A CRÔNICA
por
Diego Ribeiro
O Corinthians pode dizer que ostentou uma invencibilidade de 16 jogos e mais de dois anos na Taça Libertadores, mas não poderá se gabar de ter o recorde histórico da competição. Nesta quarta-feira, diante de um arisco e ousado Tijuana, o Timão caiu por 1 a 0, no México, e conheceu sua primeira derrota internacional desde o trauma de 2011, quando levou 2 a 0 do Tolima, da Colômbia, e foi eliminado na fase prévia da Libertadores. Méritos para a equipe mexicana, estreante na competição, mas com pinta de veterana.
O maior período de jogos sem perder na Libertadores continuará sendo dos peruanos do Sporting Cristal: 17 partidas, somando as participações nos torneios de 1962, 68 e 69. O gol do Tijuana foi marcado por Javier Gandolfi, aos 20 do segundo tempo, em jogada que deveria ser anulada por impedimento, de acordo com Leonardo Gaciba, comentarista da Rede Globo. A má arbitragem de Victor Carillo, aliás, contribuiu para que o jogo fosse tenso em alguns momentos, com lances violentos e confusões em campo.
O curioso é que Paulinho teve dois gols anulados no primeiro tempo, ambos por impedimento e marcados de forma correta – do mesmo lado em que saiu o gol do Tijuana. Agora, o Timão liga o sinal de alerta: são cinco pontos de distância para o time mexicano, líder do Grupo 5 da Libertadores com nove pontos. O Timão tem quatro, e o Millonarios, três.
Timão e Tijuana voltam a se enfrentar na próxima quarta-feira, às 22h (horário de Brasília), no Pacaembu. Antes, porém, os comandados de Tite jogam pelo Campeonato Paulista contra o Ituano, sábado, às 18h30m, também no Pacaembu.
Alessandro, do Corinthians, mostra as travas da chuteira a Benny Corona (Foto: AP)
O Tijuana jamais havia vivido um clima de Taça Libertadores, mas parece ter tomado gosto pela competição rapidamente. Com estádio praticamente lotado e pressão a cinco metros do banco de reservas, os Xolos conseguiram estabelecer um ritmo que assustou “El Campeón”, como o Corinthians foi chamado na cidade durante a semana. A chave era pelas pontas, com os bons Fidel Martínez e Duvier Riascos nas costas de Alessandro e Fábio Santos.
O goleiro Cássio não chegou a trabalhar muito, mas o Tijuana chegou mais perto do gol no primeiro tempo – Riascos chutou por cima a melhor oportunidade. A equipe bem arrumada por Antonio Mohamed só pecou ao exagerar em algumas divididas, causando clima tenso em campo e arruinando a arbitragem do peruano Victor Carrillo. Nas arquibancadas, a torcida se animou com o ambiente. Em meio a copos enormes de cerveja e generosas porções de tacos, os fãs dos Xolos sentiram que o momento era deles.
A equipe da casa não correspondeu e continuou se estranhando com os corintianos. Gandolfi com Guerrero, Moreno com Gil, todos com o árbitro. O futebol ficou em segundo plano. Ao menos, o Timão se adaptou rapidamente à grama sintética. Por volta dos 15 minutos, Guerrero e Pato já trocavam passes em profundidade, e Danilo se mostrava dominante pela esquerda. Faltou chutar mais a gol, algo cobrado por Tite desde o início do ano. Só Renato Augusto tentou obedecer ao chefe, mas sem sucesso.
Alexandre Pato até começou bem, mas depois caiu de produção na grama sintética (Foto: AP)
Tijuana e Corinthians, enfim, entenderam que chutar a gol é a melhor maneira de efetivamente fazer o gol. De longe, começou a troca de sustos dos dois lados. Guerrero exigiu boa defesa de Saucedo em jogada individual. Minutos depois, foi a vez de Pellerano fazer Cássio trabalhar ao defender uma bomba que veio quase da intermediária. E o jogo começou a ficar mais técnico, como se esperava de duas equipes tão competitivas.
Apesar de alguns bons momentos, o Corinthians jamais ficou totalmente à vontade na grama sintética. Enquanto isso, o Tijuana imprimiu outra velocidade, sempre com Martinez e Riascos. Mais uma vez, a torcida sentiu que era o momento dela. Era também o momento do gol, mas na bola parada. Aos 20, após cobrança de falta de Arce, Aguilar desviou no primeiro pau e deixou Gandolfi livre para marcar: 1 a 0 Xolos. O comentarista Leonardo Gaciba, da TV Globo, afirmou que houve impedimento no primeiro lance – o desvio de Aguilar.
Era o que faltava para a já alegre torcida do Tijuana se soltar de vez. A partir dos 30 minutos, os gritos de “olé” foram aumentando. Sósia de Neymar, inclusive nos dribles ousados, Martinez passou a mostrar todo seu repertório e enlouquecer o Estádio Caliente – mesmo sem levar perigo real a Cássio. Só serviu mesmo para o clima voltar a esquentar, com jogadas ríspidas dos dois lados.
Tite agiu muito tarde ao tirar Alessandro, que passou 70 minutos levando sufoco do rápido ataque do Tijuana. A saída de Paulo André para a entrada de Romarinho sinalizou o tudo ou nada. Deu nada. Após mais de dois anos, o Corinthians voltou a perder um jogo de Taça Libertadores. Gosto amargo, muito amargo, ainda mais quando o rival que o vence abre cinco pontos de vantagem no grupo. Agora, o sinal de alerta está ligado.
Fidel Martinez e Paulinho, em lance do jogo entre Tijuana e Corinthians (Foto: AP)
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