campo foi rebaixado em 1,40m. A partir dali, principalmente os vestiários passaram a sofrer com o problema. Na chuva da última terça, a área que receberá o gramado e os vestiários foi muito atingida. A nova cobertura, que já ocupa cerca de 25% do estádio, acumulou água e funcionários tentaram limpá-la com baldes.

- De minha parte, como técnico, só posso dizer que não vejo problema na drenagem do campo, mas sim na macrodrenagem da área. O Rio Maracanã tem uma grande bacia de contribuição da Floresta da Tijuca e seus rios, do bairro da Tijuca e do bairro do Maracanã. Depois da reforma para o Pan de 2007, onde o campo teve sua cota rebaixada, o problema ficou evidenciado - explicou.

No dia 6 de abril de 2010, o jogo entre Flamengo e Universidad do Chile, pela Libertadores, foi adiado por conta das fortes chuvas que caíram no Rio de Janeiro. Naquela ocasião, na manhã da partida, o gramado estava alagado. Por volta das 14h, o local estava seco. Porém, o confronto foi cancelado devido ao acúmulo de água nos vestiários do estádio.

Mosaico Enchente Maracanã Abril de 2010 (Foto: Globoesporte.com)Fotos da enchente de 2010: jogo do Flamengo na Libertadores foi adiado (Fotos: GLOBOESPORTE.COM)

A drenagem do novo Maracanã, aliás, gerou um impasse entre Governo do Rio e Fifa. A entidade que comanda o futebol mundial sugeriu sistema a vácuo, o que não seria possível por conta do lençol freático, explicou a Empresa de Obras Públicas do Rio de Janeiro (Emop).

O equipamento de drenagem a vácuo precisa ser instalado a 1,5 metro embaixo do gramado, mas há um lençol freático 90cm abaixo do gramado. Do sistema instalado no Maracanã, falta apenas uma bomba de sucção que dará mais potência para a retirada da água após a colocação da grama. Na enchente da noite de terça, boa parte da água que veio da rua entrou no estádio pelos dutos da drenagem.

Chuva não prejudicou gramado do Engenhão
Desde 2010, Artur trabalha como consultor do Engenhão. Com dados precisos sobre a chuva da última terça-feira, o engenheiro agrônomo afirmou que a precipitação sobre o gramado do estádio do Botafogo foi de 73mm durante 35 minutos. Número também considerado elevado para os padrões normais do Rio de Janeiro.

Mesmo com todo o temporal, de acordo com o consultor, o gramado e os vestiários do Engenhão não sofreram com os mesmos problemas do Maracanã.

- As ruas no entorno do Engenhão ficaram alagadas, mas o estádio não teve problemas. Como o estádio é recente, a sua cota já é bem acima do nível da rua. Por isso, o Engenhão não tem sofrido com esses problemas – explicou.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-das-confederacoes/noticia/2013/03/maracana-abaixo-do-nivel-do-mar-regiao-sofre-com-enchentes-no-rio.html

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