Dividido entre passado e futuro, Robinho exalta DNA santista de 2002
O garoto de São Vicente nasceu com a missão de despertar um gigante adormecido. No momento em que recebeu passe de Léo e correu na direção de Rogério, então lateral-direito do Corinthians, sua única missão era o gol. Mas ele conseguiu muito mais do que isso. Aos 35 minutos do primeiro tempo, Robinho arrancou do campo para a história. Sete segundos do domínio de bola ao pênalti. Seis pedaladas (nem ele sabe dizer ao certo quantas foram) e uma ginga final. Na hora, o menino de 18 anos, mesmo período do jejum de títulos importantes do Peixe, não sabia a dimensão do que acabara de fazer. Hoje, o homem de 28 anos, com dois filhos e passagens por Real Madrid, Manchester City, retorno ao Santos, duas Copas do Mundo com a Seleção e atualmente no Milan, sabe o que tudo aquilo representou.
Robinho dá a famosa pedalada no título de 2002 (Foto: Arquivo / Ag. Estado)
- O Junior é corneteiro. O mais novo (Gianluca) não liga muito para futebol, mas o Junior sabe tudo. Ele fala toda hora do Neymar. "Olha lá, pai, ele deu chapéu e fez gol". É fã de carteirinha. De natal, pediu a camisa da Seleção do Neymar. Falei que se for bem na escola vai ganhar. Ele pede para fazer o moicano e eu falo: "Ney, corta logo esse cabelo ridículo" (risos) - conta Robinho.
O amor pelo Peixe está vivo, mas os italianos não querem vendê-lo. As conversas entre clubes são difíceis e o profissionalismo fala mais alto. Por isso, o jogador admite ter propostas de mais equipes e não descarta a possibilidade de vestir a camisa de outro time brasileiro na próxima temporada.
Ídolo volta?
Robinho que voltar, mas admite que mais clubes
estão na disputa por ele (Foto: EFE)
estão na disputa por ele (Foto: EFE)
A frase de Robinho deixa claro que fechar salários com o Santos não é nem de perto o maior empecilho para concretizar a sua volta para a Vila Belmiro. O Peixe já tem tudo conversado com o ídolo da torcida sobre as condições de pagamento e as partes mantêm contato constante, mas nas tratativas com os rossoneros outros clubes estão à frente. Grêmio, Atlético-MG, São Paulo e Flamengo são alguns dos interessados em tirá-lo do Milan, que não tem desejo de vendê-lo e pede aproximadamente 12 milhões de euros (R$ 32 milhões).
Uma pessoa ligada a Robinho critica a diretoria do Santos, pois a considera devagar para alinhar as conversas com o Milan, parte mais importante da negociação. "Quem quer, tem de correr atrás. Se não apertar, não vai conseguir", resume. O jogador, por sua vez, garante que não vai brigar para sair do time italiano, clube com o qual tem vínculo até junho de 2014.
- O Milan não tem intenção de me vender e não vou brigar com o clube que me abriu as portas e me deu oportunidade. Tenho história no Santos e acertar comigo é fácil. Existem outros times brasileiros conversando com o Milan e comigo. Meu amor pelo Santos vai existir sempre, mas sou profissional e vou analisar o que for melhor - afirma.
Além do desejo do Milan de segurar Robinho e de mais times concorrendo pelo atleta, outro problema para o Santos é que os italianos já descartam a possibilidade de uma troca dele por Felipe Anderson, como recentemente foi cogitado. Serginho, olheiro, e Ariedo Braida, diretor esportivo dos rossoneros, observaram o garoto de 19 anos na Vila Belmiro em novembro, mas uma negociação nestes moldes não deve ocorrer. Assim, o investimento teria de ser integralmente em dinheiro, sendo que o Alvinegro dispõe de aproximadamente R$ 20 milhões em caixa, número divulgado como superávit do clube em 2012.
Desta forma, o Peixe precisaria de parceiros para conseguir a contratação. O clube tem crédito e poderia viabilizar o restante do montante necessário, mas internamente o investimento gera dúvidas, pois dificilmente daria retorno financeiro. Por outro lado, parte da torcida protesta exigindo a volta de Robinho. Na vitória por 3 a 1 sobre o Palmeiras, na última rodada do Brasileirão, inclusive, alguns disseram que repatriar o ídolo virou obrigação. Os fãs não esquecem os feitos do craque há dez anos.
O fator Zito e a "pedalada treinada"
Zito posa ao lado de Neymar e Dracena
(Foto: Ricardo Saibun / Divulgação Santos FC])
(Foto: Ricardo Saibun / Divulgação Santos FC])
- Se o Zito não pede, eu não teria visto o menino jogar e ele seria perdido. Foi por insistência dele. Foi fundamental. Ele me falou para observá-lo por uma semana nos treinos. No segundo dia, avisei que ele ficaria conosco e não voltaria mais aos juniores. Até hoje damos risadas disso. Ele diz: "Gaúcho, se eu não tivesse falado... (risos) - conta Roth.
O eterno camisa 7 do Peixe confirma a história e reconhece os méritos de Roth na sua carreira. Mas vê mais importância na participação de Leão, com quem teve oportunidades de jogar e se firmar.
Logo quando subiu, Robinho não sentia nas costas o peso dos 18 anos sem títulos de expressão do Santos. Na concentração de uma partida da base, ele acompanhou pela televisão a eliminação traumática na semifinal do Paulistão de 2001, com gol de Ricardinho no último minuto, garantindo a classificação do Corinthians. Ficou com muita raiva. Mas só depois de virar titular e vivenciar as cobranças no alambrado, além das famosas faixas viradas de cabeça para baixo, é que tomou ciência da pressão.
- É repetição de treinamento. O Robinho era o craque da individualidade. O refúgio dele e o medo da defesa é dentro da área. Eu o fazia ir para cima. As pedaladas foram criadas por ele, mas não foi por acaso. Ele tinha liberdade e o dever de fazer isso, sempre de forma progressiva - afirma.
- O Leão sempre enchia o saco pedindo: "Vai para cima". Naquele momento, pensei em entrar no gol. Não imaginei tantas pedaladas. Pensei que seriam duas ou três, para driblá-lo e depois o Fabio Luciano, na cobertura. Mas ele foi recuando e eu continuei. Quanto mais ele recuou, mais bonito o lance ficou. Se tivesse parado, complicava. O movimento era para fazer o gol, aí ele fez o pênalti - recorda Robinho.
"Panturra", deixa que eu bato
Nesta terça, confira como foi formada a segunda geração dos Meninos da Vila
- Panturra (forma como Robert era chamado, pela panturrilha avantajada - conheça os apelidos dos 11 titulares no capítulo de sábado), deixa que eu bato. Ele respondeu: "Não, neguinho. Calma, eu vou bater". Quando era jogo normal, todo mundo se apresentava, mas nessa só o Robert veio. Todo mundo correu (risos). Se estivesse mal, não iria. Mas eu estava confiante e jogando bem, aí fica mais fácil de ter personalidade para pegar a bola e bater. Tinha certeza que faria o gol - garante.
- Foi bem típico do Santos, marcado pelos Meninos da Vila - completou Robinho, que naquele dia da conquista, até cantou (assista ao vídeo acima).
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